Como Deixar de Ser Idiota em 30 Dias escrita por Lie-chan


Capítulo 11
Capítulo 11




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Como deixar de ser idiota em 30 dias.

 

Capítulo 11:

 

– Deixa de ser exagerado! Você vai atravessar essa rua agora! – Disse Charlie autoritário. É, quando ele quer, consegue ser chato!

 

– Eu não vou atravessar essa rua. – Por mais que eu quisesse gritar com ele, só conseguia, no máximo, ser sério. Mesmo que eu tivesse conseguido controlar minha tremedeira, ainda continuava imóvel.

 

Por que os ET’s não podem decidir que esse é o momento perfeito para atacar e invadir a Terra? Eles acabariam com o meu constrangimento e de quebra eu ainda descobria se eles são verdes ou azuis. Mas algo me diz que eles são vermelhos, vai saber.

 

– Deixa de agir como um bebê, você não vai ser atropelado! – Agora ele estava completamente impaciente e seu olhar demonstrava praticamente fúria. Credo, como ele é estressado...

 

Talvez ele esteja mesmo com a razão... Certo, eu tenho certeza que ele tem razão. Mas isso não muda a minha situação de completo pavor. Ah! Cadê os ET’s quando a gente mais precisa deles? Esses bastardos aparecem quando precisam de espaço para uma via galáctica¹ e são egoístas demais para aparecer quando eu preciso da Terra destruída...

 

– Mas eu não quero atravessar... – Respondi contrariado, soprando uma mecha de cabelo para o alto. Obviamente ela logo voltou ao seu lugar, sobre o meu olho, graças à lei da gravidade, mas aquilo me irritou profundamente. Se nem o meu cabelo me respeitava, imagine só o resto do mundo!

 

Mas foi só dizer isso que de repente me veio uma vontade enorme e arrebatadora de atravessar a rua. Não que eu tivesse mudado de idéia em relação aos riscos de ser atropelado. É que agora eu queria sim ser atropelado. Porque, como sempre, ele estava totalmente certo em relação a mim. Eu estava mesmo agindo como um bebê fazendo birra.

 

– Vamos logo... – Ele tentou esboçar um sorriso, mas sua impaciência comigo ainda estava bem clara. Tão clara que eu acabei deixando escapar um leve riso, bem baixo, diante da careta que ele considerava como alegre. Mas não foi baixo o suficiente.

 

– O que foi? – Acho que preciso de óculos! Da ultima vez que fui a um oftalmologista ele disse que a minha miopia era praticamente insignificante, mas desde então ela deve ter subido uns cinco graus. Porque de qualquer outro modo eu não estaria vendo isso. De jeito nenhum. Ele estava corado? Eu fiz o Charlie ficar corado?

 

Sim. Era apenas um leve rubor, mas ainda era um rubor.

Agora eu entendi tudo! Eu achava que os ET’s não iam invadir a Terra, mas na verdade eles já invadiram e colocaram algum tipo de chip ultramoderno no cérebro das pessoas para controlar suas mentes em algum tipo de plano maléfico para dominar a humanidade!

 

– É que você fica engraçado tentando sorrir! – Eu falei isso na minha maior inocência, sem nenhuma intenção de ofender. Até porque, sem chances de alguém não concordar comigo que ver uma pessoa que geralmente nunca, jamais, em hipótese alguma, sorri, sorrindo, é estranho. Bem estranho. E tentando sorrir, fica pior ainda.

 

Mas é claro que ele não achou isso. E em apenas alguns milésimos de segundo ele voltou à sua expressão carrancuda de sempre. E se eu falasse para qualquer um que antes aquela mesma pessoa ficou corada por causa de um comentário aleatório sobe seu sorriso, acharia que eu estou drogado. Bem, talvez eu esteja mesmo, mas estou doidão demais para saber. Ouvi dizer que dependendo da dor de cabeça o cérebro pode liberar endorfina² suficiente para deixar o corpo em torpor...

 

– Eu só estou tentando te ajudar, idiota. – Respondeu sério. E eu já estava achando que estava tudo bem, nós poderíamos seguir normalmente para o restaurante e esquece essa história de atropelamento... Mas eu estava terrivelmente enganado.

 

Quando ia me virar para continuar andando, senti meu pulso sendo segurado com demasiada determinação, forçando-me a olhar para trás. E eu não gostei nenhum pouco do que vi.

 

Um sorriso que eu só poderia descrever como sádico contornava seus lábios, junto com um estanho brilho em seu olhar. E antes mesmo que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, ele estava me puxando para o meio da rua.

 

Meu primeiro impulso foi gritar, mas travei de tal forma que isso se mostrou impossível. Até porque, mesmo que eu gritasse não teria ninguém ali para me escutar. Era só eu, ele, a rua e um ônibus em alta velocidade que poderia possivelmente passar a qualquer momento.

