Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 29
"Long Gone"


Notas iniciais do capítulo

Ou pessoas, tudo bem?
Bem, eu sei que eu demoro séculos para escrever os capítulos, e sinto muito por isso. Porém, infelizmente, isso tende a piorar. Comecei o Ensino Médio hoje e, pelo que pude ver, não vou ter lá muita vida fora de escola pelos próximos meses, portanto não terei muuuito tempo para escrever.
Mas o importante é que, independente do tempo que demorar, eu não vou, de forma alguma, abandonar a fic. A não ser que arranquem minhas mãos, aí talvez eu pare.
Well, é isso. Boa leitura.



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-Fátima, eu consigo andar sozinho. – Andreas reclamou enquanto Fátima o apoiava enquanto ele tentava caminhar, no terceiro dia.

-Claro que consegue, olha só, você está caminhando.

-Você entendeu o que eu quis dizer. – Ele bufou, mas ela ignorou facilmente.

-Giuliet, diz para a minha irmã que eu consigo andar sozinho, por favor? – Ele me pediu e eu tive que rir.

-Olha, eu posso até dizer isso, mas ela não vai me dar muitos ouvidos não. Até porque, nem o vampiro mais poderoso do mundo é páreo para a teimosia de Fátima Volturi. – Giacomo e Andreas riram e Fátima me deu língua. Ela parecia uma criança de vez em quando e isso era cômico.

-O roto falando do esfarrapado. – Ela me respondeu, enfezada, e Giacomo riu mais alto ainda. – Vamos lá, já andou bastante, a escada já chegou, melhor voltar.

-Eu tenho plena capacidade de descer as escadas.

-Claro que tem, mas vamos voltar. – Ele começou a virá-lo e ele ainda não tinha forças o suficiente para lutar.

-Fátima, deixe-o descer um pouco. Deve estar cansado de ficar dentro daquele quarto. Ou cansado de ficar dentro de alguma coisa, no geral.

-Isso são palavras de sabedoria. – Andreas apoiou e Fátima revirou os olhos.

-Ele tem que ficar mais forte pra isso ainda.

-Eu não queria concordar com a Fátima não, mas ela está certa. – Giacomo disse e eu o olhei com um olhar de morte. – É sério, cunhadinha. – O olhar de morte virou um olhar de morte lenta e dolorosa pelo apelido usado no momento errado.

-Gente, me deixa descer, por favor, eu vou enlouquecer se ficar lá dentro. – Andreas começou a dramatizar, mas os outros dois não pareceram se abalar. Só eu que ficava com pena dele?

-A gente te coloca em um psicólogo depois, não se preocupa. – Giacomo gracejou e Andreas se deu por vencido. Mas eu não.

-Ele não vai cair galera, se ele acha que consegue deve ser porque consegue.

-Não defende, Giuliet. – Fátima estava perdendo a paciência comigo, mas eu ainda ia teimar mais um pouco.

-Não é questão de defender. Ele ficou preso séculos, deixa andar o quanto quiser.

Fátima se virou na minha direção de novo e largou Andreas, que bambeou e se apoiou na parede. Eu já estava do lado dele na primeira bambeada, e ela se afastou emburrada.

-Tudo bem, você desce com ele e depois sobe. – Ela disse, cruzando os braços e passando pela gente pisando forte.

-Acho que ela se irritou. – Comentei e Giacomo deu uma risada.

-Ela não gosta de ser contrariada. – Ele disse, saindo.

-Espera, aonde você vai? – Perguntei e ele não parou, só falou por cima do ombro.

-Você ouviu o que ela disse. Você desce com ele e você sobe com ele. Eu não entro na história. – E sumiu, me deixando com cara de tacho lá.

Parabéns Giuliet, sempre colocando a si mesma em uma situação constrangedora.

-Vamos Andreas, vamos conhecer o incrível mundo da Sala de Estar. – Eu disse, indo apóia-lo, mas ele começou a meio andar sozinho, totalmente torto.

-Eu consigo sozinho. – Ele tentou andar mais rápido, mas quase caiu. O segurei antes que ele pudesse reclamar.

