Até que se Tornem Lembranças escrita por Aki Nara


Capítulo 1
Capítulo 1 - O Primeiro Encontro




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Capítulo 1 – O Primeiro Encontro

A vida era uma droga, mas como ela poderia ser melhor para uma garota de 15 anos, que precisava fugir todos os dias para não apanhar do pai, um alcoólatra? Ela perambulava pela rua pensando em como até a pouco tempo atrás podia ser feliz e agora não.

Laura andou pela feira, adorava ouvir o burburinho de gente conversando alto, aquele lugar agitado a fazia se sentir melhor. Ela conhecia algumas daquelas pessoas, pessoas trabalhadoras, que não deixavam a vida difícil engolir sua alma. Uma das feirantes, Dona Pepa, sorriu e lhe jogou uma maçã quando passou por ela.

Hoje, ela não tinha tempo para conversar e por isso, acenou para os conhecidos enquanto apressava o passo para fora dos corredores de barracas. O final da feira dava para uma avenida e do outro lado ficava o seu objetivo, o Parque das Palmeiras margeado pela Lagoa das Garças.

Um pequeno pedaço de verde no centro da cidade e os seus passos a levaram para um banco nas sombras. Ela se sentou e degustou a maçã, não tinha a menor pressa em voltar para o inferno, observou as pessoas indo e vindo, tantos rostos diferentes com sentimentos diferentes, será que a vida deles era tão medíocre quanto a dela?

Laura estava tão concentrada em remoer a sua desgraça, que nem pressentiu quando uma outra pessoa sentou ao seu lado e se assustou quando ele lhe dirigiu a palavra.

- Por que está de olho roxo? – o garoto disse sem esconder a ironia – Luta livre?

- Não é da sua conta – respondeu de mau humor – Nem te conheço.

- Por isso, não! Luiz Henrique Vieira – estendeu a mão – e você?

- Unf! - Ela virou a cara e ignorou a mão estendida, tentou jogar a maçã no lixo, mas errara o alvo.

- Ow! Que mau humor hem? – ele disse num tom chateado. – E ainda por cima mal educada.

Se pudesse matar com o olhar, era o que teria feito, lançou um daqueles olhares gelados e cheio de ódio, antes de ir pegar a maçã caída no chão e jogar perfeitamente no lixeiro. O tempo passou depressa e ela precisava voltar para a caixa de ovo que chamavam de “apertamento”.

Será que se rezasse agora daria tempo para o Homem lá de cima ouvir as suas preces e fazer com que seu pai estivesse suficientemente bêbado para dormir até de manhã? Ela apertou o passo para atravessar o sinal, enquanto fazia a sua prece para não cozinhar e nem ganhar uns safanões de graça.

O pai não era um sujeito ruim, só estava passando por uma fase difícil, era o que ele lhe dizia enquanto chorava e pedia desculpas sempre que via os hematomas, agora cada vez mais freqüentes, ela tinha que ficar alerta, pois já não tinha mais desculpas para justificar na escola.

Laura teve um pressentimento estranho e olhou a sua volta, o garoto a seguia e desconfiada parou colocando a mão na cintura.

- Quê? – ele disse cínico. – Só estou indo para o mesmo lado.

Eles andaram lado a lado, mas depois de atravessar mais uma esquina, o garoto parou na banca de revista e ela entrou em seu prédio. Cumprimentou Joaquim, o porteiro e, ele foi logo lhe contando a novidade:

- Vocês têm visita. Um baita mulherão. – assoviou enquanto dava formas para as curvas da desconhecida e tomava ares de xereta. – Seu pai tá bem na foto. Quem é?



Laura sorriu para ele, fazendo um esforço sobre-humano para não dar a resposta azeda que queria. Entrou no elevador e apertou o botão. Quem seria àquela hora? E ainda por cima mulher? Franziu a testa sem perceber. A escola teria denunciado o pai ao juizado e a mulher era uma assistente social. O pai arranjou uma namorada e anunciará que ela vai ganhar uma madrasta.

Ela fantasiou as possibilidades até que o elevador parou no oitavo andar, saiu já retirando a chave do bolso, caminhou até o número 801 e parou diante da porta.


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