Remendo escrita por juvsandrade


Capítulo 8
Paciência


Notas iniciais do capítulo

Leia escutando Fleetwood Mac - Landslide.



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"— Sei que é um tanto quanto estranho conversar sobre isso, querida, mas acho que é à hora ideal. Não posso falar que esse é um assunto fácil de ser discutido, ainda mais com uma garota tão inteligente quanto você, mas eu sou a sua mãe, e acho que não há outra pessoa no mundo melhor para conversar sobre esse assunto. — a Sra. Granger pegou a filha desprevenida. Hermione mal desfizera as malas do seu quinto ano em Hogwarts e a sua mãe lhe surpreendera com algo ao qual ela esperava nunca precisar conversar...
— Mamãe, nós não precisamos conversar sobre isso. — Hermione escondeu um rosto escarlate entre as mãos e sentou na cama, abraçando o travesseiro e desejando, como quase nunca, sumir. — Eu não... Tenho... Que me preocupar com isso.
— Ainda, querida. — sem jeito, a Sra. Granger sentou ao lado da filha e acolheu-a em um abraço terno. — Sei que a sua cabeça está ocupada com outras coisas no momento, porém, acho que está na hora. Você não é mais uma criança... Na verdade, sei que você é uma mulher desde que saiu daqui de casa pela primeira vez. Você passou a tomar as suas próprias decisões, a seguir os seus próprios caminhos... E querida, você nem imagina como você se transformou em uma bela mulher. — desacostumada com uma conversa feminina, Hermione deixou-se tomar pelos braços da mãe e encolheu a cabeça em um dos ombros dela, escutando as palavras em silêncio e memorizando-as, como sempre fazia. — Antes de qualquer coisa, eu quero dizer que, acima de tudo, você precisa se respeitar. Sinto-me uma boba falando para você a pensar antes de agir, a controlar os seus impulsos, mas, querida, quando nosso coração implora por alguém, eu sei o quanto é difícil escutar apenas a voz da razão. A voz do coração se torna bem mais alta, ativa, presente... E talvez se torne irresistível também. — a Sra. Granger sorriu, ao vazio, acariciando os cabelos levemente cacheados da filha e escutando-a tragar a saliva, provavelmente tão desconcertada quanto ela. — Você precisa respeitar o seu corpo e o seu coração, querida. Sempre, independente da situação ou do sentimento.
— Eu me respeitarei, mamãe. Nós realmente não precisamos falar sobre...
— Hermione, por favor, não ache que as coisas estão sendo mais difíceis para mim do que para você. Arrependo-me por não ter conversado mais vezes com você sobre assuntos de garotas... Contudo, quando você volta para casa, quero passar o tempo que me é permitido ao seu lado, grudada em você, querendo saber como foram as suas aulas, o que você e os seus amigos fizeram, onde vocês foram, se ocorreu algo diferente, que os minutos que me sobram para falar sobre coisas simples e essenciais acabam sendo deixados de lado. Por isso sim, precisamos falar sobre isso. Talvez você não utilize os ensinamentos dessa conversa logo, mas tenho certeza que um dia você os usará... — rendida e um tanto quanto lastimosa por notar o quanto fazia falta a sua mãe, Hermione concordou com a cabeça, pedindo sem dizer para ela prosseguir: — Arrependo-me também por não ter convidado o seu — pausa — amigo e a família dele para virem tomar um chá. Eu gosto tanto daquele garoto... — engolindo em seco e afastando-se por exaltar-se, Hermione arregalou os olhos e mirou a mão, como quem quisesse dizer que não entendia o que lhe era falado. — Ora, Hermione, você acha mesmo que eu não sei? Que eu não vejo nos seus olhos?
— Eu não... Não é... Não... Ronald... — a gagueira, que não lhe era comum, acabou delatando-a por completo. — Somos... Amigos...
