Mel ainda estava dormindo quando me levantei. Quando me olhei no espelho, quase tomei um susto!

Parecia que eu tinha chorado horrores na noite passada, e estava com uma cara extremamente triste. Mas não só meu rosto estava assim, eu senti que a tristeza também tomou conta do meu corpo.

Mas porque isso? Não aconteceu nada triste! Só minha tia no Hospital, mas não tinha nada a ver porque eu sei que a pressão dela aumenta sempre e ela sempre fica bem. Bom, acho melhor eu deixar pra lá.     

Ajeitei meu cabelo e acordei a Mel. Ela é engraçada de manhã, fica olhando pra você durante vários minutos como se não te conhecesse. Na primeira vez que a gente dormiu junto, eu fiquei com um pouco de medo, mas logo me acostumei.           

 Enquanto ela tomava banho, fui preparar o café da manhã pra gente. Eu preferia comer na escola, mas como eu não estava fazendo nada enquanto ela estava no banho, fui cozinhar ovos e bacon, que aliás é a única coisa que sei fazer na cozinha, e pegar suco de laranja na geladeira.             

Quando Mel saiu do banho, já pronta, a gente tomou café.

 _Você ta com uma cara horrível, Lua. Parece que viveu no sofrimento por uma eternidade. _ Falou ela enquanto tomava o suco.             _Sei lá. Eu acordei assim com essa cara nem sei porque. Acho que eu sonhei alguma coisa ruim que não me lembro e chorei durante esse sonho. Essas coisas acontecem com todo mundo.           

 Ela concordou comigo mastigando o bacon, depois comentou:

  _Lua, você foi pra onde à noite? Eu olhei pra o teu lado e tava vazio. Mas aí fui dormir de novo. Achei que você tivesse ido beber água.             _Não eu não bebo água à noite. Estranho. Eu não me lembro de ter me levantado. Eu devo ter ido no banheiro. Minha mãe diz eu quando eu era pequena eu pedia coisas enquanto tava dormindo. Acho que evolui pra sonâmbulismo, ou sei lá qual é a palavra. - Nós duas rimos com essa hipótese.

Mas isso era estranho mesmo pra mim. Eu nunca fui sonâmbula, só falei algumas vezes dormindo, o que é extremamente normal. Resolvi deixar pra lá.           

Terminamos o café da manhã e eu fui tomar meu banho enquanto a Mel retirava a mesa. Nós já estavamos atrasadas. A Mel é muito lerda pra se arrumar, demora séculos, e, junto com a minha preguiça, viramos tartarugas.             

Me arrumei e peguei minha bolsa. Na hora que íamos saindo de casa, minha mãe chegou. Ela contou que estava tudo bem com a minha tia e agradeceu a Mel por ter vindo dormir aqui. Nem sei porque ela agradeceu Mel vem dormir aqui quase sempre. Dei um beijo na minha mãe e fomos pra escola.             

Chegamos na escola na segunda aula, como eu havia previsto, e Lie veio com o interrogatório de sempre quando eu chego depois da primeira aula, só que dessa vez foi pra Mel também.             

_Ah então ta explicado a Mel chegar atrasada. Só podia ter se juntado com Lua mesmo. - Falou Juli depois do interrogatório de Lie.                Tivemos aulas de biologia, química e português, e a última foi de educação física. Fomos para a quadra e ficamos sentadas lá como acontece normalmente nessa aula. O professor nem liga.

Comentamos das pessoas que estavam na quadra, destacando os defeitos e as qualidades. Nesse ponto eu acho meu grupinho parecido com aqueles grupinhos de garotas malvadas que tem em filmes americanos. É de dar um pouco de medo.

Juli também cominucou a nós que  a mãe do Naten Smith tinha sofrido um acidente de carro ontem. Quando ela mecionou isso, minha vontade de chorar foi imensa, o que foi bastante estranho. Deve ter sido porque eu sabia mais ou menos o que ele estava sentidindo, porque meu pai também teve um acidente de carro.

Mille perguntou se a mãe dele estava bem e Juli disse que ela ja estava consciente, só repousando no hospital.             

A aula acabou e nós fomos embora, cada uma pro seu lado.  

Quando cheguei em casa, a única coisa que passava na televisão era notícias sobre a mãe do Naten, então desliguei e fui pegar meu violão.  Toquei por alguns minutos até pegar no sono na sala. Dormi a tarde inteira. Minha mãe também estava dormindo, já que não dormiu a noite porque estava com a minha tia. Acordei com meu celular tocando.             Era uma mensagem que dizia: " malukinha liga na MTV! Ta passando entrevistas sobre aquele filme q vc gosta. =* " .              

Liguei a TV na hora em que o Daniel Cashman ia falar sobre a saga Noite Sombria. Fiquei em frente a TV até terminar as entrevistas. Coisa de fã.             

