Amor. Um Sentimento Terrível. escrita por camila_guime


Capítulo 30
Amor, Um Sentimento Não Tão Terrível Assim.


Notas iniciais do capítulo

Meninas, nervosa demais para falar, vou deixar para o final.
Boa Leitura!



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Cap.30 Epílogo

À primeira vista não parecia ser Draco, não fosse pelos olhos, ainda que estivessem fundos e vermelhos de cansaço. Encapuzado como Hermione, Jacques foi quem deu primeiro um passo à frente, subindo no batente da porta enquanto Draco ia para dentro dando passagem. Primeiramente havia apenas um corredor estreito e mal iluminado por arandelas muito antigas. Teias de aranha nos cantos entre o teto e a parede faziam sombras estranhas no papel de parede, floral gasto e amarelado. Era a casa onde Jacques passara alguns anos de sua infância até, mais ou menos, a pré-adolescência, mas ele quase não mais a reconhecia.

Draco esperou a segunda pessoa com Jacques entrar. Ele sabia que era ela, mas não queria acreditar até que realmente a visse, sem capa. Então, encostou-se completamente rente à parede para que os recém-chegados pudessem passar à sua frente sem se esbarrarem. Quando Hermione passou, o perfume dela relembrou a Draco momentos que pareciam estar a anos luz de distância. Então, antes de qualquer coisa, Draco tornou a trancar a porta com dezenas de fechaduras e mais um toque de varinha. Quando falou, sua voz saiu mais grave e rouca do que Hermione lembrava, mas trazia a mesma maciez de antes:

— Virem na primeira passagem à direita.

E Jacques liderou pelo caminho anunciado, saindo em uma saleta escura. Com um aceno da varinha, acendeu os castiçais velhos e um par de sofás muito precários se tornou visível. Ainda havia uns quadros desbotados e uma cômoda corroída por traças. Com cuidado, os três se sentaram na mobília do século retrasado e ela rangeu. Hermione baixou o capuz, assim como Jacques, e Draco sentiu que podia respirar aliviado. Não estava enganado. Contudo, Hermione parecia uma estátua – pálida, bonita, mas triste e inerte, como se absorvesse todos os sentimentos ruins daquele local. Era claro, todo mundo ali estava saturado. Jacques teve que dar a primeira palavra.

— Então Draco... Fiquei aliviado com seu contato. Pretendia vir logo, mas tive que deixar certas coisas em ordem antes. Como está tudo agora?

— Está ainda como lhe descrevi. – Respondeu. Hermione teve outra sensação estranha ao ouvir a voz dele. — Eles estão na sala ao lado; minha mãe e Lúcio.

— Será que se importariam se eu fosse ver? – Jacques hesitou.

— Não se importariam nem se você fosse o Harry Potter! Só vendo vocês podem entender.

Jacques e Hermione engoliram em seco ao mesmo tempo, sentindo um soco ruim no estômago e uma angústia imensa. Então, Draco se levantou sob outro rangido do sofá e os conduziu ao quarto ao lado. Uma outra porta muito delicada, e então, a visão se abriu primeiro para Jacques:

Um ambiente sombrio e degradado como todo o resto até ali; as luzes iluminavam pouco, então pouco se via de fato daquele cômodo, mas o principal era a cama velha, forrada com um lençol corroído onde Lúcio Malfoy jazia. Ao lado dele, sentada e debruçada sobre os próprios braços estava Narcisa, como se tivesse pegado no sono ali mesmo.

Lúcio estava péssimo, a pior visão que alguém poderia ter. Sua pele acinzentada e manchada, como se tivesse pegado algumas doenças e não tivesse se tratado. Seus cabelos estavam incrivelmente esbranquiçados e ralos para o período de tempo de apenas um ano. O rosto ossudo tinha linhas fundas, como se estivesse ressecado, e ele fazia um movimento hesitante de respiração, demasiado fraco para conseguir encher os pulmões direito.

