— Melanie, acorda. –Ouvi alguém falar enquanto mexia no meu cabelo.

— Não mãe, eu não vou para  a escola. –Disse com os olhos ainda fechados.

— Não sou sua mãe... Acorda, sou eu o Justin.

Abri os olhos bem devagar e vi o garoto de cabelos e olhos claros sorrindo para mim, como nos pôsteres das patricinhas.

— Por um momento pensei que estava em casa. –Falei me sentando. — Ai você me acordou e eu cai na real de que estou em um pesadelo... Até a escola virou o paraíso para mim agora.

— Você deve der uma aluna bem ruim para pensar assim. –Falou Justin rindo.

— Se eu falar que só tira A+, você acreditaria?

— Não.

— Ta, eu tiro em média um B ou um C+... Então eu só odeio a escola mesmo, mas nunca me canso de aprender.

— Seu jeito não parece ser o tipo “garota inteligente”... Mas eu te acordei para lhe mostrar isso. –Disse erguendo um pacote de caixas de fósforos.

— Nossa, quantas caixas deve ter? –Perguntei sorrindo.

— Não sei, mas acho que o suficiente para acendermos trezentas fogueiras.

— Isso é ótimo. –Fiquei em pé e depois dei um pulo para fora da lancha. — Vamos... O que está esperando? Precisamos ir atrás de lenha antes do pôr-do-sol.

— Agora? –Perguntou surpreso.

— É, agora. –Falei o puxando para fora da lancha, mas ele continuou aonde estava. Desisti e dei uns quatro passos. — Vamos logo!

— Ta, ta bom, calma, já to indo. –Ele estava calçando seu all star preto.

— Ué. –Falei olhando para o seu pé. — Pensei que gostasse de usar supras. –Disse me lembrando dos pôsteres no meu chalé.

— Eu gosto, mas não acha que chamaria muita atenção para mim com aquele disfarce. Um all star era perfeito.

— Caraca, você pensou em tudo.

— Meu amigo me ajudou um pouco.

— Ok, agora vamos? –Perguntei assim que ele terminou.

— Sim, vamos.

Sai andando na frente e só depois de alguns minutos ouvi seus passos atrás de mim. Fomos em direção  as árvores e assim que pisei naquele mato enorme, senti algumas folhas roçarem em minhas pernas nuas, por estar usando um short um pouco curto. Estava com uma vontade imensa de coçar minhas pernas enquanto andávamos, mas me controlei.

Olhei para trás para saber o porquê do Justin estar tão atrás e me assustei ao vê-lo segurar uma faca enorme na mão direita. Ele parou em frente a uma árvore e marcou um X nela.

— Por que está fazendo isso? –Perguntei parando perto dele.

— Estou marcando as árvores para não nos perdemos por aqui. E também essa faca vai nos ajudar com esse mato enorme. –Disse ele olhando para as minhas pernas que estavam vermelhas. Ele passou na minha frente marcando as árvores com um X e cortando o mato, fazendo uma trilha.

Fui pegando alguns galhos grossos enquanto ele ia na frente. Depois de alguns minutos eu ouvi um barulho e parei, mas o Justin me atrapalhou de ouvir cortando o mato.

— Justin. –O chamei e ele se virou. — Escuta esse barulho. –Falei colocando o dedo indicador nos lábios indicando silêncio.

Ele olhou para os lados e avançou em uma direção diferente da que estava indo antes.

— Vem, acho que eu o barulho vem dali. –Disse apontando.

Eu o segui e tinha razão, o barulho havia ficado mais alto. Justin continuou marcando as árvores e cortando o mato, mas parava de vez em quando para ouvir melhor o barulho. Eu continuei pegando os  galhos até não conseguir carregar mais nenhum.

O barulho agora estava alto que nem o barulho do Justin cortando o mato ou marcando as árvores conseguia superá-lo. Estava fácil de identificar agora o que suspeitávamos a poucos minutos atrás.

Olhei para o Justin e ambos sorrimos, ele sabia também o que era. Em menos de um minuto andando rápido, estávamos parados em frente a uma cachoeira.

Soltei os galhos em um canto e Justin deixou a faca em cima deles. Corri em direção a cachoeira e pulei com roupa e tudo, sem se importar se era funda ou não, porque eu sei nadar desde dos cinco anos. Justin fez o mesmo, mas tirou a camiseta antes de entrar, ficou apenas com a calça.

— Nossa. –Falei colocando meu cabelo liso molhado para trás depois de mergulhar. — Eu precisava disso.

Dois dias sem ver água era muito ruim, pelo menos para mim. Tivemos sorte em encontrar essa cachoeira. Tomei a maior quantidade de água doce que consegui e depois mergulhei. Quando voltei a superfície, senti alguém puxando meu pé para baixo. Me assustei pensando ser algum peixe grande, mas quando abri meus olhos em baixo d’água vi o Justin sorrindo. Voltamos a superfície juntos e eu o afundei empurrando-o para baixo pelo ombro. Ele voltou a superfície rapidinho e começou a jogar água em mim e eu fazia o mesmo enquanto riamos. Não tinha percebido, mas havia jogado muita água dele de uma só vez e Justin começou a tossir. Me aproximei preocupada e ele me prendeu em seus braços e me puxou para baixo da água rapidamente. Quando voltamos a superfície ele ainda me segurava e ia mergulhar comigo novamente e eu estava muito ofegante para prender a respiração em baixo d’água.

— Não. –Disse rindo antes que ele pudesse fazer isso. — Eu me rendo. –Falei com a respiração descompassada.  

— Ganhei. –Falou sorrindo ofegante também.

