Laura havia vivido intensamente nesses últimos dias que em toda sua vida, dois meses, este foi o tempo que esteve com Marco, às pessoas diriam que era loucura casar com um homem quase morto, mas compartilhar esses breves momentos, deram-lhe uma perspectiva diferente de encarar a vida.

Ela não era mais uma adolescente perdida, havia ganhado a maturidade que faltava para tocar a sua vida, mesmo que sozinha, decidiu que agora era a sua vez de partir daquela casa, sua mãe havia se mudado para a casa de praia e infelizmente ainda era doloroso voltar lá.

Separava algumas coisas de Marco e descobriu que tinham algumas coisas em comum, ele também tinha uma caixa só que não eram recordações, mas sonhos impossíveis de realizar... Retirou as fotos uma por uma até esvaziá-lo.

Eram todas fotos de Luiz jogando basquete, correndo, nadando, coisas que Marco jamais faria novamente e... Havia um foto sua sorrindo, era antiga, ainda menina, estava vestida de anjo, fantasiada para o carnaval. E outra foto, a última que tiraram todos juntos.

Laura notou que um papel saia do fundo e percebeu que era falsa, curiosa para saber sobre os tesouros de Marco, ela retirou o papel endereçada para si, escritas por ele, cheirou o papel e quase pode senti-lhe o cheiro de almíscar.

“Laura,

Eu tenho certeza! Quando estiver lendo essas poucas linhas, eu não estarei mais olhando para os seus olhos, nem sentirei mais seu perfume, não ouvirei mais sua voz suave, nem degustarei seus lábios doces e nunca mais poderei tê-la em meus braços.

Meu maior desejo era viver, mas este desejo, eu deixo para Luiz. Ele saberá viver melhor por nós dois. Assim, todas as coisas impossíveis que invejei porque não podia, se tornaram nada diante da descoberta que trocaria tudo por apenas um desejo... Aquele que te contei em segredo.

Fui egoísta, eu sei! Pode me culpar, mas eu não tinha outra chance de recomeçar... Sei que te deixarei com um enorme vazio, mas nada é insuperável e você vai conseguir preenchê-lo novamente. E, talvez, nem precise procurar tão longe...

Obrigado. Por esse tempo que passamos juntos, por me amar, por me ensinar que quando amamos estamos a um passo além do outro, amar não é tirar, mas se doar inteiramente. E você me amou tão prontamente fazendo-me feliz todas às vezes que a fiz repetir que me amava. Nunca tive dúvidas do seu amor, mas para meu coração cansado esse era mais um motivo para continuar batendo.

Esse tempo para nós foi intenso, vivemos todos os anos que poderíamos ter tido juntos, e ao contrário do que possa parecer nunca lhe disse que te amo por que as palavras são como o vento, enquanto puder lembrar de cada gesto de amor que lhe dediquei. Peço que não se atrele ao que poderia ter sido e não visite meu túmulo porque não estarei lá.

Estarei no vento que toca seus cabelos ou nas estrelas que velam seu sono. Talvez, guardado em suas lembranças, mas certamente em paz esteja onde estiver... Seja feliz, meu amor.

Beijos

Seu para sempre,

Marco”.

Ela tinha prometido a si mesma que seria forte, que não demonstraria seu sofrimento, mas foi impossível conter novas lágrimas ao ler a carta. Era uma tola por ter necessitado de palavras e agora podia lembrar os mínimos gestos de Marco. Precisaria de um tempo para cumprir o que ele lhe pedia, se desatrelar do que poderia ter sido...

Laura decidiu que faria uma longa jornada, uma viagem para decidir o que fazer do resto de sua vida, o tempo era uma incógnita, tanto poderia ser longa ou curta, como saber o que o amanhã nos reservava, resolveu que viveria um dia por vez sem arrependimentos, recolocou tudo de volta e saiu levando apenas a carta.