Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 4
Últimas horas - 1513




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Acordei com raios de Sol entrando nos meus olhos. Quando minha vista se acostumou, vi que eles vinham dos vãos entre as folhas de uma árvore. Sentei rápido, olhando ao redor. Estava no meio do nada, somando com o frio e a neblina típica da região. Respirei fundo e fechei os olhos.

-Certo. Eu estou sonhando, na verdade eu estou deitada na minha cama. Eu não fugi ainda, e principalmente, não subi nas costas de um lobo monstrengo e dormi em cima dele.
-O lobo não gostou do “monstrengo”.

Me levantei rápido e tentei me virar ao mesmo tempo, mas tropecei em qualquer coisa e caí sentada antes de conseguir ficar de pé. Era só Benjamin.

-Não faz isso de novo! – Exclamei, me pondo de pé. – Onde nós estamos?
-Em um lugar seguro o suficiente. O que deu em você para sair a noite a cavalo?
-Eu acho que eu sou quem menos deve explicações aqui! Como que eu fui raptada por um lobo e acordei com você?
-Você não teve problemas para descobrir a resposta ontem.
-Eu nem sei direito o que aconteceu ontem!
-Foi isso que aconteceu ontem. – Ele disse, depois de um momento de silêncio.

Foi rápido. Num instante, era o homem alto, no segundo, esse homem se curvou e era um lobo gigantesco. O mesmo da noite anterior, mas agora eu podia vê-lo claramente. Era quase totalmente negro, mas ao redor dos olhos e em todo o focinho havia uma mancha cinza escura. Dessa vez, apesar de ter sido bem mais medonho, não gritei, nem me assustei. Só fiquei encarando-o sem saber o que fazer ou falar. As pessoas normais sairiam correndo, mas eu nunca fui exatamente normal. E eu ainda nem sabia que isso ainda era só a ponta do iceberg.

-Acho que eu prefiro você bípede. Você podia virar um pássaro, seria mais interessante.

Os olhos do lobo reviraram, e ele se virou e sumiu na floresta. Voltou alguns minutos depois, humano e vestido. Devia ter trazido uma muda de roupa.
Ele se sentou aonde eu dormira, e me sentei ao seu lado. Não falei nada, deixei que ele começasse qualquer diálogo.  Depois de um tempo, foi o que ele fez.

-Giuliet, eu não sou daqui. Eu sempre achei que fosse pelo menos de perto, mas não. Eu nasci no Novo Mundo, em uma região que nem sequer foi “descoberta” pelos ingleses. – Era estranho ouvi-lo falar “os ingleses”. – Eu sou filho de um cacique... um... líder de uma tribo. Minha mãe fugiu de lá quando eu tinha um ano de idade, junto com outro homem, por quem ela se apaixonara. Meu pai descobriu ouvindo os pensamentos do outro lobisomem, e...
-Espera um pouco! Ouvindo os pensamentos do outro?
-Eu vou chegar lá. Ele descobriu e, com medo de sua ira, os dois fugiram, atravessaram todo o território e chegaram ao litoral, em um mês. – Eu não conhecia a dimensão do território, então não achei pouco. – Ao chegarem lá, temendo que o cacique ainda assim os achasse, o homem embarcou com minha mãe e comigo escondido em um navio da esquadra inglesa, sem nem saber do que se tratava. Simplesmente viram a “grande canoa” e entraram. Minha mãe morreu logo no início da viagem. O homem aprendeu a falar inglês, e tentava não me fazer morrer de fome enquanto isso. Meses depois, quando a nau chegou, ele percebeu que eu não teria a menor chance de sobreviver enquanto estivesse com ele. Ele não entendia nada do que se passava ao redor, nada mesmo. O que aprendera no navio não fora o suficiente para quase nada. Então, depois de andar por vários lugares do país tentando achar um lugar pra ficar, ele me deixou em Londres, na porta da sua casa. John foi o primeiro a me achar, e ficou comigo. O resto da história você já conhece. – Imaginei toda a história, mas ainda faltava um ponto.
-Sim, mas e...
-Lobo? Bem, essa história é longa.