À noite eu não comi muito, aquela tristeza de de manhã ainda estava dentro de mim. Vesti meu pijama de borboleta, fiquei umas horas na internet batendo papo com as pessoas de sempre e depois fui dormir, quase dando uma da manhã.

   
12ª noite - 17 de março, sábado

                Quando estava no quarto dele de novo, rezei para que ele estivesse bem. Juli tinha falado que a mãe dele não corria mais perigo, então ele ja deveria estar calmo. Pensei na noite passada e no que tinha acontecido, mas minha mente parou aí quando ele chamou meu nome.                  Naten estava com a blusa grande de jogo, a que ele estava vestido na primeira noite em que eu apareci aqui. Olhei para seu rosto. Estava tão radiante quanto o sol, com um sorriso enorme.

Completamente diferente da noite pasada. Isso me deixou feliz e ao mesmo tempo com um embrulho no estômago.                  

Andei até ele e o dei um abraço enorme.                 

_You ok? - Perguntei a ele depois que ele me soltou. Seus olhos brilhavam tanto que foi difícil não ficar olhando para ele sem parar.                  Ele balançou a cabeça positivamente em resposta e ficou o que pareceu um bom tempo olhando pra mim. Acho que as batidas do meu coração eram mais altas do que uma furadeira gigante. Naten me sentou ao lado dele na cama e pegou o laptop.                   

_Ali. Obrigado. Por tudo. Se você não estivesse comigo na noite passada acho que eu teria tido um troço. E valeu por cantar pra mim e ficar comigo até eu cair no sono. Você é a mehor garota que existe no mundo inteiro. - Quando ele terminou de escrever olhou pra mim com aqueles olhos verdes e o sorriso que me tira o fôlego. Acho que eu iria vomitar.                 

Dei o maior sorriso que pude em resposta e dei um beijo na bochecha dele. Não sei se era possível, mas seu sorriso foi maior quando fiz isso. Peguei o laptop.                 

_E sua mãe como está?                 

Naten me contou que a mãe dele ja estava bem, o que Juli tinha se adiantado em dizer pra mim na manhã passada, e disse que o deixaram vê-la. Depois peguntei como foi o dia dele e ele escreveu que não tinha feito nada, porque dispensaram ele dos deveres pra ver a mãe. Fiquei super feliz por ele.                 

_Ali! Eu quero te mostrar uma coisa! - Naten digitou no laptop. Parecia bem animado. Quando ele se virou para pegar alguma coisa que estava atrás dele foi que percebi que tinha um violão no quarto. É o mesmo violão preto que eu toquei, o que ele tinha me dado de presente. Peguei o laptop.                 

_Anh... O violão que você me deu?                 

Ele leu e deu uma risada.                 

_Só você mesmo... não... Ali, eu fiz uma música para você. - Nossa! Geralmente eu fazia músicas para as pessoas. Ninguém tinha feito uma para mim até agora. Olhei para ele e falei 'Thank's'  radiante. -  Só que tem uma coisa... - Escreveu ele e depois pegou um papel que estava em cima da cômoda, com uma caneta preta. - Eu quero que você cante comigo, num dueto. - Ele me olhou nos olhos com cara de esperança. Respondi positivamente com a cabeça.                  

Ta legal. O Naten Smith fez uma música pra mim e ainda por cima eu iria cantá-la com ele. Espero que Juli nunca saiba disso para meu bem.                 

_Tem outra coisa. - Escreveu ele no laptop. - Eu sei que você compõe muito bem, então eu quero que você faça a parte que você vai cantar em português.                 

_Vou fazer o melhor que eu posso. Qual a letra?                  

Ele escreveu a letra no laptop e eu quase desmaiei. Aquilo era mesmo para mim? A letra era completamente linda.  

Quando ele terminou de escrever, eu lhe dei um beijo na bochecha falei obrigado de novo. Ele abriu o sorriso matante em resposta.                     

Depois de ler a letra que ele fez, peguei a caneta e o papel e escrevi a parte em português. Foi impressionante como a letra vinha na minha cabeça. Parecia que estava lá o tempo todo, só esperando o momento de ser escrita. Falei para ele que eu já tinha feito e ele olhou para mim surpreso e radiante, mas não falou nada. Apenas pegou o violão e começou a tocar.                   

Tinha uma melodia quase lenta, como as músicas que se dança em par no baile. Eu adorei o que estava ouvindo. A melodia, a letra e a voz dele. Me concentrei para prestar atenção e não ser embreagada. Quando ele terminou de cantar, comecei a cantar a parte em português.

