1997 escrita por N_blackie


Capítulo 60
Harry




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/159907/chapter/60

“A nossa sorte, “disse Hermione, sorrindo como não fazia há dias, “é que a sua mãe guarda muito bem as coisas dela, Harry. “

Uma nuvem de pó prateado subiu quando a papelada que ela segurava contra o peito foi deitado com entusiasmo na mesa principal da barraca, onde Harry sentara após ser acordado no meio da madrugada com a promessa de que valeria a pena escutar o resultado das pesquisas dela.

“Encontrou alguma coisa nesses relatórios? “Harry pousou a cabeça nas mãos, sentindo menos sono do que sentia que aquela missão toda seria um fracasso se não encontrassem logo alguma coisa. Fazia pelo menos um mês que viviam ali, vivendo de uma cozinha rala e sem graça que Hermione e Romulus tentavam garantir e escutando histórias relativamente interessantes, mas completamente inúteis, tiradas dos relatórios da Ordem.

Um sorriso esperançoso iluminou os olhos exaustos dela. “Encontrei, Harry, eu encontrei! Ou melhor, nós encontramos. Jack ajudou muito. Ele consegue ler muito rápido pra alguém que nunca faz isso! “

Com as mãos trêmulas, ela separou um papel dos demais, e Harry reconheceu a letra curvilínea e caprichada da mãe, sentindo um aperto no peito. Parecia uma linha do tempo como as que Binns apresentava nas aulas de História da Magia, mas os acontecimentos não estavam escritos. Em vez disso, várias localizações eram apontadas em anos correspondentes, com notas de rodapé e tudo.

“A princípio achei que isso fosse um desenho caprichado, sabe, “as mãos dela revolveram mais um pouco dentre as anotações, “ mas então notei isso aqui:”

Harry ajeitou os óculos para enxergar com mais nitidez onde ela apontava, e percebeu um número quatro circulado num canto do desenho, como que para fazer referência a outro papel ou algo assim. Imediatamente, Hermione posicionou uma folha totalmente escrita, da mesma caligrafia do desenho.

“Harry, sua mãe pesquisou a vida toda Dele, provavelmente para rastrear outros potenciais horcruxes que pudessem ter sobrevivido ao fim da guerra! O desenho é uma cronologia, uma linha do tempo, sabe? “

“E esses lugares são-“

“Todos os pontos de interesse Dele!”

Harry piscou e prestou mais atenção ao desenho, admirando a persistência da mãe em reunir todos aqueles dados. Passou os dedos pelas anotações dela, sentindo a pressão da pena, as protuberâncias de tinta, e se sentiu tentado a cheirar o papel para ver se Lily deixara qualquer traço de seu perfume característico. Fez uma nota mental de agradecer a ela quando se encontrassem novamente, e prometeu a si mesmo que a ajudaria a cuidar das flores por todas as férias quando tudo voltasse ao normal.

“Hermione, isso é genial. “Ergueu o olhar, e recebeu um sorriso emocionado em resposta. “Precisamos acordar todo mundo, isso aqui não pode esperar. “

Ainda pensando no desenho, foi até as beliches e viu Adhara acordada, olhando vagamente para a cozinha. Sentiu uma ponta de preocupação diante do olhar vidrado e perdido dela, e tocou em sua mão para atrair sua atenção. Padfoot sobressaltou-se.

“Mal, não estava aqui. “Murmurou, e Harry assentiu, sorrindo.

“Acho que temos uma pista. Melhor ainda, A pista. “

Em resposta recebeu apenas um aceno de cabeça, e ela saltou da cama e começou a seguir para a cozinha, onde se sentou à mesa e continuou pensativa. Hermione surgiu com Romulus e Jack, ambos atordoados de sono, mas esperançosos. Lewis veio logo em seguida, com a regata branca do pijama com uma mancha laranja que Harry podia jurar que era salgadinho de algum lanche noturno do passado. Hermione arrastou Ron até uma cadeira também até que, finalmente, Harry pode anunciar as boas notícias.

