A Deusa Perdida escrita por mari mara


Capítulo 30
Pois é colega, acho que dona Afrodite começou a jogar pro nosso time


Notas iniciais do capítulo

OLÁ! Olha eu aqui de novo gente, em cinco dias! Descobri que minha criatividade e minha inspiração apolástica vêm as três da manhã, com a luz do ipod e quase babando estilo Percy em cima do bloco de notas que uso pro rascunho HEUEHUHE. Quase dormindo ou não, valeu a pena ficar acordada até de madrugada na sexta e no sábado!
Ok, sem mais delongas porque eu falo (digito?) demais, esse capítulo é dedicado à senhorita Gabys, que com seu comentário me ajudou a ter ótimas ideias pra o que acontece nesse, à paz snape ridee potter e à TataDiAngelo! Sintam-se abraçadas, suas lindas! Espero que um dia vocês encontrem um semideus muito lindo enquanto andam pela rua c: boa leitura!



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30. Pois é colega, acho que dona Afrodite começou a jogar pro nosso time

Parte I: Point of View — Annabeth Chase

Eu já tinha estado em Los Angeles duas vezes na minha vida.

A primeira eu era muito pequena, numa viagem com meu pai. Não me lembro muito bem de como foi, além de que fomos nos parques de diversão e caminhamos por avenidas compridas, que deviam estar cheias de limusines e artistas famosos. A segunda foi no primeiro ano de Percy no Acampamento, em nossa primeira missão, junto com Grover.

Foi um pouco menos luxuosa que a primeira: lembro-me do cara bizarro dos colchões de água, de Caronte com seus ternos italianos e de garotos valentões nas ruas da madrugada. Não foi a pior das missões, mas também não é uma experiência que eu gostaria de repetir. E agora, estávamos quase de volta a ela.

No dia seguinte da party hard com direito a chapeuzinhos que arranjamos pro Nico, fui acordada com o som bastante irritante de buzinas e xingos típicos de uma cidade grande. Esfreguei os olhos, com a cabeça ainda apoiada no Percy, e me levantei lentamente em direção à janela, puxando a cortina para ver a situação lá de fora.

A paisagem era bem bonita, com o céu azul e as palmeiras compridas da Califórnia. O único problema é que estávamos num engarrafamento, andando a menos de cinco por hora. Do nosso lado dois motoristas gritavam um com o outro, colocando a cabeça para fora dos carros, e o engraçado é que um deles gritava num inglês espanholado, algo bem Orchito de se fazer.

— Queusted pensa que está fazendo, eh!? — berra ele, falando o que suspeito serem muitos palavrões hispânicos depois, quando o cara de trás buzina feito louco — No soy surdo, puto!

O outro cara frouxa a mão na buzina outra vez, com o rosto vermelho de raiva. Parecia que ele ia explodir, sem exagero.

— Tira o pé do freio, filho duma puta latina! — grita o americano. Acho ridículo isso, xenofobia — Vá cagar no trânsito do seu país, cacete!

Hm, se ele soubesse que provavelmente sessenta por cento da comida que ele come vem da América Latina, talvez mandasse o cara não ‘cagar’ no trânsito de maneira mais educada.

Me cago en tu madre, seu americano malparido de mierda! — o latino berra — ¡ME CAGO EN TU MADRE!

Fecho a cortina mais uma vez. Deuses, ouvi mais palavões agora do que em minha vida inteira.

— Isso aqui é pior que Nova York — murmuro um pouco assustada.

A senhorita Hannah, que eu imaginava estar dormindo, pisca os olhos azuis pra mim, completamente acesa.

— Bem vinda a Los Angeles, Annie — diz, bocejando. Ok, talvez ela não esteja tão acordada assim — A única cidade dos Estados Unidos que você escuta mais espanhol que inglês — ela faz uma pausa, com as sobrancelhas franzidas — Junto com Miami, talvez.

— Mas nós ainda não chegamos em Los Angeles — sento-me em minha cama, de frente pra ela, enquanto acaricio distraidamente os cabelos do Cabeça de Alga. Ele ainda não havia acordado — Ao menos, acho que não. Não vi prédios altos quando olhei pela janela.

— Devemos estar quase, então. Já posso sentir a aura depressiva que é exalada por aquele lugar — primeiro acho que ela está brincando, mas percebo que está falando sério.

