Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 39
O Passado me faz uma Visita


Notas iniciais do capítulo

Nâo tinha intensão de postar hoje, mas o capítulo estava ali e achei que era uma boa compartilhá-lo.
Espero que gostem.



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Fred guiou o conversível e fiquei ao lado dele. Ele estava calado e não adiantava minhas tentativas de animá-lo. Nem quando comecei a falar sobre o bebê, que não esperava à hora de ele mexer. Eu entendia porque ele estava daquela forma. Eu beijara seu irmão. Quer traição maior que ficar com o irmão de seu namorado?

- Ok, Fred. Você pediu. Não irei falar com você mais – voltei à atenção aos mapas e a próxima parada estava próxima. Deveríamos ter aparatado em Warcester e depois termos seguido de carro pela rodovia. Fui muito precipitada. Agora nenhum de nós nos encaravamos por causa da noite anterior. Eu destruo tudo por onde passo...

No mesmo dia paramos em Warcester fui direto para o hospital central. Na recepção, a mulher fingia que não me via, mesmo eu implorando para me atender. Ficava fofocando pelo telefone. Não fofocou mais depois que desliguei o aparelho.

- Agora irá me atender ou terei de fazer mais que desligar o telefone?

No final ela disse que não podia nos fornecer as informaçõs sobre seus antigos pacientes, nem quando eu disse que era sobre minha mãe.

- Hospital capenga! – estava indgnada. Mas não iria desistir assim tão fácil. Fui até o banheiro e na volta entrei no vestiário dos médicos e roubei um jaleco e uma prancheta. Eu estava parecendo uma médica só de vista.

Adentrei os corredores onde ficava o almoxarifado. Sorte que eu tinha magia para me auxiliar. Usei o Accio e consegui uma pasta com o nome de Hayley Thompson. Havia todos os dados dela desde o nascimento até sua morte. Sua morte. Três de maio de mil novecentos e oitenta. Dia do meu nascimento. Abaixo se encontrava o número de filhos e havia o número um escrito e a data de morte. Sem nome nem nada. Provavelmente não tiveram tempo de saber qual seria meu nome.

O atestado de óbto estava assinado por Laura Cheege. Bingo. Ela esteve ali. Ela confirmara a morte de minha mãe. Os dados dela também estavam ali. Morara em Warcester, mas não residia mais lá.

A morte de minha mãe foi dada como traumatismo craniano e hemorragia interna. Não falava nada de como ela chegara ali. Isso era para policiais. Guardei tudo de volta e retornei para a recepção, com jaleco e prancheta. Quando passei pela mulher, ela continuava a fofocar e ficou boquiaberta a me ver. Apenas fiz sinal de silêncio e sai pela porta seguida de meus dois companheiros.

Agora precisamos seguir para a rodovia até Londres. Sentei-me ao lado de Jorge, que estava no banco do passageiro. Se Fred queria me ignorar, que continuasse, iria ajudá-lo nisso.

Todo o caminho eu observava a rodovia para ver sinais de acidente antigos ou qualquer coisa que indicasse que animais passavam por ali. Mas não havia nada. Já era fim de tarde, quando paramos em um posto de gasolina para reabastecer e descansar.

- Droga! Como que um acidente pode ficar encoberto?

- Foi há dezessete anos. Devem ter reparado há anos o estrago.

Esse era o problema. Não esperava que fossem limpar tudo. Sempre tem alguma marca, mas não havia nada ali. E acidentes não eram limpos completamente, sempre ficava algo para trás. Porem não havia nenhum pedaço de lataria...

- Como ocorrem acidentes em rodovias? – perguntei. Mas eles sempre me respondiam.

- Animais? Carros? Sei lá – Jorge era de muita ajuda.

- Foi um animal que causou o acidente de sua mãe, não? – Fred disse. – Mas que tipos de animais passam por aqui? Por toda a rodovia não vi placas de que animais transitam por aqui.

O que ele falava tinha fundamento. Minha mãe quando me contara disse que ficou surpresa quando atropelou o animal, mas ele havia sumido depois. So havia uma explicação.

- Conhecem o feitiço do Patronum? – os dois acentiram. – Acho que alguém usou para provocar o acidente de minha mãe.

- Mas quem faria isso?

A resposta esteve sempre a minha frente.

- Hora de rever o passado, rapazes – saltei para dentro do conversível e peguei no voltante. – Vamos fazer uma visita a uma família.

