Quando ela colocou o vestido à noite, Justin estava sentado na cama. Sorriram um para o outro, e ele abotoou o que havia pra abotoar nas costas. Ela botou os brincos de brilhantes nas orelhas e penteou o cabelo bem para o alto da cabeça. Estava perfeita, e por um momento ele ficou sem fôlego. Depois, com um sorriso, ele tirou suavemente os brincos das suas orelhas.

- O que está fazendo?

- Tirando os seus brincos.

Ela parecia intrigada.

- Por quê? Não gosta deles? – Quem sabe era porque tinham sido um presente de Mike. – Não tenho aqui nenhum outro que sirva.

- Não tem problema. – Tirou do bolso um saquinho azul de seda. Abriu-o e tirou de dentro duas pérolas grandes e muito lindas. Havia um pequeno brilhante sob cada pérola, e os brincos pareciam muito antigos e finos. – Quero que use esses.

- Ah, Justin. – Marie olhou para os brincos, espantada, depois ergueu os olhos pra ele. – O que você fez?

Os vestidos, os brincos, a exposição. Ele estava lhe dando tanto. Tudo...

- Os brincos eram da minha avó. Quero que fique com eles, Marie, essa é uma noite muito especial. – Os olhos dela estavam cheios de lágrimas quando os ergueu pra ele de novo. Carinhosamente, pegou o seu rosto entre as mãos. – Quero que essa seja a noite mais linda da sua vida. É o começo da sua vida no mundo da arte, Marie. E quero que todos saibam o quanto você é boa.

Havia mais amor transbordando dos olhos dele do que ela jamais vira, e o seu coração tremia enquanto ela o abraçava.

- Você é tão bom pra mim.

- Somos bons um para o outro, e esse é um dom muito especial.

- Não posso ficar com os brincos. – Não podia, a não ser que ficasse com Justin, mas dali a um mês teria que voltar pra Mike.

- Sim, pode ficar com os brincos. Quero que fique com eles, não importa o que aconteça. – Ele compreendia, sempre compreendia. E aquilo tornava as coisas piores. As lágrimas começaram a escorrer tristemente pelo rosto dela, e os soluços começaram a sacudir-lhe os ombros. – Não, amor.

- Ah, Justin... Não posso deixar você.

- Não precisa, ainda não, vamos aproveitar o que temos. – Justin não parecia assim tão filosófico desde o começo, e ela se perguntava se ele finalmente aceitava o que teria que ser.

- Eu te amo. – A voz dela era tensa, enquanto se agarrava a ele, que fechou os olhos.

- Eu também te amo. Agora, vamos? – Afastou-a de si para olhá-la, que assentiu. – Você está linda, e estou tão orgulhoso.

- Fico pensando que vou acordar, e que tudo terá sido um sonho. Vou acordar na praia em Carmel, e Kim ainda estará à minha espera no hotel. Mas cada vez que me sinto assim, olho à minha volta, e você é real. – Olhou pra Justin, encantada e espantada, e ele riu.

- Realíssimo. – Riu de novo enquanto enfiava a mão dentro do vestido dela. – E gostaria muito de provar à você, meu amor, mas infelizmente não temos tempo. – Estendeu-lhe o braço com uma pequena reverência. – Vamos?

Ela pegou seu braço.

- Mas é claro.

                                           ***

- Está pronta?

Tinham acabado de parar diante da galeria.

- Ah, meu Deus, não! – Estendeu os braços pra ele, de olhos arregalados, mas ele a abraçou por apenas um instante, depois levou-a para dentro.

Havia um fotógrafo à espera, e um número considerável de convidados. Os críticos de arte estavam presentes em peso, e ela viu até mesmo Kim, começando um relacionamento animado com um representante da imprensa. Meg estava por perto, abobada com o lindo vestido azul-turquesa de Marie. No seu todo, a noite foi um sucesso. A galeria vendeu sete quadros. Por um momento, sentiu como se estivesse se separando de velhos amigos. Não queria se desfazer dos seus quadros, mas Justin caçoou dela enquanto a apresentava aos admiradores do seu trabalho. Justin era maravilhoso com ela: estava sempre por perto, mas nunca perto demais, dava-lhe apoio, mas não ostensivamente. Era Justin Drew Bieber, um excelente dono de galeria. Ninguém teria se dado conta do caso deles. Era tão discreto quanto fora naquela primeira manhã, com Kim, e Marie soube que não tinha nada a temer. Por um momento, naquele dia, tivera medo do que Mike pudesse ouvir. Nunca se sabia quem comparecia a essas vernissages, quem queria alguma coisa, ou o que adivinhariam. Mas ninguém adivinhou nada naquela noite, nem mesmo Kim, que mandara um imenso buquê de flores para a casa dela. Ela se sentia pessoalmente responsável pela ligação entre Marie e Justin... De um ponto de vista profissional, é claro, já que nem fazia ideia de outro qualquer. Perguntava-se, contudo, se Marie tinha contado a Mike sobre a exposição. Mais para o fim da noite, Marie contou a Kim que tinha.

- E o que ele falou?

- Não muita coisa, mas não ficou satisfeito.

- Vai superar a coisa.

- Espero que sim. – Mas Marie não se estendeu no assunto. Não contou a Kim que Mike a proibira de fazer a exposição e desligara o telefone na sua cara, no final. Dissera-lhe que era vulgar e exibicionista, mas pela primeira vez no casamento deles, ela fizera pé firme. Era importante demais pra ela para ceder, dessa vez.

- Hey, por que essa cara, amor? – Justin falou baixinho, para que ninguém mais ouvisse, e Marie voltou ao presente.

- Por nada. Eu... É que... Tanta coisa aconteceu.

- E aconteceu mesmo. Meg acaba de vender mais dois quadros seus. – Parecia feliz como um garotinho, e Marie teve vontade de envolvê-lo num abraço. Ao invés disso, apenas acariciou-o com os olhos. – Quer jantar, pra comemorar?

- Só se for pizza. – Sorriu pra ele, conhecendo as suas preferências.

- Não dessa vez, Marie. É pra valer.

- Hambúrgueres?

- Vai à merda. – Sem maiores cerimônias, envolveu-lhe os ombros com o braço e beijou-a no rosto.

Não era um gesto impróprio para um dono de galeria, na noite do primeiro sucesso de uma artista, mas enquanto Kim os observava, pegou-se subitamente imaginando se havia algo mais. Marie acabara de murmurar qualquer coisa no ouvido de Justin, em resposta à qual Kim ouvira-o dizer, com um sorriso meigo:

- Que bom que você gosta deles.

Marie tocara as pérolas nas orelhas e se afastara, satisfeita. Enquanto Kim observava, teve certeza.