Os Peixes não São Todos Iguais escrita por Eica


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/158064/chapter/3

Já no pet shop, Danny conversou com Jayne e, naquele momento, seu ex-namorado apareceu.

- Podemos conversar? – disse Adam, chegando em frente ao balcão da recepção.

- Não vê que estou trabalhando? – disse Danny, grosseiramente.

- Posso passar na sua casa então?

- Não.

- Eu sinceramente não queria que você tive...

- Claro que não queria. Assim podia me enganar por mais um tempo.

- Não amo o Tom. Amo você.

Danny começou a rir.

- Passo na sua casa e aí a gente conversa. – disse Adam.

- Vai cansar de bater na porta.

Adam observou Danny por mais um tempo até sair do pet shop.

- Que cretino! – exclamou Jayne.

- Ainda diz que me ama! Dá pra acreditar?

- Como está se sentindo?

- Bem, eu estou bem.

- De verdade?

- Eu não penso mais nesse filho da mãe.

Depois do serviço, Danny fez o caminho de volta para casa. Ao abrir a porta da sala, deu de cara com Adam sentado em seu sofá.

- Ah, não! Como entrou aqui?

- Tenho a chave. Você havia me dado, lembra?

            Adam levantou-se.

- Bem que, naquela ocasião, senti que ia me arrepender.

Danny foi à cozinha e Adam o seguiu.

- Tom e eu não estamos juntos.

- Que pena. – disse Danny, com sarcasmo.

            Abriu a geladeira e tirou uma garrafa de água de dentro dela.

- Como eu disse pra você, eu não o amo. Só fiquei com ele daquela vez...

- Ficou? – exclamou Danny, com perplexidade. - Por que tem medo de dizer que ‘transou’? Porque foi o que você fez.

- Tom ficou falando algumas coisas, me provocando, na verdade eu nunca fui com a cara dele. Ele não me atrai.

Danny riu.

- Sério. – disse Adam, aproximando-se mais de Danny. - Eu te amo. Sempre te amei. Temos um futuro maravilhoso pela frente.

- Tínhamos. Tínhamos um futuro.

- Por favor, Danny. Me dá mais uma chance.

- Sabe o que vou lhe dar? ALGODÃO! PEGA ELE!

            Seu cãozinho correu até a cozinha e lançou-se sobre Adam, mordendo sua perna. Enquanto ele tentava se soltar do cão, Danny empurrou-o para fora do apartamento.

- Danny!

            Em seguida, fechou a porta depois de Algodão entrar. Arrastou o sofá em frente da porta para que Adam não pudesse entrar.

            De madrugada, Danny bem que tentou dormir, mas não conseguiu, pensando naquele cretino que era seu ex. De manhã, colocou roupas bem quentes e saiu do apartamento com Algodão. Fez uma caminhada pelas ruas do seu bairro. Ao chegar a uma rua, deu-se com Maurice. Este último não o viu porque estava de costas.

            Danny decidiu segui-lo. Viu Maurice virar a rua. Quando Danny virou a mesma rua, encontrou Maurice caído na calçada. Correu até ele para acudi-lo.

- Alguém pode me ajudar aqui? Alguém?- gritou.

            Não havia ninguém na rua. Com alívio, Danny percebeu que Maurice ainda respirava. Tentou acordá-lo, no entanto, o rapaz não se mexeu. Teve de chamar por socorro. Em poucos minutos a ambulância chegou e levou Maurice ao hospital.

            Na outra semana, Danny entrou na cafeteria e para sua surpresa, Maurice estava lá, sentado em sua mesa de sempre, comendo croissants e tomando café como se nada tivesse acontecido. Danny foi até o balcão, fez seu pedido ao balconista e, tomando coragem, foi até a mesa de Maurice.

- Como está?

- Ah, Danny. – disse Maurice, sorrindo.

- Como você está?

- Estou bem.

            Havia outro curativo em sua testa.

- O que o médico lhe disse?

- Como sabe que fui ao médico?

- Te vi caído na calçada e chamei a ambulância.

- Foi você? – disse o outro, maravilhado. – Que gentileza a sua!

- E então? O que o médico lhe disse?

- Não foi nada demais. Eu apenas dormi.

            Danny ficou confuso.

- Dormiu?

- Sim, isso acontece sempre.

- Acontece sempre? Acha isso normal? Devia procurar ajuda médica!