Hannah dobra os joelhos em posição fetal, e encara o além por algum tempo. Só então me dou conta do quanto deve ser uma difícil pra ela voltar a ver as ruas da cidade que perambulou por tanto tempo. Faço esse comentário em voz alta.

— Não é que seja difícil. É só... uma droga — Han suspira — É um lugar meio fútil, sabe? Com toda essa coisa de cantores e atores famosos, não sobra muito tempo pra alguém ligar pro resto dos insignificantes — ela estreita os olhos, e percebo o quanto ela tem raiva de lá — O Muke é um bulustruco panguá que vive metendo o bedelho onde não é chamado, mas tenho que admitir que ele sofreu um bocado lá pros lados de Hollywood comigo também.

— Mas ai ele sumiu, e as coisas ficaram um pouco mais complicadas pra você — concluo, e ela assente.

— Digamos que sim. Fui expulsa da escola e os diretores do orfanato tentaram me mandar pra algumas dúzias de casas de famílias, que normalmente me devolviam depois de uma semana. Acabei por dar no pé, mesmo.

Olho pro Percy quando ela diz isso. Ele também havia sido mandado embora de um bocado de escolas.

— Por que te expulsaram? — pergunto, curiosa. Ela ri um pouco.

— Foi uma lista bem grande de razões. Explodi um laboratório, sem querer acertei a cara de uma professora.. — ela vê minha cara de reprovação e se explica — Foi sem querer mesmo, eu juro! É, discuti com uns coleguinhas, matei algumas aulas, algumas provas e, hm.. Eu meio que briguei com uma garota de outra sala. A guria era um porre, meu Deus. Foi a gota d'água, e deram o pé na minha bunda — ela encolhe os ombros.

— Você 'meio que brigou' no sentido de xingar loucamente ou de bater mesmo? —indago.

— Os dois. Mas foi sem querer, tá? Não é algo que me orgulho... Ao menos, não muito. O problema é que alguns dias antes de cascar fora o Muke tinha dado uns pega nela, e com isso eu quero dizer que eles realmente se pegaram, com direito a arrancarem as roupas uns dos outros — ela faz uma careta — E a moçoila ficava de blá blá blá pra tudo quanto é lado se gabando, porque ele era isso, era aquilo, até que um dia escutei ela dizendo — Han pigarreia, e faz um falsete pra imitar a voz da tal — 'é uma pena que o Muke tenha sido transferido logo depois de terminar com aquela namorada sapata dele e ficar com alguém que valha a pena de verdade'.

— O quê!? — exclamo. Nem conhecia a garota, mas já tinha vontade de falar umas coisinhas estilo cara latino no carro pra ela — Ela falou na cara dura? Sabendo que você tava escutando?

Que coisa mais Meninas Malvadas.

— É! — diz, indignada — Dá pra acreditar num troço desses? Ela disse que ele tinha terminado comigo, como se em algum momento algo tivesse acontecido. E me chamou de lésbica na minha cara! Nada contra as lésbicas, mas poxa, eu não sou lésbica.

O fato de ela estar apoiada no Nico, usando o braço do garoto adormecido como travesseiro, meio que ilustra isso.

— Eu não acredito que violência seja a resposta pra tudo, mas essa garota quase, quase que mereceu — ah, se alguém algum dia me chamar de namorada sapata do Percy, eu mando a pessoa pro outro lado do Estige antes que ela saiba o que a acertou.

— Pena que o diretor não olhou por esse lado — ela suspira novamente — Mas até que foi bom. Pode parecer idiota, mas o Muke era meu melhor amigo, e eu não aguentava mais escutar ela pelos corredores dando os detalhes do momento pegação deles pra todo mundo. Ele não era só 'gostoso' como ela dizia, ele era bem legal naqueles tempos. Eu meio que sentia um pouco de ciúmes por ela achar que o conhecia melhor que eu só pelos dois terem brincado de liquidificador com as próprias línguas. — olha, essa é uma metáfora bastante interessante.

Olho de relance pro filho de Hades deitado ao lado da Hannah. Não tenho certeza se ele aprovaria a pergunta que quero fazer, mas ora, não sei quando teremos a oportunidade de conversarmos assim outra vez. Também, pelo jeito que seu peito sobe e desce num ritmo lento e uniforme, ele ainda dorme tranquilamente. Nunca nem vai saber que essa conversa aconteceu.

