Noite de tormenta.

Acordei com um sobressalto, suada, a boca aberta, o grito estrangulado na minha garganta, os olhos arregalados, as cotas pularam levemente da cama e voltaram a encostar na superfície macia embaixo de mim. Olhei pra frente, o escuro tomava conta do quarto, ouvia meu coração acelerado, e as imagens de meu sonho passavam rapidamente pela minha cabeça, minha testa estava franzida, o corpo tenso.

Mal percebi uma luz no quarto escuro se acender, estava concentrada nas imagens que invadiam minha mente sem permissão, era atormentador. Demorou alguns segundos para perceber que falavam comigo.

– O que houve?

Virei o rosto em busca daqueles olhos fascinantes e bem conhecidos, mordia meu lábio inferior com medo e olhei para ela, sem nada dizer.

Ela sentou-se na cama, ao meu lado, e puxou meu rosto levemente, acariciou-me a face com o polegar e aos poucos a tensão foi dando lugar à calmaria, mas seus lábios ainda estavam duros e com o cenho franzido, a preocupação evidente.

– Sonho – disse eu.

Sua expressão se aliviou e ela sorriu, deitou na cama e me puxou para fazer o mesmo. Beijou-me de leve nos lábios e apagou a luz do abajur, entrelaçando nossas mãos em seguida. Revirei-me na cama, sem parar, as cenas ainda na minha mente, grudadas como nada mais, me assombrando.

– O que houve nesse sonho para te deixar assim? – a ouvi perguntar, sua voz próxima a mim.

– Nada demais, sério. – disse com a voz baixa, me aconchegando junto dela.

– Então porque está assim?

– As coisas me atormentam sem explicações – respondi virando-me para ela e deitando a cabeça em seu ombro, rodeando sua cintura com a minha mão.

– Como te atormentam?

– São só imagens que representam perigo de algum jeito, qualquer coisa, só é a sensação, e ela me persegue, se assolam em mim, entende? E ficam na minha mente rondando com a mesma sensação ruim, de perigo e angustia. – sussurrei ouvindo sua respiração leve – Acho que é por isso que tenho medo do escuro às vezes.

Observei a luz se acender novamente e ela virar o rosto para mim.

– Não devia ter medo do escuro, meu anjo.

– Simplesmente tenho! – gaguejo – O medo se planta em mim, tenho medo que essas sensações ruins se concretizem, fico angustiada, temerosa, e é isso em todo lugar, sempre que tenho um sonho com algo ruim fica me assolando por dias a fio.

Ela me olhou com os olhos preocupados, novamente, olhos que eu tanto amava com preocupações por bobagens.

–Desculpe. – pedi.

– Pelo que? Não peça, amor, não tem motivos para isso, só estou preocupada com você.

– Nem você precisa se preocupar, oras, é só mais uma das minhas coisas… me sentir atormentada e angustiada.

– Me preocupo com você.

Beijei seus lábios e apertei sua cintura contra mim, murmurando por entre o beijo.

– Sabe de uma coisa que não me deixa com medo?

– O que?

– Saber que quando acordar, terei você aqui, entre meus braços – mordi seu lábio inferior e ela sorriu, me beijando.

– Amo você.

– E eu amo você. – disse antes de aprofundar o beijo.

Aquela noite, não teria mais pesadelos, não com ela ali.