Fome Insaciável escrita por Shadow


Capítulo 2
O inicio




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Mas vamos voltar para o começo quando o mundo não era tão canibal quanto hoje. Minha vida era tranqüila, minha cidade era de certa forma boa de se viver.  Meu fim de semana foi arruinado por uma gripe forte que me fez passar grande parte dele na cama em vez de ir numa viagem com meus amigos para a Florida.

Não muito feliz eu acordei cedo para mais um dia de aula esquecendo que estava de férias adiantadas. Amaldiçoei-me por esquecer que poderia passar o dia dormindo, mas como já estava acordada me levantei, coloquei o lençol como uma manta cobrindo-me da cabeça aos pés e sai do quarto, praguejando e esfregando os olhos.

-Olá querida! - disse minha mãe.

-E aí! - respondi com a voz rouca.

-Caiu da cama filha? - perguntou papai.

-Ha, ha! Muito engraçado pai. - me sentei em frente ao balcão e apoiei minha testa febril no mármore frio tomando cuidado para não deixar o lençol cair.

-Querida você esta se sentindo melhor? – ela perguntou preocupada.

-Ah claro mãe com toda certeza não deu pra notar não?- perguntei sarcástica. Arrependeria-me por ser tão grossa com minha mãe mais tarde naquele mesmo dia. Mas no momento eu estava liberando minha raiva nela.    Mamãe me lançou um olhar ferido e continuou a fazer o café.

-Hum, hum – papai limpou a garganta, virei e dei minha melhor cara de mal. Mas sabe como é né, os velhos têm experiência nessas coisas. Suspirei e me sentei na
cadeira que meu pai indicou. Ele dobrou o jornal e o colocou de lado, apoiou seus cotovelos na mesa me olhou nos olhos, me preparei para o sermão sobre minha mãe ser sensível e eu ter que ser uma filha melhor, mas ele apenas ficou ali me encarando com expectativa. Contei um minuto e ele nem piscava gradativamente o tempo foi passando e nada, depois de dez minutos seu olhar já estava me incomodando, me mexi desconfortavelmente na cadeira.

. -Errr pai você está começando a me assustar. – eu disse limpando o nariz.

-Minha filha essa é exatamente a intenção. – ele disse calmamente. E arregalou mais os olhos, ficando cada vez mais parecido com um sapo. Abaixei a manta já que estava ficando quente.

Mamãe nos serviu e se pegou em meus cabelos enrolados como o dela e negros como os do meu pai.

-Seu cabelo esta ficando cada vez mais bonito. – e foi isso eu não me desculpei ou falei algo de interessante. Apenas comi e voltei pro meu quarto, tive a ultima visão de meus pais enquanto me levantava. Mamãe com seu avental florido lavando as louças e papai ainda naquela pose só que dessa vez seu rosto transmitia decepção.

-E então como ta sendo a viagem? - perguntei assim que Laura ligou. Ela estava em algum bar a julgar pela confusão que dava pra ouvir do outro lado da linha, pude ouvir um homem gritando com alguém sobre uma bebida derramada.

-Oh está sendo maravilhosa. Você devia estar aqui, e ver as coisas mais malucas e bizarras que estão acontecendo por aqui.

-Como, por exemplo?

-Um cara maluco mordeu a Ligia.

Ligia era a nossa mais nova amiga, nós três formávamos a sociedade do L, ela era uma daquelas garotas nerds que vivia com a cara nos livros isto é antes de ter nos conhecido agora ela era uma aluna mediana quase normal, apesar de ainda surtar por causa de uma prova.

-Pera aí, pera aí! Vamos com calma, o cara mordeu ela?

-Umhum! – pude ate imaginar Laura balançando a cabeça e franzindo a testa. – É, e a nossa teoria e de que ele tava doidão sabe, curtindo a onda?

-Você quer dizer drogado né? – Laura tinha a irritante mania de nunca falar palavrão, ou falar sobre drogas, sexo ou qualquer outra banalidade adolescente.

-Bem ele pode ter achado ela muito gostosa e não pode resistir. – brinquei.

-Há, há! – praticamente pude ouvir seus olhos se revirando nas orbitas. – Não espertinha, ele não... Bem pode ate ser mais ele não iria mordê-la para comprovar. Alem do que ele praticamente arrancou um pedaço dela.

-E o que você fez?

-O que você acha? Peguei ela e sai correndo, oras. – ela disse como se fosse obvio.

-Hum. E foi só isso?

-Na verdade não... - ela hesitou por um instante. – Enquanto nós corríamos eu ouvi gente gritando, e não eram gritos de gente assustada apenas, eram gritos de dor.

-E o que você acha que era?

-Como eu vou saber? Eu fiquei mais desesperada e corri mais rápido ainda. Mas o que quer que fosse não era legal.

-Serio você percebeu isso antes ou depois dos gritos? – eu estava novamente de volta com o meu sarcasmo.

-Cê ta de TPM?

-Não. Só estou... Que porra é essa?

Ouvi o barulho de vidro se partindo e gritos quase não entendi o que Laura disse. Mas soou estranhamente parecido com: Ele voltou.

-Laura? Laura? – gritei inutilmente com a linha muda do telefone.

Maldita chamada a cobrar. Minha cabeça agora doía duplamente por conta da raiva.

-Alguém me mate, por favor! – disse me jogando de costas na cama.

-O que houve querida?

-Nada, mãe!

Senti a cama afundar sob o seu peso, ela agora estava do meu lado acariciando minha cabeça. A dor incessante e excruciante foi passando conforme sua mão ia passando de cima para baixo de baixo para cima. Não percebi que já estava adormecendo, só notei quando sua voz risonha veio ao longe perguntando se eu estava melhor. Murmurei que estava muito melhor e senti que ela saia devagar a sua ausência me fez sentir vazia e triste quase insisti para que ela ficasse, mas o sono era tão forte que me engoliu completamente no mundo dos sonhos.




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