Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 36
Cerimônia - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Gente, tive que dividir o último capítulo em dois. Mesmo que fiquem dois capítulos menores, ia ficar gigantesco se fosse um só. Quando entrei na 10ª página no word faltando um monte de coisa para acontecer, achei melhor fazer isso.
O bom é que demora mais para acabar, estou enrolando descaradamente para escrever por causa disso. xD
É isso, boa leitura.



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Havia um ano que eu e Andreas estávamos na Itália. Quando fomos nos dividir, dei a ele a ideia de ir para lá por um tempo, para que eu pudesse mostrá-lo como tudo estava. Ele adorou, aceitou na hora. Todos os outros ficaram em casas perto de Forks, não muito longe uns dos outros, o que me deixou tranqüila, ainda manteríamos a unidade. Ninguém quis vir conosco, nem mesmo Beta, então só nós dois estávamos distantes. Mantínhamos contato quase diário com eles, não poderíamos deixar que o mínimo sinal de ameaça passasse, tínhamos um avião pronto para decolar quando bem entendêssemos. Mas nunca houve nada naquele tempo, nem para eles e nem para nós.

Estávamos morando em uma casa isolada, como se fosse uma fazenda, como era comum na Itália. Porém, não muito longe de Roma, onde tínhamos alimento a vontade. Poucos lugares eram tão bons de se caçar como a cidade milenar, com suas vielas pequenas e fáceis de encontrar um turista bêbado e perdido. Nossa casa era grande e, por fora, parecia simples. Por dentro havíamos colocado mais conforto, era composta por uma sala espaçosa, uma cozinha média e um quarto normal. Sua decoração era simples, mas os móveis, grandes e bem distribuídos, quase todos com detalhes em madeira, eram confortáveis. No meio da sala, ao invés de uma televisão, que era colocada no quarto, havia o piano, simplesmente indispensável. A cozinha não tinha muitos aparelhos, só o necessário para que nos parecêssemos com humanos comuns. O quarto seguia o mesmo estilo da sala.

Na frente da casa havia um pequeno vinhedo, que Andreas gostava de passar algumas horas cuidando. Eu percebi, com o tempo, que isso o deixava mais calmo. Ele ainda tinha problemas para se controlar em algumas situações, mas eu percebia que, aos poucos, vivendo na paz que estávamos vivendo lá, ele ia ficando mais forte contra esses sentimentos. Por isso eu o deixava ficar lá o tempo que fosse necessário, ocupando sua mente. Havia três coisas que ele fazia quase que diariamente, como que em um ritual. Era tocar piano, ler livros e mais livros com o objetivo de se atualizar e lidar com o vinhedo. Ele lia tanto que eu não duvidaria nada se ele já estivesse sabendo mais coisas do que eu, que vivi nelas. Ou vivi parcialmente. E quanto a mim? Minha rotina era basicamente a mesma, exceto a parte do vinhedo. Ele trabalhava com terra quando era humano, sabia o que estava fazendo. Eu fui criada para me casar com um idiota e não sabia fazer nada desse tipo, eu tinha medo de estragar alguma coisa. Eu só ia até lá quando ele insistia para que eu tentasse aprender alguma coisa. Eu não podia dizer que me esforçava, porque não me esforçava mesmo. Aqueles momentos eram tão dele com a humanidade dele que eu não me sentia bem em invadir isso. Eu trabalhava enquanto isso, como cronista freelancer em Roma. Era muito simples, só inventar um nome fictício, escrever um texto um pouco poetizado sobre um fato do dia a dia e enviar para e-mails de jornais. Dava certo lucro, não me expunha e me distraía. Era só mais um emprego diferente para a minha lista vasta de séculos.

