Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 33
Despedidas




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Todos reunidos na sala, um silêncio sepulcral e um nervosismo emergindo em todos nós. Esse era o clima na noite seguinte à visita de Christopher. Andreas havia tido várias outras visões, cada uma nos dando uma visão mais ampla da situação. Agora sabíamos que Jason viria em, mais ou menos, um dia e meio. Eram cinqüenta vampiros, um pouco menos de dez a mais que nós. Isso nos dava uma desvantagem, é claro, mas eu já havia enfrentado desvantagens muito maiores. O que me preocupava mesmo era um ponto em branco nas visões. O ponto Jason. Andreas nunca conseguia vê-lo em batalha, ou próximo. Ele sempre estava em uma clareira sozinho ou simplesmente não estava. Provavelmente ele estava mudando de idéia constantemente, mudando o futuro a todo momento, por conseqüência. Agora era a hora de decidirmos o que faríamos, exatamente. Por isso, até os lobos estavam lá, perto da porta. 

-Bem, o panorama é o seguinte. – Comecei a falar, de pé, no centro da sala. – Eles são mais numerosos do que nós somos. Não estamos lidando com recém criados, nem com vampiros inexperientes. Jason tem se preparado para isso há séculos e não será fácil. Por isso que temos que chegar a conclusão de alguma coisa. Sabemos que eles virão em um dia, mais ou menos. Não virão na direção de cidade, virão diretamente para nós. Portanto, precisamos faze-los seguir diretamente para nós em um lugar que nos favoreça. Para isso, precisamos de idéias. – Olhei para eles, buscando seus olhares. Só encontrei o silêncio. Até que Joanne, no canto da sala, pediu licença para falar. – Sim, Joanne?

-É você que está no comando disso? – Ela perguntou. Não entendi nada na hora, por isso a olhei com confusão.

-Sim, estou. Por que?

-Não, porque, vocês sabem, dadas as atuais circunstâncias...

-Que circunstâncias? – Quem perguntou foi Andreas, que estava um pouco atrás de mim, chegando a me surpreender de tão repentino. Sua voz estava irritada e impaciente, e parecia até mesmo um pouco mais grossa que o de costume.

-Considerando que você não está morto, teoricamente, você seria o líder disso.

-Considerando que Giuliet é tão líder quanto eu, e matou Hugh tanto quanto eu, teoricamente, a escolha é nossa. – Uma ênfase bem encaixada na palavra “nossa” e eu já não sabia se ria, se comemorava ou se o beijava. Ela pareceu encolher no lugar e não voltou a falar nada.

-Bem, continuando. – Fingi que a cena não tinha acontecido. – Anne, você tem alguma idéia para nós?

Ela pareceu pensar um pouco. Eu sabia que, dentro da cabeça dela havia dezenas de possibilidades diferentes se misturando e transformando-se no melhor para nós. Os outros nada disseram durante esse período, sem nada a acrescentar. Deixei que ela pensasse com calma, sem nenhum tipo de interferência. Para ser sincera, eu ainda estava rindo internamente do papel ridículo de Joanne momentos antes. Até que Anne pareceu saber o que fazer e, com a maior calma do mundo, começou a explicar a conclusão que havia chegado.

-Há uns riachos com bastantes pedras ao redor, grandes até, há alguns quilômetros daqui. Eu costumo ir lá de vez em quando, e é um bom lugar. Há umas pedras mais altas onde poderíamos nos esconder. Se conseguíssemos atraí-los para o meio dessas pedras, poderíamos encurralá-los. Cercados eles ficarão mais fáceis de conter.

-E como iremos atraí-los? – Matt perguntou, sentado na escada com Karine ao lado, quieta, mas atenta a tudo.

-Os lobos. – Ela dizia como se fosse uma matemática simples. Ela se virou para eles, com um sorriso desafiador no rosto. – Vocês conseguem correr o suficiente para carregá-los para esse lugar?

-Definitivamente. – Respondeu Camily, devolvendo o sorriso de desafio.

-Então, enquanto vocês os levam, nós nos posicionaremos entre as pedras, esperando o momento certo. Então, cercados, poderemos acabar com eles. – Ela cruzou os braços e se recostou novamente no sofá, satisfeita consigo mesma.

-Excelente. – Elogiei, era um ótimo plano. Eu conhecia o lugar a que ela se referia e já via o acontecimento se desenrolar conforme o planejado.

-Mas e nós? – Beta perguntou, ansiosa. Claro que ela queria participar.