“Nos relatórios que já lemos podemos ver que Ele tem uma lógica para os lugares que escolhe para esconder as coisas,” entregou os papeis para Hermione, “da última vez, os objetos eram pessoais e relacionados à história de Hogwarts. Agora, sabemos que ele está atrás de coisas das nossas famílias, mas não sabemos o que. Bem, agora podemos arriscar procurar nos lugares, o que já é alguma coisa. Pode falar, Hermione. “

O clima em torno da mesa pareceu mais alerta, e a amiga de Harry respirou fundo antes de pegar o desenho e mostrar.

“Primeiro na linha do tempo temos o Orfanato de Wool, Londres, 1926.” Com um aceno da varinha, ela escreveu no ar o nome e a data. “Segundo as anotações de Lily, ele nasceu de uma mulher chamada Merope Gaunt. Jack me ajudou a complementar as informações, visto que, pasme, Merope é prima distante de vocês, Padfoot. “

“Eu amo a minha família. “Adhara respondeu sem emoção.

Hermione sorriu amarelo.

“Bem, continuando... Ela vem de uma linhagem importante, puro-sangue, mas parece que no meio do caminho se apaixonou por um Tom Riddle, mas alguma coisa aconteceu e quando o bebê nasceu, ela morreu e ele ficou no orfanato. Bem, nas anotações de Lily há um complemento, falando de uma vila chamada Little Hangleton. Segundo ela, a vila não conta necessariamente como ponto potencial para horcruxes, mas poderia ser. Nenhuma das primeiras horcruxes estava lá quando ela foi investigar, mas podemos levar em conta que ela observou que os moradores foram “pouco cooperativos”. O orfanato foi visitado e descartado, ele foi demolido há tempos e nada indicava a volta Dele a esse lugar. “

“Bom, faz sentido, “considerou Romulus, “quem iria querer voltar ao Orfanato?”

“Também pensei nisso. Mas Little Hangleton me chamou a atenção, sabe, e como o próximo ponto, Hogwarts, está inacessível para nós por enquanto, acho que valeria a pena irmos até essa vila. “

“Mas se quem mora lá não ajudou Lily, que é super legal, porque ajudaria a gente? “Lewis balançou a cabeça.

“Acho que consigo arrancar informação de quem trabalhar em algum pub dessa vila, “Adhara ponderou, parecendo um pouco mais animada, “conheço pubs e posso por uma roupa bacana pra variar. Mas Jack vem comigo. “

Jack assentiu, brincando com uma faca afiada entre os dedos. Ele estava ficando bom nisso, o que era grande alívio para Harry. Por outro lado, provavelmente não conseguiria se livrar das cicatrizes nas mãos, já que mesmo os feitiços de cura mais eficientes que Hermione sabia não eram lá essas coisas.

“Ótimo, podemos dormir agora e partimos de manhã, que tal? “

O grupo dispersou, e Harry observou-os partir. Lewis e Ron falaram rapidamente, mas logo cada um subiu na cama e dormiu, roncando mais alto que antes. Romulus apertou o ombro de Harry com firmeza e mirou o desenho curiosamente. “Vai dar tudo certo. “Prometeu. Em seguida, chamou Jack para irem dormir logo, e deu uma bronca leve quando o garoto enrolou.

Hermione juntou os papeis e fez menção de sentar-se novamente, mas Harry a impediu. “Você vai dormir, ok? Já fez bastante por todo mundo, anda. “

“Eu podia fazer algumas anotações rápidas- “

“Nem pensar. Vai dormir, Hermione. Vamos precisar de você amanhã. “

Resignada, ela desistiu e assentiu, murmurando boa noite para ele e Adhara e seguindo para sua cama. Harry invejou a velocidade com que ela conseguiu adormecer. Depois daquela fagulha de esperança o sono simplesmente evaporara.

“Não vai voltar a dormir?” perguntou a Adhara, que riu friamente.

“Quem disse que eu estava dormindo? “

“Estou ficando preocupado com você. “

“Não precisa. “

“Você sabe que não adianta dizer isso, né? Pads-“

“Prongs.”