Ele me contou sobre uma lenda sobre uma tribo indígena que tinha poderes mágicos e que, projetando seus espíritos, podiam pedir emprestado os corpos de animais. Por uma traição, o líder da tribo fora obrigado a pedir o corpo de um lobo para salvar sua própria vida e, após realizar isso, seu espírito se fundiu com o do animal, fazendo-o meio lobo, meio humano. E seus descendentes herdaram o mesmo dom, tornando a tribo permanentemente mágica.

-Meu pai e esse homem eram lobos. Por isso atravessaram o território tão rápido, ele carregava minha mãe e a mim nas costas. Nós corremos a uma velocidade maior do que qualquer animal ou criação humana. Não sentimos frio, nossa temperatura corporal é muito mais alta do que o normal, temos nossos sentidos apurados. E se nunca pararmos de nos transformar, não envelhecemos. E tem um último detalhe. – Sua expressão se fechou drasticamente. – Os frios. Nossos inimigos naturais. Eles são as piores criaturas que existem. Sua aparência é humana e para os mais desavisados, são as pessoas mais bonitas que já se viu. Mas são sobrenaturalmente fortes, os sentidos altamente apurados, e só se alimentam de sangue humano. – Meu estômago revirou com a possibilidade. Lendas de vampiros não eram muito comuns naquela região naquele tempo, mas mesmo assim, a idéia foi aterrorizante. – Podem criar novos apenas com uma mordida, porque têm um veneno que, no sangue humano, transforma, e no de lobisomens... mata.
-Quando você disse que aqui era seguro...
-Existe um grupo em Londres. Por isso eu voltei. Eu tinha que mantê-los protegidos.

Senti um calafrio, me abracei os meus joelhos, me encolhendo. Tentei esvaziar a mente, pensando em outra coisa.

-Como você soube disso tudo?
-Naquela noite que você conheceu Christopher, eu virei lobo. É difícil se controlar, demorei quase doze horas para conseguir voltar ao estado normal. Avisei a John que iria buscar respostas e ele, que estava tão assustado quanto eu, me apoiou. Eu andei cada palmo da Inglaterra inteira em busca de respostas, já quase sabendo me controlar sozinho, quanto encontrei Nascha, o lobisomem que fugiu com a minha mãe. Ele trabalha em um casarão em Cornwall, e me contou tudo. Ele me ensinou a ser um lobo. Minha mãe se chamava Tiva, meu pai Yona. E agora o pior. – Um sorriso debochado surgiu em seus lábios. – Meu nome na verdade é Kendawe.
-Eu acho que prefiro Benjamin. – Eu disse, sem conseguir conter uma risada, que ele acompanhou.
-É, eu também. E muito. Difícil foi convencer Nascha disso. – Ele riu mais um pouco, e o clima ficou menos tenso. Não durou muito, ele se levantou e me puxou junto, me pondo para trás dele.
-Mas o que...
-Shh! Fica quieta.

Demorou um tempo até que eu visse. Eram três, dois homens e uma mulher. Eram, de longe, as pessoas mais bonitas que eu já havia visto. O primeiro homem, que vinha a frente, tinha os cabelos muito negros, em contraste com a pele exageradamente pálida. Não era muito alto, e andava tão graciosamente que parecia flutuar, o que se repetia em todos. O outro, um pouco mais atrás, tinha o cabelo castanho claro, também muito pálido, e mais alto do que o primeiro. A mulher era de causar inveja a qualquer outra. Os cabelos muito loiros caíam até metade das costas, e era pequena, de feições exageradamente delicadas. Mas todos esses detalhes eram facilmente ignorados perto de um em especial. Os olhos. Eram de um vermelho rubi intenso, e toda a calma que eu senti durante toda a história de Benjamin se foi. Senti o impulso de correr, de estar em qualquer lugar longe deles. Talvez fossem as expressões de nojo e raiva que continham ao olhar para Ben.

-Então, cachorro, perdido pela floresta? – Falou o da frente, com um sotaque que julguei ser francês, e arregalei os olhos. Sua voz era o som mais agradável que eu podia me lembrar. Senti Benjamin tremer na minha frente.
-Eu não tenho nada a te oferecer, sanguessuga, me deixe.

