1997 escrita por N_blackie


Capítulo 45
Samantha




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PARTE II: A GUERRA

O silencio era a pior parte de se sentir sozinha. Harry se levantara pouco depois de os aurores sumirem com os pais de Sam, e ficara um bom tempo parado que nem um idiota em frente à janela, como se estivesse na expectativa de algum deles retornar para brigar. Violet abraçava os próprios joelhos, de cabeça baixa, e quando Samantha começou a caminhar até a porta, parecia que voltaria a chorar.

“Espero que esteja satisfeito, ” Atirou com desgosto no irmão, apertando a maçaneta com raiva, “agora eles estão em algum lugar e nós aqui, parabéns! “

A verdade era que não sabia o que teria feito se Harry não a tivesse impedido de seguir em frente, mas queria ter feito alguma coisa para parar aquele desastre. Sentia um vazio estranho no peito, como se tudo que estava dentro daquela sala tivesse deixado de ter significado agora que os pais não estavam mais ali. A poltrona de James era só uma poltrona, o jardim de Lily era só mato, e até as fotos pareciam ser de outra pessoa. Harry baixou a varinha e a cabeça, e Sam tentou alimentar um pouco mais a raiva e frustração com ele, sem conseguir.

“Olha, ainda dá tempo de tentar resolver. Vamos chamar alguém, o pessoal da Ordem-“

“Sam, eles já devem ter prendido todo mundo da Ordem a essa altura. “

Violet soluçou, e Harry a ajudou a levantar, envolvendo a garota nos braços. Samantha bufou de frustração. “Então vamos ficar aqui chorando abraçados? É isso? “

“Claro que não. “ Os óculos do irmão de Sam faiscaram, e ele adquiriu a postura que costumava ter quando comandava o time de quadribol. Violet chorou mais um pouco.

“Dá pra parar de choramingar? “

“Pode parar de ser grossa com ela? “ Harry censurou. Depois, afastou Violet de seu abraço e ajudou-a a limpar os óculos nublados com o choro. “Viola, vai ficar tudo certo, ok. Precisamos pensar as coisas com calma. Está me entendendo? “

Sam bufou, mas ficou menos irritada quando a garota engoliu o restante das lágrimas e assentiu, parecendo recuperar um pouco da compostura. “A casa de Leonard deve ter sido atacada... “ comentou. Harry assentiu.

“O que fazemos agora? “

“Eu vou terminar o que a Ordem estava fazendo. “ Harry trocou um olhar significativo com Violet, e Sam franziu a testa. “Violet vai explicar para todo mundo quando estivermos juntos. Primeiro, a prioridade é ver se estão todos bem. Venham as duas comigo. “

Só então Sam percebeu que não conseguira abrir a porta ainda. Sua mão estava na maçaneta, claro, mas parecia que não haviam restado forças para ela girar e ver o estrago que o duelo causara. Harry passou por ela com determinação – não podia deixar de admirá-lo por tanto sangue frio – e abriu a passagem, ignorando sumariamente o cenário de destruição para subir as escadas. Sam e Violet o seguiram, e a ruiva mais velha hesitou antes de entrar no quarto dele. Harry ajoelhou, e de debaixo de sua cama, tirou uma caixa.

“Não vou voltar à Hogwarts. “ Anunciou simplesmente, e de dentro de vários bilhetinhos e artefatos sortidos tirou um pedaço de pergaminho envelhecido. “Mas vocês vão, e vão precisar sobreviver. Papai me deu isso hoje de manhã, é meu presente de aniversário. “

Crispando o lábio, Sam se sentou na cama e encarou o pergaminho com suspeita. Que maluquice era aquela de entregar um pergaminho velho para elas sobreviverem? Violet sentou-se a seu lado, e soltou uma exclamação surpresa quando o irmão tocou a superfície amarelada com a varinha. Diante dos olhos incrédulos de Sam, surgiu um mapa de Hogwarts. Harry explicava com pressa como manuseá-lo, até porque nem ele sabia direito, mas Sam sentiu as mãos coçarem para ter aquilo.

“Papai queria que usássemos para nos proteger de Umbridge e os outros agentes do Ministério, só não esperava que fosse ser pego antes de todos voltarmos. “ Harry suspirou pesado, e depois de fechar o objeto entregou-o nas mãos de Sam. A superfície do pergaminho era lisa e regular, muito diferente do que sua aparência surrada daria a entender. “Agora que só as duas vão retornar, vão precisar disso. “

“E se eu não quiser voltar? “Provocou, ignorando os olhares de Violet. Harry endureceu o olhar.

