Enquanto a Chuva Caía escrita por Sandrini Matyas Mazazrini


Capítulo 1
Capítulo Único




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A chuva ainda caía sem parar lá fora. Na prateleira do seu quarto, muitas fotos dele, e outras tantas dos dois juntos. Encolhida no canto da cama, abraçada a um travesseiro de penas, uma lágrima escorreu pelo seu rosto.

A voz de sua mãe a chamando fez ela enxugar os olhos rapidamente, tentando disfarçar o melhor que podia a sua vontade de chorar.

O café da manhã correra tudo bem. Ninguém parecia perceber sua vontade de sair correndo dali o mais rápido que podia. Ela fingia sorrisos e gargalhadas, afinal, tudo tinha que parecer normal. Não podia demonstrar que seu coração estava em pedaços. Não podia revelar que sua alma estava destroçada. Para a família, ela tinha que estar sempre bem.

Ela se levantou e caminhou de volta para o seu quarto. Olhando pela janela, notou que já parava de chover. Colocou uma roupa bem confortável e pegou seu guarda-chuva. Ouvindo o conselho de sua mãe para que ficasse em casa naquele dia, ela abriu a porta e se pôs a caminhar na calçada, se distanciando da casa.

Na rua, os carros passavam à toda velocidade, espirrando a água das poças nas pessoas. Ainda caía uma garoa fina, porém não estava mais tão forte quanto antes. Se protegendo com o guarda-chuva, ela continuava a caminhar sem destino, queria apenas arejar um pouco a cabeça. Ela olhava para o chão, e pensava que gostaria de ser uma rocha. Uma pedra. Algo imóvel, sem vida, sem sentimentos para serem quebrados. Uma coisa intranspassável, imutável. Sim, ela gostaria de não ter sentimentos. Gostaria de não ter olhos para chorar, mãos para tocar, braços para abraçar, lábios para beijar: um coração para amar.

Passou por uma ponte, onde o movimento dos automóveis e das pessoas era pouco. Foi bem perto da ponta, e subiu no pequeno parapeito, e olhou para baixo, e depois para o céu, e novamente para baixo. A chuva voltara a cair forte, enquanto ela soltava o seu guarda-chuva, que era levado pelo vento. Tornou a olhar para o céu, e as lagrimas rolaram pelo seu rosto. A chuva caía ainda, molhando todo o seu corpo. Já não era possível saber o que era lágrima e o que era chuva.

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Na casa que ela deixara há alguns minutos, um bilhete em cima da cama da garota:

“Não importa o quanto digam que eu fui importante, vocês raramente irão se lembrar de mim depois de hoje.

E não digam o contrário: eu quis continuar.

P.S.:mãe, pode colocar um prato a menos no jantar hoje.

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Se apoiou no parapeito, e deu uma última olhada para baixo. Seria uma longa queda. Não mais olhou para o céu, queria ter aquele momento especial, queria que sua última visão do céu fosse o cinzentado e escuro. A sensação da chuva sobre o seu corpo era tão boa, que se não tivesse tão determinada a fazer o que queria, podia passar o resto do dia ali. Fechou e abriu os olhos lentamente, tomando um impulso e passando as pernas por cima do parapeito. Do outro lado dele não havia onde apoiar os pés.


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