Chegamos em casa ofegantes. Me joguei no sofá e rezei para que não tivesse nenhum  policial nos perseguindo,mas depois pensei que as enfermeiras deveriam estar felizes por terem se livrado do  Cody. Ele,por sinal, correu para o banheiro para tomar banho e tirar aquela roupa de hospital. 
Ashley se sentou ao  meu lado e começou a se abanar com o jornal que estava sobre a mesa.
-  Nunca corri tanto na minha vida! – ela disse.
- Não corremos tanto assim. Precisa praticar mais esportes.
Ela me deu um tapa no ombro e riu.
O telefone tocou e eu fingi não ouvir.
- Atende – pediu, Ashley.
- Estou descansando –respondi.
Ela revirou os olhos e foi atender.
- Alô – ela disse,sem entusiasmo.
Seu rosto ficou pálido de repente e ela começou a tremer.
- S-sou a Ashley – ela gaguejou e abriu um enorme sorriso.
Me levantei e fiquei ao seu  lado.
- Sim, vou passar para ele – ela tapou o telefone com a mão e gritou – AHHHHH!
- O que foi, Ash ?
- É – ela respirou fundo – É a sua mãe !
- Me da esse telefone – tirou o telefone de sua mão.
- Alô – eu disse.
- Querido, como você está ? – minha mãe perguntou com uma voz alegre.
- Bem,mãe, e a senhora ?
- Estou bem- ela suspirou - Acabei de falar com mais uma das suas namoradas, Ashly.
Ashley era um  nome  tão fácil, como alguém poderia confundir ?
- Mãe, é Ashley .
Neste instante, Ashley deu um pulo e colou a orelha no telefone. Tentei a empurrar mas ela não queria me deixar conversar em paz, de jeito nenhum.
- Tanto faz – minha mãe bufou – Então,me diga: Ela é só mais uma namorada que não dura mais de uma semana?
Ashley me encarou com um olhar furioso.
- Não! – exclamei.
- Entendo...Bom,querido, estou indo passar as minhas férias na sua casa.
“Quem te convidou?” pensei.
-Ótimo! 
- E quero  conhecer sua namorada.
- Não tenho namorada  - disse sem pensar.
- Joseph, está com vergonha de me apresentar sua namorada? Ela não pode ser tão ruim assim...
Não respondi.Fiquei chocado,pensando no que fazer,no que poderia fazer.
- Então, tá ! – ela disse,sem paciência – Vou desligar,Joseph.Não se esqueça:Mamãe te ama.
Ela desligou e Ashley começou a dançar e pular.  Já eu me deitei no sofá e fiquei olhando para o teto.
- Por que não está feliz? - Ashley gritou.
- Minha mãe virá para minha casa e ainda quer te conhecer !
Minha mãe não era a pessoa mais simpática do mundo,ela sabia ser legal,quando queria,mas na maior parte do tempo,ela  nem tentava. Ela conseguia ser muito irritante,principalmente, com as minhas namoradas.
- Isso é bom ! – Ashley exclamou.
- Não,não é. Você  é minha aluna.
- Eu era – ela corrigiu – Não sou mais,não temos que nos preocupar.
- E se ela descobrir que começamos a namorar antes de eu me demitir?
- Ela não vai descobrir,Joe – Ela se sentou ao meu lado – Não precisamos nem mencionar que eu já fui sua aluna.
Respirei fundo.
- Pode ser...
Ouvimos passos vindos do corredor e nos viramos, Cody vinha usando um short rasgado e uma camiseta branca manchada de tinta.
Ele se sentou ao meu lado,pegou o controle remoto  e ligou  a televisão.
- E então, quem era no telefone ? – ele perguntou.
- Minha mãe – respondi e Cody segurou o riso.
- Não tem graça,cara.
- Ah,tem sim – Ele riu – A Ashley não vai ser a primeira garota que desistiu de você por causa da sua mãe.
Ashley arregalou os  olhos.
-Uau ! – exclamou.
- Pois é – Cody bufou mudando descontroladamente os canais da TV.