“Você vai voltar, Sam. Violet precisa de você, e eu também. Além do mais, é menor de idade, lembra? Não pode sair usando feitiços por aí. Vão fazer as malas, preciso juntar as minhas coisas também. “

Samantha queria rir na cara dele de indignação. Violet sabia se cuidar muito bem, inferno! Revoltada, entrou no quarto e olhou o malão semidesfeito, sentindo o vazio voltar a ocupar o seu peito. Sentou-se em seu colchão, querendo evitar chorar, mas não conseguiu reprimir uma lágrima ou outra. Harry não sabia como era ser ela, ele não sabia de nada. Só sabia ser mandão e bancar o mais velho, achando que tinha a obrigação de cuidar dela e de Violet como se ainda fossem crianças.

Pensou em Romulus, que devia estar assustado também em algum lugar com tudo aquilo, e se sentiu um pouco melhor. Mary também devia estar precisando dela. No piloto automático, jogou livros e roupas na mala, e depois parou, sem saber como continuar.

“Não seja tão dura com ele, por favor, Sam. “ Violet murmurou, abrindo sua porta. “Está chateado e triste, falando sozinho no quarto. “

Olhou a irmã mais nova por um instante, querendo entender porque ela era tão condescendente com as pessoas. Violet pelo visto já tinha arrumado as coisas e trocado de roupa, com um tênis confortável e um casaco quente para enfrentar o frio, que combinava com a expressão vazia dela. Será que também tinha essa cara de nada? Deu de ombros e continuou se arrumando, mas ela entrou e se sentou.

“É sério. “

“Pare de defender Harry, Violet! Nós devíamos ter feito alguma coisa! Ele foi um babaca! “

O rosto da ruiva ficou vermelho, e ela segurou com firmeza o braço da irmã. Sam ficou encarando a mão pálida da irmã segurá-la, indignada, e ficou ainda mais quando Violet a olhou profundamente.

“Você vai me ouvir agora, Sam! O que acha que teria acontecido se a gente deixasse você fazer cada besteira que quer fazer? Nós nem sabemos como os outros estão, mas quer apostar quanto que Adhara tentou se precipitar e está na prisão com todos os outros? Hein? Pare de ser tão irresponsável! Nenhum de nós teria chance contra um auror, papai sabia disso, Harry sabia disso! Você não entende a gravidade do que está acontecendo! “

Respirando fundo, ela soltou Sam e se levantou. “Eu posso ser chorona, mas pelo menos sei o que está em jogo. Você sabe? Arruma as coisas e vamos ajudar os outros, que o meu namorado deve estar em algum lugar muito assustado. Anda! “

Quando Violet a deixou, Sam teve vontade de socar alguma coisa. Odiava ser tratada como criança, especialmente pela rainha das bonecas e porcelana. Ela queria que crescesse? Pois bem, iria ver o que era adulto. Garota estúpida. Bufou e terminou de arrumar-se, descendo para o hall arrasado mais uma vez.

Quando finalmente chegou, viu Harry sentando no pé da escada, segurando algo dourado nas mãos enquanto fitava o vazio. Sentiu um pouco de pena, e a raiva que sentia diminuiu. Se aproximou, e percebeu que era o distintivo de James.

“Onde arranjou isso. “

“Quarto deles. “

“Olha, foi mal o ataque que eu dei. Só queria ter feito alguma coisa, entende? “

“Sei. “

A resposta curta deixou Sam preocupada, e ela desceu e encarou Harry. “Foi mal, tá? “

“Eu sei, Sam, tudo bem. “ Violet desceu atrás dele e deu um tapinha amigável em suas costas. “Vamos? “

Se aproximando dos irmãos, tocou nos dois, e Harry aparatou com eles. Quando se sentiu estável, abriu os olhos, e a mansão dos Black surgiu diante deles com a porta da frente arrombada. Violet se soltou e correu para dentro, e Sam tirou a varinha instintivamente do bolso. Não gostava de admitir, mas estava meio preocupada com Padfoot depois do que Violet dissera.

“ADHARA! “ Harry gritou, sua voz trêmula ecoando pelo hall gigantesco e vazio. As escadarias de mármore negro estavam machucadas aqui e ali, e uma parte do corrimão fora pelos ares. Violet surgiu vinda das cozinhas, correndo com o olhar cego atrás de Leonard.