-Vamos precisar de um lugar para proteger vocês três. – Eu falei, já tentando visualizar um.

-Proteger? Mas eu posso lutar, assim como Jones. – Ela cruzou os braços teimosamente. Já havíamos passado por aquilo antes.

-Beta... – Comecei a falar pacientemente, com um suspiro.

-Não, mãe! Estou cansada de ser um peso morto! Você não pode me impedir de lutar para sempre!

-Posso e vou. Nenhum de vocês dois vai chegar nem sequer perto da batalha e isso não está aberto à discussão. – Ela começou a abrir a boca para contestar, mas não permiti. – Não há nada que você possa fazer para me fazer mudar de idéia.

Ela fechou a cara e ficou quieta, vermelha de raiva por ter sido contrariada. Eu preferia ela contrariada do que morta, então não me afetava nem um pouco.

-Eles podem ficar em La Push. É um bom lugar para se esconderem. – Camily falou novamente, agora sugerindo. Achei uma excelente ideia, apesar de não achar muito seguro. Pelo menos era escondido e improvável.

-Se for possível eu ficaria grata. – Respondi e ela deu de ombros.

-Sem problemas. Podem ir hoje ainda.

-Excelente, não temos muito tempo mesmo. – Virei-me para Beta e Jones, Beta ainda emburrada. – Vocês dois, vão arrumas as coisas de vocês.

Os dois foram, Jones calmo e Beta furiosa. Ela não ia desistir tão facilmente, eu sabia disso. Pelo menos resolveu cooperar um pouco. Matt sinalizou para que Karine também fizesse isso e ela subiu as escadas, humanamente barulhenta. Na sala nós voltamos ao silêncio tenso. Aparentemente não havia nada a ser discutido, mas parecia que uma tensão prendia todos lá. Porém, eu ainda tinha que resolver uma pendência que se fazia necessária antes de ir para a luta e tudo mais.

-Benjamin, preciso falar com você. – Eu disse, séria.

-Tudo bem. – Ele concordou e começou a me seguir quando fui em direção à porta.

Fomos para a garagem, um lugar que ainda era mais ou menos reservado. Lá cheguei perto do meu carro e me recostei nele, cruzando os braços. Benjamin ficou parado, esperando algo acontecer.

-Benjamin... – Eu não sabia direito como falar. – Veja, aparentemente eu me enganei com você. E eu fiz isso da pior forma o possível. E eu sinto muito pelo o que eu causei a você nessas semanas. Não soube identificar o exagero da minha ameaça. Eu estava com a cabeça bombardeada de ameaças e não estava vendo nada muito claramente.

-Tudo bem, Giuliet, sem problemas. Talvez eu fizesse a mesma coisa. – Ele respondeu, inseguro, provavelmente sem entender aonde eu queria chegar.

-Então, agora, você pode me explicar o que aconteceu? – Pedi, calmamente. Ele ficou tenso, mas não fez nenhuma objeção.

-Acho que sim, apesar de eu já ter explicado mais ou menos. No dia em que você foi levada por aqueles vampiros, eu também fui levado, mas para ser torturado. Eles tinham um certo prazer mórbido em me ver sofrer, mas enfim, fiquei um tempo lá. Não era todo dia, eles me prendiam, mas me alimentavam de vez em quando. Só quando ficavam com raiva ou tédio que vinham até mim. Quando Jason, já um vampiro, me encontrou, me tirou de lá. Disse que, se eu o ajudasse, não teria que passar por aquela humilhação. Eu aceitei, era aparentemente a única chance que eu tinha. Os anos foram passando e Jaosn tomou o controle de Londres. Alguns anos depois o líder de vocês morreu e o cara lá em cima assumiu. – Ele disse, sinalizando para a casa, se referindo a Andreas. – Foi mais ou menos nessa época que eu descobri que você estava na história. Dificilmente haveria outra Giuliet Collins com as características que eram descritas. E então eu tinha duas opções. Ir até você e buscar refúgio, oferecer apoio e correr o risco de morrer ou continuar na zona de segurança. – Ele começou a andar de um lado para o outro enquanto contava. – A vida não é fácil para a minha espécie. Haviam se passado décadas e você tinha um clã. Eu não sabia o que esperar de você.

-E porque veio na noite que salvamos Andreas?

-Lizzie foi. Eu não era muito próximo a ela, realmente, mas achei que se ela se arriscou do modo que fez, talvez eu devesse parar de ser covarde.