Draco ficou à porta do quarto, olhando a cena, já acostumado com aquela sensação ruim. Deixou Jacques entrar e se aproximar da cama. Ele soube de primeira: Lúcio não estava doente, estava morrendo.

Draco esperou que Hermione passasse, achando que ela estava logo atrás, mas não. Hermione não sentia que tinha coragem, espírito e estômago para ver aquilo mais de perto. Draco a viu reentrando na primeira saleta e, deixando Jacques sozinho, foi atrás dela.

Hermione parou de frente para um par de cortinas púrpuras, desgastadas, que não deixavam ver o que tinha atrás delas. Tocou-as inconscientemente até que pressentiu Draco se aproximando, vagaroso e silencioso como um gato. Virou-se então para olhá-lo contra as luzes dos candelabros. Ele parou encostando-se à outra ponta da cortina. Puxou-a alguns centímetros, e revelou uma janela de vidro trincado, que dava vista para um beco escuro e lodoso. Tudo ali e ao redor era incrivelmente decadente.

— Não achei que você fosse vim... – Comentou Draco. Estava tão triste que quase parecia pertencer àquele lugar.

Hermione deslizou a mão pela cortina, alcançando a dele, fria e leve.

— Eu não poderia deixar de vim... – Respondeu ela sentindo uma lágrima arder e turvar sua vista, escorrendo quente depois.

Draco parecia quase morto também, como se tivesse a vida sugada. Mas naquele momento, sentiu um pouco dela ameaçando retornar. Como reflexo a isto, aceitou e correspondeu à mão de Hermione na sua, acolhendo-a. Bastou um passo para que Hermione o alcançasse, e fechasse os braços ao redor dele, oferecendo o pouco de conforto que poderia dar naquele lugar horrível.

— Vai ficar tudo bem agora... – Hermione sussurrou quando Draco deixou claro seu desespero interno.

— Você percebe? – Draco soluçou. — O luxo? O orgulho? O status e tudo mais? Não há mais nada! Nós afundamos nossa própria vida, Hermione. Olha no que ele se tornou, o meu pai: um verme! E a minha mãe... A infelicidade dela é a maior que eu já vi em alguém! Ela não queria isso, ela nunca fez nada de errado. Ela só queria que fôssemos uma família... E agora ela não tem nada. E nem eu! Pelo quê podemos lutar? Pelo nosso fracasso?

— Não diz isso Draco! – Pediu Hermione chorando. — Não fala assim.

— Mas é isso. – Ele sussurrou com uma horrenda determinação. — Somos fracassos como pessoas, humanos e bruxos. Somos como três pessoas resumidas a meros insetos. Tenho nojo do que somos, dessa imagem... Os dementadores vivem dentro de mim, sabe...

Draco se afastou e sentou no sofá, largando a cabeça para trás tentando reverter às lágrimas. Hermione quase não tinha forças nem para si mesma, impregnada por aquela situação ruim. Parecia mesmo que havia dementadores nas sombras da casa, por que tudo era terrivelmente infeliz. Mas Hermione não se deu por vencida, lembrando do alívio de ter o reencontrado, e que aquilo deveria valer a pena.

Ela foi até junto de Draco, e antes que ele pudesse tentar se afastar de novo, como se tivesse uma doença contagiosa, Hermione segurou seu rosto entre as mãos e lhe deu um profundo beijo. Não teve a ver com a Magia Real que Hermione detinha, mas Draco sentiu a vida retornando a si como na noite em que foi praticamente ressuscitado. Cada pedaço de sua alma enegrecida se viu forçada a reviver em resposta àquele sentimento tão ávido que se deixou mostrar.

Draco acomodou-se para trazer Hermione ao seu lado, envolvendo-a em seus braços com movimentos mediados entre a avidez e a delicadeza. E o vestígio de treva se contorceu dentro deles como um fantasma sendo afogado pela luz quente daquele sentimento.