Nesse meio tempo, viajamos por vários lugares da Itália, e também países vizinhos. Levei-o a todos os lugares famosos e não famosos da país, lugares fascinantes como Milão e não tão fascinantes assim, como Nápoles. Passamos uns dias na Ilha de Capri, na baixa temporada, tendo a ilha toda para nós dois e alguns moradores locais. Íamos sempre a Roma, então conhecemos seus pontos históricos e turísticos, como o Coliseu, o Circo Máximo, algumas das centenas de Igrejas que haviam lá, Fontana de Trevi, tudo que podíamos. Também fomos até o lugar em que uma vez ficara a casa em que Andreas e os irmãos cresceram e foram transformados. Não havia mais nada lá além de pequenas ruínas quase imperceptíveis, mas foi o suficiente para ele. Ele me contou algumas histórias da infância que ele não havia contado ainda, e ri de quase todas. Giacomo sempre foi idiota, aparentemente não havia crescido muito mentalmente.

Era final de outono e o clima começava a esfriar. As folhas caíam belamente das árvores lá foram, providenciando um belo show que deixava os fotógrafos paisagistas totalmente apaixonados. Eu acendi a lareira, gostava do som das chamas e do clima acolhedor que elas traziam, e me sentei no piano, sentindo o calor do fogo logo atrás de mim. Era fim de tarde e Andreas estava do lado de fora, como normalmente acontecia naquele horário. Comecei a tocar uma música que ele havia composto recentemente, muito calma e harmoniosa. O sentimento que ela transmitia era paz, mas eu ainda tinha o sentimento de que com ele ficava melhor. Acho que eu jamais iria me convencer do contrário. Pensei em como aquele ano havia sido regenerador para mim, mesmo sentindo saudades dos outros. Nós havíamos criado uma rotina, uma bolha nossa, um ponto de paz, que aos poucos iam curando as nossas feridas. Quando terminei a música, percebi que ele estava parado ao lado do piano, por pouco não me assustou.


-Entrar de fininho não é visto como um ato de muita educação. – Falei, tentando parecer séria.

-Acho que você vai me perdoar. – Ele disse, se sentando ao meu lado.

-Não está sujo de terra para sentar aqui? – Reclamei, ele não ia sujar o piano.

-Eu não mexi na terra hoje, amor, eu só estava conferindo as uvas. – Ele disse, revirando os olhos.

-Nesse caso, tudo bem. Vamos, toque. – Eu me levantei e fui ao sofá, mas ele foi comigo e eu não entendi nada. – O piano é lá, querido.

-Eu sei, mas eu tenho uma novidade para contar. – Ele disse, sentando-se ao meu lado e me abraçando pela cintura, me trazendo para mais perto dele.

-O que? – Perguntei, enquanto me recostava nele.

-Kronus vai pedir Fátima em casamento daqui a pouco. – Ele disse, sorrindo, porém tentando parecer sério. – Ela vai ter um ataque, se prepare.

-Casamento? Véu, grinalda, madrinhas, bolo, padre, essas coisas? – Perguntei, achando estranho. Não eram muitos vampiros que faziam isso.

-Exatamente. – Ele disse, olhando o fogo na lareira. – Aquele moleque nem me consultou a respeito disso.


Eu juro que eu tentei não rir dele, mas foi impossível.


-Andreas, por favor, sem isso. – Eu disse, ainda rindo. – Você queria que Kronus pedisse a mão da sua irmã em casamento?

-Claro. Pelo menos para o Giacomo. – Ele respondeu. O pior de tudo é que ele estava falando sério.

-Ele tem que pedir é para ela! É ela que vai se casar com ele, não vocês dois. E nem de nome ela vai mudar, Kronus adotou nosso nome quando veio para o clã, lembra?

-Mas ele vai tirar a nossa irmã de nós, é o mínimo que ele tinha que fazer. Eu gosto dele, acho um bom rapaz para ela, mas ele tinha que ter falado alguma coisa.