-E eu te recebi com tortura. – Eu afirmei, mais para mim mesma. Eu havia me igualado aos vampiros que haviam me transformado. – Por que não me contou isso logo?

-Eu não confiava em você muito mais do que você confiava em mim. Eu só odiava Jason.

Concordei silenciosamente, enquanto olhava para o chão. Ele veio para o meu lado e também se recostou no carro. Ele ficava muitos centímetros acima de mim, o que me fazia me sentir pequena. Ele estava medindo quanto, dois metros?

-Você não veio falar só isso, não é? – Ele perguntou, ainda cauteloso.

-Não. Eu estava só considerando o que eu vou pedir agora.

-Fala.

-Eu vou precisar de alguém para ficar em La Push protegendo Beta. Todos os vampiros estarão ocupados e os quatro outros lobos também.

-Você quer que eu vá para La Push? – Ele confirmou, não acreditando muito.

-Quero. – Foi a única resposta que eu dei.

-Bem... Pode ser. Eu fico lá, então. – Ele concordou, para meu alívio.

-Lembre-se que eu estou entregando a minha filha nas suas mãos. – Minha voz saiu séria, quase que um aviso. Levantei a cabeça para encarar os olhos negros como ônix. – Não faça nada estúpido.

Ele me encarou sério por um tempo, sem expressar nenhuma reação. Então seu sorriso começou a crescer e ele começou a rir, tanto que fez o carro balançar. Revirei os olhos, olhando na outra direção, enquanto ele ainda ria.

-Qual a graça?

-Você dando uma de mãe cuidadosa e me ameaçando ainda. É impossível eu não rir. – Ele falou enquanto se controlava.

-Vou tentar novamente, qual a graça?

-Giuliet, eu lembro de você adolescente. Não me impeça de fazer comparações curiosas. Quando que aquela Giuliet ia virar líder de uma espécie e ainda ser mãe? Sério, é cômico.

-Ao contrário de você, que continua no mesmo status, eu evoluí. – Retruquei, segurando para não sorrir também.

-Mas ainda continua teimosa que é um inferno. – Ele deu um suspiro teatral.

-Tudo bem, chega de me analisar, ok? – Reclamei, mas acabei sorrindo. – Estou feliz que esteja de volta, Ben. – Instantes depois Andreas chegou na garagem, pedindo licença.

-Desculpe interromper, mas eles já estão prontos. – Ele avisou, sem realmente entrar na garagem.

-Certo. Você poderia ver com o pessoal lá em cima um grupo, não muito grande, para ir conosco? – Pedi com um sorriso.

-Claro. Quando decidirmos, vamos descer.

Concordei e ele subiu novamente. Ficou um silêncio ligeiramente constrangedor e sem nenhum motivo aparente. Eu não tinha muito mais coisa para falar com ele. A verdade era que eu não acreditava que pudéssemos ter qualquer relacionamento de amizade como acontecera no passado. Nem há longo prazo. Havíamos passado por coisa demais, instintivamente deveríamos estar nos matando. Eram quinhentos anos que não podiam ser simplesmente apagados das nossas mentes. Nós dois havíamos mudado, muito, e nada me fazia acreditar que esse abismo pudesse, um dia, ser vencido. E em silêncio permanecemos até que Beta, Jones, Karine, Andreas, Matt, Kronus e Camily desceram as escadas. Dividimos os grupos em um carro comigo, Andreas, Jones e Beta e outro com Karine, Matt, Kronus e Benjamin. Camily preferiu ir correndo para chegar primeiro.

Dei partida com o carro e, pelo retrovisor, dei uma olhada rápida para o banco de trás. Beta estava no canto do carro, com uma cara feia do tamanho do mundo e os braços firmemente cruzados na altura do peito. Jones tocou seu braço gentilmente, para ver se ele acalmava e ela só o olhou de rabo de olho. Ela foi sutil com ele, eu sabia o que ela era capaz de fazer quando estava com raiva, mas ainda sim, foi o suficiente para ele voltar para o seu canto. Era bom para ele aprender que ela podia ter aquele rostinho bonitinho, mas quando encrencava com alguma coisa era melhor sair de perto. Decidi não falar nada, por enquanto.

A viagem seguiu em silêncio e estávamos entrando em La Push em breve. Era estranho entrar lá, o lugar que fora terreno proibido por tanto tempo. A sensação era de entrar em uma dimensão que eu havia sido banida e agora era recebido com boas vindas. Claro que eu não era recebida com boas vindas realmente, os anciãos da tribo deveriam me odiar com cada célula de seus corpos. Por algum motivo isso tornava a minha entrada lá, de certa forma, divertida.

