Broken escrita por dreamerbee


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

A fic contém leves spoilers dos dois primeiros volumes da Turma da Mônica Jovem! Recomendo que leiam ouvindo à música do mesmo nome - Broken - do Seether e da Amy Lee. Muito da fic foi baseado na letra dessa música.

Boa leitura!



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  Magali encarou as chamas alaranjadas que dançavam na pequena fogueira. O calor e a luz que elas irradiavam eram agradáveis na noite escura; o frio não era a sua sensação favorita, principalmente quando estava triste.
E ela estava triste. Ou pelo menos muito assustada. Havia sido arrancada de sua própria realidade por uma feiticeira perigosa, tinha que lutar contra monstros em busca de artefatos mágicos, corria o risco de ficar presa naquele mundo estranho pra sempre e, ainda por cima, de condenar sua mãe a uma eternidade dentro de uma katana... Só de pensar aquilo, sentia um nó na garganta e vontade de chorar. Se algo desse errado, não haveria mais ninguém a quem culpar. Sentia-se sozinha, abandonada; o peso da responsabilidade era duro de suportar. Ela tremia de frio e de medo.
   E, segundo aquele espírito de araque, ela era supostamente a “coragem” do grupo. Típico.
   - Magali? – ergueu os olhos. Cascão estava observando-a, sentado num tronco do lado oposto da fogueira, rabiscando o chão com uma vareta. Ela mentalmente deu graças por ele estar ali enquanto se lembrava de como haviam acabado naquela situação.
   Depois de sair da Floresta de Torinmako, os quatro seguiram andando na direção de Mahallya, em busca da próxima chave. Depois da luta contra os monstros, ela havia tentado teleportar o grupo, mas sua magia não funcionava por algum motivo. Aquilo só aumentou seu sentimento de impotência; tiveram que vagar a esmo, pois não sabiam que estrada tomar, até encontrarem no caminho um elfo andarilho. Com certa dose de “persuasão” da Mônica (e uma cara muito feia do Cebola), ele finalmente explicou que aquele era o Vale do Silêncio, um lugar onde nenhuma fórmula mágica funcionava. Eles teriam que ir a pé até o seu destino, mas ele “concordava em fazer o possível para auxiliar a bela senhorita e seus ajudantes” (mais uma cara feia do Cebola) e desenhou o mapa que indicava o caminho a seguir. Os caminhos, na verdade, porque havia dois: um mais curto e mais perigoso e outro mais longo, mas livre de monstros.
  Eles discutiram muito e acabaram concordando que o melhor a se fazer era se separarem. Mônica e Cebola, os que tinham poder de ataque mais forte, seguiriam pelo caminho mais perigoso para chegar mais rápido e começar a abrir vantagem na luta contra os golens; ela e Cascão iriam pelo mais seguro, uma vez que, sem seus poderes, Magali estava relativamente desprotegida e seu amigo ladino lhe daria cobertura caso surgisse algum problema. Os dois chegariam como reforços assim que saíssem do Vale do Silêncio e ela estivesse apta a lutar.
   Sentiu uma pontada de angústia no peito. Já não bastava ser a menos corajosa, a menos decidida, a mais fraca dos quatro? Ainda tinha que ser um peso morto na mão de seus amigos? Uma onda de segurança invadia-a.
   - Magali – ouviu Cascão chamá-la novamente, arrancando-a do seu devaneio. Percebeu que os olhos dele estavam fixos nela e sentiu-se corar; não queria que ele percebesse seu momento de fraqueza. Tentou desviar o assunto.
   - Onde... onde estarão a Mô e o Cê?
   - Onde estão eu não sei – ele riu – mas tenho uma boa idéia do que estão fazendo...
   E era verdade. Que os dois estavam gostando um do outro, só não via quem não queria. Ela não queria pensar a respeito; tudo aquilo a fazia lembrar do Quinzinho.
   Não queria pensar nele. Não havia conseguido gostar de mais ninguém desde que ele tinha ido embora. Ninguém atingível, pelo menos; devaneara com vários artistas, cantores e até mesmo tivera uma paixonite pelo professor, mas sabia que nada daquilo a levaria a lugar algum. O fato é que não conseguia entender porque haviam terminado – eles podiam ter continuado juntos, namorando a distância. Muitas pessoas faziam isso, não? Por que não os dois?
   "Somos jovens, Magali. Acho que está claro faz tempo que nós dois não damos certo. Não quero enganar você..."
   Ah, não. Ela não ia chorar. Não agora.
   As lágrimas escorriam pelo seu rosto. Droga!
  - Magali, você tá legal? – Cascão havia largado a vareta e vindo se ajoelhar perto dela. Queria falar tudo pra ele, mas não podia. Queria dizer que não sabia o que seria dela se a Mônica e o Cebola ficassem juntos, que se sentiria sozinha, que sabia que os dois iriam começar a viver numa espécie de mundinho particular de onde ela e o próprio Cascão seriam excluídos... Mas pra ele estaria tudo bem, afinal, era forte, independente, estava sempre cercado de pessoas. E ela não. Era uma fraca que não conseguia nem se libertar da influência dos outros três.
   - Tô... tô... – foi o máximo que conseguiu balbuciar.
   - Não, não tá. Maga, que foi? Está lembrando do Quinzinho de novo?
   Ela não conseguiu responder, envergonhada. Sabia que ele iria acabar entendendo, todos viram como tinha ficado mal com o fim do namoro. Foi a partir daí que começou a controlar obsessivamente o que comia. Precisava de algo para ocupar a mente, e a comida sempre havia sido uma boa válvula de escape.
