Fome Insaciável escrita por Shadow


Capítulo 23
Day One


Notas iniciais do capítulo

YOH! Voltei meus amores. Enfim, aqui vai...



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A New Day

POV Livy

1º Dia

—Bem vindos ao nosso lar – disse a mulher sorrindo ao abrir a porta.

Logo após chegarmos e sermos cegados pela luz do meio dia, a mulher que agora sabíamos se chamar Sabine, simplesmente nos levou para dentro sem nos dar chance de assimilar nossos arredores e nos abandonou em frente aos banheiros dizendo que estávamos fedendo demais para ir falar com alguém ou mesmo comer.

Sem muita escolha nos enfiamos nos chuveiros e cara, a sensação de estar limpa era a melhor coisa que senti em muito tempo, parecia que eu estava mais leve. Na verdade acho que todos estavam sentindo isso, a agua quente atingindo nossos poros e retirando a sujeira dos dias em que ficamos a deriva nas estradas e que estava incrustada nos lugares mais inusitados e incômodos de nossos corpos.

— Caramba, espero que isso dure para sempre – gemeu Amélia.

— Por favor! – concordou Sofia enquanto esfregava o corpo vigorosamente com um sabonete verde e sem cheiro que uma senhora muito velha e com cara de Bulldog havia nos dado junto com algumas toalhas e roupas novas.

O banheiro em questão tinha a aparência dos banheiros que apareciam em series de televisão retratando a vida na prisão. Não havia portas, só uma área comunitária e cheia de duchas espalhadas uniformemente em um semicírculo.

Nós quatro lavávamos nossas roupas antigas ao mesmo tempo em que tomávamos banho. Havia uma mistura de terra, sangue e algo não identificado descendo pelos ralos. Eca!

— Acho que perdi uns quatro quilos só com esse banho. – afirmei.

— Não acredito que foi a primeira coisa que ofereceram, mas estou muito feliz por ter sido.

— Concordo, mas Amélia, se um bando de gente suja e fedorenta aparecesse na sua porta, não seria o que você faria?

— Claro que não. Pensaria que eram mendigos, ou pior mendigos zumbis.

Ficamos um minuto em silencio digerindo suas palavras e então sem nenhum motivo começamos a rir, rimos porque era bom rir e não pela graça (ou falta dela nesse caso) rimos simplesmente porque era bom rir.

POV Ian

Os outros caras e eu já havíamos terminado de tomar banho e ficamos no corredor esperando as meninas. Ouvimos suas risadas livres de ansiedade e medo, e apesar da tensão crescente que se instalara entre Sebastian e eu durante o banho, nós todos sorrimos uns para os outros.

 Flash Back

Estávamos todos tomando banho normalmente, não era estranho para homens ficarem pelados e tomarem banho em conjunto, muito menos caras que já faziam isso há meses. Exceto por Sebastian, mas e dai? Dava na mesma merda.

Mas estranho mesmo era Sebastian vir para o chuveiro ao lado do meu e encarar meu ¨equipamento¨ e dar risadinhas sarcásticas. Franzi o cenho em sinal de aborrecimento e seu sorriso parecia o do gato da Alice.

— Mas que merda cara, perdeu alguma coisa no meu pau, porra?

— Nada. – disse rapidamente. – nada mesmo. – disse antes de voltar a rir.

— Sebastian, deixa de ser cuzão. Deixa o pau do cara, é maior que o seu e do que os outros aqui, é o maior que já vi ate agora. – disse Rafael.

— É mesmo, é ate mais bonito. – disse Donnie para o meu constrangimento eterno.

Todos nos voltamos para sua direção e o encaramos de modo estranho, não que eu não tenha apreciado a ajuda, só foi uma ajuda estranha.

— Não que eu fique encarando o bagulho dos outros. – se defendeu rapidamente – E nem pensando em qual é o mais bonito, foi só um comentário, um comentário muito hetero, para ajudar um amigo.

— Já que estamos em um momento constrangedor, vamos medir e ter certeza de qual é o maior. – sugeriu KW sarcasticamente enquanto esfregava os últimos resquícios de shampoo dos cabelos e ia em direção as roupas.

— Gente, isso foi altamente esquisito. – disse eu por fim, voltando a lavar os restos de sujeira que teimavam em não sair.

— E eu achava que nada podia ser mais estranho que um bando de macho junto lavando a bunda. – concordou Rafael antes de virar de costas para nós e começar a assobiar algo que suspeitosamente soava como I will survive da Gloria Gaynor.