Camily estava parada em frente a uma casa simples, feita quase que totalmente de madeira, pintada cuidadosamente de amarelo, com as janelas brancas. A frente da casa era de grama um pouco pisoteada e encharcada das chuvas recentes. O ar cheirava a lobisomem e a mar, a praia era quase que em frente a casa. Paramos o carro na frente e, no carro de trás, começaram a sair. Toquei o braço de Andreas, delicadamente.

-Deixe-me conversar com Beta um instante. Leve Jones e o resto lá para dentro, por favor. – Pedi e ele concordou.

-Vocês têm o tempo que precisarem. Vamos, garoto. – Ele falou e Jones obedeceu, saindo atrapalhado do carro.

Beta havia ouvido eu falar com Andreas  e ficou parada, de braço cruzado, na exata mesma posição. Lá fora o tempo havia fechado radicalmente e uma chuva fina e gelada começava a cair, abaixando a temperatura. O calor do corpo e da respiração de Beta começava a fazer os vidros embaçarem, nos fechando lá dentro. Virei meu corpo no banco para poder encará-la, mas ela não olhou na minha direção. 

-Você não vai falar comigo, mesmo? – Perguntei em um suspiro cansado.

-Vou. – Respondeu, seca.

-Não vai falar comigo direito? – Repeti e ela não falou nada. – Beta... Você pode, ao menos, olhar para mim? – Ela obedeceu, me olhando com os olhos azuis duros e irritados. – Bem melhor assim. Beta, eu não quero fazer nada para te contrariar, para te desmerecer. Eu só quero a sua segurança.

-Tudo bem. – Seu tom não mudou muito e eu suspirei novamente.

-Eu estou indo para uma batalha em algumas horas. Há chances de não voltar disso. Você pode falar comigo direito? – Pedi e a minha voz acabou revelando mais emoção do que deveria. Isso pareceu atingi-la, porque seus olhos perderam grande parte da dureza.

-Tudo bem, mãe, me desculpe. Eu só achei que eu deveria ter o direito de escolha.

-Eu só quero o que é melhor para você. Já vi vampiros invencíveis caírem em batalha. Eu não me perdoaria nunca se algo acontecesse a você, minha filha. – Ela abaixou a cabeça, encarando o piso do carro.

-Desculpa. – Ela repetiu, parecia envergonhada.

-Não tem problema. – Eu respondi, sorrindo. – Agora vamos entrar, está começando a chover.

Nós saímos e cruzamos o espaço entre o carro e a casa, entrando na varanda. A porta envernizada estava entreaberta, então entramos direto. A casa por dentro era apertadinha, com os móveis coloridos e simples, mas era, de certa forma, aconchegante.

-Bem, essa é a minha casa. – Camily disse, estranhamente tímida por um momento. – É pequena e simples, mas eu gosto daqui.

-Aqui é bem legal. – Karine disse, olhando ao redor.

-Obrigada. – Camily agradeceu. Então se virou para mim. – Como que ficamos, mesmo?

-Eles três vão ficar aqui e Benjamin vai ficar vigiando. – Expliquei o mais resumidamente o possível. – Obrigada por ceder a casa, mesmo.

-Não tem problema nenhum, até é bom para ver se essa casa fica minimamente movimentada.

-Então acho que não há mais nada que tenhamos que fazer aqui. Melhor irmos logo. – Chamei e eles concordaram.

Matt se despediu de Karine com um abraço e um beijo protetor no alto da cabeça. Eu podia imaginar o aperto no peito que ele deveria estar sentindo por deixá-la para trás.  Os outros se despediram brevemente e começaram a sair. Fiquei para sair por último, me despedindo do pessoal com um breve aceno de cabeça e começando a sair.

-Mãe? – A voz de Beta me atingiu, estava um pouco atrás de mim. Virei-me, calmamente. Os outros já estavam indo embora, mas o meu carro teria que me esperar, de qualquer forma.

-Sim?

Ela venceu a distância entre nós duas e me abraçou apertado. Retribuí o abraço, de uma hora para outra me afetando por estar deixando-a para trás. A idéia de que talvez eu não chegasse a vê-la outra vez fez meu coração pesar de uma forma desconfortável. Como que em um estalo, percebi que havia mais um motivo para eu ganhar aquilo e sair viva. Eu queria estar lá para ela quando ela precisasse, queria vê-la montar a sua própria vida, tornar-se uma adulta. Se bem que, olhando para ela, talvez ela já tivesse feito isso. Quando ela se afastou de mim seus olhos estavam um pouco molhados. Os meus estariam muito pior do que aquilo se eu pudesse.