“Adhara. “

A resposta morreu ali, e ficaram em silêncio.

“Jack veio me agradecer. “

“Ele comentou que iria. O que respondeu? “

“Que estava tudo bem, e que ele era família. “

“Devia ter sido sincera com Jack. Ele merece, sabe? “

“O moleque já tá assustado o suficiente, não quero piorar as coisas. Além do mais, não sei como estou. “

“Como não sabe?”

” Não sei, cara, não sei. ‘

“Sabe que não está sozinha.”

“Acho que sim... Prongs, posso te pedir uma coisa? “

“Claro. “

“Se tiver alguma coisa em Little Hangleton, digo, uma horcrux. Com certeza vai estar protegida. Vamos ter que lutar por ela. “

“Eu estava pensando nisso. Fique tranquila, não vamos matar ninguém. “

“Esse é o ponto, Prongs, não temos essa opção. Se não matarmos os homens Dele, vão matar os nossos. “

“Achei que não tivesse gostado de matar. “Harry respondeu, se arrependendo imediatamente da agressividade em seu tom. Adhara parecera assustada à primeira vista depois de ter usado a maldição da morte, mas desde então todas as vezes em que Harry tocara no assunto, ela só demonstrava conformidade. Isso o inquietava.

Adhara o encarou com sarcasmo. “Adorei corromper a minha alma e correr o risco de me ferrar quando tudo acabar, amei mesmo. Isso é guerra, você realmente pensou que não iríamos matar ninguém? Nunca foi inocente, não comece agora. “

As palavras duras dela caíram em Harry como um banho frio. “Não vamos falar mais disso, ok. “Disse. Adhara deu de ombros. “O que estava para me pedir?”

“Quando esse duelo acontecer, e vai acontecer, se eu morrer-“

“Não começa com isso, Padfoot.”

“Estou falando sério, pode me ouvir, fazendo o favor? Se eu morrer, quero que diga a Romulus para cuidar de Jack. Por favor. “

“Porque não diz isso a ele você mesma? “

“Porque ele vai querer começar a tomar conta de Jack antes do tempo se eu fizer isso. Enquanto eu estiver viva e a missão não for cumprida, ele é minha responsabilidade. É só que... Não quero que meus pais só tenham Leonard quando saírem da prisão. “

“Você não vai morrer, ok? “O estômago de Harry encolheu dentro dele.

“Guerra é guerra, Prongs. Prometi que iria cuidar de Jack, e é isso que vou fazer. E prometi que iria vingar os meus pais, e vou. Se para isso eu tiver que morrer, vou levar a maior quantidade de comensais comigo. Vamos abraçados pro inferno. “

Harry nunca vira Adhara tão fria, e se perguntou em que ponto daquela missão deixara de prestar atenção na pessoa que ela estava se tornando. Se encararam por alguns segundos, o silencio consumindo a última frase de Padfoot.

“Ok, eu aviso. “

“Obrigada. “

Harry ficou feliz quando amanheceu e eles puderam se mexer para tomar alguma ação. Adhara ficara quieta o restante do tempo, distante dele, e fora acordar Jack assim que percebera que o sol entrava pelas frestas da barraca.

Demoraram pouco mais de uma hora para desarmar a barraca e guardar tudo o que era preciso. Hermione ajudara Adhara a se maquiar um pouco, e quando ela e Jack surgiram, parecendo motoqueiros viajantes assustadoramente bonitos, Harry sentiu que podia dar certo essa missão maluca.

“Está linda, Hermione fez um bom trabalho. “Romulus comentou quando se aproximaram do portal. Harry observou Adhara assentir, sem responder.

Quando a poeira baixou, Harry viu que o portal de Hermione os levara à encosta de um morro, de onde podia-se ver a sombra da vila no solo montanhoso abaixo deles. Os arbustos onde aterrissaram margeavam uma estradinha de terra irregular, cujo caminho serpenteava morro abaixo marcada por patas de cavalos na mesma proporção de rodas de carroças ou carros.