Hermione atou-se a Draco como ele se entrelaçou a ela, e a dor sendo extinta. Afastaram-se ao passo que a sôfrega saudade foi consumida. Hermione deitou a cabeça de Draco em seu ombro e o confortou enquanto o silêncio não era quebrado por um grito estridente de puro pânico.

Narcisa Black irrompeu pelo corredor correndo em desespero. As mãos na cabeça como se estivesse enlouquecendo, adentrando no cômodo onde Draco e Hermione estavam. Ela gritava sem intervalos. Não precisaram falar algo para Draco entender e sair correndo para o quarto ao lado, enquanto Ciça em desespero largava-se sobre Hermione, agarrando-a pelos ombros e chorando copiosamente.

Draco entrou no quarto ao lado e viu Jacques alongando o lençol até acima da cabeça de Lúcio. Draco estancou com uma torção em suas entranhas, ficando mais branco que podia ficar e quase perdendo a sensibilidade nas pernas. Já deveria esperar por aquilo há dias, mas vivenciar era bem diferente daquilo que achou que fosse enquanto ele imaginava esse momento acontecendo. Não sabia se decidia sentir alívio, se aquilo era o certo ou não a sentir. Ou se sentia pesar, se é que Lúcio merecia... Mas os gritos de sua mãe ecoando do outro quarto o destroçou.

Jacques amparou o sobrinho, ao passo que Hermione tentava, meio sem jeito, tranquilizar Narcisa. De toda forma, estava acabado, finalmente. Estava tudo acabado. Os laços com o passado pareciam, enfim, terem criado nós, não deixando de existir, apenas bloqueando seu fluxo de influência, deixando de interferir no restante, no futuro.

A paz é um bem dos mais ricos. Para que exista, é necessário que a pessoa detenha uma alçada de outras coisas igualmente difíceis de alcançar. Felicidade, amizade verdadeira, bondade, amor, dentre outras mais. Mas contraditoriamente a paz pode ser muito simples de ser atingida, quando há o que chamamos de “satisfação”. Aquela sensação de que está tudo certo, tudo bem para você e ao seu redor. Não existe a perfeição sublime, mas isso não significa que não se possa encontrar um eixo equilibrador. E é necessário que se creia que cada um tenha esse eixo, e o procure. Busca esta que pode durar por vidas, ou pode ser facilmente estancada ao encontro daquele detalhe que, muitas vezes, é tão sutil e singelo, que duvidamos de seu poder.

Se a paz estava plenamente restaurada? Acredito que não. Plenitude é uma palavra que requer uma uniformidade, e a vida passa longe de ser uniforme, seja para quem for! Mas dá para dizer que, para alguns, coisas importantes entraram no eixo.

Uma manhã tranquila se estendia clareando a noite, abrindo mais uma página da história daquelas vidas. O sol penetrou pela janela na casa no Largo Grimmauld, 12, aquecendo o rosto do homem que dormia tranquilamente num quarto confortável. Preguiçoso, Harry acordou com o despertar do relógio. Rolou no colchão, ficando de peito para cima. Estava claríssimo, como se aquela manhã em especial fosse mais dourada. Mas logo isso deu lugar à outra coisa, notando a ausência de Gina. Tão logo ele se levantou e calçou os chinelos, sua esposa irrompeu pela porta do quarto com os olhos arregalados, ainda de pijamas e despenteada.

— Bom-di... Gina, o que houve? – Perguntou Harry.

— Ai Harry... – Gina ofegou, passando a mão na testa úmida.

— O que está acontecendo? Você não está bem...

Harry correu para Gina, sentando-a em seguida na cama. As mãos dela suavam geladas, e ela tremia inteira.

— Ai Harry... – Gina repetiu atônita.

— Por Merlin! Me diz o que está acontecendo! Tem alguém na casa? – Harry tateou pela cômoda alcançando e erguendo a varinha, mas Gina segurou seu braço (com uma força desnecessária, diga-se de passagem).

