1997 escrita por N_blackie


Capítulo 22
James


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo extraordinário do dia, com o dobro do tamanho, espero que gostem :)



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Os flashes vinham de todas as direções, e James teve de piscar para não ficar cego. A multidão de jornalistas e curiosos se aglomerava em torno dele, e as perguntas lhe sufocavam como ondas que vinham uma atrás da outra, não deixando espaço para que ele voltasse à superfície para respirar. “Não tenho nada a declarar!” repetia, balançando a cabeça e abrindo espaço entre aquela bagunça.

Em suas mãos, o memorando sobre aquela reunião extraordinária, a ser feita num dos salões nobres do Wizengamot, jazia amassado, e por mais que tentasse se convencer de que não tinha nada a temer, o tom do bilhete dizia muito bem que aquilo não era algo amistoso.

Convocação Extraordinária

Reunião Interdepartamental

A/C James Potter

Favor comparecer à Sala 5C às 18h desta Quinta.

Cornelius Fudge, Ministro da Magia

Frank lera o bilhete um milhão de vezes quando James o chamara para discutirem o significado daquilo, e concordara em assumir o comando do esquadrão no caso de James ser acusado de alguma coisa, apesar de não achar que ele seria condenado. Apesar das tentativas de Longbotton de deixa-lo mais confortável, aquele tumulto no hall apesar o deixava mais certo de que algo tinha dado errado, e que o nome dele estava no meio.

Uma mão delicada e firme agarrou seu pulso através do grupo, e usando um tom severo, começou a puxá-lo dali. James saiu ofegante daquele corredor sufocante, e pensou por um instante que fora Lily quem o salvara. Ao olhar para a mulher, contudo, viu Amelia Bones, que pressionava a varinha na garganta e alertava todos ao redor num tom que retumbava nas paredes.

“Não há nada a ser declarado aqui, reservem suas perguntas para a saída da reunião. Obrigada e uma boa noite a todos! Repito: não há nada a ser declarado até que a reunião termine!”

A multidão ameaçou segui-los novamente, mas a campainha do elevador tocou e James correu com Amelia para dentro, se fechando como uma caixa. O som das perguntas incessantes foi abafado, e o silencio fez o ouvido de James zumbir.

“Muito obrigado, Amy, eles estão completamente em pânico...”

“Não precisa agradecer, Potter, os abutres do jornalismo bruxo são especialistas em táticas de intimidação. Felizmente, eu também.”

“Tem conversado com Fudge?”

“Na verdade, tenho um pouco. Vem sendo cada vez mais difícil chegar perto dele a sós, com Barty sempre falando algo importante-que-não-pode-esperar, então temos apenas trocado informações vagas. Venho precisando ter uma reunião séria com Cornelius faz tempo...”

“Não gosto do cheiro disso. Estão remexendo no passado, não entendo porque...”

James tirou os óculos, e tomou folego para o que estava por vir. Amelia pressionou seu braço.

“Potter, não pense que está sozinho. Sabe que tem aliados aqui dentro. Eu, Ludo, Thomas e Don estamos totalmente a seu favor.”

Em tempos felizes, James teria ficado muito animado com aqueles amigos. Amelia Bones era a melhor chefe que o Departamento de Execução das Leis da Magia já tivera, uma mulher divertida e espirituosa que tinha ótimas ideias e conseguia dobrar até o bruxo mais teimoso que tivesse feito algo errado. Fora ela quem lhe ajudara mais quando entrou no Ministério, e sempre a chamava para os aniversários de Harry, Sam, e Violet. Era também irmã de Edgar Bones, amigo antigo dos tempos da Ordem.

Ludo Bagman era um amigo muito querido também, mas especialmente de Sirius. Os dois tinham o mesmo ar de alguém que está acostumado a convencer as pessoas com sorrisos e charme, mas James sempre gostava de andar com ele para discutirem quadribol.

Thomas Farriner era a amizade mais inesperada que adquirira nos anos de Ministério. O mais novo dos chefes de departamento, era um cara soturno e esquisitão, que gostava muito de resolver as situações mais bizarras decorrentes do mal uso de magia, e que tinha um estudo publicado sobre o Grande Fogo de Londres de 1666, defendendo o padeiro bruxo que o causara. James o conhecera numa convenção que ele e Sirius levaram Leonard, e James suspeitava que Thomas se tornara seu amigo pois ninguém mais tinha coragem de conversar com ele por muito tempo.