Ficamos encarando a televisão, assistindo um programa  de novos talentos.Ashley se apoiou em meu ombro e dormiu, enquanto Cody se apoiava no braço do sofá,quase dormindo. Inclinei minha  cabeça para trás e cai no sono.
Quando acordei Cody estava na cozinha destruindo-a,provavelmente.
- Cadê a Ashley  ? – perguntei.
- Foi para a casa dela.
- Por que ?
Cody me encarou.
- Por que eu saberia ?
Revirei os olhos.

Passei a  semana inteira procurando por um emprego, o problema era: Estávamos no final do ano, nenhuma escola precisava de um professor de geografia.
Eu rodei a cidade inteira e nada. E para melhorar meu dia,minha mãe estava chegando.
Cheguei  em casa exausto,fui até meu quarto e me joguei na cama,adormeci 5 segundos depois.
Acordei com o interfone tocando e me levantei  para atender. Era Ashley e ela parecia desesperada. Abri a porta bem na hora em que ela  iria bater, ela estava com uma expressão apavorada em seu rosto,segurava milhares de sacolas. Estava usando uma túnica,daquelas que se usa para primeira comunhão,pensei:”Mas o que é isso?” quando a vi.
- Qual o  problema ? – perguntei com desdém.
- Não sei que roupa vestir para encontrar sua mãe ! – ela começou a chorar.
Eu não entendo isso,eu não entendo as mulheres.Como conseguem ser tão complexas ?
- Não se vista assim – olhei para ela de cima a baixo – Não quero que minha mãe pense que namoro uma freira.
- Que maldade ! – ela disse entre soluços
Comecei a rir e ela me bateu.
- Que maldade – repeti.
- Não tem graça! Me ajuda,Joseph! – ela imitou minha mãe.
- Ah! Tudo bem – respirei fundo –Não use...Bom, não use... -  me sentei no  sofá – Não sei o que dizer pra você  usar.
- Eu acho que tive uma idéia! Vou usar o vestido vermelho que usei no natal. Vou passar a imagem de uma menina sexy e ao mesmo tempo inocente.
Franzi o  cenho.
- E tem como ser os dois ? – Cody chegou na sala nos interrompendo.
- É claro!- ela respondeu, orgulhosa.
Cody e eu nos entreolhamos.
- Bom, eu vou para minha casa  me trocar – Ashley deu um sorriso largo – Posso chegar  atrasada para fazer suspense.
Ela disse isso entre curtos pulinhos e saiu de casa saltitante.
 Logo depois que ela saiu de casa,  Cody se sentou ao me lado e  apoiou o braço no sofá.
- Ela parece confiante – ele disse,segurando o  riso.
-  Pois é. Só parece mesmo.

Cody e eu começamos a arrumar a mesa de jantar, então imaginem como ela deve ter ficado. ..Em uma palavra : Desastre.
A comida estava uma porcaria, tentamos fazer macarronada,mas a  única coisa que fizemos foi jogar macarrão cru por todos  os lados da cozinha. Cody ainda conseguiu a proeza de deixar o liquidificador aberto quando íamos fazer o suco de maracujá, ou seja, ele pintou a cozinha inteira de amarelo.
Decidimos,por fim, comprar comida japonesa.
- Do jeito que sua mãe é ... – fuzilei Cody com o olhar e ele completou a frase – Exigente, isso não vai dar certo.
- Vai sim. Coloque essa comida em alguma...Eu não sei, mas coloque em algo que,no final, vai parecer que nós fizemos isso, entendeu ?
- Claro! – ele pareceu feliz.
Ele correu até a cozinha e abriu o armário de madeira em baixo da pia.
- Encontrei  um perfeito,cara!
- Pegue então – disse enquanto ia até a mesa de jantar, na sala.
Me encostei na mesa para organizar os talheres e ouvi um estrondo vindo da cozinha.
- O que você quebrou,Cody? – gritei.
- Cara – ele lamentou - Não consigo contar.
Arregalei os olhos e corri até a cozinha.
Haviam pratos para todos os lados,bom,não sei dizer se eram pratos, eram coisas de vidro quebradas em mil pedaços pelo chão.