— Harry, Harry... – Repetiu ela, estranhamente começando a sorrir enquanto seus olhos brilhavam com lágrimas. — Ah Harry...

— Gina, o que há? – Harry insistiu, mas ele estava começando a ficar com certo medo.

O dia tinha amanhecido igualmente claro n’A Toca. Os Weasley já se encontravam de pé. Pelo menos maior parte deles. Ronald ainda fazia corpo mole para se levantar, até que se viu sendo obrigado por um despertador que piava e cacarejava descontroladamente (presente de Natal de Jorge). Ao descer, Ronald encontrou seus pais gargalhando com Percy e Jorge na sala de estar, acompanhados com suas esposa e namorada, respectivamente.

— Ah, aí vem ele! – Disse Srª. Weasley quando Rony descia as escadas com a maior cara de sono.

— Nossa! Está criando raízes n’A Toca! – Caçoou Jorge em brincadeira.

— HAHA! Para quem não queria se amarrar você está enraizado também, heim Jorge! – Rony retrucou. — Sem ofensas Angy...

— Ah, mas quem disse que eu estou enraizado? – Jorge replicou, percebendo tarde a resposta infeliz. Angelina Johnson lhe lançou um olhar torto e chocado ao seu lado. — Ah, não, eu não quis dizer... Espera aí... Hey, Angy...

Angy foi para a cozinha e Jorge em seu encalço.

— Espero que não briguem feio... – Comentou Percy.

— Que nada! Brigam o tempo todo só para fazer as pazes depois esses dois! – Rony deu de ombros.

Na sala, Arthur e Molly riam quanto, de repente, o bebê no colo de Audrey Weasley começou a chorar. Rony só então pareceu reparar na sobrinhazinha, Molly II, filha de Percy.

— Ah, ela acordou... – Disse Audrey tentando reacomodar a bebê nos braços.

— Isso requer braços mais práticos! Dá ela aqui... – Pediu a avó, Srª. Weasley.

— Braços mais práticos? Ela sentiu minha presença! – Gabou-se Rony, precipitando-se para Audrey. — Deixa eu segurá-la vai... Isso... Vem para o titio...

Audrey passou a menininha de meses para os braços de Rony, que a levou para a janela pegar o sol matutino, deixando os outros retomarem a conversa e ouvirem as piadinhas de Percy, enquanto tomavam chá. O neném logo começou a dar gostosas gargalhadas como se achasse Rony a pessoa mais divertida que conhecia.

Depois de um tempo, Jorge e Angelina voltaram para sala, abraçados como dois pombinhos. Rony olhou para o resto da família como se dissesse “não falei?”. E então, de repente, um bicho passou direto pela janela, as grandes asas quase batendo no teto, e Hermes pousou na mesa de centro trazendo cartas no bico. O Sr. Weasley as pegou e leu:

— Carta do Ministério. Carta de Carlinhos. Ah! Gui! – Ele passava as cartas para Molly, que tentava abrir as dos filhos ao mesmo tempo. — E essa aqui... Ah... Olhem só... – Disse Arthur em tom levado. — Amanda Cross... Ah, para quem será essa, hã?

— HEY, me dá isso aqui! – Disse Rony se precipitando para o pai, mas Jorge foi mais rápido, puxando a carta para ele. — Jorge, ME DÁ A CARTA!

— O que? Eu não ouvi direito... Jogar a carta? Angy pega aí!

E Jorge arremessou a carta para Angelina, que a apanhou no ar.

— Nossa! Ela escreveu em vermelho! Uau! Que sensual! – Disse a garota.

— Sem querer ofender, você ainda não é da família oficialmente, no cartório, vai ficar do lado dele? – Retrucou Rony, deixando Molly II nos braços de Percy. — Me dá a carta Angy!

— Audrey pega! – Angelina jogou a carta para a esposa de Percy que deixou passar.

Rony apostou corrida com Jorge, mas conseguiu seu envelope bem a tempo.