-Consegue, mas um pouco de ajuda não vai fazer mal. – Ele ainda tentou reclamar, mas eu comecei a andar e ele não teve como fazer. A irmã dele era teimosa, mas, como ele sabia muito bem, eu era muito mais.

Chegamos na escada e descemos devagar. Foi mais fácil do que eu havia imaginado, ele até que estava bem. Talvez o problema ali fosse a falta de prática e não a fraqueza. Ele não caminhava fazia um tempo. Quando chegamos no primeiro andar, ele levantou a cabeça para olhar em volta e arfou.

-É, as coisas mudaram um pouco. – Comentei, achando graça.

-Eu não vou assimilar isso nunca. – Ele comentou, dando de ombros. Dei uma risada baixa.

-Você vai gostar do carro.

-Do o que?

-Você vai ver quando estiver melhor. Agora vamos até aquele sofá ali. – Ele já estava olhando para outra direção, pelo visto bem mais interessado lá do que no sofá. – Ou podemos ir até o piano também.

O levei até lá e o ajudei a se sentar no banco, me sentando ao lado. Abri a tampa e tirei o pano vermelho que protegia, e lá estavam as teclas. Ele as encarou por um longo tempo, não ousei interrompê-lo. Ele levantou os braços e tocou suavemente as teclas, mas sem pressioná-las. Depois, voltou as mãos para baixo. Aquilo estava estranho.

-O que foi? – Perguntei, suavemente.

-Eu não sei. Tem algo me bloqueando. Minha mente está nublada, não se explicar.

Eu vi o nervosismo dele ao falar isso. No passado, tocar piano era a sua paixão, o que aliviava seus sentimentos quando estavam carregados demais. E, se eu ainda o conhecia como achava que conhecia, ele devia estar lotado desses sentimentos agora. Não ter como aliviar devia ser insuportável.

Botei meus dedos sobre as teclas e comecei a tocar. Eternitá, a música que ele havia feito depois de transformado. Eu nunca havia conseguido tocar como ele, mas eu tentei fazer o melhor. Ele reconheceu a música e fechou os olhos, ouvindo. Não era esse o objetivo, eu queria que ele se lembrasse me vendo tocar, mas estava tudo bem. Acabei me entregando à música, como sempre acontecia. Ela fluiu agradavelmente e também fechei meus olhos. Só havia agora o som das notas e dos pequenos solos, a música progredindo. A música chegou ao clímax e eu senti meu peito apertar. Não era só para ele que aquele som tinha significado, para mim também. Representava mais coisa do que eu podia expressar. Quando as notas foram ficando mais leves e a música se encerrou, me senti, de certa forma, mais leve.

-Você tem boa memória. – Ele falou, ainda de olhos fechados, sorrindo.

-Nunca consegui fazer como você fazia.

-Duas pessoas não tocam a mesma música da mesma forma, você deu a sua interpretação. Para mim ficou tão bom quanto eu me lembrava que era.

-Não quer tentar? – Tentei o incentivar.

-Tentar eu quero, mas não essa. 

Ele tocou as notas e seu rosto se enrugou em uma careta de esforço. Ele respirou fundo e começou a fazer notas e mais notas.

Eu não conhecia a música, nunca havia ouvido nada semelhante a ela. E, se Eternitá era de tirar o fôlego, aquela podia matar alguém. Quando acabou eu podia muito bem estar com olhos cheios de lágrimas se fosse possível.

-Sério mesmo que você estava bloqueado? – Brinquei e ele riu baixo.

-De vez em quando eu conseguia recobrar a minha consciência o suficiente para pensar. Para manter a minha mente saudável eu me acostumei e fazer duas coisas. Uma era repetir sempre que possível quem eu era e as coisas que eu havia vivido, como em uma oração. E a outra era criar combinações musicais, ajudava a passar o tempo. Um dia isso nasceu e, por algum motivo, eu não esqueci como aconteceu com as outras. – Ele sorriu. – Nunca achei que fosse ter a chance de ver como ela ficou realmente.

-E tem um nome? – Perguntei, curiosa.

-A única coisa que eu lembro a respeito de pensar em um nome foi “Long Gone”. Acho que vai ficar isso mesmo.

-Em inglês? – Todas as composições que ele havia feito tinham títulos em italiano, por isso o estranhamento.