— Você gostava do Muke na época, não gostava?

Ela dá de ombros.

— Ele era uma pessoa engraçada. Intrometida, mas engraçada. Então, é, ele era um amigo legal.

— Gostar no outro sentido, Hannah — coloco o máximo de ênfase que consigo em 'outro'.

Finalmente cai a ficha nela.

— Ah. Ah — pausa — Não.

O barulho das buzinas e gritos lá de fora são tão altos que eu nem havia escutado o som do chuveiro, então levo um susto do caramba quando a porta da suite se abre, e o dito cujo entra no quarto. Muke aparece com o cabelo molhado, a toalha jogada no ombro e usando apenas jeans. A beleza do garoto é tanta que eu até me esqueço de piscar.

— Admita pra dona Coruja que me amava, Punk — ele passa a mão pelo cabelo até fazer uma espécie de topete, e fica ainda mais parecido com Apolo quando faz isso. Hannah revira os olhos.

— Vai sonhando, Raio de Sol.

— Ei, não me chame por um apelido que o Playboy inventou — e então Muke se vira pra mim — Mas é verdade que ela me amava. Certa vez eu estava..me divertindo com uma intercambista da França, quando a Punk apareceu do nada no quarto. Nem preciso dizer que teve crise de ciúmes, né? Faltou ela atirar a mina pela janela.

Quantos anos ele tinha quando estudava com a Hannah? Quatorze?? Nossa, eu nessa idade estava me atirando de penhascos e segurando o céu pra um titã. Apolo dos deuses, seus filhos são muito pra frente.

— Mas é lógico que eu queria atirar vocês pela janela! — Han fica de pé e coloca o indicador na ponta do nariz do Muke — Vocês estavam se pegando no meu quarto! Na minha cama!

Não sei como ela consegue agir normalmente (ou tão normal quanto a Han consegue ser) estando tão perto do Solzinho. Ele é bonito, sim, e existem muitos garotos bonitos por aí, mas tem alguma coisa no Muke que faz ele ser mais do que simplesmente agradável de olhar. Quem sabe seja alguma coisa apolástica. O fato é que a visão de sua pele bronzeada quase que me faz entender a obsessão que a Rachel tem ele.

Mentira. Nada nunca vai me fazer entender a obsessão que ela tem por esse garoto.

— Vocês poderiam por favor parar de gritar no quarto? — um Percy sonolento resmunga, com a cara no travesseiro — Seria legal se pudessem me deixar dormir ao invés de discutirem quem pegou quem na cama de quem.

— Não estavam discutindo quem pegou quem na cama de quem — digo distraidamente — Estavam discutindo por que quem pegou quem na cama de quem.

Percy suspira.

— Eu te amo Annie, mas por favor, cale a boca.

— Pensarei no seu caso, Cabeça de Alga.

Muke nos observa por alguns instantes, certamente achando curioso como duas pessoas se comportam num relacionamento normal, sabe, sem ficar trocando de parceiro de duas em duas horas.

— Acho que vou lá fora conferir onde estamos antes que o clima Percabeth comece a esquentar — ele fala, e eu reviro os olhos.

— Como quiser — respondo — Mas antes faça o favor de colocar uma camisa, pelo amor de Atena.

Pra mim, é meio desconcertante ele ficar andando só de jeans por aí. Acho que Muke percebe, porque sorri maliciosamente pra mim.

— Não se preocupa, Annabeth. Posso ser seu o quanto você quiser enquanto seu amado estiver nesse estado pouco lúcido do sono.

Aperto a ponte do nariz. O que eu fiz pra merecer esse garoto, mãe?

— Eu escutei isso, Solzinho — diz meu namorado, com os olhos fechados.

O filho de Apolo levanta as palmas das mãos, em inocência.

— Foi mal por cantar sua garota, Peixe-espada.

— Desculpas não aceitas. E eu sei que sou foda com Contracorrente, obrigado.

— Ah, não é por isso não. Você já reparou no seu nariz?

Percy abre os olhos verdes e fica sentado na cama num pulo.

— Que é que tem meu nariz!? — grita, irritado.