— UH... Acho que tem alguém gamado em alguém por aqui! – Comentou Jorge maliciosamente em resposta.

— Amanda tem falado muito de você no Ministério, você não ouviu as fofocas Ron? Parece que ela gosta de você! – Percy atiçou.

— Não. No Ministério eu trabalho, e não fico dando ouvido às fofocas... – Disse Rony, pomposo, mas correndo para a janela atrás de conseguir ler a carta, sossegado.

— HEY! Vejam! – Exclamou Sr. Weasley. — Uma carta de Harry!

— Me dê! – Srª. Weasley puxou o envelope. Já não bastava ficar zarolha para ler duas, queria ler as três ao mesmo tempo. Mas assim que abriu a de Harry, seus olhos ficaram vidrados e sua boca se abriu com um estalozinho.

— O que foi Molly? – Perguntou Arthur pegando a carta da mão dela. O estado da esposa se repetiu nele. Logo, todos os filhos e as noras se avolumaram ao redor da poltrona do Sr. e da Srª. Weasley.

As cinco bocas se abriram igualmente com a notícia.

— Precisamos avisar a Hermione! – Rony lembrou-se no mesmo instante.

E por falar nela...

Hermione acabava de sair do banho, pronta para ir para o Ministério para mais um dia de trabalho. Morava em Londres, numa casa razoavelmente grande, com Draco e Narcisa (o que levou um tempo para ser digerido pelos amigos, mas já havia se habituado com o fato). Na casa era tudo muito amplo e claro, e todas as três varandas nela espalhadas cheiravam a margaridas e a grama recém cortada.

Disposta, Hermione desceu do quarto. Ao passar pela sala, encontrou Narcisa numa poltrona, lendo um livro romântico, próxima da janela.

— Bom dia! – Desejou Hermione.

— Bom dia querida! Dobby fez questão de fazer o café hoje. Não pense que não tentei impedi-lo! – Disse Ciça.

— Ah! Que beleza! Dobby está aqui? Ele nunca desiste! Já disse para não fazer trabalhos domésticos nesta casa...

Hermione apressou o passo para cozinha a fim de ver seu amigo pequenino. Ao adentrar no cômodo, deu de cara com Draco, que a agarrou antes que tropeçassem por cima do porta-guarga-chuvas.

— Opa! Oi... – Disse Hermione, facilmente derretida pelo sorriso de Draco.

— “Opa” foi ótimo! – Riu-se ele, envolvendo Hermione corretamente em seus braços. — Mas que bom dia, não?

— Hum-hum... – Limitou-se Hermione antes de beijar Draco afetuosamente como em todas as manhãs.

Ouviu-se um som de garganta arranhando, e o casal se soltou para procurar o dono do ruído. Olhando para abaixo, nas barras da calça de Hermione, Dobby sorria com seus grandes e doces olhões claros.

— Dobby! – Sorriu Hermione. — Como você vai?

— Dobby veio fazer uma surpresa para a amiga Hermione. Dobby preparou o café! Venham, venham! – E saiu puxando Hermione e Draco pelas barras das calças.

Sobre a ornamentada e retangular mesa, encontrava-se um batalhão de coisas gostosas, coisas que lembraram Hermione dos tempos de Hogwarts.

— Hm... Dobby, você não quer morar aqui? – Perguntou Draco, admirado, e recebendo uma cotovelada de Hermione. — Tudo bem, foi só uma ideia...

Dobby deu uma risadinha e puxou as cadeiras para os dois sentarem, sentando a ele mesmo em seguida, num banquinho comprido.

— Pois bem, que há de bom? – perguntou Draco tentando entrar numa conversa.

— Dobby vai à casa dos Weasley amanhã cedo. – Disse o elfo.

— Jura? Ah, mande lembranças! – Disse Hermione com doçura.

— Mandarei! E então? Está gostoso? – Perguntou Dobby parecendo satisfeitíssimo com a cara deliciada dos dois, que não podiam falar de boca cheia.