-Sim, em inglês. O nome me veio em inglês, não sei o motivo.

Eu ia falar alguma coisa, mas ouvi um barulho vindo do lado de fora. Não era um tipo de passada de ninguém daquela casa, então rapidamente me levantei para ver quem estava chegando. Seguro morreu de velho. Era só Kratos e Ashley, e senti um alívio que fossem eles. Havia três dias que estávamos lá e não havíamos tido nenhum sinal de Jason nem nada do tipo.

-Nossa Giuliet, que recepção rápida. Sentiu saudades de nós? – Perguntou Kratos, entrando pela porta como se estivesse em casa. Seus olhos rapidamente foram para a direção de Andreas e prendi a respiração. Eles nunca se bicaram e não era um bom momento para se encontrarem. – Pizza, você está vivo! Isso é um tanto... inesperado. – Kratos olhou na minha direção procurando respostas.

-A história é grande. Entrem.

Cumprimentei Ashley e eles se sentaram no sofá. Andreas se remexeu no banco tentando ficar de frente para nós e, vendo sua dificuldade, pensei em ir ajudá-lo. Como se previsse que eu fosse fazer isso ele me deu um olhar de alerta. Claro, Kratos estava lá, ele não ia querer mostrar qualquer tipo de fraqueza perto do outro. Homens vampiros e suas disputas não verbais. Mas ele conseguiu se ajeitar sozinho e fiquei mais tranqüila.

-Então, metade das coisas que eu acreditava eram mentira. Ninguém que eu achava estar morto está.

-Como assim? Quer dizer, Hugh e...

-Não! Esse eu arranquei pedaços pessoalmente, tenho certeza que está morto. A lista é bem mais bizarra. Para começar, ele. – Eu comecei a listar, gesticulando na direção de Andreas. – Esse tempo todo estava preso em uma cela suja, dopado com sangue de lobisomem.

-Achei que os lobos eram seus amiguinhos.

-Os que vivem aqui sim. Os desgarrados não. Eu tenho um preso no porão, caso queira conferir. O que está no porão é Benjamin, eu te contei a história quando estava com você na Grécia.

-Ele não tinha morrido?

-Esse é o ponto da conversa, idiota. – Revirei os olhos e continuei. – E tem também Michael Carter, que na verdade é Jason Collins.

-Collins? – Ele levantou uma sobrancelha. – Seu irmão?

-Meu pai, eu não tenho irmãos homens. Quer dizer, agora tenho. Mas isso é outra parte.

-E como você conseguiu salvar o Pizza? – Andreas bufou onde estava, Kratos ignorou. Ele tinha uma espécie de amor pelas próprias piadas.

-Bem, eu me infiltrei no esgoto com ajuda da minha irmã caçula que também foi transformada e não sabia de nada.

-Sua família inteira é vampira e você não sabia? Nossa, Giuliet, eu conheço pessoas desligadas, mas você acabou de ganhar o Prêmio Nobel da Lerdeza.

-Muito obrigada pela parte que me toca. E não, não foi a minha família inteira, minha mãe morreu mesmo. Em compensação, Christopher, meu... como posso dizer... ex-noivo, também entrou na história.

-Espera! – Andreas falou lá de trás. – Esse Christopher que você está falando é um loiro meio estranho?

-Sim, ele é assim. Por que?

-Ele era o principal torturador. – Ele fez uma careta com a lembrança. – Queriam mesmo que você se casasse com aquilo.

-Agora você entendeu porque eu fugi de casa. – Respondi, dando de ombros, e voltando minha atenção para Kratos. – Jason não parou por aí. Além de se esconder de mim por séculos, com ele na prisão, ainda teve filhos. São três, um deles está aqui, o mais novo. Além dele, Jones, também há um tal de Allan, que é o híbrido do meio. E tem o meu alter-ego, a mais velha, Amy.

-Alter-ego?

-Se você for azarento como eu acho que é, vai conhecê-la e entender o porquê.

Ele assoviou e Ashley nos encarava com cara de quem não havia entendido direito. Kratos depois podia resumir para ela, eu não tinha paciência.