Muke sai do quarto, rindo, na mesma hora que Rachel entra tomando algo num copo. Ela vira a cabeça enquanto ele passa, observando o garoto até ele sumir da sua vista.

— Santo Apolo! — diz, se abanando, com bigode de iogurte — Aquilo não é um tanquinho, é uma lavadeira embutida — ela gira e vai atrás dele, na cara de pau.

OH MEUS DEUSES KKKKKKKKKKKKKK RACHEL EU TE AMO.

— Depois dessa, eu aproveito minha fome para me retirar para a cozinha — Hannah fala enquanto balança a cabeça — Lavadeira embutida, Cristo! De onde ela tirou essa?

Eu rio. Só a ruiva pra arranjar um negócio desses mesmo.

Quando eu e Percy somos os únicos (acordados) no quarto, ele segura meu queixo e me faz olhar em sua direção. Ele está lindo, com o cabelo escuro bagunçado, o pijama amarrotado e os olhos verdes brilhantes.

— Tem algo de errado com o meu nariz?

Fecho os olhos e respiro fundo. Cinco anos, e eu ainda tinha alguma esperança. O que mais eu poderia esperar dele, mesmo?

— Percy. Não tem nada com seu nariz. Ele é completamente normal.

— E se ele for pontudo demais? — ele tenta olhar pra ponta do nariz, ficando vesgo por alguns segundos — Ou redondo demais?

— É completamente normal — repito, como quem fala com uma criança — Você acredita mais em mim ou no Muke?

Cabeça de Alga pisca algumas vezes, pensativo.

— Não sei como respondo a essa pergunta — vou dar um tapa no seu braço, mas ele segura minha mão antes que aconteça, me puxando para perto de si com uma expressão debochada no rosto — Mas se você perguntasse quem eu quero beijar nesse momento, eu saberia.

Ele segura minha cintura, mas viro meu rosto quando ele se inclina pra me beijar.

— E aquela história de me trocar pra pedir o Nico em casamento?

Perseu ri e sussurra em meu ouvido.

— Eu posso ter uma amante.

— Parece válido — sussurro de volto — Ser a amante do seu casamento gay já está ótimo pra mim.

E agora, não desvio quando ele tenta me beijar.

Começamos com um beijo inocente, mas de repente nos esquecemos do mundo a nossa volta e vamos pra uma coisa mais voraz. Ele me põe sentada em seu colo e eu puxo sua camisa pra cima, jogando-a para trás logo depois. Não penso em nada além do quanto eu o amo, e em como gostaria de passar o resto de minha vida com nenhuma sensação que não seja a de seu corpo colado ao meu.

Minha visão se escurece de repente.

— Pelo amor do Hades, eu não precisava ver isso! — escuto a voz esganiçada de Nico, e Percy joga a coberta que ele atirou sobre nós pro lado.

O filho de Hades olha pra nós com uma expressão que está entre assustado e enojado. Resolvo que seria uma boa ideia sair de cima do colo do Percy, e é o que faço.

— Eu acordo todo feliz e vejo vocês fazendo striptease — diz ele, com uma careta — Foi a pior cena da minha vida. Estou traumatizado.

Hm, vamos esperar alguns anos para ver se ele continua assim (Afrodite aprova).

— Com licença, mas você está vendo algum de nós sem roupa por aqui? — pergunto, com a mão na cintura — Vocês, garotos, sempre andam sem camisa, então o Cabeça de Alga estar sem não pode ser considerado strip. Não é, Perseu?

— É isso ai — ele faz que sim com a cabeça.

Nico me encara, até que responde com sua típica cara de paisagem.

— Annabeth, com minha licença, mas você já olhou pra baixo?

Não, até ele dizer. Abaixo a cabeça e vejo que minha camiseta do pijama de corujinhas está bastante acima do meu umbigo.

— Você não viu nada, di Angelo — digo enquanto abaixo minha blusa, com o rosto vermelho.

Mas minha gente, que cena vergonhosa. Me pergunto o que minha mãe ou Poseidon diriam sobre esse momento.

— Pois me faça o favor de não ficar olhando pra Annie, moço — Percy me abraça por trás e apoia o queixo no meu ombro — Você já tem sua loira.

