Escolhas escrita por Bárbara E


Capítulo 1
Marie


Notas iniciais do capítulo

É mais para refletir... e me convencer.
Reflita.



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          Como em todos os outros dias de sua vida desde que tinha 13 anos, Marie sentou-se na biblioteca de sua enorme casa.
          Céus, é mais difícil do que imaginei, pensou ela. Seu sonho de ser escritora crescia cada vez mais, embora ela nunca tivesse escrito mais do que algumas redações na escola.
           Ela olhou à sua volta, tentando entender exatamente o que estava fazendo. Todos aqueles livros, mais de 3000 livros naquela gigantesca biblioteca, pareciam agora estar zombando dela. Ela sempre amou ler e identificar a escrita de cada escritor, lembrar-se das frases mais lindas, das cenas mais emocionantes, dos personagens mais marcantes. Imaginava ela mesma escrevendo uma linda história e sendo reconhecida por todos como a melhor escritora do mundo. Mas cada vez que tentava escrever um trecho, por menor que fosse, ou uma poesia, poema, crônica, história, as palavras não saiam. Marie tinha muito para falar, muito para mostrar. Sim, ela tinha talento, mas não conseguia mostrar pra ninguém, nem mesmo a  si própria.
           Vasculhou as prateleiras e pegou os livros de seus autores favoritos. Cornelia Funke... como ela conseguia escrever livros tão grossos e fazer as palavras saírem tão maravilhosamente? Marie ficou imaginando quanto tempo ela levara para escrever os três livros da trilogia Mundo de Tinta. Não importava, Marie demoraria cem vezes mais do que ela.
           Começou a ler alguns capítulos. Pessoas que quando lêem algum livro em voz alta fazem a realidade misturar-se com a ficção? Ora, ela teria tido essa ideia primeiro. Marie odiava quando as pessoas roubavam suas ideias antes de ela pensar nelas.
            Rick Riordan. Ela adorava a escrita dele. Ele sempre a surpreendia nos livros de Percy Jackson, emocionava, fazia ela querer ler cada vez mais. Como ele conseguia ser tão misterioso e colocar toques de humor tão bons? E como ele conseguiu fazer ela se apaixonar pelo Percy? Parecia tão patético, se apaixonar por um personagem. Mas era assim. Marie se encantava com muitos personagens, desde personagens secundários até vilões.
               Ela se lembrou de uma pesquisa que fez sobre escritores. Dizia que cada escritor tem seu próprio estilo de escrita. Mas como eles encontravam esses estilos? Na pesquisa dizia também que para ser um bom escritor era preciso escrever, escrever, escrever. Sendo assim, Marie nunca se tornaria uma escritora famosa. Tinha tantas ideias, mas nunca conseguia passá-las para o papel.
                 Imaginou-se em uma seção de autógrafos, com milhares de pessoas formando uma fila imensa, vindo de todas as partes do mundo para pegar um papel com seu nome rabiscado. Imaginou-se na tevê, respondendo à perguntas de uma entrevista, com milhões de pessoas assistindo. Imaginou-se escrevendo livros maravilhosos, que ficariam nas listas dos mais vendidos, livros que seriam conhecidos pelo mundo inteiro. Livros... como Harry Potter.
               Joanne Kathleen Rowling. Ela admirava mais do que qualquer outra pessoa, mas ao mesmo tempo a deixava angustiada. Como foi que ela conseguiu tantos fãs, tantos admiradores, tantos prêmios? Como foi que ela conseguiu pensar na ideia dessa série? Pensar nisso deixava a ideia de Marie se tornar uma escritora bem menor. Quer dizer, por mais que algum dia escrevesse um bom livro, ele nunca chegaria aos pés de Harry Potter.
              - Bom, é isso - Marie disse aos livros. - Não vou ser escritora. Nunca vou conseguir escrever um bom livro, nunca vou ganhar milhões de fãs pelo mundo, nunca vou conseguir prêmios e nenhum diretor nunca vai fazer algum filme baseado em meus livros. Não vale a pena criar expectativas se for para se decepcionar mais tarde. Tenho 15 anos. Se fosse para eu ser uma boa escritora, já teria escrito pelo menos uma, uma maldita história.
                O fato é que a vida tem um jeito engraçado de mostrar as coisas. Depois que Marie disse tristemente e com uma dor no coração aquelas palavras e deixou seu sonho de lado, sua vida encaminhou-se para outro rumo. Se Marie tivesse insistido um pouco mais na ideia de se tornar uma escritora, no dia seguinte teria tido a ideia de escrever um livro sobre uma garota que tinha sonhos e esperanças, mas não conseguia achar um modo de torná-los realidade. Teria recebido elogios, e logo uma editora teria publicado seu livro. Teria ganhado fãs. Mas ao invés disso ela virou médica.
                Sim, ela passa muito bem. A ideia de ser médica não era um sonho, mas ela  ficou contente com a realidade. 

             Ela podia ter realizado seu sonho. Mas ela desistiu. Você já se sentiu assim alguma vez?


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Notas finais do capítulo

Coloquei o gênero como Tragédia porque não sabia qual colocar. Sei que não é tragédia, mas desistir dos seus sonhos é.