Aquele corredor começou a parecer maior. Muito maior do que realmente era, quando Sirius localizou ao longe, seu irmãozinho. ‘Inho’ não. Irmão. Já fazia muito tempo que Regulus não era seu irmãozinho.

Muito.

Ele teria continuado a andar. Passaria pela turma de babacas amigos de Regulus, ignoraria seus olhares inquisidores, e iria para seu salão comunal dourado e vermelho. Só que um pequeno detalhe chamou sua atenção.

Regulus dirigiu sua mão fria e branca, repleta de machucados, até a manga de sua camiseta. Sirius pediu a Merlin, a Deus e a seu falecido Tio Alphard que Regulus não fosse mostrar algo. Rezou para que estivesse com coceira no braço, uma hipótese idiota.

O coração do Black mais velho falhou por um segundo quando a manga da camiseta comprida foi levantada revelando a extensão do pulso até o antebraço. Naquele pedaço do braço alvo do irmãozinho de Sirius estava uma marca negra.

Sim, irmãozinho. Sirius parou de raciocinar por alguns momentos. Marca Negra. Marca Negra num braço. Marca negra no braço do meu irmão.

-Caramba, Regulus! – Exclamou um garoto. Provavelmente Yaxley, que ficava babando em Regulus.

-Eu sei. Incrível, né? – Exclamou Regulus, praticamente dançando naquele corredor vazio. A garota Parkinson passou a mão pela marca, e Regulus corou.

Sirius imaginou os dois num corredor, conversando sobre garotas e rindo. Regulus com seu uniforme vermelho e dourado, rindo com o irmão sem parar. Imaginou Regulus pedindo conselhos sobre garotas, e Sirius os dando.

Construiu uma cena maravilhosa, onde James e Regulus tiravam com a cara de Sirius com algum brinquedo da Zonko’s, e Sirius berrava de irritação, mas ria por dentro. E Remus vinha logo atrás, censurando os dois. E Peter sorria alegre e acompanhava os amigos nas gargalhadas.

Imaginou situações diversas, envolvendo seu irmão num uniforme vermelho e amarelo.

Mas Sirius sabia que seria impossível. E sabia que nenhuma daquelas hipóteses um dia iria ocorrer.

Pelo menos não depois de ter visto o que viu. Aquela marca nojenta e desprezível no braço pálido de seu irmão.

O coração de Sirius se despedaçava em milhões de pequenos pedaços. O restinho de esperança que ainda tinha havia sido exterminado naquele duro e deprimente momento. Sentia-se desolado.

Como se aquilo tudo fosse culpa dele.

E realmente, na cabeça dele, fazia parecer ser. Na cabeça de Sirius, se ele não tivesse ido para a Grifinória, Regulus não teria uma marca negra no braço. Se ele não tivesse mudado, Regulus não teria uma marca negra no braço. Se ele...

Se Sirius não fosse Sirius, Regulus não teria uma marca negra no braço.

Só que tinha um pequeno problema. Sirius era ‘Sirius’. E sabia que não mudaria. E sabia que se tivesse a chance de voltar a trás, faria tudo novamente. Procuraria jeitos de tirar o irmão daquela enrascava que o menino julgava tesouro, mas não mudaria nadinha do que havia feito.

Nenhuma coisa.

E foi assim que ele respirou fundo e saiu de trás da pilastra onde estava. Caminhou lentamente em direção das escadas.

Quando passou por Regulus, olhou rapidamente para o irmão.

Seus olhos estavam arregalados e ele estava pálido. Cada feição do rosto do sonserino estava surpresa e assustada.

Sirius continuou caminhando, sem mudar sua expressão deprimida. Ignorou os chamados inquisitivos de James, e foi para o quarto. Enfiou-se de baixo das cobertas, e fingiu dormir. Ele só queria um pouco de silêncio. Ele só queria tirar aquela maldita cena da cabeça dele.

A cena que o perseguiria para o resto de sua vida, que naquele momento lhe parecera mais amarga.

E Regulus nunca mais iria esquecer, nunca mesmo, do olhar decepcionado que viu no rosto do irmão mais velho.