Sem querer ela olhou para trás querendo se certificar de que havia deixado Luiz Henrique e a mãe no andar abaixo. A cópia fiel de Luiz travou a cadeira de rodas e lhe estendeu a mão para ajudá-la a se levantar.

- Deixa disso! – ele chamou a atenção de Janaína sem realmente querer fazê-lo – foi Laura quem caiu – e num tom preocupado – você se machucou?

- Obrigada – aceitou a mão estendida e sem jeito bateu a calça para tirar uma poeira imaginária – eu é que sou uma desastrada.

- Seja bem-vinda, Laura – ele continuava segurando a sua mão – eu mostro onde fica o seu quarto.

Janaína assistia impassível até aquele momento.

- Olha lá Marco Aurélio – piscou maliciosa – já está de olho na garota – desceu a escada gargalhando – esse menino é de ouro.

Laura sentia o rosto formigar e apalpou a bochecha quente.

- Não liga! Ela é uma doida varrida, mas gente boa. – destravou girando a cadeira de rodas com facilidade - Por aqui.

Eles seguiram até o final do corredor, o quarto dava para os fundos da casa, ele abriu a porta para ela entrar e infelizmente exclamou maravilhada.

- Puxa vida! – suspirou extasiada – É um sonho.

- A gente levou um tempão para montar esse quarto, o Henrique e a Jaqueline trabalharam nele todos os dias.

O coração dela se aqueceu e ela sentiu o gelo quebrar, não era uma intrusa, era bom saber que a mãe se importava e que até mesmo Luiz Henrique com seu olhar reprovador ajudara na decoração do quarto para recebê-la.

- E você, Marco? – encostou o rosto na janela para esfriar o calor do rosto – Em quê você ajudou?

- Ah! – disse entristecido abaixando o olhar para os pés – quase nada...

- Desculpa! Eu... – disse mortificada – falei sem pensar. Eu sou uma tonta mesmo.

O corpo todo dele tremia numa convulsão e de repente, por um momento, ela pensou que ele fosse sensível o bastante para chorar, mas Marco começou a gargalhar e ela riu aliviada também.

- Brincadeira... – os olhos lacrimando de tanto rir – Eu mandei neles o tempo todo. Eu levo vantagem, sabe. Faz isso... Faz aquilo. 

Eles ainda riam descontraídos quando Luiz Henrique entrou pela porta aberta e os encontrou. Os olhos dele e de Laura se encontraram pela primeira vez.

Ele não era mais aquele garoto inconseqüente e falante que encontrou na rua, o olhar dele estava sério e indecifrável, seu coração bateu forte e de forma incontrolável, a sorte era estar sentada na cama, pois sentia as pernas fraquejarem, desviou o olhar e parou de rir.

O clima dentro do quarto ficou estranho.

- A Janaína vai servir o jantar – Luís Henrique quebrou o silêncio e se virou para sair – Vamos gente.