— Draco! – Chamava Narcisa vindo da sala com as mãos cheias de catas novas. — Jacques lhe mandou uma carta. E Hermione, tem uma aqui de Ronald Weasley para você. As outras são contas. Temos que negociar com os fornecedores de madeira Draco, o estoque de vassouras está acabando e a procura é grande, a loja tem que ficar abastecida!

— Vou ver isso, mãe... – Disse ele guardando a carta de Jacques dentro do bolso do paletó para ler quando acabasse de comer.

Hermione alcançou a de Rony e abriu-a ansiosamente, engasgando em seguida com a comida de Dobby, assim que leu as breves e reveladoras frases apressadamente rabiscadas lá.

— O que houve? – Ciça perguntou vendo o estado de Hermione.

— Ai meu Merlin!

— O que foi Hermione? – Insistiu Draco, juntando a cabeça à de Hermione para ler junto. — Minha nossa! – Ele sorriu.

— Precisamos ir correndo! Ai Deus! Ai, ai, ai! – Hermione disparou pela casa atrás da bolsa, reaparecendo na cozinha em dois segundos. — Vamos Draco!

— Mãe, a senhora vem? – Perguntou Draco vendo a mãe lendo a carta lacônica de Rony.

— Bem, acho que sim... Dobby! – Chamou Ciça, o elfo pulando para segurar na mão dela, e então os quatro sumiram pela lareira através do pó de flú.

A lareira na casa do Largo Grimmauld parecia não parar naquele dia. Sr. e Srª. Weasley saíram lá primeiro, e Harry disparou ao encontro deles! Depois, teve que abraçar mais uma fila que saía seguidamente de dentro da lareira. Jorge e Angelina, Percy e Audrey, Rony e, tão logo, Hermione e Draco, com Narcisa e Dobby.

— Viemos assim que a carta chegou. Obrigada por avisar Ron! – Disse Hermione cedendo um superapertado abraço e um beijo na bochecha de Rony. Bem em seguida, pulou para frente, a fim de alcançar Harry. — MEUS PARABÉNS HARRY!

— Ah! Obrigado! – Disse ele, já com o rosto corado pelos beijos de Molly, Angelina e Hermione.

— E cadê a minha irmã? – Perguntaram ciumentos Rony e Jorge, ao mesmo tempo.

— Estou aqui! – Disse Gina descendo as escadas, radiante.

Molly, desfeita em lágrimas, correu para abraçar a filha assim como Arthur Weasley. E então a fila se formou em volta de Gina dessa vez, deixando Harry livre para respirar.

— Oi Potter? – Cumprimentou Draco com educação.

— E aí Draco?

— Meus parabéns pelo bebê! – Disse Draco assumindo um pouco mais de cor no rosto.

— Obrigado. Como vão vocês por lá? – Harry também se sentiu corando.

— Muito bem.

— AH GINA ESTOU TÃO CONTENTE! – Exclamou Hermione pulando no pescoço da amiga. — VOCÊ VAI TER UM BEBÊ!

— É Mione, daqui a nove meses, não precisa morrer de tanto chorar agora! – Disse Gina tão vermelha quanto os cabelos. Mas foi inútil pedir, todas as mulheres presentes estavam congestionadas de lágrimas. — Eu disse para o Harry não contar n’A Toca ainda, mas ele não me ouve!

— Eu precisava contar! É uma supernotícia! – Desculpou-se Harry, os olhos brilhando por trás dos óculos.

— É Gina! Harry está certo! – Confirmou Ron. — Não queria que soubéssemos agora, mas não ia ser nem um pouco diferente se soubéssemos apenas semana que vem!

O grupo riu descontraidamente. Harry e Gina deram um beijinho discreto que provocou vários “OWNS” pela casa. Depois, Molly e Audrey foram para cozinha preparar alguma coisa para a comemoração da notícia. Arthur, Jorge e Percy ficaram cercando Gina e enchendo-a de elogios e mimos. Hermione ficou com a pequena e fofa Molly II nos braços e divertia-se com ela, envolta por Harry, Rony e Draco que, a propósito, começou a encabulá-la com um olhar realmente diferente em sua opinião.