Olhei para o Justin ainda sorrindo. Estávamos muito próximos, muito mais do que eu queria. Ficamos calados por um tempo apenas fitando um ao outro, enquanto ele ainda me prendia em seus braços. Antes que eu pudesse me soltar, senti seus lábios nos meus. Eu tentei resistir, mas meu corpo dizia ‘não’, e eu acabei correspondendo.  Não sei como, mas meus braços foram parar em seu pescoço e uma das minhas mãos em seu rosto, enquanto ele me puxava pela cintura, nos deixando mais próximos do que já estávamos antes, como se fosse possível. Sua língua explorava cada canto da minha boca, assim como a minha. Nossos movimentos pareciam ser ensaiados. Parti o beijo quando o ar nos faltou.

— Justin você... –Quando ia terminar de falar ele me interrompe.

— Desculpa. –Falou me soltando. — Não devia ter feito isso. –Ele se distanciou e nadou até as pedras que tinha na beira da cachoeira.

Fiquei na água ainda, parada, pensando no que acabara de acontecer.

 Que merda tinha na minha cabeça para beijar Justin Bieber? Na verdade, ele que me beijou e o mais estranho é que eu retribui.

Me veio a mente a reação que as patricinhas do meu chalé teriam ao saber que o garoto nerd que elas zoaram é o cantor famosos que elas idolatram, e o que fariam ao saber que eu o beijei, justo eu que o chamei de biba. –Ta, isso foi uma distração para minha cabeça, acho que pensar em outras coisas será melhor para mim.

— Melanie, acho melhor voltarmos. –Disse Justin num tom alto por causa da distancia. Ele pegou os galhos grossos que serviriam como lenha.

Sai da água e peguei o facão que o Justin segurava antes. Ele andou na frente seguindo os X que ele fez nas árvores e seguindo a trilha que ele fez cortando o mato, que facilitou nossa caminhada. Em poucos minutos voltamos a praia, pois agora já sabíamos o caminho e não precisamos parar para fazer o que tínhamos feito antes na vinda.

Justin já estava ajeitando os galhos, enquanto eu pegava uma caixa de fósforo do pacote na lancha. Fui em direção aos galhos já arrumados e acendi para queimar um dos galhos. Nada aconteceu, tudo que consegui foi queimar meu dedo quando o fogo chegou até o final do fósforo.

— Está tudo bem? –Perguntou Justin ao ver minha cara de dor.

— Não muito. –Falei apertando meu dedo para ver se acessava a dor. Era a primeira vez que dirigíamos uma palavra ao outro depois do que aconteceu na cachoeira.

— Já sei o que fazer. –Disse ele indo em direção a lancha. Ele pegou um dos pacotes vazio de Doritos e colocou algo dentro que tinha dentro da lancha. Veio em direção aos galhos e espalhou um liquido em cima deles, era o que estava no pacote vazio.

— O que é isso? –Perguntei confusa.

— Gasolina... Agora acendo o fósforo.

Fiz o que ele pediu e rapidamente todos os galhos começaram a pegar fogo. Nossa fogueira estava pronta!

Justin foi em direção ao mar e lavou as mãos depois de guardar o pacote vazio de Doritos. Quando voltou, se sentou do outro lado da fogueira e assim como eu fitava o mar e o começo do  pôr-do-sol calado.

Depois de alguns minutos, fui em direção a lancha e peguei o ultimo pacote de Doritos e a coca-cola. Me sentei ao lado do Justin e o ofereci Doritos e coca. Não trocamos nenhuma palavra enquanto comíamos.

Eu tentava pensar no que aconteceria amanhã, porque esse era o meu ultimo pacote de Doritos, só vamos ter a coca, mas ela não mata a cede como a água doce da cachoeira, mas achando ela me fez ter mais esperanças de que ficaremos mais tempo nessa ilha vivos.

O que eu não consigo esquecer é o beijo, mesmo não querendo pensar e esquecer disso de uma vez, é quase impossível não lembrar... Do jeito que ele me pegou, do jeito que suas mãos andavam pela minha cintura me apertando contra o seu corpo, do jeito que sua língua explorava a minha boca, do jeito que... Não! Eu não posso gostar do Justin Idiota Bieber, ele é um imbecil metido e está com aquela garota famosa, aquela que estava na revista das patricinhas, a cabeçuda [[não tenho nada contra ela, amo a Sel, mas a personagem não]] chamada Selena Gomez.

Anoiteceu e ainda continuávamos sentados um do lado aposto do outro e a fogueira entre nós. Mesmo perto da fogueira, eu estava sentindo frio nas pernas e nos braços, por estar usando uma blusa de alça e um shorts médio. Não pensava em trazer um blusa ou uma calça, porque não esperava ficar perdida numa ilha, se soubesse teria evitado tudo isso. Abracei minhas pernas e tentei ficar o mais perto da fogueira que consegui, pois a fumaça não ajudava.

Do nada, senti um pano grosso em minhas costas, olhei para trás e vi que o Justin tinha acabado de tirar sua blusa de moletom e me dado. Quando ele ia se sentar longe de mim eu o chamei:

— Justin, espera. –Ele se virou para mim. — Eu queria dizer obrigada e... Se quiser podemos dividir. –Falei erguendo a blusa.

Ele sorriu e se sentou ao meu lado, me aproxime dele e coloquei metade da blusa em suas costas e por incrível que pareça, a blusa foi grande o suficiente para nós dois. Ele me abraçou de lado e ficamos assim, ao lado da fogueira, apenas ouvindo o barulho das ondas se quebrando no mar.