-Cuidado amanhã. – Ela disse, a voz mais baixa do que de costume.

-Eu sempre tomo. – Respondi com um sorriso que eu sabia que soava triste.

Comecei a sair sem olhar muito para trás. Me molhei um pouco com a chuva, que caía torrencialmente agora. Quando que ela havia apertado tanto? Logo estava dentro do carro, com Andreas esperando pacientemente ao lado. O outro carro com o resto já tinha começado a ir, provavelmente Andreas tinha uma visão do que aconteceria agora que estávamos sem híbridos e viu que não ia ter nenhuma ameaça. Ele não conseguia ver nem lobisomens e nem híbridos, apenas humanos e vampiros. Quando me ajeitei no banco ele me deu um sorriso solidário que me fez me sentir melhor. Dei partida no carro e comecei a voltar, sem ter exatamente muita pressa.

-Você pode até não ser mão biológica dela, mas que ela faz umas coisas que me lembram você, ah, faz! – Ele comentou, aleatoriamente.

-Eu nunca reparei nada. – Minha voz ainda soava meio triste.

-Eu sei muito bem onde eu já vi aquela cara amarrada porque estava contrariada, Giuliet.

-Eu fico assim? – Perguntei, curiosa.

-Fica. De vez em quando um pouco pior.

Dei uma risada mais ou menos, me animando um pouco. Conversar com ele me fazia bem e me dei conta de que eu estava precisando naquele momento. Só conversar, sobre qualquer coisa banal.

-Por que demoraram para descer aquela hora?

-Eu estava dando mais uma cortada em Joanne. Ela queria vir conosco. Disse que poderia ajudar a proteger o grupo caso acontecesse algo. Tive que ser indelicado de novo. – Obviamente eu já havia fechado a cara novamente nesse ponto da conversa.

-Andreas, olha só, se ela continuar com isso eu juro que pulo no pescoço dela. – Essa frase não era para ter saído, mas saiu e era tarde demais. Ele sorriu meio abobalhado e muito sarcástico e eu sabia que vinha bomba.

-Você está com ciúmes? – A maldita da pergunta, assim como eu supus, veio.

-E se estiver? – Respondi, sem abaixar o tom, desistindo de tentar vencer aquela discussão. Ele riu e eu continuei emburrada, o que aparentemente o fazia rir mais ainda.

-Quantos séculos vão ter que se passar até você parar de ver algum tipo de ameaça nela? – Ele perguntou, ainda rindo um pouco.

-Séculos o suficiente para ela parar de dar em cima de você descaradamente. Ela não vê o quão ridícula fica? – Ele voltou a rir. – Para de rir!

-Acho que se algum de nós dois deveria ficar com ciúmes, esse alguém deveria ser eu. – Ele disse e a confusão chegou ao meu rosto no mesmo instante. – Certo, Senhora “estou feliz que esteja de volta, Ben”.

Olhei para ele, perplexa, não acreditando que ele pudesse, possivelmente, estar falando sério. Aparentemente ele estava.

-É algum tipo de piada? – Perguntei, séria e ele, depois de me encarar um tempo, começou a rir de novo. Não era sério. Ufa.

-Foi só para te mostrar o quão ridículo é esse seu ciúme do meu ponto de vista. A diferença é que você tinha uma paixão enrustida pela Benjamin quando tinha quinze anos, enquanto eu nunca senti nada pela Joanne.

-Eu não tinha uma paixão enrustida por ele. – Discuti, começando a ficar irritada com aquele assunto, mas ao mesmo tempo me divertindo. Era estranho.

-Não minta para mim, você sabe que tinha. Eu vi isso. – Ele disse com um sorriso engraçado no rosto.

-E você fala isso tranqüilamente assim?

-Felizmente ele virou um cachorro anos depois e você uma vampira. Lucro para mim no final de tudo. – Sua voz saiu meio aliviada e, dessa vez, quem teve que rir fui eu. Ele havia feito meu coração ficar mais leve, do modo mais bizarro o possível, mas tinha.

-Mas Joanne continua sendo uma vadia.

Seu peito rugiu em uma gargalhada e continuamos o caminho para casa. Ao chegar, deixei o carro na garagem e íamos saindo quando Hecate e Giacomo desceram até nós. Ótimo, mais conversas furtivas na garagem.