E ele estava certo, foi como um complemento, a letra estaria incompleta sem essa parte. Ele sorria pra mim com os olhos brilhando mais que nunca. Fiquei surpresa com a facilidade com que eu cantava. Como se estivesse escutado aquela música mil vezes e estava apenas repetindo mais uma vez. Foi Maravilhoso.                    

A música terminou e Naten olhava para mim como se soubesse que daria certo. Ele sabia.                    

Depois de o Naten encostar o violão do lado da cama, ficamos sem escrever nada por um momento. Eu estava olhando para a letra no papel quando Naten chamou por mim, com o rosto extremamente vermelho, o que acontece quando ele esta com vergonha de alguma coisa.                   

_Ali?- Chamou ele mais um vez e eu me sentei ao lado dele enquanto ele pegava o laptop. - Eu...eu queria te falar uma coisa. Que desde o primeiro dia que você apareceu aqui eu quis te dizer, mas nunca sobrava tempo. - Ele parou de escrever e olhou para mim. Fiz menção para que ele continuasse.                   

_Eu acho que vou direto ao ponto...- O rosto dele estava mais vermelho agora. - Desde o primeiro dia que você apareceu aqui, eu sabia que não era por acaso, e que você seria especial pra mim. -Ele parou de escrever mas não conseguiu olhar pra mim. Ele mordia o lábio inferior. - Ali, o que eu quero dizer é que... eu me apaixonei por você. E eu sei que é diferente porque você é diferente e o que eu sinto com você não se compara a nada. E mesmo com todos esses impasses eu não consigo pensar em outra coisa ou outra garota. Só você me importa e eu acho...acho que você também sente isso.                    

Ótimo. Agora eu queria vomitar mesmo. Meu alívio foi enorme ao saber que ele sentia o mesmo que eu, mas também eu não sabia o que fazer. Olhei para ele e ele estava mirando o chão, ainda mordendo o lábio. Era de se espantar que ele fosse tão tímido assim. Peguei o laptop e escrevi. Ele ainda olhava pra o chão quando eu chamei o nome dele e pedi que ele lesse.                 

_Naten, você me pegou de surpresa. Mas nem tanto. Por que você esta certo. Com relação a tudo, e ao que eu sinto também. Mas como isso pode funcionar? Eu não me lembro de você quando estou vivendo minha vida normal. Então como seria? Eu namoraria você sem saber que estou namorando?                  

Depois que ele leu, o sorriso dele era imenso. Acho que ele só prestou atenção na parte que eu disse que ele estava certo com relação a mim. Meninos. Respondi ao sorriso dele e então pedi pra que ele escrevesse.                 

_Eu não sei, mas vamos encontrar um jeito, Ali, eu sei que vamos.- Ele olhou pra mim com o rosto vermelho outra vez e digitou. - Eu aprendi uma frase em português, sabia. Por sua causa.               

 -What?- perguntei. Ele ainda olhava o laptop.                 

Então Naten fechou o laptop e se virou para que ficasse de frente para mim. Eu não sei o que sentia. As batidas do meu coração eram ensurdecedoras. Naten pegou minhas mãos. As mãos deles estavam extremamentes geladas. Então levantou a cabeça e olhou nos meus olhos.                 

 _Eu te amo.                 

Agora eu não conseguia mais escutar meu coração. Acho que nem conseguia me mover. Só conseguia olhar para ele e ouvir o eco daquelas três palavras que acabaram de sair da boca dele. Acho que eu dei um sorriso por que ele sorriu de volta e se aproximou, até que seu rosto estivesse bem a centímetros do meu. Ele hesitou um pouco e depois me beijou. Nessa hora eu tive certeza de que ele era o garoto pelo qual eu estava esperando. E percebi que valeu a pena. Não conseguia pensar em mais nada, apenas em como ele era importante pra mim agora. Coloquei a mão no seu cabelo e o puxei para mais perto de mim. Ele envolveu minha cintura enquanto me dava o beijo mais doce e verdadeiro de toda minha vida. A sensação de bem-estar foi multiplicada por um milhão, muito mais do que quando eu o abraçava.

Então ele me soltou e pegou meu rosto entre as mãos para olhar para mim. Eu devia estar com a maior cara de boba, mas nem liguei, por que só conseguia pensar nele.               

Então eu senti minha mente pesando, como quando é a hora de voltar pra casa. Mas como? Ainda não tinha se passado nem meia hora! Por que?  Acho que Naten percebeu que havia alguma coisa errada, por que ele olhou pra mim confuso.               

Mas eu não queria ir embora! Justo agora que estava tudo bem! Minha mente foi pesando mais a cada segundo e eu percebi que não tinha muito tempo. Dei outro beijo rápido nele e o olhei nos olhos.

_I love you too.  - E foi a única coisa que eu consegui dizer antes da minha mente se apagar, e eu ir embora segurando desesperadamente o papel em minha mão.