Não usamos o conversível depois que chegamos a Warcester. Deixamos o carro numa garagem, intacto e ainda reparei o problema da porta emperrada. O dono deveria me agradecer. Eu sabia onde Laura Cheege morava. O nome do lugar pairava em minha mente. Não aparataria por eles. Disse o nome e pedi para que aparatassem na frente da casa. Jorge foi o primeiro e quando eu me preparava para segui-lo, Fred puxou meu braço.

- Tem certeza que quer continuar?

- O quê? Seguir a justiça ou continuar te ignorando?

Ele suspirou.

- Os dois. Não posso dizer nada. Estávamos bêbados.

Sorri e beijei meu bobo. Ele apertou-me contra seu corpo e beijou-me com voracidade. Quando emergi do beijo, estava ofegante. Afastei-me e toquei o peito dele.

- Depois que tudo isso terminar, quero dormir.

Ele sorriu e segurou minha mão.

- Espero que não se arrependa de nada.

Eu não me arrependeria. Quem faria isso seria Laura Cheege depois do que farei a ela.

Fred segurou-me e aparatou em frente a uma casa velha e enrugada pelo tempo. Jorge estava amaciando seu bigode e mexendo na erva daninha que cobria o muro. Quando nos aproimamos ele se virou sorrindo e com um pedaço de erva daninha na mão.

- Pensei aqui e talvez pudéssemos fazer uma dessas.

- Não sei pra quê – disse, enquanto avanaçava para o portão. – Elas são consideradas pragas. Jorge guardou a muda no bolso e seguiu-me junto de seu irmão.

O terreno era enorme. Os Cheege eram influentes na França. Não havia sangue trouxa na família deles e nem abortado. Seguiam regras rígidas junto de outras famílias como os Baptiste e os Salvatore. Salvatore... As gêmeas tinham o dilema, mas nunca fariam a vontade dos patriarcas da família. Sentia saudade delas.

Já era inicio de mês. Abril chegara. As folhas ddas árvores caiam no chão e formavam um tapete dourado. O clima estava fresco o que significava que chovera horas atrás ou minutos. Avencei pela trilha e parei em frente à porta de mogno negro com um C entalhado enorme.

Bati a aldrava e segundos depois um elfo domestico abriu a porta. Ele abaixou a cabeça e andou pelo hall. O segui. Talvez me levasse para quem eu queria encontrar.

- Bom te ver novamente Aira Snape – era Laura, sentada em uma cadeira adornada que mais parecia um trono. – Vejo que me encontrou.

O elfo saiu, fechando a porta atrás de si. Aproximei-me de Laura. Havia tanta coisa que queria fazer com ela, que nem sabia por onde começar.

- Pergunte. Temos todo o tempo do mundo – ela tomou uma taça de alguma coisa e sorriu.

Eu queria pular em seu pescoço, mas precisava de respostas antes.

- Foi você que fez aquilo com minha mãe.

- Sem perguntas? – ela deixou a taça na mesa e ajeitou-se. – Ah, sim. Fui eu. Sua mãe não merecia a vida que tinha. Ela conseguira o amor de sua vida, enquanto eu tinha que ficar presa a homem que minha família velha e estúpida e escolhera. Eu queria que vocês duas tivessem morrido, mas isso não aconteceu.

Ela dizia tudo tranquilamente como se fosse algo sem importância. Respirei fundo para não pular naquela garganta pálida dela. Fred segurava minha mão e eu sabia que ele percebia o que eu sentia. Forcei um sorriso.

- Não me diga que a Laura Cheege sofreu de dor de cotovelo durante todos esses anos? – os olhos dela me fuzilavam. Eu também a fuzilava. – Meu pai nunca se interessaria por alguém tão sem personalidade como você.

Ela saltou da cadeira e mexeu nas vestes. Fui mais rápida em pegar minha varinha e apontei para a cara dela, entre seus olhos.

- Você não mecheu apenas com minha família, mas comigo também – ela voltou a se sentar e pegou a taça, bebendo novamente.

- Engana-se criança. Você fez seu próprio caminho. Quando minha filha contou-me como você era, decidi que apenas precisava ajudar um pouco.

Apertei a varinha contra o crânio dela.

- Você odiou Geovanna com todas suas forças. Nunca a admitiu como sua filha.

Laura revirou os olhos e fitou-me sorrindo.

- Ela é fruto de um incesto. Como queria que eu a aceitasse? Giulia era minha única filha e você a matou, Aira Snape, matou minha única filha. Não bastava ter roubado meu filho de mim.

- Não matei Giulia! – gritei. – Chorei pela morte dela. Não pude salvá-la!