A mulher andou para o lado e me viu, o sarcasmo invadindo seu rosto.

-Veja Oliver, ele tem companhia. – O sotaque dela era estranho, não descobri de onde era.

O da frente, que devia ser Oliver, se esticou e, apesar das tentativas de Benjamin de me esconder, ele conseguiu me ver, e riu.

-Levando o cachorro para passear, mademoiselle?

Não respondi, apenas olhei para o chão, tomada pelo medo. Benjamin tremia muito na minha frente, e eu tinha certeza que tremia atrás.

-Deixe-me tira-la daqui, e então nós... conversamos.
-Não. Ela fica. Nadya, minha querida, por favor, pegue a garota.

Eu não consegui ver o que aconteceu em seguida. Nadya virou uma borra branca e Benjamin estourou em um lobisomem de novo, e agora ela havia ficado visível. Ele rosnava para ela, mas ainda prestava atenção nos outros dois. O único que não parecia estar achando graça da situação era o outro vampiro, até então em silêncio, sem se mover. Não parecia querer se envolver, e seu rosto estava sério.

-Ora, ele ficou nervoso. Sabe, cachorro, eu ia mata-la, mas acho que eu tenho uma idéia melhor, se é que você me entende.

Benjamin rosnou muito alto, e avançou para Oliver. Mais uma vez, perdi a noção dos acontecimentos, dando conta de mim quando estava presa nos braços da vampira. A sensação era de estar envolta em ferro, e mesmo me debatendo para me soltar, mal conseguia me mexer, mesmo ela sendo mais baixa do que eu. Benjamin lutava com os outros dois ao mesmo tempo, mas Oliver parecia mais concentrado do que o outro. Mas contra dois, o lobo não tinha a menor chance, e não demorou para ser dominado. Oliver o segurava no chão pelo pescoço, impedindo que ele mordesse, e fez um sinal com a cabeça para o outro que, relutante, começou aplicar ataques em várias partes do corpo, aparentemente quebrando-o, e arrancando gritos que me fizeram estremecer. Não consegui me conter por muito tempo.

-Parem com isso! – Me ignoraram, concentrados no trabalho. – Por favor! Ele não fez nada e...
-Quieta! – Gritou a mulher atrás de mim.

Os gritos cessaram, Benjamin agora gemia e estremecia. Oliver o soltou, ainda vigilante, mas ele não ofereceu resistência a nada. Seu corpo estava desfigurado, acho que ele nem era capaz de se mexer. O sorriso de satisfação no rosto do vampiro chegava a ser assustador. Nada que tivesse um grão de bondade seria capaz de fazer o que fez e ainda sorrir, feliz. Se virou para o outro, que não sorria.

-Você sabe aonde deve leva-lo. Nadya, ajude-o, eu cuido da garota.

Ela me largou e Oliver se aproximou de mim. Eu estava desesperada, mal conseguia me mexer, mas fiz algo inesperado. Quando ele estava perto o suficiente, mirei um soco no seu rosto. Obviamente não deu certo, ele desviou sem que eu nem conseguisse ver e eu logo estava presa de novo.

-Olha, talvez você não seja uma inútil quando estiver pronta. – Não entendi o que ele quis dizer com pronta. A última coisa que eu vi foi Benjamin nos braços do vampiro sério, em estado humano, inconsciente, até ser levada para o interior da mata.

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A garrafa de sangue já acabava no final da história, e eu não deixava de encarar a janela.

-Depois disso, fui transformada e, bem, não é relevante. Nunca mais vi nenhum lobo, achei que estivessem em extinção. Me enganei.

Ela me encarava em silêncio, como havia feito o tempo todo. Depois de um tempo, ela deu de ombros.

-Minha vida humana foi tão chata. O mais perigoso que eu conheci foi minha tia-avó perto de uma tesoura. – Ela disse rindo, e acabei rindo junto. – Entendo seu ponto de vista, não iremos criar guerra.
-A não ser que eles mereçam. Nem todo vampiro é ruim, e eu só conheci um lobo para poder julgar uma espécie inteira. Eu só não consegui mata-los, como eu deveria ter feito. Vamos ver como as coisas se desenrolam.


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