– Eu estou com fome... – Steven reclamou.

– Já estou terminando! – retruquei mal-humorada. Se tinha algo que eu odiava fazer era cozinhar.

E agora, essa era a minha missão, já que Glister, grávida e lenta se recusou a chegar perto do fogão e Erin estava viajando a trabalho.

Mexi novamente naquele macarrão. Tinha ficado um grude. Decididamente, eu não sabia cozinhar.

– Eca... – murmurei jogando todo o macarrão no lixo e pegando a lista telefônica.

– Cadê nossa comida? – Izzy adentrou na cozinha.

– Estou pedindo... – respondi discando o numero do restaurante chinês.

– Você não ia fazer?

Apenas indiquei o lixo com a cabeça. Ele olhou e fez uma cara de nojo.

– Que seja, então... – disse voltando para a sala.

Pedi sete porções de frango xadrez, muito molho e o dobro de biscoitos da sorte.

– Deram 78,50 dólares, senhorita Draffy. Vai pagar agora?

– Hã... Não. Põe na conta, ok?

– Tudo bem... Estou pondo na conta do senhor Stradlin, já que a sua estourou...

– Sério, Chang?

– Como um ataque cardíaco... – ele respondeu levemente irritado – Estou mandando para o apartamento. Tenham um bom apetite.

E desligou.

Pus o telefone no gancho e limpei minha bagunça.

– Draffy! – ouvi Glister chamar.

– O que é? – eu havia virado uma espécie de escrava naquela casa.

– Vem logo! Anjos da lei já vai começar!

– Ah, sem essa! – A voz de Axl a cortou – Eu quero assistir UFC!

Suspirei e peguei uma das centenas de garrafas de vodka que tinha no nosso armário da cozinha, banheiro, quarto, sala...

Aonde a gente ia, a gente via vodka.

– Dá para pararem de gritar um com o outro? – me sentei no sofá. Slash, inutilmente tentava dedilhar sua guitarra, mas com toda a gritaria da Axl com a Glister era praticamente impossível.

– Eu desisto – ele anunciou subindo para o quarto com a Gibson nas costas.

Tomei o controle da mão do Axl.

– Hey! Me devolve! – ele exigiu.

– Não. Anjos da Lei é sagrado...

– UFC, também!

– Tem uma TV no teu quarto... – arqueei uma sobrancelha – Por que não vai lá assitir?

– Por que talvez eu não possa subir escadas? – ele respondeu apontando para o pé quebrado.

Dei um longo gole na vodka.

– Então nós vamos assistir no seu quarto. Vem Glister. Você pode subir escadas até o oitavo mês de gravidez. E Axl, você pode atender quando a comida chegar?

Ele apenas resmungou.

– Acho que isso é um sim... – dei os ombros.

Glister subia com dificuldade atrás de mim.

– E aí, Draffy? Já arrumou sua mala, já?

– Não.

– Como não?

– Não. Eu arrumo no dia.

– É amanhã!

– Ah é...

Íamos partir para a turnê amanhã. Pegaríamos um avião e iríamos para Londres, depois Berlim, Paris, Madri, Roma, Tóquio e por fim Nova York.

Eu não podia mentir. Estava super ansiosa para isso. Eu e Axl já havíamos resolvido. Ele subiria no palco numa cadeira macia de veludo vermelho e eu só assumiria o controle se algo desse muito errado mesmo.

Muito mesmo.

E isso significava menos groupies psicóticas querendo meu sangue e uma jorrada de pedras no palco e coisas assim. Eu só iria aproveitar nos sets de filmagem e curtir as viagens. Junto com Glister, que a base de muita reclamação e muitos berros convenceu Duff de leva-la também.

– Vamos arrumar agora? – ela perguntou quase dando pulinhos.

– Agora? Mas e Anjos da Lei?

– Ah, Johnny Deep pode esperar... – ela disse com descaso – Fazer malas é tão divertido...

– É... Muito divertido.

– Finalmente alguém concorda comigo!

A Glister precisa urgentemente aprender a entender o sarcasmo.

Bufando fui até o quarto do Duff, onde eu guardava meus pertences agora, e Glister tirou sei-lá-daonde um mega mala dourada.