Laura pegou sua taça e entornou-a. Moveu o braço para colocar a taça sobre a mesa, mas no último instante avançou com ela sobre mim. Movi meus pés para trás, mas ela segurou meus cabelos e bateu a taça contra minha cabeça. Zonza, deixei minha varinha cair. Ouvi Fred ou Jorge, ou até os dois, gritarem.

Ela segurou meu pescoço e apontou sua varinha contra meu peito.

- Há essa distancia posso matá-la. Deveri ter feito isso depois daquele acidente mal sucessido.

- Então porque não fez?

Laura sorriu. Apertou mais meu pescoço, cravando as unhas em minha carne. Respirei. Não era a primeira vez que eu dominada, mas não sairia facilmente dessa. Ela queria me matar.

- No início pretendia te criar como minha filha, mas não era parecida comigo – ela apertou a varinha contra meu peito. – Não poderia matar um recém nascido. Quando a vi pela primeira vez já adolescente, queria vê-la morta, mas não podia fazer isso num lugar em que todos vissem. Pena que não te matei lá mesmo. Ninguém suspeitaria de mim, achariam que foi um dos Comensais.

- O Comensal que você culparia já está morto e enterrado, Laura. Ele foi meu amigo. Sabia que Crouch me presenteou?

Deslizei a mão por minha cintura e arranquei a adaga de sua bainha. Passei a lêmina pelo braço dela, fazendo-a gritar e soltar a varinha.

- Nunca me subestime.

Ela segurava o braço que sangrava.

- Sua...

- Oh, vai me xingar? Aprendi a viver entre pessoas que me odeiam – chutei a varinha dela para longe e recolhi a minha. – Nunca me afronte Laura. Você nunca me viu com raiva.

Fred segurou-me, abaixando a adaga. Olhei-o. Seus olhos estavam feridos.

- Deveria escutar o que ele diz.

- Cale-se! – joguei a adaga contra ela, que se cravou em seu peito.

Laura caiu no chão e segurou a adaga, enquanto a tirava de seu peito. Sorria ao ver a lâmina.

- Esse foi o presente de Crouch? – ela deixou a lâmina cair no chão e olhou a mão ensangüentada. – Você tornou-se o que deveria ser. Sempre foi negra e agora é negrume. A morte te esperita, garota. A criança que vive em seu ventre não viverá.

Os olhos dela se fecharam. O sangue jorrava de seu peito, formando uma poça no chão. Ela não estava morta ainda.

Eu cambaleei para trás, para os braços de Fred. O que ela disse no final. Aquilo era algo para me preocupar? E como ela sabia que eu esperava um bebê? Abracei Fred, respirando fundo. Ele me ajudou a sair dali. Jorge ficou para trás e recolheu minha adaga e limpou o sangue. Laura foi levada para seu quarto, deitada em sua cama. Seu sangramento havia sido parado, mas o buraco continuava visível. Quando saímos, ela ainda respirava. Não queria tratar dela.

Ainda tinha coisas que eu queria fazer. Entre elas ver onde descansavam pessoas que um dia eu amei. Fred e Jorge não pestanejaram apenas me seguiram. A primeira parada não era longe. Era na França. Fomos a todos os cemitérios bruxos – que eram poucos – no décimo sexto, encontrei a lápide que queria. Era da família Thompson. Louise, sua mãe e pais estavam enterrados ali. August fora enterrado junto de sua outra família.

No mesmo cemitério encontrei as lápides de Jennifer, mãe de Hayley, minha avó. A data era recente. Morrera sem saber que sua filha estava viva. Deixei uma rosa ali também.

Fred segurou minha cintura e seguimos para mais uma parada. Nos Estados Unidos, visitamos uma cidade praticamente esquecida. No único cemitério da cidade, meus pais adotivos estavam enterrados ali. Deixei uma rosa para cada. Havia seus nomes entalhados na pedra e datas de sua morte: 1994. Três anos longe deles.

Já estava amanhecendo. Paramos em uma lanchonete e comemos o café da manhã mais simples que se podia ter. Por volta do meio dia seguimos viagem. Fred achou melhor o decanso para repormos nossas forças, já que estávamos aparatando muito em tão pouco tempo. Aceitei de bom grado. Dormi com a cabeça apoiada no ombro dele.

Quando contei a última pessoa morta que queria ver, Fred negou-se. Para ele era impossível aceitar. Jorge não tomou partido e coloriu seu bigode de azul e verde. Não imploraria para Fred. Não podia obrigá-lo a me levar até o túmulo de Crouch Jr. Permaneci quieta, mas Fred não agüentou meu silêncio e levou-me para o próximo cemitério.