Imaginei que Nico ficaria extremamente vermelho ou faria um barraco por isso, mas ele simplesmente se senta na própria cama e suspira. Parece que superou o trauma do nosso striptease bem rápido.

— Quem me dera — ele coloca os pés na parte de madeira da cama e apoia os cotovelos nos joelhos.

OPA. OPA. Que falaste, Nicolau? 'Quem me dera'? Em resposta ao 'você já tem sua loira'??

EU SEMPRE SOUBE. EU SEMPRE SOUBE QUE HANNICO ERA REAL. MWAHAHAHAH CHUPA MUNDO, ANNABETH CHASE É MAIS ESPERTA QUE VOCÊ.

— A gente não faz muita coisa, sabe? — Nico continua, mexendo distraidamente no anel que o demos de presente. Parece que houve algum tipo de milagre, o filho de Hades (não qualquer um, mas esse, que detesta aniversários com todas as forças) de repente resolveu compartilhar sua vida com a gente, reles mortais (ou nem tanto) — Eu e a Han gostamos de ficar juntos, mas... Nada aconteceu até agora.

— Vocês já se beijaram — contraponho, e ele suspira novamente.

— É, mas mesmo assim... Nada de verdade aconteceu, sabe?

Faço que sim com a cabeça, e nos mantemos em silêncio. Já foi um progresso e tanto ele falar, por pouco que tenha sido.

— Ahhhh entendi! — exclama Percy, meia hora depois. Não, ele não é lerdo, imagina — Você quer dizer que não houve nenhum movimento lingual, é isso?

Nico enterra o rosto nas mãos, envergonhado.

— Pelos deuses, por que nós estamos falando disso mesmo?

Seguro o riso. É visível o quanto ele se arrepende de ter começado a conversa.

— Fica calmo, Nico — digo, fingindo estar séria — Quando o momento chegar, você vai saber o que fazer.

Annabeth — ele chama meu nome em tom de advertência.

— É simples — continuo, ignorando-o —. Você gira pra um lado, ela gira pro outro, daí vocês repetem infinitamente até que fiquem sem ar ou até que algum morda a boca do outro sem querer. Aliás, nunca morda nada sem permissão, é bastante desagradável.

Di Angelo levanta o rosto, que está vermelho tomate. Ele parece mais apavorado que bravo.

— Annabeth!

Começo a rir do seu desespero. Nada é mais engraçado que uma cria de Hades envergonhada.

— Ela tem razão, Michelangelo — fala Cabeça de Alga — Tudo depende da prática, com pouco tempo depois você já se acostuma — me viro pra ele e nós damos um beijo bastante demorado. Quando terminamos, o rei dos fantasmas está com a pior careta de nojo que eu já o vi fazer em toda a vida. Ele se deixa cair na cama e enterra o rosto no travesseiro.

— Seus puttanos, vocês dois são piores que os campos de punição — reclama, com a voz abafada.

— Um dia você ainda vai nos agradecer, meu caro — Percy passa o braço pelos meus ombros, sorrindo. Ele também acha muito divertido encher a paciência do primo — Só que o resto dos conselhos nós podemos esperar alguns anos porque o senhor ainda é muito novo pra isso.

Nico segura o travesseiro com tanta força que os nós de seus dedos ficam brancos, e ele grita alguma coisa em italiano. Não faço ideia do que seja, mas me parece ser um 'alguém faça esses putos pararem' bastante raivoso. Eu e Cabeça de Alga rimos de sua reação exagerada por éons, até que Hannah aparece na porta com a testa franzida.

Faço o meu melhor para me acalmar, porque o Percy parece que vai levar alguns dias para parar de rir.

— Ei, rei dos fantasmas — chamo-o — Tire o travesseiro da cara por um segundinho, só.

MANNAGGIA, EU NÃO QUERO MAIS SABER DE MOVIMENTOS LINGUAIS!

Hannah pisca, confusa. Ótimo, ela não escutou a conversa.

— Não quer mais saber do quê?

Assim que escuta sua voz, Nico tira o travesseiro da cara com os olhos arregalados. Ele olha pra ela, depois pra mim, depois pro Percy, que ainda se esgoelava de rir.

— Acho que vou tomar um banho — ele se levanta, pega um punhado de roupas em sua mala e trata de ir o mais rápido que pode pra suite, antes que alguém possa dizer mais alguma coisa.

