Morte Na Indigência escrita por Batatisa


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Criei essa história deviam ser 11h da noite, para ver como a inspiração chega nas horas e situações mais inusitadas. Sorte a minha que tinha papel e lápis em meu quarto, nem queria ver a cara de meu pai se eu saísse do quarto a essa hora para apanhar algum "escrevente".



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O vento gélido varria a calçada cinzenta e imunda por onde esgueiravam-se os vermes banidos da sociedade, condenados a viver sempre a sua margem pelo simples fato de não terem nenhuma sorte em dinheiro ou estudos. Levava consigo os jornalecos que foram por eles resgatados para dar algum conforto nessas tardes frias de julho. Era um apartheid como qualquer outro, mas os afortunados não aceitavam tal nome, chamavam de miséria.

O vento, ao menos, afligia a todos, não apenas aos vermes. Era imparcial, inexorável, não havia diferença em dinheiro que o parasse - apenas os muros e pesados casacos conseguiam tal proeza.

Infelizmente eu fazia parte dessa gente que vivia há tanto tempo na inópia que até já se acostumara com ela, jogado pelos becos a morrer.

Nasci por mãos de minha avó, sem pai ou avô para auxiliar. Sabe-se lá como, consegui sobreviver quase duas décadas e meia nessa selva de concreto, onde o pior predador não é a onça ou o leão, mas sim o próprio homem, espécie que tanto cresceu ao ponto de lutar entre si por simples notas verdes, valorizá-las mais do que a própria vida. Minha mãe, Odete, não teve a mesma sorte, morreu de anemia quando eu ainda era um moleque. Vovó? Foi-se logo depois. Não me trancafiaram num orfanato qualquer, como fazem com os filhos de rico. Ninguém dá importância a uma criança de rua. Eu era apenas mais um miserável jogado no mundo.

Em todos esses anos de sofrimento, uma coisa posso afirmar com certeza e razão: Não há morte pior que a morte de fome, que vai degradando-me a cada dia, roubando as forças e a vontade de lutar.

Os afortunados não sentem verdadeiramente a míngua de comida, por isso não podem compreender. Para eles algumas horas sem alimento já é uma tortura, imagine então o que aconteceria em uma, duas semanas de jejum. Felizmente meu sofrimento parecia estar acabando, sentia a vida escoando de meu corpo a cada segundo, deixando apenas o vazio.

• • •

Eu estava morto, essa era minha única certeza

Não sentia mais a dor lacerante que envolvia cada átomo de meu corpo poucos segundos a traz, e agarrava-me nesse fato como meu único consolo. Mas então... Onde eu estava? Era assim o céu? Aqui fica o inferno? Ou a morte simplesmente é um nada completo?

Enxerguei um homem de meia-idade (vestido com roupas daqueles que trabalham construindo grandes prédios para os ricos, sendo que eles próprios moram em barracões) espreguiçado em uma cadeira velha, meio apodrecida. Aproximei-me, hesitando ao falar:

— O que é isso? As histórias sobre o fim da vida eram todas mentiras? Não deveria haver um longo túnel com uma luz no final?

Não consegui retirar completamente uma nota de irritação em minha voz. Ele ergueu os olhos, fitando-me preguiçosamente e coçando o queixo antes de responder, pronunciando cada palavra como se houvesse acabado de despertar de um sono profundo:

— As obras foram canceladas por falta de verba.


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Notas finais do capítulo

Agora, como eu sou cara-de-pau de qualquer jeito, gostaria de pedir que comentassem minha fanfic, dizendo se leram, gostaram ou odiaram ^-^

(Revisado 25/08/2019. Vai ser re-revisado outro dia *cof, cof*)