Don Baron era o chefe de Marlene, um aristocrata tradicional muito astuto que jogou charme um bom tempo nela até encontrar com Sirius na confraternização de Natal. Apesar do pequeno desconforto, James conseguira impedir Padfoot de açular dementadores para cima de Baron, e os dois conversavam bastante sobre técnicas de batalha e queijo francês. O problema é que essas ocasiões não aconteciam com muita frequência. Baron era do tipo que gostava de fazer as coisas por si mesmo, então quando não estava em alguma missão de seu departamento, ficava até altas horas no escritório, pesquisando.

Apesar de gostar dos quatro, James sabia que não iria adiantar de muita coisa se um ex-jogador de quadribol que gostava de churrasco, Thomas Farriner, e o ausente Baron virem defende-lo naquela hora. Sorriu amarelo para Amelia quando a porta se abriu, e passaram reto pelas portas negras do Departamento de Mistérios, atingindo a escadaria que levava aos Tribunais e Salões de Honra.

A última porta da direita estava aberta, e atrás dela, nas sombras, Sirius esperava de braços cruzados. Parecia deslocado ao lado do burburinho de conversas que saia pela porta, mas se de fato sentia-se assim, jamais saberiam. Amelia cumprimentou Sirius antes de entrar, e quando James foi fazer o mesmo, levou um olhar crítico do amigo, que o encarou assustado.

“Está tendo um ataque do coração?”

“Não, porque?”

“Tá branco que nem a careca de uma das minhas tias.”

James quis rir, mas a garganta estava seca demais.

“Preocupado, Padfoot, só preocupado. Podem me acusar de qualquer coisa, ninguém mais lembra da primeira guerra... Espera, o que você está fazendo aqui? Não é chefe de departamento, veio me prender?”

“Quem me dera, acho que vão me acusar de ter tentado sugar a alma da minha filha.”

O tom de Sirius era indiferente, mas James sabia o quanto o ataque à Adhara o havia afetado. Na noite do primeiro de setembro fora convocado ás pressas a mandar um esquadrão de aurores para Hogwarts, e a notícia de que dementadores haviam atacado o trem se espalhara como fogo pela opinião pública. Naquela madrugada ele e Lily acordaram com o som de algo quebrando, e quando desceram encontraram Sirius na sala, bêbado e desesperado.

“Vamos, vamos entrando.” James fez sinal para saírem dali.

A sala de reunião era um salão amplo com o pé direito muito alto, e estava forrada com veludo negro tanto nas paredes quanto no chão, parecendo uma grande e intimidadora sala de interrogatório. A mesa de mogno maciço com doze cadeiras estava disposta no centro do ambiente, e era iluminada apenas por algumas dúzias de velas que cintilavam sobre o tampo opaco.

Fudge sentava na ponta, usando seu costumeiro chapéu coco verde limão e terno risca de giz, mas, como dissera Amelia, não estava sozinho. Barty Crouch sentava imediatamente ao lado dele, sussurrando e estendendo papeis diante do ministro. Quando entraram, ele sorriu para Sirius e James.

“Potter!” a voz retumbante de Ludo Bagman sobressaltou James, que logo sentiu o abraço apertado do loiro envolve-lo.

“Ludo, boa noite...”

“Não fique assim, Crouch pode tentar te por pra baixo, mas eu sei o que estou fazendo! Aposta quanto que hoje vai terminar com você por cima? Hein? Quanto?”

“Onde está Baron?” Sirius indagou atrás de James, e o sorriso de Bagman murchou.

“Oh, puxa, como dizer algo assim... Corta totalmente o clima! Baron não é visto há alguns dias, não conseguimos entrar em contato com ele.”

“Baron sumiu?” James balbuciou, e vasculhou a sala ansiosamente atrás de Amelia e Thomas, seus únicos aliados restantes. Ludo sorriu amarelo para ele, e secou a testa com um pano com a bandeira dos Wimbourne Wasps, seu antigo time, antes de dizer:

“Ora, Potter, vamos, não é como se ele tivesse desaparecido... Não conseguimos acha-lo ainda, eu disse ainda!”

“Tem alguém procurando?” Sirius ironizou.

“Hum, deve ter.”