Perto deles, uma placa dupla indicava a direção de Little Hangleton e da cidade vizinha, Great Hangleton, e um pouco mais adiante vislumbraram uma casa encardida e torta, abandonada pelo que pareciam décadas e circundada por uma cerquinha quebrada e pisoteada.

“Aqui deve ser a casa que estamos procurando, com certeza. “Jack tirou a faca do colete. Harry o parou com a mão e seguiu na frente, adentrando a trilha de paralelepípedos quase escondida pela terra que se aproximava da porta de entrada. Aquilo parecia muito fácil para ser sério.

Ergueu a varinha e tocou a porta, que parecia prestes a desabar sobre eles. O rangido alto só não foi pior do que o cheiro úmido e grudento que a casa exalou assim que foi aberta, e Harry tossiu um pouco antes de tomar coragem e adentrar a sala de estar. O papel de parede estava gasto e quase completamente encoberto pela poeira, assim como os poucos móveis comidos pelas traças e cupins. Uma poltrona descansava num canto, muito usada e gasta, diante da lareira apagada cheia de cinzas.

“Gaunt.” Jack se aproximou de um porta-retratos esquecido sobre a mesa de canto. Usou a manga para limpar o vidro, que mostrou uma foto encantada de três pessoas. O velho do centro estava decrépito, e apesar do estado deplorável de suas roupas que outrora podiam ter sido muito elegantes, portava um olhar arrogante, que Harry conhecia bem. Era o mesmo que todos os parentes mais velhos de Adhara lhe lançavam quando se encontravam em alguma reunião de família que Druella convocava e Sirius convidava os Potter para ter com quem conversar.

Ao lado direito dele, estava o que parecia seu filho, um homem de aparência medonha e estranha, cujos olhos mexiam de um lado para o outro de um jeito que fez os cabelos da nuca de Harry ficarem em pé. Do outro lado do velho, uma moça, que talvez se fosse bem cuidada, poderia ser pelo menos normal. Tinha a pele macilenta e olhos assustados, e os pulsos magros e secos cruzados em frente ao corpo, como se pudesse esconder o estado de suas saias do fotógrafo. Os cabelos sem vida emolduravam o quadro triste.

“Senhoras e senhores, Merope Gaunt. “Jack sussurrou, claramente com pena da mulher. “Que lugar deprimente, cara. “

“Os Gaunt faliram muito antes de todo mundo. “Adhara voltou de uma expedição para dentro dos cômodos, e abaixou a varinha. “Druella uma vez comentou que foi uma pena, eles eram os últimos descentes de Sonserina. “

“Achei que não escutasse as besteiras da Druella.” Jack franziu a testa.

“Eles eram da linhagem do Sonserina? Salazar Sonserina? “Romulus se aproximou do porta-retratos, pasmo. Adhara assentiu.

“Irresponsáveis e corruptos, é o que o meu pai falou sobre eles. Nunca me contaram que Voldemort era um Gaunt. Interessante. “

“Nada para dentro?” perguntou Harry, começando a sentir a costumeira frustração. Adhara negou, e olhou pela janela da sala. Algo chamou sua atenção.

“Interessante,” repetiu, olhando através do vidro imundo, “daqui dá pra ver a mansão da vila. O que estava anotado do pai de Voldemort, Hermione? “

“Hm, só que ele era rico e trouxa.”

“Bom, se ela vivia aqui, com certeza se conheceram aqui também, não?” Lewis sugeriu.

“Acha que o pai do Voldemort vivia numa mansão?” indagou Ron.

“Viemos aqui para saber disso...”

“Anda, vamos sair daqui, meu nariz vai cair.” Adhara tossiu e espirrou agressivamente, marchando para fora ansiosamente.

Harry e os outros a seguiram para fora, e o garoto colocou a mão com a varinha no bolso do casaco, descendo pela estradinha conforme o sol ficava cada vez mais forte sobre suas cabeças. A estrada seguia morro abaixo até uma placa de plástico mais moderna, com os dizerem “Bem-Vindo à Little Hangleton”. Abaixo, uma placa também recentemente colocada indicava que para a esquerda, pouco mais adiante, seria o cemitério da cidade, e para os que seguissem reto, entrariam na vila.