— Hermione, eu preciso dizer que eu sempre fui muito orgulhosa de você e fiz questão de me gabar, mesmo sem perceber, para as minhas colegas ao seu respeito. Escuto-as contar causos das filhas problemáticas, que fogem de casa no meio da noite, fazem tatuagens escondidas ou mentem descaradamente... Você não. Você sempre me falou a verdade, e espero que você não comece a mentir agora... Eu vejo em seus olhos, querida... Quando você fala sobre Harry, há um brilho cintilante neles, mas quando você fala sobre Ronald... Hermione, eu adoraria que você pudesse ver os seus olhos como eu posso. É como ver ao vivo e em cores a cena mais bonita de um livro de romance. — ao notar que a filha voltara a abaixar a cabeça para olhar para as próprias pernas, a Sra. Granger tornou a avizinhar-se, guardando-a mais uma vez em seus braços e sorrindo em seus cabelos. — O amor é confuso, muitas vezes é sufocante, e quase sempre é de enlouquecer, todavia, há os seus lados bons e os seus ganhos. Sei que você ainda é uma garota, uma recém-mulher, mas você talvez já saiba como é bom... Como é bom sentir o peito quente, a face corada, um sorriso inesperado... Ah, querida, você só pode falar que já amou quando um leve roçar de corpos causa-lhe um turbilhão de sentimentos desgovernados e frenéticos. — rindo com leveza, a mãe beijou o topo da cabeça da filha e ninou-a em seus braços, como se ali houvesse um neném a ser embalado. — Você por acaso já sentiu isso, querida?
— Eu não sei... — a voz de Hermione saiu abafada, com tom de mentira.
Dias antes, antes de regressar ao conforto de seu lar, tremera dos pés ao último fio de cabelo quando recebera um sorriso, um maldito simples sorriso, de Ronald Weasley. E uma promessa de que tudo ficaria bem. Independente dos acontecimentos que agora eram passado, mas que seguiam sendo presente e que indubitavelmente fariam parte de seu futuro.
Um pequeno – mas tão belo – sorriso daquele maldito legume insensível a tirara de órbita.
Droga! Ela disse em pensamento. Quando que Ronald perceberia que estava abalando a sensatez que ela possuía?
— O que eu disse sobre mentiras? — a Sra. Granger falou com tom de uma censura tombada para a graça.
— Sim. — a resposta veio de forma inaudível. — Eu já senti algo do tipo. — uma meia-verdade era melhor do que uma mentira descarada. Sua mãe soltou outra risada, dessa vez, gostosa.
— Hermione, o que eu posso lhe garantir é que tudo o que você sente agora, com o tempo, duplicará ou, quem sabe, triplicará de tamanho. Daqui alguns anos, quando você tiver o seu marido e os seus filhos, entenderá muito bem o que eu estou lhe dizendo. O amor cresce querida, e com ele cresce todos esses sentimentos abarrotados em seu peito.
— Eu não sei se... — Hermione precisou parar por alguns segundos para conseguir formular uma frase que não a ferisse tanto quando pronunciada em voz alta: — Eu não sei se ele gosta de mim do mesmo tanto que eu gosto dele.
— Ele não demonstra?
— Bem, não posso dizer que Ronald seja bom em demonstrar qualquer tipo de sentimento por qualquer pessoa, mas de todo jeito... — entortando o nariz como costumava fazer em situações desagradáveis, a garota cruzou os braços por debaixo de seus seios e suspirou. — 'Hermione, Neville tem razão, você é uma garota'... — ela repetiu com perfeição as palavras proferidas por Ron em seu quarto ano, antes do baile, e assoprou fundo, fazendo com que uns fios de sua franja balançassem. — Ronald às vezes age como o trasgo mais burro do universo. — sua mãe soltou mais uma risada sonora e ela arqueou as sobrancelhas, como se não entendesse a graça.