“Há! Mas isso é tudo uma palhaçada mesmo.” Padfoot passou por James indignado, e sentou-se orgulhosamente em uma das cadeiras. James o acompanhou, igualmente tenso.

Fudge convocou todos com um sinal de limpar a garganta, e quando se sentaram, ainda sobrou uma cadeira a ser ocupada. O silencio constrangedor imperou, até que o Ministro se ergueu.

“Boa Noite, Senhoras e Senhores. Expresso a partir de agora o convite para que Dolores Umbridge se junte a nós, para discutir os eventos ocorridos na Escola de Hogwarts.”

Uma pedra de gelo desceu pela garganta de James e parou ali quando a mulher entrou. Normalmente, se ela entrasse, ele pediria licença de iria embora, mas não estava com tanta moral assim. Aquela mulher era a razão pela qual muitas das leis protegendo nascidos trouxas não passavam, e as ideias dela faziam o estomago de James embrulhar de desgosto. Lily a detestava.

A seu lado, Sirius se mexeu desconfortável, e James notou que não era apenas ele que não gostava da presença de Umbridge entre os Chefes de Departamento. Quando ela se sentou, Fudge sorriu satisfeito.

“Bom, podemos começar pelos assuntos de mais urgência, e razão pela qual convocamos esta reunião. Primeiro, o ataque de dementadores. Black, o que diz sobre isso?”

“Dementadores rebeldes existem, Fudge. Não tenho como caçar um por um e coloca-los em Azkaban, já discutimos isso.”

“Sim, mas este atacou Hogwarts.”

“Eu sei, ele atacou a minha filha.” O tom de Sirius ficou levemente ríspido. “O que estou dizendo é que não enviei dementador nenhum, com ordem nenhuma, e que não tenho como ter completo controle da população de dementadores do mundo. Acho que o que se deve investigar é-“

“Hem, hem.”

O pigarro falsamente delicado veio de Umbridge, e Sirius interrompeu sua sugestão para olhá-la friamente. “Precisa dizer alguma coisa, minha senhora?”

“Muito, hm, espirituosa a sua filha, Black. Nós conversamos, sabe?” ela remexeu delicadamente sua pasta cor de rosa, puxando um documento. Á distancia, James notou que era uma ficha, e a foto de Adhara estava nela. Sirius endureceu a seu lado, e James podia jurar que seus olhos tinham virado gelo.

“Espero que tenha sido esclarecedora.”

“Oh, não muito. Sabe, Senhor Black, acho que nós temos uma visão muito diferente sobre o que se deve investigar nesse caso. Quer saber porque o alvo foi a sua filha? Bem, conversei com alunos no trem, e todos dizem que ela usava um colar, uma joia que desapareceu quando os dementadores a atacaram. Sabe dizer o que é?”

James sentiu todo o sangue de seu corpo secar, e não ousou olhar para Sirius. Sirius não gostava de joias, e a única pessoa da família que usava muitas era Marlene, mas sempre tinha duas coisas no corpo. A aliança de casamento, feita em ouro, e a chave de Azkaban, um pingente em cristal resistente opaco por fora e que guardava duas substâncias essenciais para que os portões da prisão funcionassem: a essência de um dementador e o sangue daquele que o guarda. Sirius pedira para aquele pingente ser feito sob medida, com seu sangue dentro, para que ninguém pudesse arrombar a porta principal da fortaleza, e nunca o tirava. Ninguém mais poderia abrir a prisão, a não ser ele mesmo ou alguém que compartilhasse do seu sangue.

Alguém como Adhara, por exemplo.

“Não, não faço ideia.” A resposta foi seca, e James aproveitou para olhá-lo. A gola de Sirius era alta, não dava pra perceber se o colar estava ou não ali, mas só de pensar que os dementadores pudessem tê-lo pego já deixava James inquieto. Umbridge crispou os lábios de frustração.

“Sua filha me disse o mesmo. Disse que ganhou de alguém da família, e que não sabia porque os dementadores tinham se interessado por ele. Acho que o que deve ser investigado, Ministro, é quem está mentindo aqui. Se é você, Senhor Black, ou sua filha.”

“Não conversou com ela? Adie é um amor.”