-Anne teve uma idéia a respeito de divisão do grupo, para facilitar a emboscada. Dois grupos separados estrategicamente. – Giacomo pseudo-explicou.

-Excelente. – Andreas respondeu e, pela sua expressão, sabia que estava montando a cena da luta na cabeça. – Vocês dois podem guiar esses grupos com facilidade.

-E vocês dois? – Perguntou Hecate.

-Iremos guiar também, mas de um plano mais afastado. Temos que achar Jason no meio da confusão. – Ele olhou para mim, buscando minha confirmação, devidamente dada com um aceno de cabeça positivo.

-Acham que conseguem fazer isso? – Andreas perguntou, voltando-se novamente para os outros dois italianos.

-Tudo bem por você? – Giacomo perguntou, olhando para Hecate. Ela o olhou de volta e confirmou.

E então aconteceu, tão rápido que eu e Andreas ficamos sem reação.

Eu não sei quem avançou em quem, mas no instante seguinte os dois estavam se beijando, trazendo um ao outro para mais perto do que poderiam. Julgando pelo modo que estavam, parecia que o mundo ia acabar dali a cinco minutos. Pareciam querer viver em segundos o que deveriam ter vivido em séculos. Hecate já nem tocava o chão, Giacomo a havia levantado no meio do processo. Eu sabia que eu estava com cara de paisagem e Andreas tinha um sorriso sarcástico no rosto. Quando nada pareceu mudar na cena, achei que fosse melhor sumir dali. Puxei Andreas pelo braço e, em silêncio, saímos da garagem.

-O que foi isso? – Perguntei quando estávamos longe o suficiente.

-Eu estou tentando entender até agora, também. Mas tenho motivos para acreditar que... – Ele parou no meio da frase, parando de andar também.

Quando fui conferir o que havia acontecido, seus olhos haviam perdido o foco e seu rosto estava sem expressão. Mais uma visão. Eu não sabia se isso era bom ou ruim, sinceramente. Esperei pacientemente que acabasse e, quando ele voltou, olhou para mim pensativo.

-O que foi? – Perguntei, nervosa.

-Jason. Ele não vai ficar na batalha. Ele estava em uma clareira, como se estivesse esperando. O que ele estava esperando? – Ele pensou alto, mas foi como se algo acendesse na minha mente.

-Eu sei bem o que ele vai esperar. – Eu disse enquanto começava a andar rapidamente para dentro da casa.

Andreas me seguiu de perto e atravessei a sala ignorando todos, subindo as escadas. Entrei no meu quarto e comecei a andar de um lado para o outro, pensando. Andreas encostou a porta e ficou me olhando confuso, mas nada fiz para explicar. Jason estava esperando que eu fosse até lá. Isso era entre nós dois. Quem saísse vitorioso disso iria voltar e ditar a vitória do grupo que bem entendesse no campo de batalha. Se eu vencesse, nós venceríamos. Se eu perdesse...

-Você pode parar de andar de um lado para o outro e me dizer o que está pensando? – Ele pediu, notavelmente nervoso.

-Se eu te der um papel, você consegue desenhar a cena que viu? – Perguntei, ainda pensando longe.

-Acho que consigo. – Ele respondeu, a voz confusa, sem entender muito bem.

-Ótimo.

Passei por ele e fui até o escritório da casa, em segundos voltando com um lápis e um bloco. Entreguei a ele e ele, dando de ombros, começou a desenhar. Continuei andando de um lado para o outro, elétrica demais para ficar parada. O barulho do atrito do lápis na folha me deixava mais nervosa, como se um quadro dos infernos estivesse prestes a sair de lá. Não demorou muito e Andreas virou o quadro para mim, os rabiscos formando um quadro detalhado da cena que havia visto. Ele não era tão bom no desenho como Giacomo, mas ia servir. Peguei o bloco e analisei o lugar. Ela uma clareira, realmente, com um chão cheio de lama pela chuva. As árvores ao redor tinham troncos grossos e haviam muitas samambaias. O que me fez reconhecer o lugar foi um pequeno riacho que passava ao fundo. Eu conhecia aquele lugar, passei por lá diversas vezes.

-Eu sei que lugar é esse. – Comentei, sem tirar os olhos do papel. – Fica há uns quatro quilômetros de onde vocês vão ficar. Excelente. – Deixei o papel de lado e voltei a arquitetar o que aconteceria.

-E é para lá que vamos, então?

-Não, não. Vocês ainda vão fazer a emboscada, não podemos desviar da batalha principal.

