Nunca Mais Serei Livre

Aqui, um pouco de perfume. Ajeito a gravata, olho no espelho e a vejo. Marlene pode entrar mais tarde na redação, então acorda quase uma hora mais cedo do que eu. Lucy está do lado da cama, aproveitando sua caminha macia, presente de aniversário de Marlene para ela. Olho em volta, sorrindo para mim mesmo. Alguns meses de economia e conseguimos comprar o apartamento novo que queríamos. Um pouco maior e melhor que o meu, mas não tão exagerado quanto o dos pais de Marlene.

Quase um ano depois do casamento de James e Lily, a vida mudou bastante. Me mudei com Marlene há quase três meses, mais ou menos na mesma época que fui promovido a agente de contratos e abandonei meu antigo emprego na Vesper. Não me arrependo, posso passar todas as noites curtindo minha noiva e consigo dormir muito mais.

Ah, sim. Marlene e eu estamos noivos. Depois de uma visita à Londres e alguma insistência de James, a pedi em casamento. Tenho plena consciência de que nunca mais serei livre, mas de alguma forma isso não me incomoda.

Marlene entreabriu os olhos, me olhando sonolenta. "Ainda não saiu?" ela pergunta. Balancei a cabeça, apontando para as chaves da moto. Vou até ela lentamente e me inclino para beijar seus lábios, tão convidativos quanto a cama quentinha e macia.

Mas não é disso que eu vivo, né? Desço o elevador e monto a motocicleta, parando só em frente à agência. Assim que entro na divisão da Manhattah Models vejo Sue, que me olha com orgulho, afinal, foi ela quem me arranjou a promoção. Ainda tenho a sorte, mas agora não consigo me virar tanto assim.

- Tenho mais duas meninas entrando, consegue redigir as adaptações contratuais ainda hoje? – ela pergunta, e eu tiro da mão dela os dois papéis assinados. Vou até meu canto e começo a trabalhar neles, até que uma janela sobe no canto da tela do meu computador, indicando uma nova mensagem recebida.

Sirius & Marlene

O bebê nasceu! Seu nome é Harry, e vamos batizá-lo nesse fim de semana. Estou tão feliz que vocês nem conseguem imaginar, um filho meu! Mamãe disse que ele é a minha cara, só que mais bonito, porque tem os olhos verdes da mãe. Vocês dois estão obrigados a ir, porque serão os padrinhos dele. Não tem nem discussão, viu!

Com saudades,

James.

Sorrio para a tela. Lily engravidara três meses depois que eles casaram, e todos ficaram muito felizes. James já tinha brincado sobre convidar a mim e a Lene para ser padrinhos, mas achei a ideia tão absurda que nem dei importância. Agora estava confirmado, teríamos de dar um pulo em Londres.

Disco o número do celular de Marlene.

- Marlene. – ela atende sempre da mesma forma, e começo a rir. – Oi, Sirius. Que foi?

- Já abriu seu e-mail?

- Não, por quê?

- O filho de James nasceu.

- Oh, Meu Deus! Filho, você disse? Então é menino?

- Isso. Harry é o nome.

- Own, deve ser lindo!

- James escreveu que a mãe dele falou que era a cara dele, mas com os olhos de Lily.

- Eu quero ver esse bebê!

- Vamos ver com certeza, o batizado é esse fim de semana e somos os padrinhos.

- Oh! – ela se emociona do outro lado. – Então temos duas ótimas notícias!

- Duas? – pergunto, curioso. Marlene começa a rir.

- Vai querer morrer.

- O que aconteceu? – começo a ficar preocupado.

- Vamos ter de casar em cinco meses. – ela sugere, e um frio começa a descer pela minha espinha.

- Por quê?

- Porque estou grávida.

Uma pedra de gelo e outra de ansiedade descem pelo meu esôfago. "Sério?" gaguejo, e posso sentir Marlene assentindo do outro lado. "Como isso foi acontecer?"

- Não sei, sempre tomo cuidado, mas... Ah, eu quero esse bebê.

- Tudo bem, eu... Eu vou ver.

Desligo o telefone, chocado. Que tipo de pai vou ser? Do tipo jovem e divertido, uma voz ecoa dentro da minha cabeça. Respiro fundo e resolvo encarar mais essa situação, como sempre fiz. Mas meus pais vão me fazer querer matá-los.

Agora, literalmente, nunca mais serei livre. Mas talvez eu goste. E Lucy vai ter de me dividir com mais outra pessoa.