-Eu devia ter tido irmãos antes, só para você ter que passar por isso e não encher a paciência do garoto. Deixa os dois serem felizes em paz, não estamos mais no século dezenove. – Ele não respondeu nada e fez um bico insatisfeito. – Sorria, meu velho gagá. – Eu falei, o empurrando de leve e rindo. Ele me deu um sorriso torto e vi um olhar de desafio.

-Quem você está chamando de velho? – Ele perguntou, a voz desafiadora.

-Você, que não se livra dessas tradições machistas e antigas. Você está quase quatro séculos atrasado mentalmente, pode ir parando. – Devolvi o desafio.

-Se eu sou velho, você consegue facilmente se livrar de mim, certo?

-Eu nem faria muito esforço. Você estaria ocupado demais pensando no discurso que daria para o seu cunhado no momento em que ele te pedisse a mão.

-Isso é o que nós vamos ver.


Ele aproveitou a posição em que estava e fechou os braços em volta de mim, me jogando no sofá e me prendendo debaixo dele. Eu me remexi, tentando me soltar, mas ele havia apertado bem demais e o peso de seu corpo não deixava que eu me movesse. Lutei, tentei me desvencilhar com todas as técnicas que eu conhecia, sem machucá-lo, mas nenhuma se mostrou eficaz.


-Quem é o velho agora? – Ele perguntou, falando no meu ouvido.

-Você! – Falei, ainda tentando me soltar.

-Tudo bem, então continua aí. – Ele não afrouxou nem um pouco.


Continuei a me debater debaixo dele por um bom tempo, sem a menor chance de sucesso. Eu já estava quase desistindo, me resignando a ficar presa lá até que ele enjoasse, quando ele voltou a perguntar.


-Então, eu ainda sou o velho? – Ele perguntou novamente, no mesmo tom descansado de antes. Ele sabia ser irritante quando queria.

-Tudo bem, você não está velho. Satisfeito? – Desisti, olhando-o irritada.

-Muito. – Ele respondeu, sorrindo vitoriosamente e abaixando o rosto na direção do meu.


Ele me beijou, apenas tocando os lábios no meu, sem realmente beijar. Levantei um pouco meu rosto e aprofundei o beijo, correndo os dedos pelo seu cabelo já bagunçado normalmente. Ele não fez muito mais esforço do que antes e senti um sorriso crescer em seus lábios quando, mesmo assim, eu insisti.


-Pensei que eu fosse velho. – Ele disse contra os meus lábios e, se eu estivesse com pleno controle sobre mim mesma, teria lhe dado um tapa.

-Cala a boca. – Eu respondi, voltando a beijá-lo.


Ele deu uma risada e, dessa vez, correspondeu. Seu perfume se confundia com o meu, que se misturava com o do fogo na lareira. Meu corpo se tornou um fio desencapado, sensível a qualquer toque, por mínimo que fosse. Meus pensamentos se nublaram totalmente, enquanto eu perdia o senso de realidade. Um de seus braços apoiavam seu peso, um pouco ao lado da minha cabeça, enquanto o outro me abraçava pela cintura, não me dando a menor chance de me mover ou de sair. Não que eu tivesse essa pretensão. Eu segurava seu rosto junto ao meu, enquanto também tentava privá-lo de uma rota de fuga. Nós estávamos tão próximos que podíamos ser uma coisa só, até ele parar, repentinamente e travar todo o corpo, como se estivesse se controlando.


-O que foi? – Perguntei em um sussurro.

-Minha irmã. – Ele disse, parando perfeitamente quando o telefone começou a tocar.


Andreas se levantou e foi em direção ao telefone, atendendo e ligando o viva-voz. Sentei no sofá, me ajeitando e rezando para a minha voz sair normal.


-Oi Fátima, pode falar, está no viva-voz. – Ele disse, a voz entediada. – Sim, Giuliet está ouvindo.

-Não estou interrompendo nada não, né? – Ela perguntou, a voz ansiosa, ela não ia dar a mínima se disséssemos que tinha interrompido.