-Por que você não está incluída nessa história? – Ele cruzou os braços. Acho que ele já estava começando a entender.

-Jason vai estar aqui. – Eu disse, apontando para o desenho que estava sobre a cama. – É nesse lugar que eu tenho que estar.

-Sozinha? – Seu tom era sério, mas o meu também era.

-Sim, sozinha. Ele está esperando que eu vá atrás dele.

-E você vai fazer conforme ele planeja? – Ele estava mais nervoso um pouco. Isso ia ser complicado.

-É a única forma de acabar com isso de uma vez. Quem sair vivo disso vai decidir o resultado da batalha.

-E se for uma emboscada?

-Você viu algo além dele, por acaso?

-Minhas visões não são perfeitas. Além do mais, ele é um vampiro poderoso. Veja o que ele tem feito por todos esses anos. Você não pode querer que eu deixe você ir, sozinha, enfrentar esse cara.

-Exatamente como eu fiz com você antes? – Respondi, seca, não conseguindo me controlar. Ele não respondeu, aparentemente não esperava por aquele tipo de resposta. – Sim, porque eu tive que ver você indo embora sem fazer nada, mas eu não posso cumprir o meu dever porque você não quer.

-São duas situações completamente diferentes. – Sua voz saiu sem emoção. Eu sabia que não deveria forçá-lo em uma discussão, mas era mais forte do que eu. Era injusto demais.

-Será que são mesmo? Essa luta vai ter que acontecer, mais cedo ou mais tarde. Jason vai estar lá, pronto para mim e eu pronta para ele. Tem que ser assim.

-Você sabe que não tem.

-Você sabe que tem. Não tente me impedir, você não vai conseguir.

-Sendo assim, você também não pode me impedir de ir junto, ou ao menos mandar alguém ir junto.

-Então seria assim, ficaremos dando ordens contrárias para um pobre infeliz pelo resto da eternidade. – Botei as mãos na cintura, totalmente sem paciência.

-Para mim está ótimo!

Alguém bateu na porta e abriu, botando a cabeça para dentro.

-Volturi? – Chamou, hesitante, Padre Neil.

-O que é? – Eu e Andreas respondemos em uníssono, ambos obviamente irritados.

-Er... era ela. – Ele apontou para mim, sem graça.

-Claro... – Andreas bufou, dando espaço.

-O que é? – Repeti, tentando parecer mais calma.

-Acho que já está tudo decidido para amanhã e estávamos nos perguntando se poderíamos ir caçar antes da luta. Sabe, para ficarmos mais fortes.

-Claro, podem ir.

-Qual seria o número mais adequado do grupo?

-Podem ir todos se quiserem. Não vai acontecer nada de qualquer forma. – Liberei-os, impaciente. O ruivo concordou e saiu, fechando a porta.

No quarto o silêncio se instalou, mais desagradável do que todos os daquela semana juntos. Eu não iria ceder nunca e ele sabia disso. Ele parecia irritado por não conseguir me convencer do contrário e nem podia reclamar muito. Eu não queria brigar com ele. A chuva continuava forte do lado de fora, abafando os sons do resto da casa. A noite chegava ao seu início de forma quase que poética. Eu podia sentir a batalha se aproximar em cada nervo do meu corpo. E eu não iria ficar brigada com ele. Não enquanto, no dia seguinte, algum dos dois, ou os dois, poderiam morrer. Suspirei cansada, me aproximando dele.

-A gente não tem que brigar, não vai nos ajudar em nada.

-Não há nada que eu possa fazer para mudar a sua decisão, há? – Ele perguntou, olhando para o chão. Sua voz agora era calma, resignada.

-Não. Eu já me decidi.

-Desculpa por ter te feito passar por isso. É pior do que eu imaginava.

Eu o abracei, ficando emotiva de uma hora para a outra novamente. Não importava quantas vezes eu lutava em batalhas, quantas guerras eu vivia. Os momentos finais antes da ação eram sempre emocionalmente desgastantes. Ele retribuiu o abraço e enterrei meu rosto em seu peito, sabendo que poderia ser a última vez que eu entraria ali.

-Eu não estou fazendo isso para te punir, de forma alguma. – Levantei o rosto para encará-lo nos olhos preocupados. – Eu te amo. – Ele me deu um sorriso triste e tocou a testa na minha, suspirando.

-Eu também te amo.

-Agora eu estou te devendo de novo. – Brinquei e ele deu uma risada não muito feliz.