- Procurei ajuda médica na minha adolescência. Já sei o que tenho.

            O rapaz ficou mais confuso.

- Não vai me explicar?

- Sou narcoléptico.

- Mesmo?

- Mesmo.

            Naquele momento, a garçonete se aproximou de Danny.

- Seu cappuccino. – disse ela. – Vai sentar-se aqui?

            Maurice fez sinal pra que Danny se sentasse. O rapaz acabou sentando na cadeira em frente a Maurice. A garçonete colocou seu cappuccino sobre a mesa e saiu.

- Vejo que ainda tem opiniões ruins a meu respeito.

- Não quero que pense que estou te dando bola. Não quero me relacionar amorosamente com você.

            O outro rapaz permaneceu sério.

- Disse que podíamos ser amigos. – disse ele. – Isto também não lhe interessa ou acha que homens também não prestam como amigos?

            Danny refletiu.

- Está bem, mas quero que você não fique esperançoso ou ache que eu mudarei de idéia em relação a você.

- Não pensarei isto. – sorriu Maurice. – Você já deixou isto claro diversas vezes.

            Danny ajeitou sua bolsa no encosto da cadeira e tomou um gole do seu cappuccino. Naquele momento, Maurice tirou uma foto de dentro da sua carteira e passou-a ao outro.

- Tome.

- Quem é este gordo?

- Sou eu.

- Você? – disse, espantado.

- Sim. Até o final do colégio eu era gordo.

- Nem parece você. Nesta foto você está tão gordo e feio e agora está tão...

            Danny tossiu e devolveu a foto.

- O que aconteceu? Por que a mudança?

- Acha que eu queria ficar gordo e feio pra sempre? Depois que terminei o colégio eu emagreci bastante. Cuidei da pele, por isso não tenho mais espinhas. Também cuidei do cabelo, por isso ele não é mais seco.

- Mas continua usando óculos.

            Maurice sorriu.

- Gosto de usar óculos.

- Por que me mostrou essa sua foto?

- Por nada.

            O jovem olhou para si próprio na foto e Danny manteve o olhar sobre ele.

- Quando você veio pra Inglaterra?

- Na minha adolescência. – respondeu o outro, levantando o rosto.

- E aprendeu a falar inglês tão depressa?

            Maurice sorriu:

- Eu já sabia falar inglês antes de vir pra cá.

- Por que trocou a Alemanha pela Inglaterra?

- Minha mãe tinha o sonho de vir pra este país. Éramos apenas nós dois e, quando juntei um bom dinheiro, trouxe-a pra cá. Ela ficou encantada e não quis mais ir embora.

- Mora com ela?

- Não mais. Ela morreu um ano depois de nos mudarmos pra este condado.

- Oh. Sinto muito.

            Maurice baixou o rosto. Ainda sorria, embora, talvez, estivesse um pouco triste pelas lembranças.

- Mas ela foi feliz aqui antes de morrer. Temos muitas fotos juntos e isso me deixa contente.

            O rapaz ergueu o rosto e, fitando Danny, perguntou:

- E você? Não mora com seus pais, creio.

- Não, não nos falamos muito. – disse Danny, pegando sua xícara. – Já há muito tempo.

- Eles são religiosos?

- São.

- Não te aceitaram?

- Não.

            De repente, Danny deu-se conta do que acabou de dizer e acrescentou:

- Quero dizer, eles não aceitaram o meu estilo de vida e não... Não o que eu acho que você deve ter pensado.

            Maurice observou-o, sério.

- Que diferença fará se eu descobrir ou não que você é mesmo gay? - o rapaz sorriu e disse ainda: - Não pularei em cima de você por causa disso.

- Bem...

            Maurice pegou um croissant e o comeu. Depois tomou seu café. Naquele momento em que o jovem mexeu em sua bolsa, Danny sentiu-se mal. Sentiu-se mal por ter sido grosseiro com o rapaz, que era tão bonito e gentil. Bonito...

- Bem, está bem. Confesso que eu sou...

            De súbito, a cabeça de Maurice despencou sobre a mesa com violência. Algumas pessoas olharam para ele quando ouviram o barulho do impacto. Danny, meio constrangido, tocou em Maurice.

- Você está bem? Hei!

            Levantou-se da cadeira e ergueu a cabeça de Maurice. Seus olhos estavam fechados.

