POV Klaus

Thalia chegou com três chaves na mão. Nos entreolhamos e
partimos pra cima dela para pegarmos as chaves. Infelizmente ela deu um choque em todos, lançando-nos para trás.

– Eu vou dividir os quartos dessa vez! Para que não haja
confusão... Quer dizer, mais confusão, certo? – ela ironizou e olhou para
todos, como se causássemos muita confusão. Bem, ela não estava errada. – Tenho três quartos. Um com três camas e outros dois com duas camas de solteiro. Allysson, Rose e eu, ficamos com um. Klaus e Nico ficam com o outro e Sammuel e Stella ficam com o último. Pode ser?

– Ok. Quanto mais longe melhor. – Disse Ally baixinho, me
olhando de lado.

– Olha aqui, Ally... – Quando eu ia começar a discutir com
ela, Rose me cortou.

– Chega! Calem a boca! Antes de irem para os quartos, será
que alguém teve algum sonho ou alguma pista?

– Por que está perguntando? – Sam falou olhando confuso pra
ela.

Fomos até um canto do hotel e começamos a conversar
baixinho.

– Precisamos de mais pistas. Até agora o que sabemos é que
tem deusas Ctônicas malucas querendo a mim e a meu primo pra abrir um baú que provavelmente libertará um deus do Tártaro. Um deus que provavelmente foi posto lá por Zeus porque cometeu algum erro psicótico que desencadeou uma catástrofe enorme.

– E daí? – Sam insistiu. – Já sabemos de bastante coisa.

– Ah, não. – Eu intervi. – Não sabemos o porquê de NÓS
termos que abrir o baú. Não sabemos quem é o traidor que entregou o baú. Não sabemos qual nossa ligação com isso. Não sabemos por que fomos enviados pra esse estado sendo que temos que ir ao Mundo inferioro que é em Los Angeles!

– Bem, se me permitem dizer uma coisa... – Stella disse e
todos olharam pra ela assustados. – Eu vou dizer do mesmo jeito. O tio da
Roselie, pai do Klaus, tanto faz, também foi usado na tentativa frustrante de abrir o baú, certo? – Todos assentimos, lembrando do sonho que Rose teve. – Então é obvio que tem alguma coisa a ver com Nix. Primeiro o filho, depois os netos... É bem obvio que precisam de um poder assim pra abrir o baú. E talvez os três juntos conseguissem poder suficiente.

– É. – Concordou Sam. – Nix nunca passaria para o lado
deles, então o jeito seria utilizar o poder dos descendentes.

– É. Meu pai sozinho não conseguiu. – Eu falei. – Então elas
querem nos três juntos pra conseguirmos.

– Olha só, gostei dos Irmãos Discórdia, hein! Usando a
cabeça!- Thalia fez a piada e Nico soltou um riso abafado, mas Sam e Stella pareceram não ligar. Os dois gostavam de provocar...

Rose começou a pensar.

– Tio Rick não treina há muitos anos pra evitar que monstros
nos achassem! Por isso não conseguiu abrir o baú.

– E talvez nem consiga. – Disse Thalia. – Se ele estiver
mesmo debilitado e sem condições nem de tentar fugir, os poderes dele que já são quase inutilizáveis, serão ainda menores... Não creio que elas queiram usá-lo. Elas vão preferir vocês.

– Tá. Incluam-me fora dessa. – Eu sorri. – Sou como meu pai.
Meu poder de neto de Nix é zero. Eu não lido bem com isso, mas se me pedirem pra fazer uma planta carnívora com estilo psicopata enorme crescer aqui no meio do saguão, eu faço.

– Cara, me desculpa, mas eu tenho que concordar. – Sam falou
dando tapinhas em meu ombro.

– Ótimo. – Rose disse séria e ela e Nico trocaram olhares
tensos. Nico a abraçou por trás e sussurrou alguma coisa em seu ouvido.
Entendendo o código, ela falou: – Bem, falaremos da Profecia... Tio Rick está onde? Mundo Inferior ou Little Rock?

– Não sei. Mas temos que ir até a “prefeitura”. – Thalia
disse decidida. – Lá encontraremos aqueles que o Olimpo não se esqueceram de ajudar.

– E como filha do Deus da poesia, - começou Rose. – A
decisão final com certeza tem a ver com abrir ou não o baú.

– E sofrer por amor, talvez influencie na decisão. –
Completou Nico.

– Mas, que tipo de amor? – Perguntou Stella. – Tipo, Nico e
Roselie ou Klaus e Roselie?