— Tem algo de errado com ele? — pergunta Han, ainda boiando.

Não tem nada de errado comigo! — escutamos di Angelo gritar — Tem muita coisa de errada é com eles! Puttanos!

Hannah pisca mais algumas vezes. Ela está na dúvida se é melhor perguntar de novo ou não.

— Devo ignorar isso?

— Não — respondo, ao mesmo tempo que Nico grita deve!do outro lado da porta. Resolvo dar uma trégua porque ele já sofreu demais hoje, coitado — Ok, deve.

Obrigado por fazer algo bom ao menos uma vez na vida, Annie. —Reviro os olhos. Percy tem razão, algum dia ele ainda vai nos agradecer.

Outra pessoa loira coloca a cabeça pra dentro do quarto, o que me faz ter o pensamento aleatório de que somos três loiros, dois ruivos e dois morenos no trailer.

— Que foi, Raio de Sol? — pergunta Percy. Ele finalmente teve autocontrole o suficiente para parar de rir.

Muke faz uma careta ao ouvir o apelido.

— Vim alertar vocês, pessoas desprovidas de beleza, de que acabamos de sair da interestadual.

Eu e meu namorado nos entreolhamos, com as testas franzidas. Que informação aleatória foi essa, meus deuses?

— A interestadual 5? — pergunta Hannah como quem entende do assunto e o filho de Apolo faz que sim com a cabeça.

Olho pra ela. Hannah suspira e cruza os braços antes de responder.

— Agora é oficial: bem vinda a Los Angeles, Annie — ela ri ironicamente — A cidade que, de anjos, não tem nada.

~~

Parte II: Point of View — Nico di Angelo

CARA O PERCY E A ANNABETH SÃO DUAS PESTES. Primeiro eu me espreguiço de manhã, com toda minha calma pós-sono, e vejo os dois quase que se despindo num momento pra lá de íntimo. Depois, cometo o erro catastrófico de falar em voz alta sobre minha vida e eles conseguem, em cinco minutos, me envergonhar mais do que já me envergonhei em toda minha vida.

Tipo, com relação ao que eles disseram, nada aconteceu não foi porque eu não sabia o que fazer. Não aconteceu porque, ora...... (insira um sorriso amarelo aqui) não aconteceu..? Mas é verdade que eu não saberia o que fazer na hora. Não sou filho de Afrodite, Eros nem Apolo, caramba. Mas agora graças ao casal paraíso, eu sei que é importante não, err, morder nada sem permissão. O que eu fiz pra merecer isso?!

Saio do banho meia hora depois de me refugiar nele. Como fui uma pessoa esperta o bastante para pegar minhas roupas aleatoriamente antes de fugir de mais perguntas embaraçosas, já estou vestido com uma camisa preta com uma caveira e um jeans. Esse é o lado bom de usar sempre a mesma cor, você pode pegar qualquer diabo de roupa às cegas que ainda parece que você teve o trabalho de escolher.

Percebo que não sou o único no quarto. Hannah não estava mais de pijama, como da última vez que a vi, mas sim com calça jeans azul e uma blusa branca com a letra de alguma música – anything you say can and will be held against you, "tudo o que disser pode e será usado contra você". Como sempre, eu não faço ideia de qual seja. Seus coturnos estão jogados no chão, um pouco mais a frente, e os olhos claros estão contornados com muita maquiagem preta. Andei reparando que ela sempre faz isso quando vamos atrás da Clave.

Talvez seja pra intimidar os inimigos. Não sei.

Han está sentada de pernas cruzadas na cama, pensativa, e só percebe que estou olhando pra ela quando me aproximo. Imagino estar com o rosto vermelho porque me lembro da conversa com o casal paraíso, mas que se dane. Eu devo ficar vermelho noventa por cento das vezes que falo com ela.

— Oi — paro de pé, de frente pra ela.

— Olá — diz, quando nota minha presença — Eu estava esperando você terminar, Penadinho.

Respiro fundo, pensando numa forma de me desvincular desse assunto.

— Por favor, não pergunte o que foi aquilo comigo e Annabeth. Sinceramente, você não quer saber.

Ela franze as sobrancelhas, confusa.