-Não, estávamos jogando baralho. – Respondi, debochada, mas ela não percebeu. Ou percebeu e ignorou. Andreas segurou uma risada.

-Giuliet, ele me pediu em casamento! – Ela quase que gritou, animada. Eu quase podia vê-la dando pulinhos do outro lado.

-Que legal, Fátima! – Fingi surpresa, mas eu estava realmente feliz. – Como foi que ele fez isso?

-Nossa, ele foi lindo... – E voltou a falar sem controle e sem que eu entendesse. Olhei para Andreas e ele deu de ombros, não estava entendendo também. Era mais fácil fingir que estávamos e ficava tudo certo. Então ela parou de falar, deve ter chegado no final.

-Foi perfeito mesmo! – Concordei, mesmo não sabendo o que ele tinha feito. – Quando vai ser o casamento?

-Daqui a duas semanas. – Ela disse, ainda animada.

-Já? – Andreas quase caiu para trás com essa informação.

-Já, irmãozinho, por que perderíamos tempo?

-Porque vocês não vão envelhecer! – Ele respondeu, afetado.

-Tanto faz, vai ser daqui a duas semanas, vocês serão os padrinhos, então cheguem aqui o mais rápido o possível. Tchau e continuem aí com o baralho. – Ela desligou, deixando nós dois olhando um para a cara do outro como dois idiotas.

-Não me olha com essa cara, a irmã é sua. – Falei, levantando as mãos, como se me defendesse. Ele revirou os olhos. – Agora vamos arrumar nossas coisas, aparentemente temos que pegar aquele avião para os Estados Unidos o mais rápido o possível.

-Me lembra de pegar o número de onde eles vão passar lua de mel para eu ligar de cinco em cinco minutos. – Ele disse, indo em direção ao quarto.

-Eu vou fazer isso pessoalmente. – Entrei com ele, pegando duas malas que estavam dentro do guarda roupas.


O vôo particular era muito mais rápido que o comercial, então demorou menos do que o habitual para chegarmos ao aeroporto de Seattle. Passamos por uma tempestade mais ou menos a meio da viagem, mas nada além de algumas turbulências. Eu adorava ver tempestades de cima, e, pelo visto, Andreas havia achado incrível também. Eu também havia ficado impressionada a primeira vez que vi.

Era metade do dia quando chegamos. Pegamos nossa bagagem e seguimos para o saguão, onde facilmente identificamos o comitê de recepção. Estava lá Fátima, Hecate, Beta e Giacomo. 


-Pronta para o fim da paz? – Andreas perguntou, sorrindo.

-Tenho minhas dúvidas. – Disse, entre dentes por estar sorrindo para eles.


Chegamos até eles e Fátima pulou para abraçar nós dois, meio que ao mesmo tempo. Ela estava animada, muito, e isso não era bom sinal. Fátima muito animada era nocivo para o planeta.


-Ai, finalmente vocês chegaram! – Ela disse, nos soltando. – Achei que não voltavam mais para cá, o que tinha de tão interessante assim na Europa? – Paz, talvez? Acho que era uma pergunta retórica, porque ela continuou a falar. – Giuliet, os planejamentos estão incríveis, você vai amar! E, além disso, tem também...

-Fátima, para! – Andreas disse, balançando a cabeça, confuso. – Deixa a gente chegar, por favor? Vamos ter tempo de saber de tudo.

-Comecei a tagarelar, não é? – Ela disse, mas novamente era um pergunta retórica. – Tudo bem, eu vou me controlar. – Não, ela não ia, mas tudo bem. Eu havia sentido falta dela.


Cumprimentei também Hecate, que parecia um pouco tonta. Eu imaginava o quanto Fátima havia enchido a cabeça dela desde ontem, eu também estaria um pouco fora do rumo. Então Giacomo e Beta, que parecia bastante animada também.