– É... Isso é algo que não poderemos responder. – Disse eu.

– Tá, agora chega gente! Amanhã temos um longo dia! – Nico
disse. – Vamos dormir, e como líder da missão eu digo que vocês têm que estar de pé às cinco.

– Errado. Ainda estarão de pé as cinco.

POV Nico

Ouvi uma voz levemente familiar e me virei pra ver quem era.

– Oh, por Hades! Percy! Annabeth!

Eu abracei Annabeth e Percy. Thalia fez o mesmo. Era muito
gratificante ter encontrado eles. Foi muita emoção. Depois os dois se viraram para o resto do grupo.

– Olá, Roselie! Klaus! – Annabeth deu um rápido abraço
neles, sempre protetora.

– Fala, pessoas que fizemos ser raptadas. – Klaus comentou.

– Ah, cara, tudo fazia parte do plano. – Respondeu Percy.

– Do plano de morrer dele. Só se for. – Annabeth comentou,
mas depois reparou em mais alguém. – Allysson! Quanto tempo!

– Pois é... - Elas se abraçavam com vontade.

Olha, não me entenda mal. Chega de rever velhos amigos.
Vamos pular pra parte que interessa.

Abracei Rose por trás e percebi que ela estava tensa. Tinha
certeza de que ela ainda não tinha esquecido o que aquele monstro tinha nos dito.

– Annabeth, - Rose chamou. – Vamos colocar tudo em ordem?
Precisamos resgatar meu tio rápido e impedir esse baú de ser aberto.

– Podemos fazer isso amanhã. – Eu disse.

– É. – Concordou Percy. – Agora eu preciso ir dormir.

– Ok. Eu fico de vigia, só pra assegurar que ficaremos bem.
– Disse Annabeth.

– Eu também fico. – Rose sugeriu. – Não estou com sono.

– Tem certeza? – Perguntei.

– Sim. Pode ir dormir. – Ela me deu um selinho e se sentou
em sofá da recepção.

– Ei, Annie, não deixa ela se meter em confusão, não, tá? –
Eu pedi, irônico.

– Tudo bem. – Ela respondeu revirando os olhos.

Nos despedimos delas e cada um foi para seu quarto.

POV Roselie

Annabeth e eu nos sentamos em um sofá perto da porta do
hotel e ficamos observando. Eu estava doida pra perguntar as coisas pra ela. Eu sabia que ela sabia de tudo, já que era a filha favorita de Athena...

– Pode falar, Roselie. Vou responder o que quiser.

– Por que as deusas Ctônicas querem libertar um deus que
trará destruição e por que elas precisam de mim pra abrir o baú?

Ela respirou fundo e olhou pra mim.

– Eu não sei muita coisa. – Ela se esquivou, e antes que ela
continuasse eu a interrompi, até porque não saber muita coisa pra ela era saber de quase tudo, então.

– Vocês já sabiam disso quando foram nos buscar? Afinal,
vocês devem ser “requisitados” apenas para missões muito importantes.

– Rose, antes de irmos buscar você, nós fomos avisados sobre
uma Profecia. Minha mãe me emprestou o único livro que falava sobre o deus que ela envolvia e dias depois o livro foi roubado. E a partir daí, Melinoe, Hécate e Nêmeses começaram a tentar roubar o baú dos deuses. Vou te contar essa história pra entender melhor. Esse cara era o deus dos vulcões, das erupções, do calor, do magma e das gárgulas. Bem, ele era um deus poderoso, mas nunca usava seu poder sobre os outros. Criou vários híbridos de criaturas... Tipo, uma quimera misturada com uma dracaenea, ou uma empousa e um cão infernal...
Coisas assim.

– Ou seja, ele era maluco.

Ela abriu um sorriso.

–Basicamente. Embora poderoso ele não era bem visto no
Olimpo, tem a ver com os pais dele.

– Quem são?

– O livro não diz. Somente alguns deuses sabem, mas ninguém
me contou, embora eu tenha minhas suspeitas. Continuando... Quando Epimeteu e Prometeu criaram os humanos e os animais, esse deus começou a fazer híbridos de humanos, coisas ainda mais horripilantes. E aí, os Olimpianos começaram a se irritar. O deus também começou a se irritar com os limites que os deuses implantaram e foi aí que as criaturas começaram a se tornar maquinas mortíferas. Matavam humanos, animais e criaturas que tentavam matar seu senhor. Foi quando Nix, Hades e Zeus se juntaram e retiraram dele o poder trancando-o no baú. Depois Zeus o selou no tártaro e o Oráculo de Delfos profetizou que ele só conseguiria se reconstituir quando o baú fosse aberto pelo mesmo poder que o
selou.

