1997 escrita por N_blackie


Capítulo 31
Amelie




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As badaladas do relógio próximo à porta acordaram Amelie, que sobressaltou-se, olhando diretamente para a entrada de casa. O tapete não fora pisado, e nem as chaves balançavam com o movimento de abertura. Estava sentada na poltrona próxima à lareira havia quase quatro horas, esperando Regulus chegar, e ainda não o vira. Olhou os ponteiros, e viu que estava de madrugada já. A sopa que os elfos haviam preparado estava fria sobre a mesa.

Levantou-se, ajeitando o robe no corpo e mirando fora da janela mais uma vez. Sexta feira era o dia em que o marido chegava tarde, sim, mas nunca tão tarde. Fitou a lareira, algo em seu coração lhe dizendo para começar a suspeitar de algo, e começou a recordar a semana anterior, quando uma carta preocupada de Sirius chegara cheia de avisos e precauções. Lera antes por engano, e quando o marido chegou, confrontara-o.

“Sirius escreveu, porque não me disse que havia perigo?”

Regulus a olhara surpreso, e depois para o pergaminho aberto em suas mãos. “São apenas suspeitas, Amy, não se preocupe.”

“Como espera que eu não me preocupe se não me diz quando este tipo de aviso chega?” ela levantara, segurando-o pelo braço. “Sabe que estes bruxos são vingativos e- “

“Amy.” Ele olhara fundo em seus olhos, e beijara sua testa. “Podemos falar disso depois da janta? Estou faminto.”

Engolira suas reclamações, e jantaram em silencio para depois seguir para o quarto. A cama já estava preparada e aquecida, como sempre, e Amelie sentara sobre as cobertas mornas de braços cruzados. Sem mencionar a carta, Regulus começara a se despir, e a deixara sem outra saída senão retornar ao assunto.

“Regulus. Por favor.”

Ele terminara de colocar a calça do pijama, e se sentara ao lado dela. Tentava esconder, mas Amelie conseguia ver que estava tenso.

“Vai ficar tudo bem, mon amour.” Pegara em suas mãos e levara-as á boca, beijando. Contudo, algo no olhar preocupado dela o sensibilizara, e ele suspirou. “Não vai ficar tranquila, né. Amy, o perigo existe, e eu sei do que fiz e das consequências do que fiz. Caso... Caso aconteça algo comigo, não se coloque em perigo, vá para o interior, procure sua família, e fique lá.”

“Pollux precisa saber do que houve, não podemos fingir que a situação na Inglaterra não nos afeta.”

Uma sombra passara pelos olhos dele. “Pollux ficaria em perigo, não posso deixar que isso aconteça.”

“Ele merece saber porque, Reg-“

“Ele merece...” Regulus levantara, desviando os olhos dela, “...ficar em segurança. Ele é a única coisa realmente boa que fiz nessa vida, não quero que ele pense em mim como... como um bruxo das trevas.”

“Você não é nem nunca foi um bruxo das trevas!”

“Eu não fui por um acaso do destino, Amelie. Não fui porque me salvaram, mas teria sido. E por isso cometi erros, mais deles do que poderia comentar. Não quero que meu único filho saiba disso, ele não merece.”

“Acha que a ignorância vai salva-lo de ser alvo da vingança também?”

“Não. E por isso quero que, caso algo aconteça, o envie para ficar com Sirius, que tem melhor estrutura do que nós para protege-lo.”

Com as palavras de Regulus martelando seu coração, Amelie entrou no quarto e trocou de roupa, pedindo para não ser essa a situação. Pegou a bolsa e colocou a varinha dentro, quase pulando dentro da lareira antes de gritar que queria ir ao Ministério.

Ignorou a tontura ao sair do outro lado da passagem para um lobby praticamente vazio, e tampouco hesitou quando começou a andar para o elevador. Estava quase chegando quando viu Claude Reyer, chefe de Regulus indo embora. Correu para alcança-lo, e o parou com um sinal das mãos.

“Madame Black, boa noite!” ele sorriu, e logo parou ao vê-la melhor, “algo errado?”

“Meu marido já deixou o Ministério, Monsier?”

“Ora, claro que sim, faz tempo! Saiu no fim da tarde, ele não chegou em casa?”

Mas Amelie não tinha tempo para responder mais nada. Com o coração martelando, se enfiou no elevador, apertando trêmula o botão para o andar mais baixo de todos, onde sabia que ficava o Ministro e seus gabinetes. Assim que a porta se fechou – na cara de Reyer – ela deixou-se encostar pesadamente na parede envidraçada, e engoliu o choro que já se formava em seus olhos.

