Cada pedra foi movida

Não nos assusta

Ainda não

O que está vindo é desconhecido

Nós funcionamos o último poucos medidores

(Schwarz - Tokio Hotel)

– Então entenda: nunca vai ter nada entre nós, eu não sou do tipo que se apaixona! Vamos, eu vou te levar pra casa.

Suspirei ao me lembrar disso, de novo, e tentei impedir que a maldita umidade dos meus olhos se transformasse em lágrimas e revelariam mais ainda meus sentimentos. Pelo canto do olho pude perceber Tom desviando os olhos do trânsito e olhando para mim como se preocupasse comigo.

Transformei meu rosto em uma máscara fria e sai do carro ao ver que já estávamos estacionados na garagem de casa. Segui para o banheiro e foi a apenas entrar no chuveiro para que eu desabasse. Meus soluços eram forçados a serem baixos para que Tom não pudesse ouvir.

Meu Deus, era uma das piores dores da minha vida, era horrível sentir seu mundo sem chão, porque era isso que eu estava sentindo, era péssimo pensar que eu amava alguém que eu não sentia o mesmo. Eu chorei como uma adolescente de 15 anos quando perde seu primeiro namorado, como uma adulta de 45 que perde seu marido, como uma senhora de 75 que perde seu amado e antigo marido.

Mas depois da tempestade vem a calmaria. Eu entendi que não seria chorando que meus problemas seriam resolvidos. Ergui a cabeça, terminei meu banho e sai de lá decidida que não iria sofrer mais por isso. Não como sofri hoje. Bola pra frente, a vida continua, certo? Não é? Ri dos meus pensamentos confusos, limpei os últimos vestígios de lágrimas presentes em meu rosto e fui pro quarto dormir.

Acordei cedo no outro dia, aquela casa precisava de uma faxina! Na verdade, a casa estava perfeitamente organizada, não havia nada de mais que eu tivesse que fazer, mas eu precisava manter minha mente ocupada, então eu comecei pelas janelas. Lavei todas, limpando o cantinho com uma escova de dente velha. Depois eu fui aspirar os móveis e os tapetes, e assim por diante continuei minha faxina. Já era quase a hora do almoço quando terminei de varrer a varanda.

Preparei um almoço que parecia gostoso, arrumei a mesa para os garotos, ficou magnifica! Quando eles acordaram eu já estava desligando o fogão, Bill me deu um beijo na bochecha e foi se sentar na mesa.

– O que aconteceu hoje Deba? Tá inspirada? – eu ri de leve e menti:

– Não, só estou feliz. – Tom deveria pensar que o que ele disse não foi nada de mais, que em breve eu superaria.

– Feliz? Depois de ontem?

– Bom dia para você também Tom.

– O que aconteceu ontem Deba? – Bill perguntou curioso.

– Nada, só as bobagens de Tom, como sempre.

– Falando em bobagens, eu vi você ontem com aquele garoto! – ele comentou entusiasmado. Eu só ri e fiquei com as bochechas vermelhas como sempre.

– Agora ela fica com vergonha – Tom resmungou rabugento.

– Cala a boca e para de cuidar da minha vida! – eu estava tão nervosa que minha voz saiu um pouco exaltada, depois eu me lembrei que ele era meu chefe, poderia ser meu amigo, -ou era- mas ainda é meu chefe. – Desculpe, não queria gritar.

– O que está acontecendo com vocês? – Bill perguntou confuso.

– Nada, vou arrumar o quarto de vocês. – sai de cabeça baixa da cozinha.

– Você não vai almoçar?

– Não estou com fome Tom.

Sai o mais rápido que pude dali e fui arrumar, primeiro, o quarto de Bill. Nem tinha muito o que fazer ali, era tudo organizado. Só troquei os lençóis e lavei o banheiro. Já no quarto de Tom era tudo o oposto, comecei catando os tênis e bonés espalhados pelo chão. Organizei todo o seu closet, encontrando às vezes pacotes de preservativos que caiam do bolso de sua calça. Balancei a cabeça negativamente e continuei meu serviço, mentalizando que não iria mais me meter na vida do meu chefe.

A parte de arrumar a área da piscina foi a mais complicada, porém mais divertida. Scott estava lá e fiquei brincando com ele por bastante tempo quando olhei pra porta ao perceber que estava sendo observada. Virei e encontrei Tom, parado com um meio sorriso lindo no rosto e com uma mangueira na mão.