– Mas... – Eu comecei a colocar meu cérebro pra funcionar. –
Por que Nix e Hades se intrometeram nisso?

– Não sei. Só sei que as deusas queriam que Nix se juntasse
a eles para abrir o baú. Usaram seu tio pra ver se ela iria mudar de lado.

– Então, meu tio não foi levado pra abrir o baú?

– Não. Precisa de muito poder pra abrir aquele baú. Seu tio,
por mais poder que tenha, não tem o tanto que precisam. Elas até tentaram usar ele, mas não deu certo.

Eu comecei a pensar... Será que se eu e Klaus nos
juntássemos poderíamos abrir o baú? Por isso elas deviam estar atrás da
gente...

– Então é obvio que Nix trancou o baú. – Eu disse.

– É.

– Mas por quê?

– Provavelmente não tenho permissão pra dizer.

– Mas você disse que não sabe.

– E não sei, mas tenho minhas suspeitas. E minha mãe
provavelmente sabe que elas podem ser certas e por isso não me quer deixar contá-las nem ao Percy.

– Entendo... Vou pensar... Sabe de mais alguma coisa?

– Sim. O livro dizia que as criaturas foram adormecidas até
que seu senhor ressurgisse. Mas não é bem isso que esta acontecendo. Parece que Hécate lançou algum feitiço e as mais poderosas estão voltando. Ah, como Hades não tem mais controle de nada lá em baixo, a não ser da entrada e saída de mortos, Melinoe o levou pra lá, mas você já sabe, não é?

– Sim... Annabeth, há quanto tempo que estão livres?

– Minutos depois da tentativa frustrante de usar Henrique
para abrir o baú. Mandei uma mensagem a Quíron e ele disse para esperarmos vocês chegarem e eu e Percy observamos tudo escondidos desde então. O pessoal de lá não está muito preocupado com nós dois. Percy e eu devemos voltar para o Acampamento assim que resgatarmos os semideuses da Prefeitura.

– OK... Tem semideuses lá dentro? – Eu respirei fundo.

– Vários. Foram pegos pra servirem de espiões pras deusas no
Acampamento e outros são abrigados a tomar conta daquilo ali. São torturados diariamente. Temos que salvá-los.

– Com certeza. – Eu senti uma raiva daquele pessoal...
Colocando pessoas inocentes nisso...

– Mas alguma pergunta?

– Não exatamente... Uma confissão. Eu vi minha mãe no jardim
de casa alguns dias atrás e o número dela me ligou... Isso é ilusão?

Ela olhou desconfiada. Seus olhos cinza estavam tomados por
conflito.

– Melinoe achou seu fantasma. Tome cuidado. – Ela disse
sombriamente.

– Como assim?

– Melinoe é a deusa dos fantasmas. Ela usa isso contra as
pessoas. Vamos supor o fantasma do seu passado é sua mãe. O da Thalia e do Nico também são as mães deles. E o Nico ainda tem a Bianca. Percy nunca soube quem é o seu. Silena Beuregard tinha Beckendorf, seu namorado... Bem, é mais ou menos isso. Pessoas que amamos e que ainda nos “atormentam”.

– Quer dizer que Melinoe pode usar isso contra mim?

– Sim.

Eu fechei os olhos, atormentada.

– A Profecia diz que um de nós sofrerá por amor na hora de
uma decisão...

– Provavelmente tem a ver com você ou Klaus já que são o
centro das atenções agora. A decisão pode ter a ver com vocês mudarem de lado... Ou salvar alguém... E o amor podia ser tanto o pai dele quanto sua mãe... Ou talvez seja outro tipo de amor... Depende do que vocês sentirem e sofrerem.

– Pois é...

Eu afundei o rosto em minhas mãos e pus tudo em ordem... Um
cansaço me invadiu imediatamente. Eu estava confusa, mas ao mesmo tempo sentia que o quebra cabeça estava quase montado.

– Muita coisa pra digerir? – Ela perguntou, sensível.

– Obrigada, Annabeth. De verdade. Por me explicar essas
coisas. Eu precisava de informações.

– Não foi nada. Pode ir dormir. Eu chamo se tiver algo
errado. Amanhã você vai precisar de energia. Muita energia.

Eu me levantei pronta pra ir para meu quarto.

– Pois é... Vamos salvar semideuses e depois a prefeitura da
capital do Arkansas.