-Senti sua falta. – Disse, enquanto a abraçava. – Como vão as coisas?

-Boas. – Ela disse, dando de ombros.

-Ela quis dizer que estão ótimas. – Giacomo disse, o tom inconfundível de sarcasmo em sua voz.

-Como assim? – Perguntei, esperando sempre o pior.

-Nada, mãe, sabe como ele é. – Ela disse, o olhando feio.

-Tudo bem, então, eu sou maligno mesmo. – Ele disse, dando de ombros. Resolvi deixar de lado isso por um momento, eu ia acabar descobrindo o que era mesmo.

-Vamos então, gente? Quero saber se Forks continua molhada como sempre. – Chamei e começamos a sair.

-E você acha realmente que aquilo tem chances de ficar menos molhado? – Beta perguntou, bufando. – Sério, eu preciso ir para o Caribe.

-Caribe? Ambiciosa para uma menina de oito anos. – Eu disse, indiferente.

-Eu não tenho oito anos! – Ela chiou, cruzando os braços.

-Não acredito que eu tenha perdido a conta. – Respondi calmamente.

-Eu me pareço com alguém de oito anos, por acaso?

-Não. Mas isso é outra história. Você pode parecer ter dezoito, mas continua tendo oito. Eu pareço ter dezenove, mas continuo tendo quinhentos e vinte e quatro.

-Isso não é justo! Quando vai admitir que eu tenho dezoito anos?

-Daqui a dez anos. – Disse e chegamos no carro, o que encerrou a discussão.


E eles estavam certos, o lugar continuava irritantemente molhado. A chuva parecia ter parado a pouco tempo, mas pela umidade do ar e pelo solo encharcado, momentos sem chuva deviam ser raros. Mas eu tinha que admitir, eu tinha sentido falta de lá, daquele clima molhado. No fundo eu gostava de lá bastante. Não era à toa, muitas coisas haviam acontecido no período de tempo não muito longo que eu havia passado lá. Foi naquele lugar que eu havia ficado totalmente bem novamente, onde eu consegui, definitivamente, voltar a ser eu mesma. Também foi o lugar que eu conheci pessoas incríveis, que agora eram essenciais. Tirei esses pensamentos da cabeça quando chegamos, eu não queria ficar depressiva.

Eles nos levaram para a casa principal, que não havíamos nos desfeito. Ainda viviam lá Beta, Anne e Gabi. Hecate e Giacomo estavam em uma casa há alguns quilômetros, mais para dentro da floresta. Lizzie, Christopher e Jones estavam vivendo na cidade mesmo, apenas um pouco mais afastado do centro. Kronus e Fátima estavam em uma casa há um ou dois quilômetros da casa antiga. Essas casas todas foram construídas em tempo recorde, o que fica bem mais fácil quando se tem dinheiro.

Cerca de oito meses antes Karine havia sido transformada e ainda aprendia a lidar com a sede e todo aquele processo de recém-criado, por isso estavam mais afastados do que todos, em uma casa confortável bem no meio da floresta, conectados à casa principal por uma estradinha de terra. Eu não havia visto Karine ainda e tinha que confessar que estava me matando de curiosidade. Eu sempre ficava curiosa para ver as diferenças. De acordo com o que Matt havia me contado, eles fraudaram uma morte para ela, algo ligado a um naufrágio de um barco no porto de Seattle, em que os dois estavam dentro para passear. Segundo ele, a família ficou arrasada, mas Karine tentava não pensar neles, talvez para tornar as coisas mais fáceis. O que me deixava aliviada era que, pelo menos, ela estava se controlando bem.