 

Se antes eu ainda tinha alguma esperança de que os ET’s realmente apareceriam para me ajudar, esta se dissipou completamente. Aliás, agora nem sei se continuo acreditando em vida fora da Terra.

 

Instintivamente fechei os olhos, esperando que aquilo acabasse logo. Minha pele estava arrepiada, mas pelo menos não tinha começado a tremer novamente.  Comprimi mais as minhas pálpebras esperando pelo pior. Já podia até ouvir em algum canto obscuro de minha consciência o som abafado da batida e do meu sangue jorrando, manchando o asfalto de vermelho. Batida esta que nunca veio.

 

Abri os olhos, primeiro um depois o outro, quando percebi que já estava do outro lado. E, por incrível que pareça, nem foi tão ruim assim. Soltei um audível suspiro de alivio.

 

Mesmo antes de mirar o rosto de Charlie, já tinha uma leve impressão de como ele estaria sorrindo. E dessa vez não seria uma careta.

 

Falando em careta, provavelmente essa é a melhor palavra para se referir ao meu rosto no momento. Eu sabia que estava com a boca aberta, querendo falar alguma coisa, mas não conseguindo, com os olhos arregalados e sem foco, um pouco pálido, apesar do sangue que subiu à minha nuca.

 

– Viu? Você está vivo. – Soltou o meu pulso, que eu nem reparei ele ainda estar segurando, de tão atordoado que estava.

 

– É... Eu ainda estou vivo... – Respondi, enquanto massageava minhas têmporas com o polegar, na intenção de acalmar-me melhor. Permiti-me sorrir também.

 

Não pude deixar de reparar na inquietação que a palavra “ainda” causou nele, mesmo que ela não tenha sido pronunciada com alguma ênfase. Mas nenhum de nós dois tocou no assunto.

 

Talvez porque ele já imagina qual seria a minha resposta – com algum tempo de convivência eu me torno bastante previsível. No entanto, talvez porque não faz a menor idéia e tem algum temor em descobrir.

 

Mas o que ele queria? Eu acabei de superar um trauma! Isso é um grande passo para eu deixar de ser idiota (acho). E estando em completa noção de que esse não seria nem o começo das coisas que eu terei de fazer, imagina-se que correr risco de vida faz parte. Ou não. Mas é melhor esquecer esse assunto por hora.

 

Continuamos a andar, mas uma coisa ainda me incomodava...

 

– Ei, por que você estava chorando agora pouco? – Perguntei apressando um pouco o passo para ficar a sua frente. A curiosidade era nítida em minha fala.

 

– Eu não estava chorando. Por acaso você está bêbado, é? – Ao meu parecer ele parecia estar sendo sincero, mas não dá para ignorar aquelas lágrimas que eu vi caindo na alçada há nem tanto tempo assim.

 

– Mas eu te vi chorando! Quando o seu cadarço começou a desfiar... – Continuei.  Uma hora ou outra ele ia ter que falar. Ninguém é tão cara de pau assim, não é possível!

 

-Ah, aquilo. – Ele mostrou ter se lembrado de alguma coisa. – Foi um cisco que entrou no meu olho quando eu abaixei para ver o tênis... Não acredito que você pensou mesmo que eu estava chorando! – Uma pessoa que se importa com os sentimentos alheios, ou pelo menos que seja um pouco educada, fingiria não ter notado o meu desconcerto. Mas, bem, era o Charlie, então logo o som de uma risada divertida adentrou os meus tímpanos. Porque era só olhar para mim, mesmo que brevemente, para se constatar que era exatamente isso que eu tinha pensado.

 

Fiquei sem palavras. Apenas continuei andando como se nada houvesse acontecido. Mas foi só quando já estávamos na porta do restaurante que reparei em uma coisa: Tínhamos nos esquecido de comprar o durex! Eu atravessei a rua à toa...

 

Continua...

 

(1)   Referência ao filme “O Mochileiro das Galáxias”.

 

(2)   A endorfina é um tipo de hormônio produzido na hipófise, visando relaxar e dar prazer, despertando uma sensação de euforia e bem-estar.


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Notas finais do capítulo

Ah, desculpem minha demora!
Passei uns dias na casa da minha vó e fiquei sem pc...
Mas mesmo assim acho que nunca escevi um capítulo tão rápido... Esse saiu em quatro horas!
As minhas férias estão acabando e eu não vou mais ter tanto tempo...
Eu posso demorar mais a partir de agora, mas nunca vou abandona a fic!
Obrigada a todas as reviews até agora, nunca tinha recebido tantas!
Kissus ;*