— O quê? — e então parece se lembrar — Ah, não, não é isso. Já desisti de tentar entender vocês. Eu queria é dizer tchau antes de ir pegar a Clave.

— Ir..? — agora é minha hora de parecer confuso — Mas eu vou com você.

Ela suspira.

— Acho melhor não.

— Por quê?

— É na minha antiga escola, sabe — ela faz uma cara de frustração — Que eu chamava de Curral. Não quero associar a vida legal e feliz que tenho agora com o porre que foi lá.

Fico relutante por alguns segundos.

— Não é uma boa ideia você ir sozinha.

— Mas, hm, eu não vou sozinha — fala, e minhas sobrancelhas se franzem. Não gosto das consequências disso.

— Muke? — ela faz que sim com a cabeça — Ah, por favor.

— É só achar a Clave! Nós estudamos lá, vai ser simples.

— Estamos falando do Raio de Sol, Hannah. Nada é simples quando ele está envolvido.

Ela pega minha mão e entrelaça nossos dedos. Comigo em pé e ela sentada, pareço ser ainda mais alto que ela do que já sou.

— Eu juro que vai — insiste. Reparo que não foi um juramento pelo Rio Estige, mas deixo passar, porque talvez seja por causa da fobia de rios/lagos/mares/lagoas/riachos/ribeirões/corpos d'água no geral.

— Tá certo — é minha vez de suspirar agora, e ela sorri pra mim.

Não gosto da ideia dela sozinha com o Muke, mas então olho pras nossas mãos entrelaçadas e me sinto melhor. Não sei o que diabo somos, amigos, namorados, tanto faz. O que quer que seja, é o suficiente pra me fazer confiar nela.

Talvez por influência dela mesma, começo a me sentir dentro de uma música do Elvis Presley. A little less conversation, a little more action please, "um pouco menos de conversa, um pouco mais de ação, por favor". Eu reclamei por ainda não ter acontecido nada, e agora seria um bom momento pra tentar começar. Mesmo que não saiba o que deva fazer.

Solto sua mão e Han parece ofendida por um instante. Mas então me apoio em seu quadril e me curvo pra frente, pegando-a de surpresa. Eu não gosto de dar detalhes, mas digamos que Annabeth tinha razão. No momento eu soube exatamente o que fazer, e ela também, pelo visto.

Estávamos muito mais próximos fisicamente do que dos outros beijos, e era bom. Era muito bom. Eu gostava de segurar sua cintura, de ter seus braços em volta do meu pescoço e de sentir seus dedos finos de pianista correndo pelo meu cabelo. Mas mais ainda, eu gostava de senti-la em minha boca. Eu nunca ia imaginar, mas a Hannah tinha gosto de menta.

O lado triste de tudo isso é que eu não resisti aos impulsos e devo ter mordido os lábios dela algumas vezes. O lado feliz é que não foi isso que nos parou, e sim a falta de ar mesmo.

Quando nos finalmente nos separamos, respirando com dificuldade, abro os olhos e vejo que Han está sorrindo pra mim. É capaz que eu também esteja sorrindo pra ela, mas estou muito entorpecido pra saber alguma coisa além do meu próprio nome. E então eu começo a rir. E ela começa a rir. E eu encosto minha testa na curva de seu pescoço, o que me faz perceber que ela ainda tem o mesmo cheiro de chuva que tinha no cemitério, o que é óbvio, mas me deixa feliz mesmo assim. Pensando bem, eu devo estar parecendo um bêbado nesse momento.

Não fazemos ideia de porque estamos rindo, que é o que deixa a situação mais engraçada. É como dizem as filhas de Afrodite: goste de alguém que faça você rir, não importa o quão idiota foi o motivo.


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Notas finais do capítulo

Frase do dia: 'Aquilo não é um tanquinho, é uma lavadeira embutida' KKKKKKKKK deuses eu sou muito dorgada as vezes.
Então, o que acharam do Nico bêbado de amores? *u* é como diz meu amado Foster the People, "Love could be a wonderful thing. It can make you crazy" askjfhaksjfhkjh
Hasta la vista, pessoal! Rezemos a Atena que minha criatividade da madrugada continue como está HEUHEUHE e lembrem-se, um review mesmo que curtinho já me deixaria mais que feliz :D