Descemos do carro e pegamos nossas malas, entrando. Na sala estavam Kronus e Lizzie, que rapidamente vieram na nossa direção. Kronus me abraçou e pegou minhas malas, dando um jeito de sumir rapidamente. Ele sabia que eu ia irritá-lo tanto quanto podia o mais rápido o possível. Lembrei-me então que ele vivia perto de Giacomo e fiquei com pena, talvez não devesse irritá-lo tanto. Andreas o havia olhado com uma cara não muito simpática que, se eu não o conhecesse bem, não saberia que era falsa. Eu realmente não iria precisar irritar Kronus, Andreas havia decidido entrar em “módulo Giacomo” e isso seria divertido o suficiente. Ele subiu com suas malas e Lizzie se aproximou, me abraçando.


-Ainda bem que você chegou, mais uma para ajudar com esse monte de preparativo relâmpago. – Ela disse, aliviada.

-Acredite em mim, você não me quer organizando um casamento. Não faço a menor idéia de como se faz isso. – Eu falei, sorrindo. Era verdade, elas não queriam mesmo. – Eu nem sei direito o que eu tenho que fazer.

-É basicamente entrar, ficar parada de um lado do altar e assinar um papel. – Ela disse, enquanto íamos para o sofá. Giacomo saiu, dizendo que tinha uma coisa para fazer em casa. Beta subiu as escadas, falando que também tinha algo a fazer. Pronto, eram todos ocupados, que lindo. Fátima estava inquieta.

-Eu vou subir, eles estão demorando muito lá em cima, eu tenho certeza que meu irmão está torturando ele. – Ela disse, subindo nervosamente as escadas. Sorri com a cena, eu não conseguia não achá-la engraçada, talvez nem em mil anos eu conseguisse isso.

-Giuliet, estamos organizando uma coisa. – Hecate falou sussurrando, se inclinando na minha direção e de Lizzie, que ficou instantaneamente animada. – Nós temos que nos divertir nisso também. Estamos planejando uma despedida de solteiro para Fátima, mas ela não sabe disso. – Meu sorriso cúmplice surgiu no exato mesmo momento.

-E o que vocês já planejaram?

-Com certeza Giacomo e Matt vão querer levar Kronus para algum lugar, provavelmente caçar. – Lizzie começou a explicar. – Giacomo tem criatividade, mas Matt é controlado, então eles provavelmente não vão fazer nada demais. Então quando os meninos saírem de casa, nós entramos em ação.

-Fátima é muito certa, gosta de tudo feito perfeitamente. Você é pior, mas acho que nesse caso você vai querer ajudar. – Hecate disse, me fazendo revirar os olhos e gesticular para que continuasse. – Então iremos tirá-la de casa e botar um pouco de adrenalina na vida dela.

-Que tipo de adrenalina? – Por incrível que parecesse, eu estava amando a idéia.

-Vamos criar algumas metas para ela cumprir, e ela só conseguirá se livrar de nós depois que cumprir tudo. – Hecate continuou. – Metas como pular de um penhasco, fazer manobras arriscadas com uma moto, essas coisas.

-Uma moto roubada, é claro. – Eu sugeri e elas sorriram, concordando.

-Você pegou o espírito da coisa. – Lizzie disse. – Vamos inventar na hora, mas vamos nos divertir bastante às custas dela.

-Mas Andreas vai acabar sabendo. – Eu disse, me dando conta disso. – Ele vai ver isso acontecendo, e não vai concordar muito.

-Já estamos há um passo à frente dele. Camily irá conosco, ela estava com a gente quando decidimos tudo. Andreas não pode ver nada que ela esteja participando.

-Vocês são espertas. – Falei, já imaginando metas para Fátima cumprir. Eu ia me divertir, ah, se ia! – Podem contar comigo. – Eu podia muito bem ter dado uma risada maléfica naquele momento, mas me contentei com um sorriso torto.

-Eu sabia que você ia dizer isso. – Ela disse, se levantando. – Eu vou indo, ver o que aquela criatura está aprontando. Não dá para deixar ele sozinho por muito tempo.

-Ok, vai lá. – Eu disse e ela deu tchau, saindo. Não dá para deixar ele muito tempo sozinho, sei...