O armário que ficava acima da pia também estava aberto e não tinha quase nenhum copo lá dentro, tudo no chão. 
O armário de baixo tinha poucas coisas também,mas não se comparava ao de cima.
- Como você fez isso ? – gritei,nervoso.
- Desculpa cara,fica calmo!
Respirei fundo.
- Estou calmo!
- Relaxa, os utensílios que precisamos já estão na mesa...
- Tudo bem,é verdade  - suspirei – Limpe a bagunça.
- O quê ? Por quê?
- Preciso responder?
Me virei e voltei para a sala, tentar arrumar a mesa de jantar que estava um desastre, quando o interfone tocou.
Dei um pulo de susto.
- É a Tia Nina, é a Tia Nina! – Cody gritou,desesperando, depois de colocar o interfone no gancho.
- Fica calmo, é só a minha mãe...
Cody me encarou com um olhar do  tipo:” Só a sua mãe?”
Ouvimos  a campainha e Cody se pôs de pé na frente da porta  para atende-la. Nina ficou um tempo parada na frente da porta. Ela estava com uma calça jeans preta ,uma regata branca e um casaco bege  por cima, carregava uma bolsa enorme. Seus cabelos louros estavam mais cacheados do que eu já vira, ela estava realmente muito bonita.Ela entrou observando cada detalhe do apartamento, andou devagar até mim e me abraçou.
- Ah! Que saudades,Joseph! -  ela disse me apertando mais forte.
Cody segurou o riso e eu o  fuzilei com o olhar.
Minha mãe finalmente me soltou, olhou a mesa de jantar e franziu o cenho. Antes que ela abrisse a boca Cody abriu os braços e disse:
- Tia Nina! Vem dar um abraço no seu sobrinho!
Minha mãe correu para os braços de Cody,mas o  soltou logo e voltou a encarar a mesa.
- Comida  japonesa? Sério,meninos ? Por que não cozinharam de verdade? – ela perguntou.
- Não sabemos cozinhar... – respondi, constrangido.
- Por que Cody não cozinhou algo típico da Inglaterra para nós? Já que ficou lá por tanto tempo.
Cody ficou pálido.
Dava para entender o porquê dele estar daquele jeito.Minha mãe estava com um olhar intrigante,  como se já soubesse de tudo. Como se já soubesse que ele havia fugido do internato e gastado todo dinheiro em festas.
Ela deu um sorriso fraco.
- Então,cadê sua namorada, Joseph?  - Ela perguntou se sentando no sofá, parecendo com nojo.
- Não sei,mãe. Ela disse que poderia se atrasar.
- Isso mostra o quão irresponsável ela. Não gostei.
- Ainda nem a conheceu...
-  Já previ.
Revirei os olhos.A campainha tocou.
- O suspense acabou – minha mãe comemorou.
Eu e Cody nos entreolhamos e eu fui atender a porta.
Ashley estava com um  vestido longo e quando eu digo longo,  quero  dizer, longo mesmo! O vestido era branco com alguns pontos brilhantes, ela usava um cinto dourado na cintura e uma mini jaqueta de couro,  daquelas que não vão até a cintura. Bom, eu não descrever roupas femininas.
- O que aconteceu com o vestido vermelho de natal ? – sussurrei em seu ouvido.
Confesso que estava animado para ver o tal vestido vermelho.
- Achei muito vulgar para vir com ele conhecer minha sogra – ela sorriu ao ver minha mãe no sofá – Gostou ? – Perguntou já entrando em casa olhando diretamente para Nina.
- Sim.
Segurei sua mão e fui com ela até a frente da minha mãe.
- Mãe, essa é a Ashley  - a apresentei.
Ela a encarou da cabeça aos pés.
- Bela  roupa.
- Obrigada, senhora.
- Senhora?Não! – ela respondeu,rígida.
Ashley ficou a olhando com um enorme sorriso, e minha mãe tentava dispersar seu olhar.
- Então galera, eu sei que a conversa está ótima,mas precisamos comer – Cody disse, tentando parecer entusiasmado.
Segurei o riso e todos fomos até a mesa.