1997 escrita por N_blackie


Capítulo 6
Leonard




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LEONARD

Leonard não gostava de quebrar regras. Sentindo a respiração descompassada do irmão em sua nuca, então, menos ainda. E mesmo assim lá estava ele, tentando arrombar um cofre mágico depois de ser acordado no meio da madrugada.

Suas mãos tremiam, e a varinha presa entre os lábios comprimidos parecia vibrar para ser usada, protestando pelos objetos que ele estava usando. Respirando fundo para tentar controlar o coração, que fazia uma tentativa bastante esforçada de sair pela garganta, Leo empurrou o cabo mágico na fresta que havia entre a pesada porta de metal translúcido e o conteúdo, pressionando-o contra a fechadura interna com o maior cuidado que conseguiu reunir.

Um estalo foi ouvido, e os cabelos da nuca do corvinal arrepiaram quando Jack suspirou aliviado atrás de si. Irritado consigo mesmo por ter sido tão facilmente convencido a fazer o que estava fazendo, Leo abriu cuidadosamente a caixa, descobrindo as duas pilhas de arquivo que Marlene guardava quando trazia trabalho para casa. Ela os mantinha naquele lugar, um cofre atrás de um quadro velho de frutas que caiam repetidas vezes da vasilha, por segurança, mas provavelmente nunca esperava que os filhos fossem querer arromba-lo, daí a parca segurança. Pelo menos era o que Leonard esperava.

“Pronto, agora pode me dizer o que quer com essa papelada?” bufou, abrindo passagem para Jack, que arrancou todo o conteúdo do cofre e começou a virar as páginas timbradas com a insígnia do Departamento de Mistérios febrilmente. “Você sequer consegue ler o que está escrito aí? Jack?”

O irmão não parecia ouvir, concentrado em procurar o que quer que estivesse procurando. Leo olhou em torno deles, esperando que tivesse acertado corretamente o ponto cego dos retratos da família. Tudo o que ele não precisava era alguma tia rabugenta dedurando o que ele e Jack estavam fazendo, ou um primo de quinquagésimo grau gritando que adolescentes estavam invadindo o quadro cofre. Uma das coisas que mais detestava em viver na Mansão dos Black era essa, a ausência completa de privacidade. Não achava que poderia nunca levar Violet para lá.

Violet surgiu assim em sua mente ansiosa, e o encontro do Beco Diagonal ainda fazia um arrepio gostoso percorrer sua espinha, e o beijo que trocaram pairava como um fantasma em sua boca. Quando Jack o encurralara mais tarde naquele dia, perguntando sobre o “lance” dele com Viola, dissera que não tinha acontecido nada, porque não queria Jack se metendo nisso. Mas sabia que algo havia acontecido, muito mais do que aquele beijo.

De alguma forma, saber que Violet correspondia seus sentimentos o tranquilizava, especialmente porque seu maior medo era perder a amizade que tinham. Um meio sorriso surgiu subitamente em seu rosto, e seus ombros relaxaram um pouco pensando nela. Podia pedi-la em namoro quando fossem para Hogwarts, podia finalmente ter um encontro no Dia dos Namorados, alguém para andar com ele em Hogsmeade...

“Leonard!” chamou Jack, e Leo sobressaltou-se. Jack segurava um arquivo aberto, ilustrado com a fachada da sorveteria de Florean Fortescue junto de uma foto do próprio, vestido com seu tradicional uniforme de trabalho. Olhando para o irmão, que apontava empolgado para a primeira página do relatório, juntou as sobrancelhas, dando de ombros.

“Aqui, leia isso, “Jack empurrou o papel no colo dele, e Leo revirou os olhos antes de começar a ler, “acho que descobri uma pista do que está acontecendo no Ministério.”

Leonard quis contra argumentar, mas estava um pouco curioso também sobre as escapadas noturnas dos pais, que começaram subitamente e ainda o intrigavam. Resignado, começou a leitura, e viu que era um detalhamento da invasão mágica à casa dos Fortescue, além de algumas informações dele. Até aí tudo normal, até que ao fim, na seção de itens roubados:

Não foi constatada nenhuma perda de ouro, e o cofre da sorveteria não foi arrombado. Contudo, Mary Fortescue reportou à equipe que inspecionou o local a falta de um artigo do acervo pessoal de Mr. Fortescue. A descrição do referido item é de um vira-tempo fora de uso, ainda com areia, adquirido numa feira de antiguidades há um tempo aproximado de vinte anos. Nenhuma outra informação acerca do item, ou de sua procedência, pode nos ser revelada por Mrs. Fortescue.

“Alguém invadiu a casa de um sorveteiro e levou um vira tempo antigo.” Resumiu Leonard, “Tá, isso é interessante, mas não entendo ainda porque me tirou da cama pra isso.”

“Você já leu milhões de livros, nenhum deles é sobre vira tempo? O que você sabe sobre vira – tempos?”

“São artefatos antigos, que só foram aperfeiçoados o suficiente para serem usados com segurança no início boom industrial inglês, por volta de 1835. Regulados pelo Ministério, alguns colecionadores detém direitos de posse. Conhecidos por seu método incerto de deslocamento tanto quanto por seu perigo em potencial. Alterações em vira-tempos já foram estudadas, sem conclusão efetiva nenhuma por interrupção de projetos a força pelo governo,” cuspiu Leonard em sussurros curtos, “e isso é tudo o que eu sei.”

“Um monte de informação inútil?”

“Mais do que você sabe, com certeza, então pare de reclamar!”

Jack bufou, e Leonard tentou decifrar suas intenções através de seu olhar frustrado enquanto guardava os arquivos de volta. “Posso tentar procurar mais alguma coisa, se me disser porque quer saber,” arriscou.

“Tem alguma coisa nesse sumiço do Florean, quero saber o que é e porque mamãe não quer nos contar mais sobre isso. Eles estão em pânico!”

“E acha que o vira-tempo foi levado por um motivo... Não é uma teoria ruim. Vou procurar sobre vira-tempos, se descobrir alguma coisa, digo. De verdade.”

Foram dormir, mas Leonard demorou para fechar os olhos definitivamente. Jack tinha plantado a desconfiança, e certamente conseguira o que queria, uma pesquisa mais aprofundada. Preocupado, Leo respirou fundo o ar gélido da noite, e se aconchegou melhor nos cobertores grossos, consumido pela curiosidade.


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