Ficamos apenas eu e Lizzie na sala. Nos encaramos e eu ia começar a falar alguma coisa, mas ela começou ao mesmo tempo. Também paramos ao mesmo tempo e ficou aquela situação tensa.


-Fala. – Eu disse, rindo.

-Não, pode falar, não era nada demais. – Ela disse, dando de ombros.

-Tudo bem, então. Como está aquela coisa?

-Que coisa? – Ela perguntou, confusa.

-Você sabe, Christopher.

-Ah, sim. Ele está bem, normal. – Ela me encarou e suspirou. – Vocês dois nunca vão conseguir se dar bem, não é?

-Sinto muito, mas acho que não. – Eu fui o mais sincera que eu podia com ela. – Para falar a verdade, eu não estou exatamente muito feliz com vocês dois. Eu não vou me intrometer, se você gosta dele não há nada que eu possa fazer mesmo. Mas que eu não gosto disso, ah, eu não gosto.

-Ele mudou, eu saberia se não houvesse mudado.

-É o que eu espero que tenha acontecido. – Recostei meu corpo no sofá, cruzando as mãos no meu colo. – Andreas me contou um pouco sobre o que ele lembra de quando estava preso. Há muitas partes com Christopher.

-Eu sei disso. Ele não se orgulha de nada disso, ele tem vergonha do que fez quando estava com Jason. Eu também fui obrigada a fazer coisas que eu não queria, não nessa gravidade, mas fiz. Ele me disse que tentava esquecer um pouco, que tentava viver de novo.

-Como foi que você conseguiu gostar dele? Eu não vejo em que vocês possam se dar bem. – Nós estávamos conversando tranqüilamente a respeito disso, ela não pareceu ficar brava em momento nenhum. Ela deveria entender meus receios quanto a isso e sabia que ele não era o melhor vampiro do mundo.

-Eu não sei. – Ela disse, mas surgiu um sorriso bobo que ela tentou controlar, sem sucesso. – Aconteceu. Durante a luta, quando eu quase perdi e ele apareceu, havia algo diferente nos olhos dele. Ele não estava arrogante, cheio de si, soberbo, como eu sempre achei que ele fosse. Foi como se houvesse um lado B que ele sempre houvesse escondido. Eu não sei explicar o que eu senti naquele momento, eu... – Ela parou um tempo e me encarou, logo depois dando uma risada envergonhada. – Tudo bem, Giuliet, pode ir vomitar.

-Olha, vontade não me falta. – Ri com ela e decido que era uma batalha perdida. – Mas você está feliz?

-Estou. – Seus olhos brilharam quando perguntei. Que nojo.

-Então por mim tudo bem, não vou reclamar e vou fingir que adoro ter ele como cunhado. Satisfeita? – Perguntei, falseando um tom de aborrecimento. Ela riu e me abraçou, eu acabei sorrindo.

-Obrigada.

-Ah, tem que agradecer mesmo, isso vai contra todos os meus instintos mais primitivos. – Brinquei. – Agora você deve entender, você não é mais a caçula.

-Eu não tenho nem metade da neurose que você tem. – Ela disse, cruzando os braços.

-Então eu continuo sendo a mais responsável. – Dei de ombros, sorrindo com uma espécie de ar vitorioso.

-Então você continua sendo a mais velha neurótica.

-Minha neurose era ótima quando éramos humanas, não era? – Ela chegou a abrir a boca para responder algo, mas não teve o que responder. E assim eu ganhei a discussão.


Ouvimos um som de carro entrando no lugar e fui até a porta ver quem era. Era o carro de Matt manobrando e indo na direção da garagem. Finalmente minha curiosidade de saber como Karine havia ficado ia passar. Eu estava acostumada a ter que esperar a velocidade lerdamente humana dela, mas eles dois chegaram na escada da varanda muito rapidamente, mais do que eu esperava.