Felizmente depois disso Sebastian ficou em silencio e parou de me fazer sentir inseguro e desconfortável. Eu só estava feliz que Victor não estava aqui, não era exatamente uma conversa que um garoto de dez anos deviria ouvir.

Espera, será que é estranho eu saber que musica o doutor maluco estava assobiando?

De volta ao corredor...

— Parece que elas estão se divertindo. – comentou nosso acompanhante.

O tom se esforçava para parecer amigável, mas por baixo era na verdade meio zombeteiro e provocativo, tinha sido dito por nosso acompanhante, um cara baixinho e careca que ate agora não havia se apresentado e que tinha um carinho muito bizarro pela espingarda que levava as costas. Serio, eu o vi acariciando e o ouvi conversando com a coisa uns instantes atrás. Bizarro!

— Espero que não acabem com toda agua quente, ainda quero me lavar. – resmungou de mal humor.

Mal havia terminado de falar e as garotas saíram do banheiro. Levantei e caminhei ate Livy a abraçando e adorando a sensação do corpo dela se moldando ao meu.

— Já que todos estão limpos, por favor, me acompanhem. – falou tentando parecer amigável, mas falhando (novamente, cof,cof).

Seguimos pelo corredor sem nenhuma apresentação seja para as outras pessoas que nos olhavam estranhamente ou para conhecer o lugar, basicamente estávamos sendo pastoreados como boas e indefesas ovelhinhas.

— Então, para onde você esta nos levando? – indagou KW.

— Escritório. – respondeu simplesmente.

— Sim, mas...

— Chegamos.

Donnie encontrou meu olhar, percebi que seus olhos demonstravam o mesmo nervosismo que eu estava sentindo, estávamos apreensivos e não acostumados com situações em que o controle nos era tirado, apesar disso havia um acordo tácito de nos comportamos com segurança e confiança. OK, acho que posso fazer isso.

— Não temos o dia todo, entrem logo. – falou abrindo a porta com violência e saindo com passos rápidos.

Se Donnie não estive por perto a porta teria voltado a se fechar, olhamos o careca se afastar e sumir em uma curva de um corredor a direita e depois entramos. O lugar estava fresco e as grandes janelas davam ao ambiente um ar mais iluminado do que de onde viemos.

— Olá, meus amigos. – saudou o homem de meia idade – espero que estejam bem.

— Sim, estamos...

— Que bom – falou me cortando – não é todo dia que alguém aparece por aqui, na verdade... – parou no meio da frase como se percebesse que iria dizer algo ruim e pigarreou – Não importa. É muito bom que estejam aqui, teremos uma grande colheita esse mês e vamos apreciar ter mais braços fortes para ajudar.

— Colheita? – perguntei curioso.

— Ora, não acharam que ficariam aqui de graça, não é mesmo? – falou em um tom complacente e um sorrisinho sacana. Seu filho da...

— Claro que não! – rosnou Donnie avançando em direção ao homem como se não houvesse uma mesa em seu caminho. Cara, e o lance de agirmos com segurança e confiança? O segurei pelo braço, enquanto Amélia agarrava firmemente o outro, não só para impedi-lo de fazer algo estupido, mas também para o equilíbrio, já que seu tornozelo ainda estava em processo de cura.

— Paz! – pediu se levantando da poltrona de couro que praticamente o engolia de tão grande. – foi só um comentário sem maldade.

— Sei. – murmurou Sebastian.

— De qualquer maneira, hoje vocês estão aqui para saber onde irão dormir e como serão divididas as suas tarefas designadas.

— O que é isso? – perguntou Sofia apontando para um grande cartaz que agora era visível por detrás da poltrona gigantesca, mas ainda longe demais para se ler as letras, embora os desenhos de zumbis pudessem ser uma dica. Do que eu não sei...

— Rá, boa pergunta minha garota. – parabenizou a Sofia como se ela fosse um cãozinho que fez um truque bonitinho - Isso é um informativo para os outros sobreviventes aqui na Redoma.

Ouvimos um bufo.

— Redoma? – perguntou Rafael de modo critico.

— Sim, todo refugio merece um apelido. – disse como se fossemos idiotas por não saber desse fato tão conhecido.

— Achei ridículo – disse Livy e a cutuquei nas costelas. – Porra, Ian. – gritou enquanto massageava o local.

— Desculpe pelo comentário. – pedi tentando concertar a gafe cometida pela minha namorada em frente ao “fodão” do lugar, ao mesmo tempo em que desviava dos golpes que vinham em minha direção.