-Tá, agora conta tudo que aconteceu esses dias. – Ele pediu e eu tentei fazer um resumo dos últimos acontecimentos, detalhando só o importante. Ele concordava em silencia, até que eu terminei. – Certo. Qual o plano então?

-Que plano? – Perguntei, não entendendo.

-Giuliet, acorda! Você está em guerra, guerras precisam de um plano. Não acredito que você está só aqui esperando o cara chegar com um exército enquanto você tem meia dúzia de vampiros?

-Er... bem, eu ia pensar em alguma coisa quando...

-Quando o que? Quando metade da meia dúzia estivesse morta?

-Você veio aqui para gritar na minha cabeça ou o que?

Kratos ia responder não muito delicadamente, mas Ashley segurou seu braço e o lançou um olhar de advertência. Ele respirou fundo e se acalmou.

-Já que você não pensou em nada, eu penso por você. É melhor entrar em contato com todo mundo que você acha que esteja do seu lado e convocar um exército, ou algo parecido. Se esse Jason tem esse poder todo sobre Londres, deve haver muitos vampiros com ele. Você tem que trazer os seus para perto de si.

-Quando Hecate chegar da caçada eu peço para providenciar isso, satisfeito?

-Ótimo. Agora, você disse que tinha um lobo preso no porão. Conseguiu tirar alguma informação dele?

-Não, ele não fala nada. Já tentamos de tudo. – Confessei, impotente.

-De tudo? Tudo mesmo?

Eu entendi o que ele quis dizer, mas não aprovei. Naqueles dias tínhamos tentado extrair de todas as formas informações, mas não nenhuma maneira violenta. Claro que Kratos já tinha pensado em meia dúzia de maneiras diferentes de usar violência. Não que eu fosse contra violência, pelo contrário, eu era muito a favor, mas...

Mas eu estava sendo idiota. Benjamin não é mais o Benjamin que meu cérebro insistia em enxergar.

-Faça como quiser. – Decidi – Do que você precisa?

-Cordas e uma faca afiada. – Ele disse, ficando sério demais de repente. Eu já tinha visto aquela reação antes e eu não queria ser Benjamin.

Havia uma faca pequena, semelhante a um canivete, só que maior do que um, entre as minhas coisas, deveria servir. As cordas estavam no próprio porão, guardadas. Entreguei a faca a Kratos e ele levantou a lâmina, que ficava recolhida ao lado do punhal. A analisou, virando contra a luz.

-Isso é exatamente o que eu tinha imaginado. E as cordas?

-No porão. Vamos logo com isso.

Nós dois fomos em direção ao porão. Andreas se virou novamente para o piano, mas não começou a tocar. Ashley disse que preferia não estar perto e saiu por entre a floresta.

-Ela não gosta quando eu tenho que fazer coisas assim. – Ele explicou, e eu dei de ombros. Continuamos em silêncio.

Abri a entrada do lugar e pulamos no escuro abafado que o ambiente havia se tornado. O cheiro de Benjamin havia inundado o lugar, tornando enjoativo permanecer lá muito tempo. Kratos torceu ligeiramente o nariz, mas não se abalou. Acendi a luz amarelada da pequena lâmpada que havia no porão e avistei Benjamin sentado no canta, recostado na parede e com a cabeça entre os joelhos. Ele levantou ligeiramente para nos olhar enquanto eu procurava a corda. Quando a achei joguei para Kratos, que pegou no ar sem nem sequer olhar na direção.

-Olá cachorro. Confortável na casinha? – Kratos provocou e Benjamin apenas o encarou em silêncio, sem emoção. – Vamos lá, facilite as coisas, levante-se. – O lobo não fez nada, só ficou parado lá, sem mover um músculo. – Que foi, perdeu a língua?

-Kratos, seja mais direto. – Pedi, incomodada.

-Você não gosta de se divertir, esqueci.

Ele se aproximou de Benjamin e o puxou pelo braço, bruscamente. Esse tentou lutar um pouco, mas Kratos era absurdamente forte até para vampiros. O vampiro jogou o lobo no chão com violência e pisou em suas costas, o prendendo ao chão. Dessa forma teve facilidade em amarrá-lo e levantá-lo. O teto era baixo, pelo menos para Kratos, e ele amarrou a corda em um dos ferros que o revestiam. Benjamin ficava então pendurado pelos braços, como um pedaço de carne no açougue.