“Os elfos estão lá embaixo, aterrorizados. Disseram que o Ministério chegou quebrando tudo, mas que Sirius e Marlene foram pacificamente. Onde eles estão? “

“Prongs? “ uma voz conhecida balbuciou, e Sam se assustou com a visão de cima do segundo andar.

Adhara desceu, usando botas de couro muito negras e uma jaqueta abotoada até o pescoço. Tinha as mãos descobertas muito vermelhas e sangrando em alguns pontos, e apesar de parecer tranquila, estava tão branca que Sam agradeceu por ela estar de olhos abertos para confirmar que estava viva. O contorno de seus olhos estava inchado e avermelhado, e o parecia haver um véu separando seu olhar de todo mundo. “O resto está lá em cima fazendo malas. Meu pai-“

“Aconteceu a mesma coisa lá em casa. “

Adie assentiu. “Tá. Vamos subir, em um minuto nós estávamos indo ver vocês e os outros. “

A sala de convivência estava normal, como se nada tivesse acontecido, e eles se sentaram nos sofás bem espalhados diante da lareira para esperar. Adhara explicou rapidamente como o ataque acontecera, e apontou uma sala de estar íntima, com a porta completamente destruída ao que pareciam golpes de atiçador de lareira, dizendo que estiveram ali presos durante o ataque. Violet voltou abraçada em Leonard, que se limitava a passar os dedos pelos cabelos dela.

“Boa Noite, “ Cumprimentou com educação, baixando a cabeça quando se sentou, “vão voltar à Hogwarts? “

“Não. “ Respondeu Harry, e Sam viu Adhara fazer o mesmo. Madeleine surgiu pouco tempo depois, e Violet a abraçou também.

“Quais os próximos passos? “ Perguntou Sam, e Harry contou nos dedos.

“Vamos até Lewis e Mary, depois Romulus, depois os Weasley. Richard deve estar com eles, precisamos nos acertar, e depois vou atrás dos comensais. “

“Espero que tenham um bom plano para isso. “Pollux surgiu altivo, e apertou o ombro de Adhara com segurança. Sam sentiu uma pontada de inveja fora de hora, e se censurou internamente por isso. Como ela conseguia ter tantos caras na cola dela? Mesmo sentada na poltrona com cara de poucos amigos, Pollux ainda fazia de tudo para agradá-la e deixa-a confortável, ainda que isso significasse ele parecer intrometido.

Jack chegou por último, com um colete negro com bolsos para guardar a varinha e algumas facas sobre a camisa. Sam sorriu solidária para ele.

Surgiram na porta de entrada dos Pettigrew pouco tempo depois. Sam viu todos acelerarem para dentro, gritando os nomes de Lewis e Mary, mas aquilo parecia fácil demais. Peter não esconderia os filhos durante um ataque dentro daquele sobrado minúsculo. Nem quando Sam dormia ali ela dormia no quartinho de Mary, tenha dó!

A faísca em sua cabeça desceu para seus pés, e ela correu para o quintal, gritando pelo irmão. Usando a agilidade que tinha graças ao quadribol, derrapou sobre uns arbustos e os tirou dali com um chute, revelando o alçapão conhecido da “casinha dos fundos” que ela e Mary amavam usar para fazer noites de fofoca. Adhara surgiu pouco depois a seu lado, e sem falar nada as duas se juntaram para abrir a porta.

“Lewis! “ A morena socou a porta. “Wormtail! Abre esta merda! “

Um som veio de dentro do bunker, e num minuto os Pettigrew saíram, cercados pelos amigos que os ajudaram a subir. Sam abraçou Mary.

“Fiquei preocupada com você. “

“Ah, Sammy! Você precisava ter visto Lewis, ele me salvou, e a casa estava toda cheia de gente se atirando, foi um horror! “ as mãos gorduchas dela apertavam as de Sam, e atrás delas Harry puxou Lewis para um abraço apertado.

“Cara, você deve ter sido demais! “

“Eu explodi o chão... “

“Nem eu teria explodido o chão, você é bem radical-“ Adhara sorriu sem muito ânimo. “Valeu, Sam. Grande ajuda. “

Samantha sentiu-se corar, e deu um rápido aceno com a cabeça em resposta. Sem muito tempo para perder, esperaram apenas alguns poucos minutos para Lewis e Mary se ajeitarem e aparataram de novo, dessa vez para os Lupin. Não queria ficar tão ansiosa para ver Romulus, mas seu coração acelerou quando sentiu-se ser puxada para o vácuo, imaginando o que diria a ele quando se vissem.


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