Justin também deveria estar esperando o barco das encomendas. Ele ficou em silêncio atrás de mim, e se não fosse minhas olhadas de canto talvez eu duvidasse que ele ainda estava ali. O vento continuava fortíssimo, agora meu cabelo parecia que ia rasgar meu couro cabeludo e iria voar para o continente vizinho, meus olhos estavam fazendo força contra o vento e sentia meu corpo rígido enquanto eu estava sentada perto do mar.

– Está esperando a embarcação de encomendas ?! - Ele perguntou. Levei um susto ao ouvir sua voz rouca e com um tom de sensualidade.

– Eu.. - eu virei pra ele com o coração disparado - Eu.. - Justin me fitava esperando pela resposta, reuni todo o ar possível e cuspi as palavras - Isso não é da sua conta! - Dei o troco por toda a secura dele

– É que se estiver.. - ele disse não se importando com a minha agressividade - Ele já chegou e esta alí a sua direita.

Queria não ter perguntado nada ao Justin, mas eu não iria explorar o barco sozinha. Não que o barco fosse uma coisa grande e que desse medo, mas o barco não era meu e eu não podia sair assim fuxicando ele todo. O barco era pequeno e de pescaria: Branco com uma cabine no meio onde ficava a direção do barco, uma cadeira preta na cabine para quem o comandasse. Logo atrás havia uma escada que levava para baixo do barco - onde eu nunca soube o que era e na verdade não tinha interesse em saber - e fora da cabine havia o espaço nos fundos e na frente do barco.

Sai da cabine e olhei Justin que olhava pra mim do Pier:

– É.. Desculpa incomodar você, senhor caladão - eu disse com a voz um pouco alta por causa do vento forte que abafava minha voz - Mas você sabe onde estão as encomendas?

– Não estão na cabine?! - Ele franziu as sobrancelhas como se achasse aquilo muito estranho.

– Bom.. se tivesse, com toda certeza do mundo eu não estaria fazendo o sacrificio de falar com você - Eu abri um sorriso forçado. Eu estava tentando de qualquer forma atingí-lo, mas ele parecia sensato demais e esforçava-se para não ouvir minhas ofensas. Justin se aproximou do barco e subiu com a maior facilidade do mundo.

– Eu não peguei as minhas hoje, na verdade eu não estava afim de pegar. Mas é bem estranho que não estejam aqui - ele conferiu na cabine e sem olhar pra mim disse - Vou procurar nos fundos do barco e você procura aí embaixo.

– Está louco?! - Eu questionei segurando na parte de cima da Cabine, o barco saculejava demais e eu tinha medo de qualquer minuto perder o equilibrio e cair no mar - Eu não vou descer, pode ter algo, hã.. - Justin me olhou desta vez e seu olhar quase me bronquiou como '' Você não acha que lá vai ter um estuprador querendo uma menina feia como você, não é? " Então resolvi recuar com minhas falas.

– Está bem, eu vou.

Justin saiu dali sem dizer nada e eu comecei a descer as escadas cautelosamente, lá dentro estava escuro e eu mal conseguia enxergar as coisas. Eu estava descendo devagar e hesitante, tatiei as paredes e encontrei um interruptor para acender as luzes. Agora sim eu estava mais tranquila, podia ver tudo o que eu queria.

Tinha uma cama de casal na parte de baixo, com um criado mudo no canto esquerdo e um abajur em cima. A cama estava forrada com um edredon branco com estampa de peixinhos coloridos o que me fez rir e falar pra eu mesma: " Que bizarro ".

Andei mais pro canto do "quartinho" e havia um corredor que levava a uma mini cozinha, ninguém poderia dizer que aquele barco era tão grande e surpreendente assim. Olhei a geladeira e vi alguns alimentos fáceis de fazer, e a maioria pelo Microondas - obviamente tinha um ali na mini cozinha - Deixei aquilo pra lá e voltei a procurar o que me interessava, olhei mais uma vez pelo quarto e atrás da escada havia uma pilha de sacos e caixas, me aproximei delas e vi que elas eram as encomendas. Me sentei próximo delas e comecei a procurar a que tinha o nome da minha família, eram mais ou menos umas 30 sacolas e caixas, procurei uma a uma, achei duas com o meu nome e mais uma para o Justin, empilhei elas em um canto e ajeitei o resto das encomendas ali em baixo da escada, apaguei o interruptor e subi com as nossas caixas.

Quando cheguei lá em cima me lembrei do quanto o barco estava chacoalhando, no andar de baixo o movimento tinha sessado bastante. Tive de me apoiar na cadeira para que não caisse e recuperei o equilibrio para sair da Cabine.

– Ei, Justin - eu sai com um sorriso no rosto já esquecendo meus problemas pessoais com ele. Eu o vi parado perplexo olhando pro horizonte, eu parei de sorrir para ver o porque ele estava tão sério e olhei na direção de onde ele olhava:

– Oh meu Deus ! - eu disse deixando as encomendas cairem no chão. Estávamos longe do Pier, as ondas estavam nos levando cada vez mais longe, agora deveríamos estar cerca de 15 metros do Pier, eu podia vê-lo ainda com clareza. – Seu tolo! - chinguei Justin e corri pra cabine, comecei a mecher desesperadamente no motor do barco, nada estava funcionando, eu senti meu coração disparar e quase sair pela boca.

– Como se meche nessas coisas?! - eu soquei os aparelhos com força. Justin continuava parado sem fazer absolutamente nada, com a raiva que eu estava dentro de mim eu chegava a me perguntar se ele era tão lerdo assim normalmente. Sai da cabine um tanto estressada e o segurei pelas costas com força. – Porque você não está fazendo nada?! - Eu gritava descontroladamente - Nós estamos nos afastando cada vez mais do Pier!

– Ah, me conta uma coisa que eu não saiba - ele revirou os olhos - Eu já tentei fazer com o que ele voltasse, mas a correnteza é bem mais forte e eu não tive como.

– Dava seu jeito!! - Eu berrei - Fazia alguma coisa de útil e que ajudasse os outros pelo menos uma vez na vida..

– Eu até faria - ele disse se soltando com facilidade das minhas mãos - Você acha mesmo que eu iria gostar de ficar preso em um barco com uma garota tão escandalosa feito você?! Mas infelizmente eu tinha de escolher ficar com você ou dar a minha vida pro mar.

– Tenho certeza que faria muito melhor morrendo no mar, argh ! - Eu disse mostrando toda minha fúria e corri pro final do barco.

Me sentei na poltrona acolchoada e fiquei vendo a neblina tapar a visão do Pier, cada vez estávamos mais e mais longe. E agora, o que seria de mim?!