Diário Aberto, Amor Secreto escrita por Hina Townsend


Capítulo 6
Motivo




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Cap. 6 - Motivo

Em menos de cinco minutos duas coisas inacreditáveis aconteceram:

Coisa Inacreditável Número Um: Hermione Granger, a garota mais inteligente de Hogwarts, tinha cometido um erro catastrófico em uma poção. Uma poção que até Neville Longbottom tinha conseguido fazer sem maiores problemas.

Coisa Inacreditável Número Dois: Draco Malfoy, grande inimigo de Hermione Granger e de todos os nascidos trouxas, tinha se declarado culpado pelo acidente, o que provavelmente salvaria a grifinória de uma detenção.

Será que dava para esse dia ficar mais estranho?

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- A culpa foi minha, professor – disse Malfoy com a voz firme, como se não tivesse duvidas sobre o que estava fazendo – Eu sabotei a poção da Granger. Ela não fez nada de errado.

            Hermione não sabia o que pensar. Ela definitivamente não esperava por aquilo. Sim, o Malfoy estava se comportando de um jeito estranho ultimamente, mas daí a assumir a culpa por algo que ele não fez só para salva-la de uma detenção era um salto gigantesco. Não se encaixava na imagem do garoto mimado e egoísta que ela tinha de Malfoy.

            Ela estava tão chocada que só percebeu que a sala estava quase vazia quando Harry começou a puxá-la pelo braço na direção da porta. Ela se deixou levar e, quando se deu por si, já estava no Salão Principal, sentada em uma cadeira, com seus dois melhores amigos olhando para ela preocupados.

            - O que exatamente aconteceu lá dentro? – perguntou Harry. Ele tinha visto o “acontecimento” todo, mas nada tinha feito sentido para ele, ou para qualquer pessoa que tinha presenciado a cena.

            - Eu não faço a menor idéia. – respondeu Hermione com toda a sinceridade do mundo. Ela sempre se orgulhava de saber mais do que qualquer pessoa a sua volta, mas, nesse caso, ela sabia tão pouco quanto qualquer um. E aquilo a assustava e frustrava ao mesmo tempo. Ela detestava não ter todas as respostas.

            - Eu nem percebi que o Malfoy sabotou a sua poção! – disse Rony, parecendo mais zangado do que curioso.

            - Ele não fez nada com a minha poção. – disse Hermione, novamente com sinceridade. Se ela se lembrava bem, Malfoy tinha até mesmo tentado alerta-la sobre o erro. Fora que, se ele tivesse mesmo sabotado a poção dela, não faria sentido que ele confessasse isso para Snape. Se a intenção de Malfoy era deixá-la encrencada adulterando a poção dela, ele teria o maior prazer em ver a garota pegando uma detenção pesada. Mas parecia que não era esse o caso. Malfoy simplesmente a salvara.

            Hermione precisava descobrir o porquê daquela mudança drástica em Malfoy. E, para isso, precisava conversar com ele. A sós.

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            Draco não poderia ter tido uma idéia melhor. Ele tinha passado dias e dias pensando em maneiras ganhar a confiança da Granger de forma rápida, sem sucesso. Todas as suas idéias pareciam muito trabalhosas ou dependiam demais da sorte, coisa que ele nunca tinha quando o assunto era a grifinória. Quando ele já estava começando a ficar sem idéias, surgiu a sua grande chance de bancar o príncipe-encantado-que-chega-para-salvar-o-dia e obrigar a Granger a reconhecer que ele estava tentando se redimir. Brilhante, totalmente brilhante.

            Assim que os últimos alunos saíram, a Granger sendo a última, puxada pelo Potter, ele e Snape ficaram sozinhos. Snape não parecia ter acreditado em uma só palavra que Draco tinha dito sobre ser o culpado pelo incidente, mas, como Draco tinha se declarado culpado e não existiam provas concretas provando o contrário, Snape era obrigado a aceitar a palavra do garoto, por mais que lhe desagradasse ter que punir um aluno de sua própria casa.

            - Madame Pince comentou que as estantes de Estudo dos Trouxas da biblioteca estão terrivelmente desorganizadas. Sua detenção será arrumar os livros em ordem alfabética por uma semana ou até organizar todos os livros, o que vier primeiro. – disse Snape, em um tom de voz monótono e sem olhar direito para Draco.

            - Sim, professor.

            - Espero que saiba o que está fazendo, Sr. Malfoy. – dizendo isso, Snape deu as costas para o loiro e entrou em sua sala, deixando Draco sozinho na sala de aula.

            Draco nem ia questionar o fato de que ele tinha recebido uma detenção muito mais leve e curta do que Hermione recebera. Ou teria recebido, Draco se corrigiu mentalmente, se ele não tivesse se adiantado para o resgate dela.

