Only You escrita por Lúcia Hill
Notas iniciais do capítulo
Mas quem poderia ser aquela hora da noite?
Assim que terminou de colocar seu vestido, Luiza caminhou a passos lentos na direção da escadaria central do casarão. Sentiu um aperto lhe perturbar o peito, o que a princípio lhe pareceu bem estranho, nunca teve medo ou temor de uma simples visita.
Ao passar pelo corredor, Javier saiu na sua direção, seguindo a distância. A velha criada permanecia parada no topo, aguardando sua senhora com uma expressão de espanto no rosto.
— Mas que diabo está acontecendo? — questionou Javier, notando a expressão de espanto de Cole.
Luiza se voltou para encará-lo, mas, afinal, por que ele estava ali, já que a visita era para ela? Ignorou e continuou descendo as escadas, com ar de superior. Havia um rapaz sentado de costas para ela e lá estava à loira aguada da Carmem, encarando-a com um sorriso irônico.
— O que faz aqui, há essa hora? Estou tendo a impressão que sua família gosta de atormentar. — balbuciou furiosa.
— Oras! Não seja desagradável, vim apenas na companhia de Raul. — grunhiu.
Luiza levantou ambas as mãos, levando-as ao peito. Sua expressão se modificou de fúria para espanto. Raul estava vivo e ali, sentado no sofá da imensa sala.
— R-Raul? — gaguejou trêmula.
Javier e Cole assistiam a cena, inertes, perto da escadaria. Não fazia sentido, ou melhor, nada estava fazendo sentido. O rapaz se levantou e se virou para Luiza, que ainda estava imóvel, com a mão cobrindo a boca e os olhos arregalados. Todos notaram a imensa cicatriz no rosto do jovem.
— Por incrível que pareça, eu sobrevivi. — balbuciou cabisbaixo.
— M-Mas quem te fez isso? Vamos, me diga. — a princípio, gaguejou, mas ao se recompor, ordenou que lhe contasse o autor daquela barbárie.
Um silêncio esmagador predominou. Carmem ainda continha um sorriso plastificado no rosto, o que deixara todos ainda mais confusos. Poderia ser mentira ou aquele rapaz era realmente Raul Cortez?
Luiza não podia negar que ele tinha o porte de seu primo, altura e até a cor dos cabelos e os olhos verdes cintilantes, mas aquela marca praticamente atravessava o rosto do pobre, deixando a sua fisionomia um pouco confusa.
— Seu pai. — por fim, disse.
Javier mostrou um largo sorriso de deboche ao ouvir quem mandara fazer aquela maldade. Sabia que seu patrão nunca faria mal a uma mosca, quem dirá a um de seu sangue.
Carmem logo tomou a frente e com uma risada sarcástica quebrou o clima tenso.
— Ele nunca faria isso com você. Não diga mentiras descaradas e falsas. — protestou Javier.
Luiza continuou calada, observando-o, perplexa.
— Conheço bem você, Javier. É claro que ele faria, por anos me enganou. — rebateu.
Javier se aproximou, bufando e com os punhos fechados. Nunca iria aceitar uma difamação daquela, principalmente se o assunto fosse Coronel Ernesto Cortez.
— Afinal, que tipo de brincadeira sem graça estão fazendo? — questionou Javier, encarando o rapaz e Carmem.
Antes que um dos dois pudesse responder, a voz de Luiza os interrompeu de forma brusca, tinha que por a prova que ele era mesmo o verdadeiro Raul.
— Diga-me, qual é a minha música favorita? — perguntou, encarando-o.
O rapaz se aproximou de Luiza e, com um rápido sorriso, disse.
— Amarillo de Alan Jackson. — responde feliz.
Luiza não se conteve e pulou nos braços do rapaz que estava a sua frente, por fim, se derramou em lágrimas. Ele sabia qual era sua música favorita e ninguém mais.
Javier permaneceu confuso; como apenas uma música poderia dizer que ele era o verdadeiro Raul? Algo estava cheirando muito mal e tinha a certeza que era uma armadilha, para derrubar Luiza.
— Meu Deus! Como pode estar vivo? — questionou Luiza, chorosa e agarrada ao pescoço do jovem.
— Por você, eu consegui sair daquela maldita vala, que me jogaram. — murmurou nos ouvidos da jovem, enquanto encarava Javier, de forma nada amigável.
Javier se retirou do local, furioso e resmungando. Cole cobriu a boca, com os olhos rasos de água. Era uma boa notícia, há meses. A única que permaneceu com uma expressão fria, encarando a cena, fora Carmem.
Luiza desgrudou do pescoço de Raul e segurou na mão dele. Seus olhos estavam brilhantes, apertava as mãos do rapaz como se fosse impossível e, a qualquer momento, fosse acorda daquele sono.
— Tem muita coisa para me contar. — disse a jovem.
Raul mostrou um largo sorriso, mas se voltou para encarar Carmem, que presenciava a patética cena, calada.
— Tenho que levá-la para casa, mas prometo que retornarei e lhe contarei tudo. — disse, beijando-lhe a face carinhosamente.
Carmem arremedou, fazendo pouco caso da felicidade estampada no rosto da jovem Luiza. Estalou os dedos, impaciente, com a demora do rapaz.
— Vai! Irei te esperar. — disse.
Ele caminhou na direção da porta. Assim que ambos saíram da sala, Luiza desabou no sofá, não acreditara que aquilo poderia ser realidade, estava risonha e cheia de felicidade.
Javier observava a cena, parado no topo da escada.
— Não acredito que você caiu nesse velho truque? — questionou-a, furioso.
Luiza se levantou e o encarou perplexa.
— Não é truque, ele realmente é Raul, sei que é. — disse.
— Não tenha tanta certeza. — respondeu Javier seco e desaprovador.
A jovem fez pouco caso da opinião do peão e voltou a encostar sua cabeça no braço do sofá, fechou ambos os olhos e sorriu como se estivesse prestes a acordar daquele sonho maravilhoso.
Carmem e Raul entraram na caminhonete preta e seguiram na direção da fazenda River Blue. A jovem caiu na gargalhada, quebrando o rápido silêncio, enquanto o jovem coçava aquela imensa cicatriz no rosto.
— Não vejo graça, sua gralha desafinada. — resmungou, com os olhos fixos na escuridão.
Carmem engoliu a risada e permaneceu calada, dentro do veículo. A escuridão tomava toda a dimensão da pequena estrada de terra batida e o percurso seria longo e bem cansativo.
Poderia Javier estar certo em duvidar do rapaz? De uma coisa tinha certeza e não arredaria o pé, Coronel Ernesto jamais faria aquela maldade com o rapaz. Quaisquer sejam os motivos, nunca duvidou da bondade do coração do velho Cortez.
Ou estaria errado a esse respeito, que tanto prezara pelo velho Ernesto Cortez? Ficaria a responsabilidade da jovem Luiza, acreditar na verdade, se é que ela existe.
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Boa Leitura!