– Vou me suicidar... – suspirei olhando aquilo.

– Que mal-humor! Essa mala é o hit da temporada...

Apenas balancei a cabeça frustrada.

– Vamos separar o essencial para você levar. Em Londres, que é mais dark e sombrio, eu recomendo...

– Já decidi. Vou levar meus casacos, minhas jaquetas de couro e as militares, minha capa de chuva, minhas botas, minhas calças jeans, minhas calças de couros, meus cintos, minhas camisetas, minhas blusas, meus sueters, meus chapéus, meus all stars, e minhas roupas intimas. Precisa de mais?

– Eu sugiro que leve algumas das suas meias ¾ e aquelas 7/8 que eu te dei, além das saias de tecido. Paris é muito chique.

– Vou ter medo de você eu Paris... – ri.

– Eu estou tão empolgada! – ela surtou.

– A turnê vai durar até quando?

– Até junho... Vai ser meio longa, eu sei. Mas aposto que a gente vai se divertir como nunca!

– Com certeza! – concordei pondo minhas roupas na mala. Ironicamente ou não, couberam direitinho. Todas.

– Ainda dá tempo de assistirmos Anjos da Lei... – ela disse alegremente olhando o relógio.

– Eba! – comemorei.

Ligamos a TV e mesmo sentindo falta da Erin, que já deduzia o mistério no meio do episódio e estragava toda a graça, assistimos e acima de tudo, babamos em cima do Johnny Deep.

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– DRAFFY!!!! ACORDA! – Glister gentilmente me chamou naquela manhã esquisita. Estava meio frio, e eu agarrada ao Slash, dormia tranqüila e feliz.

Até agora.

– Hã? – ele levantou assustado. Glister já abria as cortinas, deixando o sol de outono nos cegar.

– Glister! – resmunguei.

– Acordem! Vamos! O avião sai em uma hora!

Enfiei minha cara no travesseiro.

– Draffy! – ela surtou.

– Ok! Estou levantando... – bufei pondo o roupão e o amarrando irritada.

Slash andou como um zumbi descabelado até o banheiro.

– Vamos, você toma banho na PinkHouse! – ela determinou. Notei que ela já estava pronta. Enfiada num vestido rosa, de florzinhas roxas e azuis, com uma sapatilha lilás, um casaco púrpura e uma boina também púrpura, parecia a barbie (a boneca, não a vadia psicótica) grávida.

Glister pegou uma muda de roupas para mim, que mais tarde descobri ser uma legging de couro, blusa de lã laranja e um casaco preto, e me carregou até a PinkHouse, onde eu tomei um banho rápido e me troquei ouvindo suas exigências.

– Vai logo! – ela gritou do corredor. Calcei minhas botas correndo e sai atrás dela. Os meninos já esperavam, com as maiores caras de sono, no hall.

– Ela também acordou vocês? – perguntei para Steven.

– Sim... – ele respondeu cansado.

Suspirei.

– Tem cigarro?

– Sempre tenho... – me entregou uma cartela de Malboro. Como de costume, acendi um.

Fumar de manhã é uma tradição para mim.

Entramos na limousine e fomos encaminhados até o aeroporto de Los Angeles, onde tinha uma multidão de fãs e repórteres nos esperando.

– Que maravilha... – resmunguei afundando minha cabeça numa touca e pondo meus óculos escuros. Glister, ao contrário de mim, ajeitava o batom e o cabelo.

Ela já era figurinha carimbada em revistas. A grávida misteriosa... A namorada Do Duff... A Golpista...

Ela era conhecida por esses três termos.

Já eu? Era só a morena misteriosa, que inocentemente mandava todos se ferrarem mostrando um lindo e charmoso dedo do meio para as câmeras.

Saímos da limousine e fomos até o avião particular. O caminho inteiro, eu ia amparada por Slash, que em si, já chamava mais atenção que eu.

Quando finalmente entramos a bordo do avião e ouvimos todas as informações chatas dada pela aeromoça, como não usar drogas ou não fumar e usar o cinto.

– Baseado? – Izzy ofereceu e todos pegaram, menos Glister, que agora lia uma revista de fofoca.

A aeromoça apenas suspirou e aceitou um também.