E eu era obrigada a admitir que o veneno havia feito um bem incrível para ela. Seu corpo, antes magro demais e pequeno, havia crescido alguns centímetros em altura e havia tomado mais forma, ficando equilibrado e perfeitamente proporcional. Seu rosto também havia ganhado a mesma proporcionalidade do corpo, livre de qualquer marca de nascença que ela tivesse posteriormente. Os olhos cor de rubi agora não possuíam mais os óculos que a deixavam com uma aparência tímida e envergonhada, e olhavam tudo com um ar de leve curiosidade, provavelmente por ainda estar se habituando com o modo que nossa vista funciona. Os cabelos, muito negros e lisos, caíam como uma moldura obscura ao redor de seu rosto, formando o contraste perfeito entre a clareza da pele e a negritude dos fios. Matt parecia totalmente sem sal ao lado dela.

Ela, definitivamente, tinha nascido para ser vampira, assim como eu imaginei que tivesse.


-Matt, você não me disse que tinha trocado de namorada. – Brinquei, o que fez os dois sorrirem. O sorriso de Matt era mais bobalhão e eu quase ri, só disso. – Karine, eu juro que poderia muito bem não te reconhecer!

-Ela ficou ótima, não ficou? – Ele perguntou, olhando para ela, sorrindo. Ela sorriu, sem graça, e continuou a subir.

-Eu não estava nada ótima quando acordei. – Ela disse, depois de me cumprimentar. – Ninguém nunca me disse que vocês... desculpa... que a gente rosnava. – Eu não tive como não rir da expressão dela de surpresa com isso.

-Fica mais fácil controlar com o tempo, fica tranqüila. – Falei, a tranqüilizando, e ela deu de ombros.

-Tem mais partes legais do que ruins mesmo.

-Mostra para ela o seu poder. – Ele a incentivou e ela fechou a cara no mesmo momento.

-Eu não vou fazer isso. – Ela reclamou, emburrada.

-Espera, você tem um poder? – Perguntei, mais curiosa ainda. Era bom demais para ser verdade.

-Tenho, mas eu não gosto muito dele. – Ela disse, séria.

-Pode mostrar, faça em mim, eu não me importo. – Ele tentou novamente, relaxado.

-Eu não vou fazer isso com você!

-Não tem problema, faz rápido. Vai passar uma hora e eu não ligo mesmo. – Ele insistiu, laçando a ela um olhar que eu conhecia muito bem. Aquele maldito olhar que eles lançavam quando queriam nos convencer de alguma coisa.

-Tudo bem. – Ela aceitou, desconfortável. – Vou ser o mais rápida o possível.


Ele relaxou os ombros, mas seu olhar era tenso. Eu mal conseguia ficar parada no lugar de tanta ansiedade. Ela o encarou, se concentrando, e eu sabia que estava se esforçando. No início era sempre mais difícil mesmo. Alguns instantes se passaram até Matt cair no chão com um berro. Quando ele gritou, ela parou e ele ficou no chão, ofegante. Ela correu para socorrê-lo, aflita. Eu não sabia se ajudava ou se soltava fogos de artifício. Meu lado “general” dava pulos de alegria.


-Você... você causa dor nele? – Perguntei, querendo confirmar se era isso mesmo.

-Sim, ela faz com que a gente sinta como se cada parte mínima de nós estivesse recebendo uma facada. É incrível. – Ele disse, se levantando e virando-se para ela. – Eu estou bem, você foi até rápida demais. Então, Giuliet, o que achou?

-Se você se separar dela, eu separo você do seu corpo. – Eu disse e os dois riram.

-Então, como vai esse preparo de casório? – Ele perguntou, enquanto entrávamos. Andreas, Fátima e Kronus desceram, Andreas segurando uma risada, Fátima irritada e Kronus envergonhado. Ah, isso deve ter sido divertido.


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