Quando estava pendurado, Kratos começou a andar ao redor dele, calmamente. Benjamin agora nem sequer parecia notar a presença dele, mas levantou a cabeça e me encarou. Havia um fogo ardendo por trás dos olhos negros, algo que colocaria medo em outros tempos. Não era apenas raiva e ódio, havia algo mais, como uma descrença ou algo semelhante. Algo acusatório que me fez me sentir mal. Olhei para outra direção, evitando-o.

-Então, cachorro, isso pode ser rápido ou pode demorar. Eu não tenho pressa, temos toda a eternidade. Literalmente. Bem, eu tenho, você eu já não sei.

-O que você quer? – Ele perguntou, a voz morta.

-Que você responda algumas perguntas simples. A primeira vai ser bem simples: O que você sabe sobre os planos de Jason? – Benjamin nada falou. – Tudo bem, vamos deixar essa de lado por enquanto. Quantos lobos existem além de você. – Nada novamente. – Estamos muito calados hoje. Por que se ofereceu para vir até aqui?

Benjamin ignorava Kratos com perfeição, mas este nem sequer se importava. Desde que era humano fazia coisas assim, estava acostumado com todos os tipos de reação. Kratos pegou um pano que havia em uma mesa próxima e se aproximou do outro novamente. Abriu a faca e usou para abrir a blusa de Benjamin, que caiu no chão, vencida.

-Isso dói? – Depois de perguntar, Kratos lentamente fez um corte na altura das costelas do lobisomem. Um filete de sangue escorreu, mas Benjamin apenas fez uma leve careta. – Não? E isso? – Kratos limpou o sangue no pano e passou a língua pela lâmina, deixando-a cheia de veneno, para logo depois fazer a mesma coisa, logo acima do outro corte.

O efeito foi bem diferente. Benjamin tentou, no início, segurar, mas logo depois soltou um grito grave e agoniado. Eu era uma estátua perto da escada, olhando tudo como se não estivesse ali. Kratos parecia se divertir e o invejava por isso.

-Sabe, tenho uma cota infinita de veneno, de pano e de faca. Você é grande, vai demorar até eu ficar sem ter onde cortar. Além do mais você regenera algumas partes com certa velocidade, portanto, não tenha pressa em nos falar nada.

E ele fez de novo e de novo, de vez em quando mais profundamente, de vez em quando com mais veneno, mas Benjamin sempre gritava. Quando questionei se o veneno não o mataria, Kratos explicou que não era quantidade o suficiente para tomar o corpo dele, que não mataria cá tão cedo. No máximo o faria se sentir fraco, mas não daria um fim definitivo.

Não sei quanto tempo fiquei parada lá, mas cheguei ao meu limite. Os gritos perturbavam a minha mente de forma agressiva e eu tinha que sair dali. Até porque eu havia deixado Andreas sozinho no primeiro andar, coisa que eu não devia fazer por muito tempo, com ele fraco como estava.

-Kratos, eu tenho algumas coisas para resolver, se conseguir algum progresso, me avise. – Ele concordou em silêncio e continuou o que estava fazendo.

Quando virei para ir embora, ouvi a voz rouca e furiosa de Benjamin falar atrás de mim.

-Você disse que não era como o seu pai. Enganou-se. Você é exatamente igual a ele, só que com prioridades diferentes. – Virei para encará-lo.

-Não, Benjamin. Eu não sou como meu pai. Eu sou muito pior do que ele.

Saí pela entrada, fechando-a atrás de mim com mais violência do que seria necessário. Respirei o ar puro do exterior profundamente e aquilo me acalmou, mas os gritos podiam ser ouvidos do lado de fora. Entrei novamente em casa, esperando que minha expressão estivesse um pouco melhor. Andreas ainda estava na sala, mas agora acompanhado de Beta e Lizzie. A primeira coisa que me veio à mente é que havia fases da minha vida diferentes demais naquela sala de estar. Beta e Lizzie pareciam estar conversando bem, mas Andreas estava quieto, olhando para as duas. Quando entrei todos me encararam.