— Sem problemas. – respondeu, mas já sem o sorriso fácil de antes. – Vamos, vou leva-los ate seus quartos, infelizmente o lugar está lotado e só sobraram seis quartos, mas acho que vocês podem se arranjar com cinco, afinal precisamos de um lugar vago caso mais alguém apareça.

— Claro. – concordei facilmente.

Saímos do escritório e viramos à esquerda, o lugar era um maldito labirinto e ninguém parecia disposto a nos ensinar a andar por ele (talvez simplesmente não se importassem). Ao dobrar o que parecia ser a decima quinta curva a esquerda, paramos em frente a um grande lugar cheio de bancos e mesas.

— Aqui como já devem ter percebido é o refeitório. Seguindo em frente, os dormitórios são por aqui.

Continuamos reto e dessa vez as curvas eram para a direita, depois de muito rodar paramos em uma área com varias portas em ambos os lados.

— Os quartos vazios ficam no final do corredor, três à direita e três à esquerda, apenas dois são para solteiro, dentro deles vocês vão encontrar toalhas, roupas de cama e alguns materiais de higiene. Lembrem-se de que ao menos um quarto deve ficar vazio e descansem, pois amanha suas tarefas estarão naquele quadro. Daqui a algumas horas alguém vem os buscar para comer, quanto às roupas amanha antes de iniciarem suas tarefas vocês serão levados ao deposito.

Ele disse tudo sem parar para respirar e virou de volta por onde viemos. Ficamos parados do lado de fora dos quartos por alguns momentos tentando absorver o fluxo de informações.

— Peny e eu ficamos com esse. – disse Victor olhando um dos quartos de solteiro e puxando a referida garota com ele.

 Em seguida Donnie olhou alguns quartos, voltou para ajudar Amélia a entrar e em seguida ouvimos o click da porta trancando.

— Isso foi rápido – digo impressionado, então sorrio e levo Livy comigo para o que parecia ser um quarto de casal.

POV Livy

Ouvi mais do que vi a porta fechar, ainda estava tentando assimilar que Ian basicamente me arrastou para um quarto, onde:

Tem uma cama de casal

Teremos total privacidade

As duas opções acima!!!!!!!!!!!

OMG! E agora? Eu era tão nervosa com a simples aproximação daquele homem, imagina agora que literalmente dividiríamos uma cama. Uma cama de verdade e não a imitação que tínhamos no acampamento ou os colchões duros que usamos na floresta.

—Finalmente sós! – disse ao mesmo tempo em que tirava a camisa e a jogava na cadeira ao lado da cama.

Fiquei estática encarando suas costas, engoli em seco quando ele se jogou de barriga na cama. Acho que passei muito tempo calada ou talvez fosse o fato de que eu mal respirava que chamou sua atenção.

— Livy? – chamou virando de barriga para cima o que não ajudou em nada meu nervosismo, aquele tanquinho era matador. – Tudo bem? – perguntou se levantando e segurando minhas mãos entre as suas.

— Tudo. – respondi com o que eu pensava ser uma voz razoavelmente firme e confiante, mas que na verdade era uma voz tremula e baixa. Torci para que ele não notasse meu mini colapso. Claro que não foi o que aconteceu.

— Você está nervosa, suas mãos estão geladas. – ele suspirou e me levou suavemente ate a cama. – olha... o fato de que agora temos mais privacidade não significa que vamos fazer algo que você não queira. Sabe disso, né?

— Sei. – murmurei. – mas não posso evitar, é uma situação nova e estamos juntos a o quê? Uma semana? Talvez mais, talvez menos e relacionamentos são estranhos para mim, o único cara de que realmente gostei me chamou pra sair e morreu naquele mesmo dia. Você foi meu primeiro beijo real e primeiro namorado, é só...

— Muita coisa?

— Isso também. No entanto, o fato é que eu nunca tive experiência com o sexo oposto, especialmente no que se refere a um relacionamento ou intimidade.

Ele pareceu pensativo por um tempo, como se estivesse tentando buscar palavras que me fizessem entender que ele não me machucaria ou me forçaria a algo. É claro que eu sabia disso, o x da questão era convencer meu subconsciente descrente. Suspirou como se pudesse ler meus pensamentos e disse:

— Eu não vou prometer que em algum momento eu não possa querer algo mais e nem que eu não faça alguma coisa que te machuque. A verdade é que... eu não sou perfeito, ninguém é, só posso prometer isso: Nunca vou fazer ou agir de forma que intencionalmente te faça sofrer, seja o que for ou como for. Se isso significa ter um caso de bolas azuis até que você esteja pronta, que seja.