— Acho muito meigo a forma como você perde a cabeça quando o assunto é direcionado a ele. — as palavras da Sra. Granger acertaram a outra como um soco. — Estou dizendo, filha, quando nos apaixonamos, não pensamos de forma lógica e eu sei o quanto isso deve assustá-la. Recordo-me muito bem da minha garotinha de oito anos, chegando com os olhos arregalados para mim em uma manhã de primavera, chorando como se tivesse caído no asfalto e dizendo: 'mamãe, não brigue comigo, mas sem querer e eu não sei como, coloquei fogo no seu canteiro! Juro que eu não queria, mas ele pegou fogo como se fosse mágica!' e procurando uma razão racional para explicar-me o que ocorrerá. Lembra-se disso? — recebeu a confirmação da filha e aumentou o sorriso. — Você é assim, querida. É o seu jeito de ser, faz parte da sua personalidade e eu que você deve estar apavorada por não conseguir controlar os seus sentimentos.
— Um pouco. — outra meia-verdade vinda dela. — Às vezes eu me condeno por não ter me apaixonado por outro, qualquer outro. Seria mais fácil ser apaixonada por Neville, por Dino, Simas... Até mesmo por Harry.
— E há aquele garoto também... Aquele búlgaro. Victor... Krum, não é mesmo? — outra vez Hermione sentiu-se corar. — Aquele que se declarou para você no quarto ano?
— Ele não se declarou para mim, mamãe. Apenas disse que gostava muito da minha companhia e que esperava me ver mais vezes.
— Isso soa como uma declaração.
— Mas não foi.
— Talvez tenha sido.
— Céus, conversar com você é tão complicado quanto conversar com Gina. — Hermione resmungou de novo e franziu os lábios em um sorriso incompleto ao mesmo tempo em que a sua mãe ria. — Krum é um amigo. Um amigo querido, mas apenas um amigo.
— Amigo...
— Mãe, a senhora está parecendo o Ronald agora! Por acaso a senhora chamará Krum de Vitinho também? — olhando torto para a mãe, a garota resmoneou, porém logo caiu numa risada descontraída para acompanhar a outra. — Não há mais nada entre nós dois. Somos amigos, gostamos um do outro, porém... Falta algo.
— Falta o turbilhão de sentimentos desgovernados e frenéticos...
— Sim, é isso que falta. — ela confessou, deixando certos temores e vergonhas de lado. — Mas mãe, eu não minto quando digo que não tenho muito tempo para pensar nisso.
— Hermione, não é só porque o seu melhor amigo é o bruxo encarregado de salvar o mundo que você não pode se perder um pouco por causa de um amor.
— Eu não posso me perder, mãe. Já tenho dois amigos que se perdem o suficiente por mim.
— Você sempre sendo lógica. É por isso que eu digo que não preciso me preocupar com aquele nosso primeiro assunto. Eu sei que você recusará compartilhar o que realmente sente com qualquer pessoa por muito tempo, até você mesma conseguir aceitar, mas você tem que entender que em algum momento da sua vida, toda essa barreira que foi construída durante anos e com afinco pela sua cabeça, será destruída em um piscar de olhos por algumas palavras meigas de algum garoto. Por isso que eu repito: respeite-se. Não é que o seu Ronald seja devagar, querida, a questão é que você sempre é muito rápida. Tente acalmar-se. Não se afobe, não tente desistir desse sentimento e tenha paciência. Seja você em todas as horas, dê os seus sorrisos, as suas broncas e os seus abraços... Seja inteiramente você e assim eu tenho certeza de que não existirá forma dele não apaixonar-se por você de volta.
— A senhora não conhece Ronald direito, mamãe. Se o conhecesse, saberia que há vento dentro da cabeça dele. E o coração provavelmente foi substituído por um segundo estômago. — uma careta tomou conta da expressão de Hermione.
— Querida, eu sinto lhe dizer, mas acredito que você pagará pelas suas palavras de agora. Repetirei: seja paciente com ele, pois eu sei que valerá a pena.


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