- Não me diga que está dormindo?

            Danny encostou o corpo de Maurice no encosto da cadeira e segurou sua cabeça.

- Vamos lá, acorde.

            Uma garçonete aproximou-se do rapaz e perguntou se estava tudo bem.

- Está, está tudo bem. Meu amigo aqui só dormiu. Apenas isso. – respondeu Danny.

            Sem alternativas, Danny teve que ficar junto de Maurice até o rapaz acordar. E ele só foi acordar uma hora depois. No momento em que despertou, agradeceu a Danny por ter feito companhia a ele e também se apressou a sair, porque estava atrasado para voltar ao trabalho. Danny voltou ao pet shop e explicou-se ao gerente, mentindo que teve de levar um amigo ao médico quando este passou mal.

            Quando já estava sozinho com Jayne na recepção, contou-lhe sobre Maurice.

- E não pense que me esqueci que você deu meu endereço a ele. – concluiu o rapaz.

- Fiz isso por você. – explicou-se a moça. – Maurice pareceu interessado em você então resolvi dar o seu endereço. Você é tonto de só aceitar a amizade dele. Maurice é um rapaz tão lindo! Vai se arrepender se um dia ele se interessar por outra pessoa.

            Danny não disse nada.

            Mais tarde, ao final do expediente, Danny voltou para casa depois de passar no mercado.  Foi até a cozinha e colocou as sacolas de compra sobre a mesa. Algodão rodeou-o todo feliz.

- Trouxe comida pra você também. – disse o rapaz.

            Colocou ração no pratinho de comida de Algodão, que ficava na área de serviço, e depois voltou para a cozinha para preparar o jantar. No momento em que ia ligar o fogão, ouviu baterem na sua porta. Deu passos apressados até a sala e abriu a porta.

- Oi. – disse Maurice.

            O jovem trazia uma sacola com ele.

- Trouxe comida chinesa. Pensei que podíamos jantar juntos. Sem o seu cachorro, é claro.

            Danny pensou um pouco. “Que se dane!”, disse em pensamento. Deixou Maurice entrar depois de colocar Algodão na área de serviço. Ambos se sentaram no sofá e Maurice tirou as caixinhas de comida chinesa de dentro da sacola. Danny ligou a televisão.

- Já comeu comida chinesa?

- Não, ainda não.

- Espero que goste. Prove.

            Danny pegou uma das caixinhas e comeu uma garfada daquele macarrão cheio de legumes, frango e champignon.

- É, não é ruim.

            Maurice sorriu. Ambos olharam para a televisão. De repente, Danny lembrou-se de algo que lhe deixou muito curioso. Perguntou:

- Você está namorando, né?

- Não. – respondeu Maurice, virando o rosto para ele.

- Ficando?

- Prefiro relacionamentos sérios.

- Pensei que estivesse. Te vi com um rapaz outro dia.

- Quem?

- Um rapaz de cabelo castanho curto, olhos castanhos... Vi vocês na cafeteria.

- Ah! É um colega de trabalho. Convidei-o para ir à cafeteria naquele dia porque ele ainda não a conhecia.

- Hm.

            Danny voltou a comer. Ficaram em silêncio. A presença de Maurice causava em Danny uma sensação diferente de todas as outras que já sentiu em sua vida. O rapaz alemão tinha um ar totalmente interessante. Parecia ser extremamente tranqüilo, mas também, de certa forma, frágil. Fragilidade não do psicológico, mas do físico. Danny imaginou como seria ter o mesmo problema que Maurice. Apesar das quedas que ele deve ter levado durante a vida, ainda assim o rapaz não parecia se incomodar com o problema que tinha.

- Quer água? – perguntou Danny, de repente.

- Por favor.

            Danny pegou duas garrafinhas de água da geladeira da cozinha e, ao voltar para a sala, pegou Maurice com o corpo caído de lado no sofá. Quando Danny não conseguiu acordá-lo, tirou a caixinha de comida da mão de Maurice, depois tirou seus sapatos e deitou suas pernas sobre o sofá. Soltou Algodão da área de serviço. O cãozinho, todo feliz, correu pela sala e, quando viu Maurice deitado no sofá, lambeu sua mão e subiu nele.

- Boa noite. – disse Danny, olhando para Maurice.

            Danny sentou-se numa poltrona e terminou de comer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Peixes não São Todos Iguais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.