“Será que o cemitério vale a pena visitar?”

“Não, Jack, pelo amor de Merlin, não vamos ao cemitério a não ser que seja necessário.”

Um homem numa carroça passou por eles os olhando com suspeita, e Harry sorriu amarelo, acenando tentando parecer o mais inconspícuo possível. “Vamos entrar na vila, anda logo.”

Mais alguns minutos de caminhada calorenta depois e avistaram a placa do pub “O Enforcado”, adornada por uma corda amarrada num círculo que pendia molemente ao sabor do vento. Uma velha varria casualmente a frente do negócio, olhando de soslaio para os vizinhos como que em busca de alguma fofoca. Assim que avistou os jovens, parou de varrer e os fitou. “Com licença?”

Jack chegou perto com um sorriso. “Bom Dia, senhora...”

“Dot.” Respondeu ela com suspeita. A voz já era rouca e desgastada, e ao se aproximar mais, Harry daria no mínimo oitenta anos. Era uma surpresa que ela estivesse de pé.

“Bom Dia, senhora Dot. Estamos procurando por abrigo, a senhora saberia onde encontrar?”

“Está perdido, garoto?”

“Não!” Jack sorriu inocentemente, e puxou Adhara para perto. “A senhora veja, essa é a minha irmã, ela cuida de mim, e esses são nossos primos. A gente está viajando para conhecer o interior dos condados, e ouvimos falar que essa vila é legal.”

“Hm... Quanto tempo vão ficar?”

“Só o suficiente para conhecer o lugar. ”Adhara sorriu, e Harry ficou um pouco assustado com a expressão adorável dela. Dot não pareceu pensar o mesmo.

“Podem ficar aqui no Enforcado, mocinha. Você e seus primos.”

“Muito obrigada, senhora, é muito gentil. “

Os olhos de Dot ficaram mais simpáticos. “Claro, claro.”

Ainda inseguro, Harry entrou no estabelecimento. As cadeiras estavam todas postas em cima das mesas, de forma a deixar o chão livre, e uma mocinha passava um esfregão sujo no campo livre. Quando Jack passou, ela ergueu os olhos e corou. Dot os guiou mais adiante, onde uma porta dava para uma escada estreita para o segundo andar com algumas portas.

“Podem escolher o quarto, não temos muitos turistas... Se quiserem janta, desçam às oito. “

“Muito obrigada, senhora Dot.” Adhara passou o braço em torno de Jack, e os dois sorriram. A mulher sorriu também, e desceu.

“Vocês dois me dão medo, já falei isso?” Ron trancou a porta atrás de si quando entraram num quarto. “Esse lugar também me dá medo.”

“Bom, pelo visto podemos jantar e saber das notícias...” Lewis sorriu aliviado, massageando a barriga. “Nem acredito que vou comer comida de verdade! Desculpa, Hermione.”

“Não tem problema...”

O quarto era simples, porém as camas eram macias e a esperança deixava Harry imune ao tédio com o qual passaram a tarde. Discutiram o plano, mas na verdade não sabiam como fariam caso descobrissem algo sobre os Riddle. Ainda assim, aquela era a melhor pista que tinham, e não hesitaria em segui-la.

Quando sol começou a se por, Hermione sugeriu que descessem, e Harry respirou fundo antes de ir ao salão. Aquela era a chance de descobrir alguma coisa.

O barulho de conversas e copos batendo podia ser ouvido desde cima da escada, e quando abriram a porta, foram engolfados pelo clima da vila, que provavelmente só possuía O Enforcado para se divertir e tomar uns drinks. Uma vitrola no canto tocava um LP, e Harry teve de explicar rapidamente para Jack quem eram os Rolling Stones. O garoto assentiu vagamente depois de ouvir, e ficou balançando a cabeça no ritmo da música até sentarem-se ao balcão.

A moça que varrera o chão mais cedo acompanhava Dot no serviço, e quando notou que eles desceram, se aproximou e sorriu. “Boa Noite, vão querer o jantar, não?”