   - Ele é um idiota, Magá. A gente cansou de repetir isso pra você – ele levantou o rosto dela delicadamente, forçando-a a olhá-lo nos olhos – A não ser que esteja assim por outro motivo. São a Mônica e o Cê, não são?
   Aquilo a surpreendeu tanto que ela parou de chorar.
   - Não estou gostando do Cebola, se é o que você está pensando!
   Ele riu.
   - Não estou pensando isso. Você acha que vai se sentir sozinha se os dois começarem a namorar, não é?
   Agora ela estava realmente surpresa. Ele a havia sacado completamente! O que era aquilo?
   - É que... é que...
   - Você não devia se preocupar com isso. Eles são seus amigos, sabia? Mesmo que fiquem juntos, não vão esquecer de você...
   Não dava mais, ela recomeçou a chorar.
   - É, seria tudo muito bom se fosse realmente assim! Você sabe que não é isso que vai acontecer! Eles vão passar meses e meses dizendo e repetindo que são almas gêmeas, que acharam a sua metade da laranja e ficarão completamente absorvidos um pelo outro! – cada palavra respingava raiva e amargura. – Pra você deve ser fácil falar... Você sempre teve tantos amigos, enquanto eu passava minhas tardes com a Tia Nena, o tio Pepo, o Dudu e o Mingau... E ainda por cima tem a Cascuda, ou qualquer que seja a menina que você esteja paquerando agora. Eu, por outro lado, não consigo nem superar o fracassado que me deu um fora há uns dois anos. Você não tem direito nenhum de me dizer que não posso ficar infeliz! – ela chorou com mais força. Queria falar pra ele que não era nada daquilo; que só estava descontando nele algo que não era sua culpa. Mas precisava desesperadamente descontar em algo ou alguém.
   Ele, ao contrário do que ela esperava, não a ofendeu, não a chamou de boba, nem se irritou. Fez a última coisa que Magali esperava que fizesse: a abraçou com força.
   - Magá, eu te conheço. Você é muito sensível, sensível demais. É natural que sofra com a pressão toda pela qual estamos passando. E também é natural que pense tudo isso, porque sempre foi a mais tímida de nós quatro. Mas eu não quero que esqueça que nós gostamos de você, e sempre apreciamos o seu apoio. Nós sempre reparamos no seu esforço pra nos ajudar, na sua bondade, sua generosidade. Seu desprendimento, muitas vezes abrindo mão de algumas coisas em nosso benefício. Você tem muitas qualidades, e devia reconhecê-las; nós, com certeza, reconhecemos.
   Estava sem palavras. Nunca havia pensado em Cascão como nada além de um cara animado e bem-humorado; não tinha idéia de que ele poderia ser tão sensível, compreensivo e carinhoso. Agora sabia por que tantas garotas queriam ficar com ele, afinal.
  A respiração dele era quente no seu pescoço. E ela estava sentindo todo o seu corpo ficar quente, quente; nunca havia reparado como aquelas roupas pesadas eram quentes. E incômodas. Sentiu seu rosto corar. Podia sentir que ele estava quente, também. Embaraçada, desvencilhou-se do abraço.
   Sentia seu coração palpitar de um jeito que não se lembrava ter sentido por anos, não se lembrava ter sentido desde que... Não. Ela não queria gostar dele. Ela não queria gostar de ninguém. Não depois do que havia acontecido da última vez em que entregou seu coração a um garoto. Ele era seu amigo, certo? Mas no momento ainda a estava encarando com uma expressão de dúvida. Com certeza se perguntando por que ela havia quebrado o abraço.
   - Muito, obrigada, Cascão... – ela murmurou, sorrindo – Você realmente me ajudou. É tão bom ter alguém com quem contar, você é – ela hesitou – você é como um irmão pra mim. Um irmão mais velho; obrigada por cuidar de mim durante meus surtos - riu de leve, ansiosa por estar mentindo tão descaradamente. Ele não era um “irmão” e ela sabia, mas tudo o que não queria era que ele soubesse. Ele não respondeu ao seu comentário. Não sorriu. Não brincou. Só continuava a olhá-la com aqueles olhos que pareciam revistar a sua alma. Era o momento de fugir, ou sentia, não, sabia que seria descoberta.
  - Bom, acho que está na hora de irmos andando, não é? – levantou-se, limpando o vestido que tanto a havia incomodado alguns minutos atrás – Você apaga a fogueira? Eu vou na frente pra... tomar um ar. Faz calor aqui, né? Engraçado como eu nem tinha percebido...
   E fugiu, fugiu com passos velozes, fugiu do garoto carinhoso, de olhos gentis, que havia conseguido curar um pouco das feridas que magoavam seu coração.

  Ele a observava afastando-se. Será que a havia assustado? Será que havia se enganado quando sentiu o coração dela batendo tão forte junto ao seu? Teve vontade de beijá-la, de afagar seus cabelos e dizer que estava tudo bem, que ela nunca mais ia sofrer, que nada nunca mais ia dar errado porque ele estava lá pra protegê-la. E aquilo era tão, tão errado. Ele não podia. Ela não queria ser amada, não daquele jeito. Magali havia sofrido demais, sido ferida demais. Qualquer toque poderia parti-la.
   Suspirou, sentando-se no tronco e retomando a vareta em suas mãos. Olhou com amargura para o coração que havia traçado na areia.
   - Irmão mais velho, né...?
   Com a testa enrugada, rabiscou o desenho até apagá-lo por completo, e enfim seguiu a garota que amava pela escuridão.


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