Como Deixar de Ser Idiota em 30 Dias escrita por Lie-chan


Capítulo 8
Capítulo 8




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Como deixar de ser idiota em 30 dias.

 

Capítulo 8:

 

– Onde você estava? – Foi o que escutei imediatamente assim que cheguei em casa, mas ela não me deu tempo de reagir e continuou falando. – Eu liguei para o Max e ele também não estava com você! Com quem você estava? Sabia que ir ao shopping de uniforme em horário de aula não é muito esperto? As pessoas te reconhecem... – Droga! Esqueci que minha mãe, como vendedora de cosméticos, conhece todas as atendentes de todas as lojas daquele shopping!

 

Não precisa ser um comprador assíduo para perceber que quem trabalha no shopping sempre está devidamente maquiado. Minha mãe reparou nisso, então agora ela não perde mais tempo passando de porta em porta pelas casas da vizinhança par vender seus produtos. Ela vai ao shopping, de loja em loja.

 

E é claro que alguma amiga compradora ligou para ela me delatando no intuito de obter algum desconto mais tarde pela ajuda.

 

– Eu... – Já ia inventar alguma desculpa qualquer e fugir para o meu quarto, na tranqüilidade da minha cama, mas ela me cortou.

 

– Finalmente você fez um amigo! Não que eu não goste do Max, mas você só anda com ele desde sempre, acho que é bom conhecer mais pessoas... Estou tão orgulhosa de você! Eu comecei a matar aula na quinta série, mas finalmente você aprendeu a despistar os professores! Queria tanto que o seu pai estivesse aqui agora para ver isso... O Max está te esperando lá em cima, ele veio assim que soube da sua escapada! Vai logo trocar de roupa para a gente sair! Isso merece uma comemoração! Vamos almoçar todos juntos! Você não quer convidar o seu novo amigo? Eu quero conhecê-lo! Mas tudo bem... Acho que vamos ter tempo para conversar sobre isso depois... Vai logo! – Fui praticamente atropelado pela minha mãe que me empurrava escada acima.

 

Quando acontece algo assim eu penso que sou mesmo um caso sem cura. Está nos meus genes, não tem como mudar. Um mal de família. Certo, acho que isso é só uma besteira de quem está se acovardando. Não existe idiotice hereditária, dizer que é tudo culpa da minha mãe seria fugir de meus problemas.

 

Eu pensava que ao abrir a porta do meu quarto estaria livre de perguntas. Enganei-me. A única diferença era que antes eram feitas uma atrás da outra sem espaço para resposta pela minha mãe e agora as mesmas eram feitas em um tom mais calmo pelo meu melhor amigo.

 

– E então? O que você fazia no shopping, Jesse? – Perguntou Max, que estava deitado na minha cama, provavelmente dormindo antes de eu chegar.

 

– Te acordei? – Ignorei sua pergunta.

 

– O que você acha? É meio impossível dormir com o estardalhaço que a tia Érika fez quando você chegou. – Reclamou como se estivesse em sua própria casa. Talvez estivesse mesmo, já que ele fica mais aqui do que em qualquer outro lugar.

 

Além disso, Max nunca se refere à minha mãe como “mãe do Jesse”. Ele sempre a chama de tia Érika. É porque chamar ela de tia em sua frente é a mesma coisa que assinar sentença de morte, então ele acha que tem que aproveitar quando ela não está por perto para chamá-la de tia. O que ele não sabe é que pelo meu quarto ter a porta virada para a escada, o som ecoa para o andar de baixo. Ou seja, minha mãe escuta tudo. E quase tem uma convulsão te tanto rir, sempre que escuta ele chamá-la de tia. Claro que quando é na frente dela, a reação é qualquer coisa menos risos.

 

Ri um pouco da expressão de quem “acabou de acordar e ainda não tem controle total de seus atos” que ele fez e quase soltei um suspiro de alívio por ele ter esquecido por algum momento do motivo de estar ali.

 

Entrei no banheiro (meu quarto é uma suíte), me abaixei sobre a pia e joguei uma boa quantidade de água fria no rosto para espantar o sono. Meus planos de dormir a tarde inteira foram interrompidos pela insistência de minha mãe em uma comemoração. Sei que se eu trancasse a porta, me deitasse e ignorasse seus gritos ficaria de castigo por pelo menos dois meses sem computador. E, afinal, qual é o motivo da comemoração? Acho que vou morrer sem entender certas coisas...

 

– O que você fazia com o Charlie? – Quando eu escutei isso me esqueci completamente que estava com a cabeça debaixo d’água e respirei fundo. Comecei a tossir e Max se levantou rapidamente para vir me ajudar, mas sem conseguir conter um sorriso bobo diante da minha atrapalhação.

 

– Como você sabe que eu estava com o Charlie? – Perguntei, ainda um pouco pasmo, enquanto fechava a torneira e puxava uma toalha de baixo da pia para me secar.