Anos mais tarde, a coisa de certa forma se repetia. Harry, Rony, Hermione estavam de volta à plataforma nove e meia, mas dessa vez não como alunos.

Harry e Gina levavam seus filhos para embarcarem no Expresso de Hogwarts. Harry já tinha entendido há muito tempo, mas só quando se tornou um pai realmente compreendeu tudo. Compreendeu os seus próprios pais de uma forma que, antes disso, não compreendia. Sabia que naquele instante sua alma estava repartida em três, não por causa de uma horcrux, mas por James Sírius, Alvo Severo e Lílian Luna. Harry não tinha muita experiência com “pais”, mas era só lembrar de Sírius, o Sr. Weasley e até mesmo Dumbledore, e de repente, tinha a sensação de que sabia exatamente o certo a fazer. Sem falar que tinha Gina ao seu lado, a mulher mais doce, amável e cuidadosa que poderia ter escolhido como esposa.

James Sírius corria animado para o trem enquanto Lílian, muito chegada a ele, ia ao seu encalço. Alvo Severo apertava a mão de Gina, mas logo correu para Harry, pouco antes de embarcar.

— Tudo certo? – Perguntou Harry, ainda com o mesmo brilho atrás dos óculos que no dia em que soube que Gina estava grávida pela primeira vez.

Alvo, baixinho, cabelos pretos e espetados, e de grandes belos olhos verdes parecia a personificação da ansiedade.

— Grifinória, certo? – Perguntou ele, tenso.

Harry sorriu.

— Certo. Mas não se esqueça do que eu disse: qualquer casa de Hogwarts é muito digna, meu filho, e aquela para qual você for designado será presenteada com um bruxo promissor! – Harry garantiu.

— Valeu. – Disse Alvo abrindo um grande sorriso, enchendo o coração de Harry de ternura.

— Hey! – Disse Gina chamando a atenção dos dois. — Vejam: Ron e Amanda!

— Eu vou indo, pai! – Avisou Alvo correndo para alcançar o irmão mais velho antes que ele sumisse trem à dentro.

A pequena Lílian retornava para os braços de Gina.

— Ron! Amanda!– Harry cumprimentou quanto eles chegaram perto, trocando fortes abraços.

— E aí Harry? Maninha?

— Como vai Amanda? – Cumprimentou Gina.

A única ruiva que não era Weasley acabou se tornando uma. A esposa de Rony era tão parecida com os demais integrantes da família que, se não fosse casada com Rony, seria parente de algum outro modo. Gentil e alegre, ela sorriu abraçando Harry e Gina.

— Olá meu doce? – Disse Gina se abaixando para falar com Hugo, o pequeno filho do casal.

— Pronto para Hogwarts ano que vem? – Perguntou Harry.

— Só ano que vem! Por enquanto quero ficar em casa e brincar, acordar tarde, essas coisas... – Disse o menino, a cara de Rony.

— E Rose? – Perguntou Gina.

— Acabou de embarcar – respondeu Amanda.

— Puxa... Queria tê-la visto. – Gina lamentou.

— Ah, vejam aqueles ali! – Apontou Rony para trás de Harry e Gina.

Do outro lado do saguão vinham Hermione e Draco. Draco segurando no colo uma pequenina de dois anos, cheia de cachinhos loiros, enquanto, Hermione segurava a mão de um garoto de porte alto e esguio para um menino de onze anos. Eles se aproximaram dos amigos e Rony se precipitou para segurar a menina dos braços de Draco, Sarah.

— Como vai minha afilhada, hã? – Ele caducou.

— Bonita! – Disse Hermione abraçando os amigos e seus afilhados, Hugo e Lílian. — Meus amores!