O elevador parecia pequeno demais para a dor que sentia, e o ar fino demais para absorver os seus medos. O chão sob seus pés parecia ter sumido, e a realidade era tão aterrorizante que por um segundo achou que estava em um pesadelo.

“L’armoire et agrégats, Madame.”

Quando a passagem estava livre, Amelie avançou para a comprida porta branca do gabinete ministerial, agradecendo por ser tarde o suficiente para que nenhuma secretária a impedisse, mas não tão tarde que o Ministro já tivesse partido.

O gabinete era uma sala arredondada, com uma mesa de cristal e vidro no centro e uma cadeira acolchoada em branco e azul, como tudo ao redor. Estantes de pinho decoravam as paredes, e um quadro do ministro ornava a parede imediatamente atrás da escrivaninha, onde o próprio escrevia algo em um pergaminho.

“Ministro, me desculpe a interrupção.” Anunciou, esperando – o prestar atenção nela. Conhecia Frédéric Roux da época de escola, sendo que ele era dois anos mais novo que ela. Tinha se elegido fazia menos de um ano, então não tinha muitos cabelos brancos na cabeça ruiva, mas assim que ergueu o olhar para ela, deixou transparecer o cansaço que o cargo lhe impunha. “Amelie Mckinnon!” sobressaltou-se, e conjurou uma cadeira como a sua diante de si.

“Amelie Black, há algum tempo, Fred.” Sentou-se com um sorriso cortês. “Preciso de sua ajuda, estou lhe implorando.”

“Algo de errado?”

“Meu marido, Regulus Black, trabalha para Claude Reyer, nos assuntos internos. Regulus tem um passado conturbado com os eventos de 78 em Londres, deve conhece-los.”

“Hm, devo confessar que conheço pouco destes,” Roux franziu as sobrancelhas muito claras, e pousou a pesa de pavão, “tinha treze anos, li nos jornais e ouvi histórias. Mas seu marido é muito mais velho?”

“Não. Tampouco passávamos de adolescentes, mas os bruxos envolvidos com as trevas àquela época o culparam de seu descobrimento, e tinham uma espécie de vendeta com ele. Fred, creio que seja de sua atenção a atual situação inglesa.”

“Sim. Fudge entrou em contato comigo. Conflitos internos sérios entre os ingleses... Não podemos contar com eles para falar de tranquilidade, não? Hem... Sim, está tenso.”

“Meu marido foi alertado que poderiam vir atrás dele. Fred, ele está desaparecido há algumas horas, creio que o pegaram.”

O rubor escapou das bochechas finas do Ministro. “Oh, Santa Joana. Vamos procura-lo, sim, com certeza!”

“Não é só isso que vim lhe pedir. É sobre meu filho, Pollux Black. Ele está em Beaubatonxs, preciso transferi-lo para Hogwarts.”

“Sabe que não há instituição mais renomada que nossa belíssima academia-“

“Sei bem das credenciais de Beaubatonx, Fred.” Interrompeu, sem tempo para lamentações. “Mas creio que não há lugar mais seguro para meu filho estar do que perto de seu tio, nesse momento. Por favor.”

Neste momento, da porta irrompeu uma mulher magra e esguia, vestindo um macacão azul marinho com insígnias no peito. Ela fez uma breve reverencia com a cabeça loura, e logo entregou um envelope pardo ao ministro.

“Está confirmado, Monsieur Roux.”

“Merci, Gagnon.” O cenho do Ministro apertou, e Amelie sentiu que mais algo de ruim estava para acontecer. A mulher fez outro sinal com a cabeça e os deixou, fechando a porta.

“Algo errado?”

“Acho que teremos de fazer um pacote, Ame,” Frédéric abriu o relatório e balançou a cabeça. “sua prima Annette também sumiu, numa missão em Calais. Já não é a primeira agente que perdemos perto da fronteira com o Canal.... Oh céus.”

“Annette?” Amelie forçou-se a lembrar dela, mas apenas uma imagem difusa de uma garotinha de marias-chiquinhas veio à sua mente. “O que tem?”

“Sua filha Madeleine, foi deixada aos cuidados dos Black também.” Fred coçou a testa. “Vou escrever à Madame Maxime, não se preocupe. Vamos achar seu marido, Amelie.”


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