            O garoto ainda estava impressionado com seu pensamento rápido naquela situação. Salvar a Granger tinha sido um golpe de gênio. Agora ela não poderia mais continuar fingindo que não notava o “novo” Draco.

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A história de que Draco Malfoy tinha assumido a culpa pelo desastre na aula de Poções para salvar Hermione Granger tinha se espalhado rapidamente pelo castelo, de modo que, até a hora do jantar, todos os alunos, de todos os anos e de todas as casas já sabiam tudo o que tinha para saber sobre o assunto. Na verdade, quase tudo: eles tinham o “que”, o “quem”, o “como”, o “onde” e o “quando”; só falta o “por que”.

            Por não saberem esse último detalhe sobre a grande fofoca do momento, grande parte dos estudantes (em especial as garotas) passou a metade do tempo do jantar olhando do sonserino para a grifinória e conversando aos cochichos, comparando teorias.

            Hermione fingia não notar os olhares e os cochichos. De vez em quando, ela ouvia coisas como “...será que eles estão namorando escondidos?” ou “...quero só ver o que o pai dele vai achar disso...” ou o preferido dela até o momento: “... aposto que ela colocou Amortentia na bebida dele...”. Porém, ela só conseguiu ouvir a única fofoca na qual estava interessada quando Katie Bell sussurrou para uma das amigas “...ele só vai ter que ficar uma semana na biblioteca organizando os livros. Sabia que o Snape ia facilitar para o Malfoy...”

            Uma semana na biblioteca. Aquilo realmente parecia injusto considerando que Snape estava prestes a deixá-la um mês de detenção antes que Malfoy interferisse. Mas ela não iria reclamar. O motivo para ela querer saber qual seria a detenção de Malfoy era outro: ela achava que a detenção seria o melhor momento para conseguir ficar sozinha com Malfoy e, enfim, tirar a limpo essa história toda.

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            Draco tinha que admitir: ele não pensara em tudo. Quando ele se congratulava por sua própria genialidade ao salvar a Granger, ele não tinha se dado conta de que todos os seus colegas da Sonserina tinham visto seu “ato heróico”. E agora ele pagava o preço de seu descuido.

            Os sonserinos mais velhos se limitavam a olhá-lo com profundo desprezo, logo antes de decidirem por ignorá-lo por completo. Os alunos mais novos, quem sempre viram Draco como alguém a se admirar, pareciam extremamente confusos e alguns até se recusavam a acreditar nos boatos. Os alunos do mesmo ano que Draco, que tinham presenciado a cena toda, estavam profundamente chocados. Alguns, como Pansy Parkinson, não paravam de lhe perguntar o porquê de ter feito aquilo. Para esses alunos, Draco já tinha preparado uma resposta-padrão que ele repetia palavra por palavra:

            - Não era justo que alguém ficasse um mês de detenção por algo que eu fiz. Mesmo esse alguém seja a Granger.

            - “Não era justo”? – Blaise Zabini repetiu com incredulidade ao ouvir a resposta pronta de Draco pela oitava vez – Por acaso você se transferiu para a Lufa-Lufa a esqueceu de avisar a gente?

            Claro que Draco poderia contar a verdade sobre tudo. Mas, sempre que ele pensava em falar com seus companheiros de casa sobre o que estava fazendo, ele rejeitava a idéia quase imediatamente por três motivos.

            O primeiro motivo era de ordem prática: ele achava que talvez eles pudessem atrapalhar. Se muitas pessoas soubessem de seu plano para se aproximar da Granger, isso poderia acabar chegando aos ouvidos da garota a destruir quaisquer chances de sucesso de Draco.

            O segundo motivo, que Draco demorara a admitir até para si mesmo, era um pouco mais profundo: ele sabia que, se contasse tudo aos colegas, teria que deixá-los ler o diário da Granger e, por alguma razão, essa idéia não o agradava nem um pouco. Ele evitou pensar muito sobre o motivo desse desagrado.

            E o terceiro motivo – e o mais importante de todos – era o que o deixava mais pasmo: ele não tinha mais certeza de que sabia o que estava fazendo.

            Assim que começara a ler o diário, Draco tinha uma idéia clara do que queria: provar para todos que a Granger, apesar de toda a sua pose de sabe-tudo, não passava de uma garota comum e patética que tinha uma queda por ele. Draco queria fazê-la admitir sua atração por ele cara a cara só para magoá-la e mostrar que ela não é tão inatingível assim. Ele lia o diário ia ficando cada vez mais óbvio que, debaixo de todo aquele ar de superioridade que ela sempre fazia questão de ostentar quando estava na presença dele, existia uma garota insegura de dezesseis anos.