Nos abraçamos, ou melhor ele me abraçou e eu me grudei nele como uma craca. Fiquei em silencio não por não acreditar em suas palavras, mas sim por não saber o que falar de volta.

—Venha. – pediu ainda abraçado comigo. E eu fui, acabamos dormindo em pouco tempo.

XX

Quando acordamos havia alguém batendo na porta, Ian se desvencilhou do emaranhado de membros que nos tornamos durante o sono.

— Já vai! – gritou indo cegamente em direção à porta.

— Sua comida esta esfriando. – disse a voz conhecida do homem que nos tinha trazido para o dormitório. Agora que percebi... ele não se apresentou. – Não havia alguém para acompanha-los de volta ao refeitório, então vamos!

No corredor os outros estavam em pé e em diferentes estágios de sono, Donnie estava completamente acordado (ou fingia muito bem), o mesmo se poderia dizer do Doutor Estranho e Sebastian. O resto estava mais como eu: um olho fechado e o outro também. 

— Vamos, vamos, vamos! – chamou alegremente.

— Se ele disser vamos mais uma vez e nesse tom alegre... – resmungou KW deixando a ameaça pela metade.

— Vocês serão os únicos no refeitório já que o horário do almoço passou muito antes de vocês chegarem. Essa será a única exceção feita, somos muito rígidos quanto aos horários das refeições e bem... as outras regras que existem.

— E existe um livro de regras? – perguntei ironicamente.

— Não, claro que não. São apenas algumas poucas regras necessárias para manter a paz. Vocês podem ver a lista no quadro de informações que mostrei mais cedo. – disse num folego só.

— Você fala bem rápido, não é? Tanto faz, qual o seu nome?

— Oh! Que cabeça a minha! Desculpem, sou o Max. – se apresentou todo sorridente.

Max era... é um cara estranho, um pouco alegre demais e desatento para algumas coisas. Toda essa disposição e sorrisos me deixavam com uma sensação gelada na espinha, ninguém pode ser tão feliz e vivo em meio a um apocalipse zumbi. Eu poderia ate acreditar nesse ar de sou um sonso e inofensivo, se não fosse por parecer que ele tentava desesperadamente não aparentar nervosismo e suava bicas enquanto olhava sutilmente para os cantos.

— Esperando alguém? – perguntou Donnie com os olhos se estreitando na direção do homem mais baixo. Ótimo, não foi só eu que notei algo estranho nesse cara.

— O que? – guinchou como um porco no abate. –Não, obvio que não.

— Parecia. – disse Sebastian.

— Hum...- murmurou enquanto lambia loucamente os lábios (seria isso um tique?).  – Impressão sua meu jovem. Venham se sentem aqui.

Dito isso ele sumiu pelas portas duplas de madeira onde assumindo que eu estivesse certa pode ser localizada a cozinha. A comida já estava sendo servida pela mesma velha com cara de Bulldog que nos ajudou nos banheiros.

— Essa é a Gertrude, ela é a cozinheira. Vocês devem ter conhecido a gêmea dela, Gillyan.

— Ah. – resumi o que todos pensavam.

— Não quero atrapalhar sua refeição, espero que saibam como voltar. É só seguir pelo corredor e ir pela...

— Direita, eternamente. – cortou dr. Rafael.

— Isso. Adeus.

Ele se despediu e saiu andando tão rápido que mal pude ver o seu sapato sumir na esquina. Caramba, para um cara tão baixinho e gordo ele ate que era bem rápido.

— Esse cabelo de miojo tá aprontando alguma coisa! – afirmou KW.

— Concordo. – falei lentamente e comecei a comer. – Eu tenho essa sensação de que algo não se encaixa.

Os outros se mantiveram em silencio ate terminarmos de comer e voltarmos para o dormitório.

— Não há como ter certeza – começou dr. Rafael, para a minha surpresa já que era o único que não aparentava ter desconfiado de nada. – Tudo o que podemos fazer é observar e montar esse quebra-cabeça. Só espero que o resultado final não seja uma grande merda. – disse e entrou no quarto.

— O velho louco tem razão. Vamos dormir, acho que amanha irão nos acordar cedo. - concordou KW.


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Notas finais do capítulo

Sim, foi só isso. Fazer o que?
Enfim, acharam algo errado? Gostaram?
Beijocas e ate a próxima.



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