 

– Não só eu, como o resto do mundo também. Ou você achou que fosse possível fugir da escola com o Charlie sem ser notado? Quando a primeira pessoa o viu passando pelo portão com você atrás em menos de dez minutos isso virou a fofoca do dia! Não duvido que você vire manchete no jornal amanhã. – Com certeza eu não esperava que isso acontecesse. Porque agora eu vou ser obrigado a me explicar. Eu sei que o Max é meu melhor amigo, me conhece há séculos e tudo mais, já está acostumado com as minhas idéias geniais nem tão geniais assim, mas até ele acharia estranho o acordo que eu fiz com o Charlie. Até porque agora que eu tive tempo para pensar realmente não faz muito sentido. Mas tanto faz pensar nisso agora. Já está feito, então eu tenho que falar alguma coisa.

 

Comecei a contar tudo para ele, a partir de quando eu subi para o telhado, até quando fui correndo para o ponto de ônibus na intenção de molhar o menos possível o casaco do Charlie. O que por sinal não adiantou muito, já que um caminhão passou em cima de uma poça d’água do meu lado e me molhou todo. Claro que tive que dar várias pausas em minha narração para o Max zoar de mim, se não ele ia ficar rindo e não ia prestar atenção no resto da história.

 

– Você não vai falar nada do tipo “a Zoey não merece tanto esforço”, ou algo parecido não? – Disse, quebrando o silêncio que se mantinha no quarto há alguns minutos, surpreso pelo Max não ter começado a falar mal da Zoey assim que eu desse uma brecha para ele falar.

 

Não é nenhum segredo que o Max não gosta nem um pouquinho da pessoa que eu amo tanto. Sempre que algo de ruim acontece comigo por causa dessa paixão não correspondida, ele até me dá o ombro para chorar, mas assim que eu me recupero, começa a falar na minha orelha que ela não é compatível comigo, que insistir com isso é besteira, etc...

 

Então é claro que eu fiquei chocado quando ele não teve reação nenhuma ao que eu tinha contado. Porque dentre todos os meus planos malucos para me aproximar dela, nenhum nunca chegou nem perto desse. Principalmente no nível de bizarrice. Porque se pensar um pouco, essa é mesmo a melhor palavra para descrever o meu plano. Bizarro.

 

– Não... Acho que talvez ela mereça... Quem sabe... – Respondeu pausadamente enquanto jogava algumas migalhas de ração no aquário do meu peixe. Que droga! Eu já falei umas mil vezes que o meu peixe só pode comer três vezes por dia! Mas ainda assim, sempre que o Max vem aqui ele fica dando ração toda hora... Simplesmente porque acha isso relaxante! Depois eu que sou idiota... Não me admiro que o bicho esteja gordo desse jeito...

 

– O que você fumou enquanto me esperava? – Perguntei desconfiado. Eu esperava que o Elvis admitisse que ainda está vivo antes do Max parar de implicar com a Zoey.

 

– Sabe... Eu sempre achei que a Zoey gostasse do Charlie simplesmente porque todo mundo gosta. É uma questão da natureza, eles combinam e pronto. Seria besteira interferir. Mas hoje quando ela o viu saindo pelo portão, a expressão de preocupação ficou tão aparente, que seria burrice não perceber que ela gosta dele muito, de verdade. – Não é como se saber isso me animasse. E como ele viu a expressão da Zoey se eles nem são da mesma sala? Certo, hoje tinha aula conjunta no laboratório de química, ele deve ter visto-a nessa hora...

 

– E qual é o sentido disso? Então, antes, quando ela não gostava dele de verdade, eu não tinha o direito “divino” de me aproximar, agora que ela gosta dele de verdade, eu tenho? – Como eu já disse: Acho que vou morrer sem entender certas coisas...

 

– Mas antes seria natural que ele se apaixonasse por ela, era só uma questão de eles combinarem. Mas agora, se ela gosta dele, pelo jeito que ele é, também pode gostar de você do jeito que você é. Até porque, é muito triste ver ela daquele jeito por causa dele. Ela merece alguém que a ame. – Continuou jogando ração na água. Eu já teria tirado o aquário de perto dele e dado um grande sermão sobre responsabilidade com os animais, mas estava com a mente muito turva para conseguir fazer isso sem tropeçar, cair e matar meu peixe de asfixia.

 

Afinal, não era só o sono que me deixava letárgico, mas também o casaco do Charlie, que eu ainda estava usando. Ele tinha um cheiro bom, mesmo molhado e sujo de lama.

 

Não entendi muita coisa do que o Max disse, mas achei melhor não discutir. Entrei novamente no banheiro e me despi para tomar um banho.

 

Continua...

 

 

 


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Notas finais do capítulo

O Max voltou! Ele tinha sumido, né? E até que esse capítulo saiu rápido... Eu não gostei muito dele... Apesar dele ter sido o meu maior até agora... Mereço reviews? Vou tentar melhorar o próximo...