– Qual o problema? – perguntei baixo.

– Vim lavar Scott.

– Não quer que eu faça isso? – afinal esse era parte do meu trabalho.

– Não precisa.

– Tudo bem. – concordei e continuei a limpar a área olhando várias vezes com o canto do olho para Tom, que lava Scott de um jeito tão sexy que me tirava completamente à atenção. Perguntei-me como lavar um cachorro podia ser sexy, então eu me lembrei de que estávamos falando de Tom e tudo o que ele fazia era sexy.

Terminada a arrumação fui tomar um banho e colocar uma roupa quente, eu queria dar uma volta pela pracinha, a neve está caindo e a praça fica linda quando isto acontece. Neve me lembrava de natal, o que me lembrava de família, e me fazia lembrar também que eu não tinha uma. Balancei a cabeça para espairecer estes pensamentos deprimentes e terminei de me arrumar.

Quando estava indo avisar os meninos que ia sair, ouço a campainha tocar, fui atender a porta sob o olhar de toda a banda – Gustav e Georg chegaram enquanto eu tomava banho – sobre minha roupa. Foi uma terrível surpresa ao ver quem estava tocando.

– Loren. – a filha do meu padrastro estava lá, parada insolente na minha frente, como diabos ela conseguiu o endereço da casa?

– Deba! E ai irmãzinha, não vai me convidar para entrar?

– Não. A casa não é minha.

– Ah, mas eu fiquei sabendo que você tem muuuita intimidade com seus chefes – deu bastante ênfase no muita.

– Não tenho. O que você quer aqui em? – eu estava quase chorando. – Vai embora!

– Eu tenho um recado pra você. Do seu pai.

Quando minhas vistas começaram a ficar tão escuras, e essas tonturas, acho que eu vou desmaiar... Senti um par de braços fortes e quentes me pegando e me pondo sentada no sofá. Aos poucos pude ver que eu não tinha desmaiado, foi só uma simples tontura. Mas o que Loren disse me voltou a mente. E quase que tudo aconteceu de novo. Meu coração estava apertado e eu podia sentir lágrimas caindo dos meus olhos, depois veio um soluço, um baixo e fraco soluço.

– Meu Deus! O que está acontecendo! Deba fale comigo! Qual foi a última vez que você comeu? – porque Tom parecia tão preocupado? Olhei dentro de seus olhos e só piorou o que eu estava sentindo, o abracei forte, e apertei mais o aperto quando senti que ele estava correspondendo.

Era de meu pai que estávamos falando. E ele era um assunto sério e delicado. Meu pai sempre foi meu refugio na França, além da casa de minha avó, estar com ele era uma das minhas coisas preferidas. Bom, isso quando eu tinha 7 anos de idade, mas com o passar do tempo pude perceber que ele estava distanciando de mim, aos poucos eu parei de ter suas visitas semanais, seus telefonemas repentindo. Parei de ter o seu amor. Então ele simplesmente sumiu. E vez por outra ele aparecia para pedir dinheiro. Infelizmente esse é e sempre foi um assunto muito delicado para mim, e sempre que ele era mencionado numa conversa era isso que acontecia.

Parei de abraçar Tom e perguntei a Lauren o que ele queria.

– Sua mãe me mandou aqui sua bastarda idiota, então pare com essa grosseria e me escute. – ignorei o chingamento dela e ouvi com aparente calma – seu paizinho foi preso, não me pergunte o porque que eu não sei. A fiança é 700 euros, mandou te pedir grana por que ele não tem.

– E por que você acha que eu tenho esse dinheiro?

– Sua mãe acha. Por que ela sabe onde você trabalha e sabe que você sempre está juntando dinheiro, então me dê logo a porra da grana que eu tenho mais o que fazer.

Fiz uma careta para o que ela disse e subi em direção ao meu quarto acabar de novo com as economias que eu tinha, peguei o dinheiro no meu porquinho e desci para entregar Loren, pude perceber que ela estava quase em cima de Tom, e ele parecia gostar disso porque passava constantemente a língua pelo piercing. Ignorei este ato completamente e a puxei bruscamente pela mão entregando o dinheiro e a empurrando para fora de casa.

Assim que me virei vi os rostos questionadores dos garotos. Esta iria ser uma longa conversa.