Era perto de Londres. Jorge veio conosco, mas parou em uma loja, numa esquina, que vendia suvernires. Fred acompanhou-me até a lápide de Crouch Jr. Depositei uma rosa sobre o túmulo.

- Você o amava?

O ciúme de Fred era incompreensível. Crouch estava morto.

- Não. Ele foi meu alicerce, mas nada mais que amigo.

Jorge fez suas comprinhas e veio até nós sorrindo.

- Não sei se querem continuar, mas ainda quero visitar alguns amigos.

Os dois mais que concordaram. Decidiram que faríamos isso depois de termos uma refeição decente. O restaurante era um dos famosos em Londres. Muito chique. Não estávamos trajados adequadamente, mas magia ajudava muito.

Em um banheiro público, troquei minhas roupas puídas por um vestido vermelho e justo com corte lateral na perna esquerda. O vestido ainda era aberto nas costas. Voltei para meu cabelo normal e usei um batom depois de tantos dias: um vermelho vivo.

Quando Fred me viu, engasgou-se. Jorge bateu nas costas dele.

- Vai usar isso mesmo?

- Eu deveria dizer o mesmo de você – ele usava um smoking. Jorge usava um também. Os dois estavam com sua aparência normal. Só eram distinguíveis pela falta de um pedaço da orelha de Jorge. Era nossa entrada triunfante. Segurei nos braços dos dois, um de cada lado meu. Meu salto alto batia no assoalho. Quando entramos no salão do restaurante, todos nos olharam. Muitas mulheres me olharam com nojo. Os homens me desejavam. Esperava que Fred não tentasse matar a todos. Escolhi uma mesa ao lado da janela e sentei-me. Fred sentou-se ao meu lado e Jorge a minha frente.

- Sinto falta do bigode.

Era normal o ver passando a mão sobre a boca. Passara tanto tempo afagando a coisa que se acostumara a tê-la e seu rosto e agora que não tinha, era estranho. Pedimos vinho e bebemos moderadamente. O cardápio era requintado e pedimos filé, frango, saladas e na sobremesa uma torta de creme de chocolate.

Nossa noite foi inesquecível. A banda tocava e eu dancei com Fred e Jorge. Com os dois ao mesmo tempo. Estávamos rindo depois de tanto tempo. A bebida estava fazendo efeito em nós, por isso partimos deixando uma boa gorjeta e a conta paga em dinheiro bruxo.

Saimos pela noite rindo. Eu com os sapatos na mão. Não agüentava mais me manter sobre eles. Jorge ria e respirava fundo.

- Nunca me diverti tanto.

•••

Na manhã seguinte visitamos apenas de vista Geovanna e Jean. Vimos os dois cuidarem de Giulia e brincarem com ela. A garota estava crescida. Queria andar, mas Geovanna a segurava quando não conseguia ficar em pé. Os três riam. Jean beijou Geovanna e continuaram a rirem.

Eles eram uma família agora. Prometeram cuidar do bebê, mas estavam juntos não só pela pequena. Entre eles surgiu algo novo. Deixei um bilhete na caixa de correio com apenas um simples “Sejam felizes” e minhas iniciais.

As gêmeas também estavam felizes. Aproveitavam a praia na Austrália. Sidney era uma cidade bonita naquela época. Elas não me viram. Apenas as observei a distância. Clara riu de algo e jogou uma bola sobre a irmã. Julio estava entre eles. Clara e Ângela estavam felizes sem minha companhia. Nunca precisaram de mim e não seria agora.

Quando retornamos para Londres, Fred perguntou-me se eu estava bem. Eu estava. Melhor que nos dias que antecederam nossa jornada em busca da verdade. Naquela noite dormi na cama de Fred. Levantei-me ao nascer do sol e fiz o café. Estava com os pratos em mãos e andando até a mesa, quando senti uma dor e deixei-os cair ao chão. Segurei a mesa para não cair.

Olhei para baixo e vi sangue escorrendo por minhas pernas. Não. Não podia acontecer isso. Gritei chamando pelo Fred. Ele apareceu e escorreguei para seus braços. Ele me abraçou, enquanto eu chorava e soluçava. A dor ficava maior à medida que o tempo passava.

Fred pegou-me em seu colo e levou-me para a pessoa que ele mais confiava. 


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Notas finais do capítulo

Não me matem pelo o que eu escrevi. Ainda preciso terminar a fic.



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