            O problema era justamente esse. Ele lera o diário várias vezes a fim de memorizar informações que pudessem vir a ser úteis no futuro, mas aquilo tinha tido uma conseqüência gravíssima: sem querer, ele tinha descoberto coisas sobre ela que ele não sabia nem mesmo sobre seus mais velhos amigos. Agora ele sabia qual era o chocolate preferido dela (branco com passas), a sua banda favorita (uma banda trouxa chamada The Beatles) e até mesmo a profissão que ela pretendia ter antes de descobrir que era bruxa (ela queria ser astronauta, o que quer que isso seja). Depois de estudar na mesma escola que a Granger por anos e trocar insultos com ela pelo menos duas vezes por mês, ele começava a sentir que realmente conhecia a garota, o que tornava bem mais difícil alcançar seu objetivo de magoá-la. Afinal, era muito mais fácil odiar alguém que não se conhece.

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            - Pode me emprestar a capa da invisibilidade?

            Já estava era tarde e todos os alunos deveriam estar em suas casas se preparando para dormir. “Menos o Malfoy” pensou Hermione “Ele está na biblioteca cumprindo a detenção e eu tenho que arrumar um jeito de ir para lá também.” E, para isso, ela precisava da capa.

            - Por que você quera a capa – perguntou Harry, achando estranho o pedido da amiga.

            - Eu queria ir até a cozinha. Ouvi dizer que chegaram mais elfos em Hogwarts. Quero ver se consigo convencer alguns a lutarem por seus direitos. – respondeu Hermione, que já tinha preparado essa resposta de antemão, para o caso de Harry ficar desconfiado. Ela estava até segurando a caixa com os distintivos do F.A.L.E., confirmando a sua história.

            Hermione não estava exatamente mentindo, ela realmente queria falar com os elfos. Ela só omitiu que, ante de ir à cozinha, pretendia passar na biblioteca para conversar com um certo sonserino loiro.

            - Eu te empresto a capa se eu não precisar ir junto.

            - Eu também não quero ir! – Rony, que estava sentando numa poltrona ao lado de Harry se apressou a dizer. – Sério, Mione, você tem que deixar os caras em paz. Eles já devem estar até dormindo. Os coitados trabalham tanto! Qualquer dia desses eles vão te expulsar da cozinha e te proibir de voltar.

            - Ótimo, eu vou sozinha! – disse Hermione, fingindo uma leve irritação. – Então Harry, pode pegar a capa para mim?

            Menos de cinco minutos depois e Hermione já estava coberta pela capa, segurando a caixa do F.A.L.E. e percorrendo os corredores escuros de Hogwarts até a biblioteca. Ela mal podia enxergar onde estava indo, mas usar a varinha para iluminar o caminho era muito arriscado e, além do mais, ela saberia o caminho para a biblioteca de olhos fechados.

            Quando chegou na porta da biblioteca, ela hesitou. Era provável que apenas Malfoy estivesse ali naquele horário, mas e se tivesse mais alguém? E se Madame Pince tivesse decidido ficar para supervisionar a detenção? Ou o Filch? Ou pior ainda, Snape? Pela primeira vez ela se tocou de que poderia se dar mal por causa daquela aventurazinha. E estava fazendo aquilo para ficar a sós com o Malfoy, de todas as pessoas.

            Ficar a sós com o Malfoy. Ela ia ficar a sós com o Malfoy. Hermione se sentiu invadida pelo pânico. Ela nunca tinha ficado sozinha com Malfoy. Sempre havia Crabbe e Goyle, do lado de Malfoy e Harry e Rony, do lado dela. Isso tornava esconder aquilo, aquela atração irracional e inexplicável que ela sentia pelo loiro, muito mais fácil. Se ela tivesse que ficar sozinha com ele em uma biblioteca deserta, talvez ele pudesse enxergá-la de verdade. De repente, Hermione não sabia se tinha mais medo de encontrar mais alguém na biblioteca supervisionando Malfoy ou de não encontrar. Parecia que a coisa mais sensata a fazer no momento era dar meia volta e ir direto para a cozinha.

            Mas e a curiosidade? E o desejo de perguntar por que ele tomou aquela atitude tão nobre e inesperada? E a esperança miudinha, mas que Hermione ainda alimentava, de que Malfoy pudesse não odiá-la?

            Resolvida a arriscar e colocar a emoção antes da razão pelo menos uma vez na vida, Hermione esticou a mão para a porta e girou a maçaneta.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo ficou super parado, eu sei, mas ele é extremamente necessário para a história. Eu tinha que colocar essas reflexões dos dois. Considerem esse capítulo como o “ponto de virada” pois, a partir do próximo, o relacionamento do Draco e da Hermione vai começar a avançar. E uma boa notícia: já que eu fiz a última prova do vestibular nesse domingo, vou ter bastante tempo livre daqui pra frente e vou poder atualizar a fic com mais freqüência!
É isso aí, obrigada a todos os que acompanham a fic!
Até mais!