“É mesmo? Não é o que diz a ficha dela em Hogwarts.” As unhas cor de rosa ergueram o papel, e o rosto desafiador da filha de Sirius rosnou para todos em uma foto anexada ao arquivo com seu nome. Eram várias ocorrências anotadas na letra garranchosa de Filch, algumas marcadas com tinta vermelha com palavras como “muito perigoso” e “quase fatal”. Fudge fez cara de surpreso, mas baixou delicadamente a mão da secretária.

“Bem, acho que isso abre as portas para outro assunto. Quero anunciar que Dolores aqui se juntará a equipe de Hogwarts num período próximo, a fim de fiscalizar irregularidades que estão sendo apontadas no modo de ensinar da escola. Acho que dentro desta investigação podemos colocar a sobre a menina, não?”

“Acho que não.” James se assustou. Nunca vira Sirius tão autoritário. “Se querem investigar a mim e à minha esposa, vão adiante, mas na vida da minha filha, ninguém toca.”

“Dolores não vai investigar a vida dela, só vai verificar a informação, não?” Fudge sorriu amarelo, secando o suor da testa com um lenço. Umbridge pareceu um pouco contrariada, mas assentiu. Sirius permaneceu gélido.

“Bem, vamos, hem, a nosso próximo tópico... Potter?”

“Sim, Ministro?” James ergueu a cabeça, deixando o nervosismo de lado. Não queria deixar Sirius sem suporte, e se preciso fosse, defenderia Adhara também. Mas não era dos Black que Fudge queria falar.

“O Wizengamot votou, e foi decidido reabrir o caso a respeito da morte de Tom Marvolo Riddle. Sabe o procedimento, tem algum oficial para atuar em seu nome durante seu período de suspensão?”

“Frank Longbotton, senhor.”

“Ótimo. Então quando esta reunião terminar, avise a Longbotton que por ora ele está no comando. O que está em questão aqui não é a morte dele, mas as motivações dela, entende?”

“Sim, senhor.”

“Ministro, se posso interferir.” A voz sibilada de Thomas assustou os dois chefes que estavam a seu lado, e o próprio Fudge pareceu preocupado. “Creio que uma suspensão não seja necessária neste caso, não? Sabemos que este é um mecanismo que impede que aurores potencialmente perigosos sejam postos em missões, mas se o que está sendo decidido é a motivação e não o crime, que diferença faz se Potter cumpre ou não suas tarefas?”

A boca do ministro abriu vagamente, e depois fechou. A seu lado, Crouch parecia despertar de um cochilo, e logo pôs a mão paternalmente nas costas do Ministro.

“O procedimento é esse, Farriner. Vai questionar as nossas leis?”

“Não foi essa a intenção, Crouch, apenas apontei-“

“Esse tópico já foi decidido, vamos para o próximo.”

A discussão parecia estar apenas prestes a começar, mas James já nem escutava mais, entretido observando Crouch. Durante toda a reunião ficara quieto, olhando para o vazio com os olhos aguados, e de repente, conforme o assunto fugia de seus interesses, acordava como uma marionete, vociferando ordens e mostrando a todos quem realmente estava controlando o Ministro.

Estava suspenso, e nada mudaria isso. Fudge mesmo dissera, o Wizengamot decidira seu destino, e nenhuma aliança interna o salvaria de ser acusado e julgado por aquilo. Sentiu-se aéreo conforme Crouch calava Thomas com alguma ameaça qualquer, e continuavam a reunião. Queria dormir.

Não percebeu quanto tempo durou o resto das discussões, até porque pareciam quase todas pré-decididas, e que aquilo na verdade era apenas uma reunião para anunciar o que iria mudar para que ninguém reclamasse de não ter sido avisado.

Finalmente, quando James pensou que iriam ficar presos ali a noite toda, Fudge pegou o último tópico. “Bem, agora a uma última mudança,” disse, “diante do sumiço de Don Baron, foi declarado vago o cargo de Chefe do Departamento de Mistérios. As buscas por ele foram inconclusivas, e nem ele nem seu corpo foram encontrados, então resolvi acatar uma sugestão do velho Barty aqui. Resolvemos escolher seu sucessor dentre os próprios funcionários da casa, e temos o prazer de declarar que o novo chefe do Departamento de Mistérios não é ninguém menos do que Bartemius Crouch Junior!”

A porta atrás deles se abriu, e o homem magrelo e alto apareceu sorridente.


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