Ele me beijou, me trazendo para mais perto, com cuidado, como se pudesse, de alguma forma me machucar. Não relutei, eu não tinha forças para isso. Soava demais como uma despedida para o meu gosto, mas tudo só crescia. Assim como aconteceu algumas noites antes, a coisa começou a crescer de uma forma descontrolada. O ideal de que aquilo seria uma última noite parecia alimentar a situação. Meio que sem perceber direito, eu estava andando para trás. Senti minhas costas atingirem o colchão da cama e sabia que não controlava minhas próprias vontades quando levei a mão ao botão de sua camisa.

Na manhã do dia seguinte, todos já haviam caçado e estavam prontos. Era a hora. Era uma manhã chuvosa e nada simpática, em todos os aspectos possíveis. Estávamos do lado de fora, a chuva havia parado um pouco, mas não tardaria a voltar. Esperando a ordem de início estavam todos os quarenta vampiros e os quatro lobisomens, já em forma de lobo. Era agora que eu tinha que falar alguma coisa, mas eu não fazia a menor idéia do que.

-Como vocês sabem, hoje é o dia que decidiremos o futuro do mundo. – Eu comecei, totalmente no improviso. – Agradeço infinitamente a todos vocês que aceitaram lutar ao nosso lado, aceitaram defender nossos ideais. Nosso inimigo de hoje tem se preparado para esse momento por quase toda a sua existência. Ele tem um exército preparado e que vai nos custar todo o nosso esforço para vencer. Eu poderia mentir para vocês e dizer coisas altamente inspiradoras, mas eu não me sinto no direito de fazer isso. Não será nada fácil. Muitos de nós provavelmente não estarão aqui no final do dia. E o que mais dói é o fato de não estar mandando soldados para lá. Estou vendo irem amigos, familiares, pessoas que eu amo e que eu não sei como lidaria com a perda. – Suspirei, olhando cada rosto na minha frente. – Mas eu sei que, se algo errado acontecer conosco hoje, as perdas seriam muito maiores. O mundo tal qual conhecemos hoje não mais existiria. A parca harmonia da nossa espécie com os humanos deixaria de existir completamente. Se eles vencerem hoje haverá a extinção dos humanos e, posteriormente, a nossa. Nós dependemos deles para viver, apesar de tudo. Hoje, enquanto lutam, eu gostaria que pensassem em tudo que viveram e pelo quê viveram. Nós temos pelo que sobreviver, enquanto eles só tem o desejo pelo poder. Lembrem-se de tudo que já aconteceu de bom para vocês e não deixem que essas coisas boas caiam nas mãos de um psicopata. Lutem por nós mesmos.

-Por nós mesmos! – Lionel gritou no meio de todos e o resto respondeu em coro, repetindo a mesma frase.

-Agora, os grupos de Giacomo e Hecate podem se dividir e começar a irem para as suas posições. – Giacomo deu um beijo rápido no alto da cabeça de Hecate e saiu com seu grupo para um lado, enquanto Hecate fez o mesmo com o grupo dela. – Lobos, podem ir atrás dos nossos inimigos. Irrite-os bastante por mim. – Camily pareceu dar uma espécie de sorriso no rosto canino e saiu com seus três companheiros para a direção indicada. – E você, vá para o lugar programado. Você tem que coordenar os dois grupos para que eles estejam realmente bem posicionados. – Falei para Andreas, que concordou.

-Boa sorte. – Ele disse, enquanto se afastava.

-Para você também. – Respondi com um sorriso falsamente confiante no rosto. E assim eu assisti ele partir de novo.

Sozinha, olhei para a casa, agora vazia. Parecia uma casa fantasma. Tendo que esperar um certo tempo, entrei e fui até a cozinha, em busca de um pouco de sangue para me acalmar. Só havia um pacote restante, curiosamente de O+, meu preferido. Kronus sempre brincava comigo dizendo que eu tinha um gosto raro e caro, que eu tinha que aprender a gostar de coisas mais fáceis de se achar. Só porque ele gostava de A+, a coisa mais comum do mundo. Ri com a lembrança enquanto passava o sangue para um copo. Bebi, me sentindo ligeiramente mais forte e confiante. Olhei no relógio, já era hora. Deixei o copo sobre a pia mesmo e saí, sem saber o que esperar do futuro.


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Notas finais do capítulo

Com isso, só devem ter mais dois capítulos ou três, não sei ao certo. Infelizmente está acabando. kkk'
Então, reviews agora não cairiam nada mal. xD



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