-Tem certeza que isso é o melhor? – Lizzie perguntou, um leve tom de dúvida na voz.

-Espero que seja, sinceramente. – Respondi me sentando entre Andreas e Beta no sofá.

-Mãe, você sabe que se os lobos aparecerem aqui pode dar problema.

-Estamos em guerra. Benjamin é meu prisioneiro e eu decido o que fazer com ele. Podemos simplesmente ignorar os sons que vem de lá e fingir que nada está acontecendo. Por exemplo, que coisa animadora vocês conversavam agora a pouco?

As duas trocaram um olhar cúmplice e deram de ombros. Olhei para Andreas e ele tentava esconder uma risada. Por que eu achava que aquilo não ia acabar de um jeito feliz para mim?

-Bem... – Lizzie começou. – Nós começamos a conversar e tal, e acabamos decidindo contar para Beta alguma coisa da sua vida humana.

-Minha vida humana? – Soltei um suspiro. – Você está sujando a minha ficha, não está? – Ela e Andreas soltaram uma risada abafada.

-Não fiz isso sozinha. – Ela se defendeu. – Andreas lembra de mais coisa do que eu, apesar de não querer explicar o como.

Olhei para ele com um olhar reprovador. Eu sabia que ele tinha visões de mim enquanto eu era humana e tal, mas a gente nunca se aprofundou no assunto. Eu não sabia o quanto ele sabia de mim, mas isso nunca havia me preocupado. Até então.

-O que você está contando pra minha filha, traidor? – Ele riu sonoramente. Esse som me fez me sentir tão melhor do que estava havia poucos instantes que eu quase ri junto.

-Nada demais, mãe. Na verdade, Lizzie estava em uma interessante narrativa a respeito de roupas de cavalgada e vestidos.

-Nossa, isso deve ter sido uma narrativa incrível. – Debochei, revirando os olhos.

-De acordo com esses dois, sua mãe não achava assim tão incrível. – Beta respondeu, rindo.

-Minha mãe queria que eu cavalgasse com aqueles vestidos monstruosos e espartilho.

-E quando você colocou fogo na mesa da cozinha? – Ela perguntou, os olhos azuis cheios de sarcasmo. Eu havia criado um monstro ou algo parecido?

-Se eu me lembro, dona Elisabeth, foi a senhora que botou fogo na mesa da cozinha, eu só acobertei. – Tentei me defender novamente.

-Giuliet... foi você que botou fogo sem querer. – Andreas respondeu, calmamente.

-Foi? – Tentei puxar da memória, só que era tudo muito nublado.

-Foi. Você estava carregando um pedaço de brasa por motivo desconhecido, tropeçou, a brasa voou do ferro da lareira e caiu em cima da toalha que protegia a mesa de jantar.

-Foi isso mesmo. – Lizzie comentou, encarando Andreas com estranhamento. – Como você sabe desses detalhes se nem mesmo ela lembra? – Ela perguntou, confusa.

Aquela situação tensa em que algum dos dois teria que explicar os motivos. Faríamos isso tranqüilamente se tivéssemos um “status” definidos, mas o que nós éramos naquele momento mesmo? Não era um bom momento para explicações.

-Longa história. – Respondi mais rápida do que deveria.

-É... longa. Muito longa. – Andreas completou.

-É, bem longa. Daquelas longas que são longas mesmo.

-Tudo bem, nós já entendemos que é longa. Não precisam repetir e concordar um com o outro várias vezes. – Lizzie disse, revirando os olhos e sorrindo. – De qualquer forma, também houve aquela vez em que...

Ela foi cortada pelo som de motor de motocicleta. Levantei e olhei pela janela a tempo de ver Camily entrar pela clareira que ficava logo a frente da entrada da casa e estacionar a moto na frente da entrada da construção. Eu sabia que a presença dela ali não era bom sinal. Por sorte os gritos de Benjamin haviam parado um pouco. Fui até a porta saber o que estava acontecendo. Ela desceu da moto rapidamente e logo estava no pé da escada.

 -O que aconteceu? – Perguntei, preocupada.

-Encontramos uns rastros estranhos no perímetro da cidade. Acho que eles chegaram.


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