“Pode trazer.” Romulus sorriu gentilmente, mas ela só tinha olhos para Jack. Harry chutou a canela dele para tirar sua atenção da música.

“Ai! Oi, Boa Noite! “

“Oi...” a moça sorriu envergonhada e grudou o pedido numa abertura da cozinha, voltando quase correndo para perto de Jack. “Qual o seu nome?”

“Jacques.” Jack sorriu, e a cor subiu pelas bochechas dela. “Mas os amigos me chamam de Jack. E o seu?”

“Emma. Dot é minha tia. “

“Emma.” Repetiu ele, ainda sorrindo. “Me diga, Emma, que histórias bacanas a vila reserva?”

Os olhos redondos e cor de mel de Emma viraram de um lado ao outro enquanto ela parecia fazer esforço para lembrar de alguma história o mais rápido possível. Enquanto balbuciava, um jovem um pouco mais velho se aproximou, olhando suspeito para Jack.

“Emma, você tem que pegar as garrafas lá embaixo, anda! Dot está chamando!”

“Espera, você ia me contar- “

“Ela não ia contar nada a você, garoto.” Ele respondeu rispidamente. “Vamos, Emma, eu vou servir eles.”

Harry começou a ficar ansioso. Não podiam se meter em brigas, chamaria muita atenção. Jack o olhou preocupado.

“Boa noite pra vocês, sou Archie e vou servir os pratos. “

“Nome bacana, esse seu.” Adhara comentou, e Harry parou de respirar um segundo. As pálpebras dela estavam levemente caídas, como se estivesse entediada, e havia uma nota charmosa em sua voz, que se tornou uma melodia hipnotizadora. Archie a encarou um minuto completo.

“É mesmo....”

“Adhara. “ Padfoot estendeu a mão com as costas para cima, e Archie se aproximou para beijá-la. Quando ele ergueu a cabeça, Pads sorriu sedutoramente.

“Perdoe o meu irmão, Archie, ele é... sem noção.”

“Não tem...problema...”

“Então, me diga, o que há de interessante aqui?”

“Bom,” Archie se aproximou do balcão e se apoiou nele de lado, tentando parecer másculo. “não sei se já ouviu falar do assassinato de Little Hangleton...”

“Assassinato?” Os olhos de Adhara faiscaram de interesse. Archia empertigou-se.

“Isso mesmo, assassinato. Minha tia estava aqui e tudo. Foi bem ali, na Mansão Riddle. Era uma família de três, com pai, mãe, e filho. Uma noite, mortos, os três.”

“E alguém descobriu quem foi?”

“Nunca. O que é mais fantástico é que ninguém, ninguém, descobriu do que eles morreram. Tia Dot falou que não havia uma marca no corpo, nem veneno, nem tiro, nem nada. Instantâneo e fatal, que nem magia.”

O coração de Harry acelerou, e ele cruzou os braços para esconder que tremia.

“Impressionante. Diga-me, Archie, faz tempo isso?”

“Vish! Minha tia era nova quando aconteceu, é antigo assim. A mansão ficou lá, abandonada com tudo o mais, o mato crescendo que nem fumaça. Ninguém quer comprar, dizem que é amaldiçoada. “

“Ninguém suspeitou de nada?” Harry não resistiu e perguntou, e Archie pareceu subitamente perceber que haviam outras pessoas ao redor.

“Tinha o jardineiro, um cara estranho chamado Frank Bryce. Até uns tempos atrás a gente via ele por aí, é tão velho quanto minha tia. Faz um tempo que ele não parece... Deve ter morrido naquela casa. Estamos esperando começar a cheirar pra chamar a polícia. Chegaram a prender ele, mas não tinha prova nenhuma. Minha tia disse que ele só ficava repetindo de um garoto de cabelo preto que invadiu a casa a noite, mas ninguém viu esse garoto. Velho maluco.”

Harry entreolhou-se com Adhara, e ela piscou para Archie. “Adoro histórias sombrias. “

O garoto corou até a raiz dos cabelos, e sorriu. “Disponha. Erm, vou deixar vocês jantarem...”