— Bom-dia Malfoy! – Disseram Harry, Rony e Gina.

— Bom-dia – responderam Draco e Scorpius juntos, os fazendo rir.

— Pai, o tem não vai demorar a sair! – Disse Scorpius muito educado.

— Está bem, vamos lá! – Draco pegou a mão do filho, que acenou um tchau para os conhecidos. — Até daqui a pouco Mione! Tchau pessoal!

— Tchau! – Disseram.

Harry de repente ficou boquiaberto, e todos quiseram saber o motivo.

— Meu Deus, estou ficando velho! Vejam Teddy!

Então todos se viraram para a outra direção e, embarcando no expresso, Teddy Remo, afilhado de Harry agora um adolescente, acenava para eles.

— Tudo bem vovô, se você está velho, sou o que? Temos a mesma faixa etária! – Brincou Rony, e Hermione e Gina riram junto.

E como eu disse anteriormente, a plenitude é uma coisa radical demais, mas ter satisfação e uma vida feliz, ao lado de amigos, não é nenhum sonho impossível. As escolhas estão o tempo todo à nossa frente, e sempre vai ter aquela que nos guiará pelo caminho certo. Por amor, o rumo daquelas vidas se uniu e, ainda por amor, conseguiram se equilibrar naquela perigosa corda-bamba e atravessar precipícios terríveis, ainda que muito se perdesse no caminho, por conta do vento que o amor sopra de contra. Talvez ele só queira garantir que os verdadeiros e bondosos apenas consigam passar...

Tudo bem; talvez o amor não seja um sentimento tão terrível assim...

FIM.


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Notas finais do capítulo

Hoje definitivamente passei o dia inteiro na frente do computador, e acho que deixei muita gente irritada aqui em casa... rsrsrsrs
Bem, vou começar pelos agradecimentos!
Obrigada por terem chegado até aqui, me ajudado no desenvolvimento dessa fic que eu tinha começado a quase (ou mais de) um ano! Finalmente tive coragem para postá-la e então não consegui mais parar de escrevê-la! Obrigada por terem me alimentado a vontade de retribuir a esse carinho todo especial pela história! Essa foi mais que uma fic para mim, escrita no ano em que acabou o Harry Potter nos cinemas, não tem mais livros novos nem filmes novos agora, e ter conseguido escrever algo baseado nessa história tão importante para mim foi muito especial! (Aqui vai uma obrigada à JK Rowling por ter criado esse mundo fantástico - te devo uma!).
Sinto-me muito feliz de estar aqui agora, e quero acrescentar que muito do que eu havia planejado para essa fic (em especial o final trágico inicial dela) foi remodelado para agradar não só a mim, mas a vocês também, por que é especial justamente por essa partilha. Eu não escrevo só para mim, então precisamos balancear isto, certo? Bem, é a segunda vez que tento mandar esse Epílogo por que a página deu bugue na primeira. Espero poder falar mais com vocês na resposta aos reviews por que aqui agora as palavras estão me fugindo pela emoção.
Espero do fundo do meu coração que tenham gostado desse final que eu lutei para ser o mais democrático e feliz possível, colocando todo meu amor nele por um dia inteiro! Rsrsrs
Vou parar de falar agora por que isso aqui está ficando muito grande e ninguém gosta de ler notas, não é verdade? Mas antes, queria informar que UMA LEITORA MUITO LINDA, JÉSSY-QUERIDA, FEZ UM BLOG E ME PRESENTEOU COM UMA ENTREVISTA MINHA LÁ, E EU ESTOU LISONJEADA DEMAIS PARA SABER COMO AGRADECÊ-LA! ENTÃO, ME AJUDEM INDO LÁ E CONHECENDO O BLOG DELA, SEGUINDO E TUDO MAIS OK?
http://nossafanfic.blogspot.com/
A autora aqui se despede esperado que sintam um grande abraço daí do outro lado, tornando a dizer que se sente muito grata!
Obrigada pessoal!
Mila.