“Precisamos ir até a mansão, hoje.” Hermione comia tão rápido que Harry achou que fosse engasgar.

Assim que terminou sua sopa, sentiu-se revigorado. Subiu ao andar de cima, e esperou os outros conseguirem fazer o mesmo. “Podemos sair pelos fundos, anda.”

Na ponta dos pés, seguiram o caminho oposto a escada principal, e encontraram uma descida lateral, uma escada improvisada provavelmente para acessar a cozinha. Desceram devagar, mas assim que os pés tocaram o chão firme, começaram a correr.

Harry ofegava pelas ruas, e seguiram pela escuridão até distinguir a entrada da mansão, um portão de ferro trabalhado enroscado até as pontas com a hera e o mato. Ron puxou a varinha e afastou as plantas, abrindo o portão só o suficiente para entrarem.

E lá, em cima da colina, estava a casa. As paredes pareciam engolidas pelas plantas, e as janelas envelhecidas tinham o estilo vitoriano ainda. Quando se viu ali, no início do caminho que levava à entrada da casa, Harry notou que o nervosismo e ansiedade que vinha sentindo até então evaporara. Olhou ao redor, conferiu se todos estavam ali e bem, e fez sinal que o seguissem. Todos puxaram as varinhas, e Jack ergueu duas facas com as mãos, em posição de ataque.

Andando pé ante pé para não arriscarem serem vistos, Harry seguiu a trilha desgastada da grama até a porta da cozinha, visto que a da frente dava diretamente para a trilha principal, podendo ser vista por quem passasse perto do portão.

A porta grande e que outrora fora branca estava entreaberta, e Harry se aproximou com cuidado, suspeitando que aquilo fosse um péssimo sinal. Um cheiro ocre saia de dentro da cozinha, e ele franziu o nariz, amaldiçoando essa missão tão fedida. Atrás dele, Adhara fungou, e ele quase riu. Dessa vez com certeza o nariz dela cairia.

Quando afastou a porta com um empurrão do pé, contudo, a risada morreu em sua garganta. Estirado na cozinha, já meio apodrecido, estava o corpo de um velho caído em posição fetal, com a mão sobre o rosto como se quisesse se proteger de alguma coisa. Ao seu redor, moscas e ratos se alimentavam dele, e Lewis usou um feitiço rápido para tirá-los dali. Harry sentiu o estômago se contorcer e a garganta apertar, e ouviu Ron vomitando do lado de fora. Tampou o rosto e começou a andar mais depressa para dentro, torcendo para não vomitar também.

Abriu a primeira porta que viu, e deu no hall de entrada, um cômodo ricamente mobiliado, só que coberto de pó e musgo em algumas partes. Uma parte do teto tinha descascado, e algumas pichações rasgavam o papel de parede elegante. O cheiro do corpo decomposto na cozinha ainda enchia o ambiente, mas melhorou um pouco quando Lewis lacrou a porta atrás de si e Romulus usou um feitiço aspirador para tentar filtrar o ar.

“Acho que achamos o Frank Bryce, não?” Jack ironizou, olhando de soslaio para a cozinha.

Harry colocou os pés na escada, e ela rangeu um pouco. Tentando pensar em outra coisa senão vomitar, começou a subir, passando por alguns retratos de família que ainda não tinham despencado pelo apodrecimento dos pregos que os seguravam. O garoto, e depois jovem, que aparecia junto aos pais nas figuras estava bem vestido e elegante, e sorria charmosamente em todas.

Quando chegaram ao segundo andar, o coração de Harry parou. Uma luz azulada intensa saia debaixo da porta de um cômodo ao fim do corredor, e sombras bruxuleavam na iluminação dela. Vozes saiam de dentro do lugar, e conforme os garotos se aproximavam, ficavam mais altas. Então, subitamente, alguém gritou, e atrás de Harry, Adhara começou a correr.

“Harry, é o meu tio! É O MEU TIO!”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "1997" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.