Emmanuelle Benson

 Não tem aula mais chata do que geografia. A sala inteira estava quase dormindo e eu acho que eu também estava. Eu não estava entendendo nada, pois tenho dislexia. Pensava na vida, como eu estava sozinha no momento com poucas pessoas para me ajudar, mas o mais estranho é que eu estava feliz.  Era a ultima aula e parecia que não ia acabar nunca. Do meu lado estava sentada minha melhor amiga, Ana Clara, que estava com a cabeça apoiada na mão, seus olhos estava quase se fechando.

 Ana é minha melhor amiga desde sempre. Ela tem muitas coisas em comum comigo, por exemplo, ela tem dislexia e déficit de atenção, igual a mim. Ela nunca conheceu a mãe e seu pai morreu quando ela era criança, pelo o que eu sei. Já eu, nunca conheci meu pai, na verdade vi-o uma vez na minha vida, já minha mãe, mora no México. Dividimos um quarto dentro da escola Gonden School, que foi criada para crianças sem pais ou que vieram de longe sem seus pais.

 Ana é uma menina muito inteligente e bonita, o que me faz sentir certa inveja de vez em quando. Seu cabelo castanho claro é enrolado nas pontas, batem na metade de suas costas, seus olhos são cinza. Ela estava quase dormindo, e estava com uma cara muito engraçada, o que fez com que eu não conseguisse segurar a risada.

-Algum problema senhorita Benson? – perguntou o professor.

-Nenhum – disse segurando a risada.

Tocou o sinal, tinha finalmente acabado aquela aula.

-Por que você começou a rir? – perguntou Ana, enquanto andávamos em direção ao dormitório.

-Porque sua cara estava bem engraçada.

-Pois é, estava muito cansada e essa aula estava muito chata.

-Concordo.

 O celular da Ana começou a tocar e ela foi atender, quando viu o visor ficou maluca com quem era, não consegui ver, mas pela felicidade dela, devia ser alguém que ela não via há muito tempo.

-Alô? – falou Ana – Tudo e você? Eu to bem, que saudades – uma leve pausa – serio? Não brinca! Que legal! Quando? Amanha? Claro! Posso levar minha amiga? – ai não! – Ta bom. Claro! Beijos, até amanha!

 Ela desligou o celular e ficou olhando para a minha cara esperando alguma pergunta, ela estava com um sorriso imenso no rosto.

 -O que foi? – perguntei

-Nós vamos sair amanha.

-Quem era no telefone? Para aonde nós vamos? Com quem?

-Eram meus amigos do acampamento – Ana freqüentava um acampamento todas as férias, ela nunca me convidou par ir, ia sozinha e me deixava aqui sozinha, na verdade eu ficava com o Lucas (um menino do internato), era uma coisa que eu nunca entendi. – eles vão vir aqui amanha e nós vamos ao cinema.

-O que? Mas, eu nem conheço eles!

-Mas você vai conhecer, eles são legais!

-Ana, eu não vou...

-Vai sim Manu.

Fiz um sinal de não com a cabeça.

-Por favor! – implorou Ana.

-Não.

-Olha, vou eu, você, o Percy, a Annabeth e o Nico.

-Quem?

-O Percy tem 16 anos.

-16? – disse assustada, como ela pode fazer amizade com um garoto de 16 anos, ela tem 13!

- Tem a namorada dele Annabeth – disse Ana ignorando – e o Nico da nossa idade.

- Não.

-Você vai e ponto final.

-Tudo bem... – desisto

-Ai que legal! Vai ser muito legal! Amanha às 18h, ok?

-ok

-Eles vêm buscar a gente aqui.

-ok

Fomos para o dormitório guardar os materiais. E depois fomos ao refeitório almoçar, estava morrendo de fome. Ir ao cinema com amigos da minha melhor amiga? Eu vou morrer de vergonha.

 No refeitório tinha peixe, quase vomitei, eu odeio peixe, na verdade não odeio o peixe, e sim odeio as pessoas que matam os peixes, sou muito contra comer frutos do mar.

Acabei comendo arroz e salada. Ana não parava de falar, uma hora falava de como iria ser o cinema no dia seguinte, na outra sobre arquitetura (Ana adora arquitetura) e na outra falava como eram seus amigos.

 Descobri que Percy era um garoto de 16 anos moreno, Annabeth era sua namorada tinha cabelos loiros e seus olhos eram cinza, disse que tinha uma grande intimidade com essa Annabeth e isso me deu certa inveja, pois eu era a melhor amiga da Ana. Nico era um garoto com cabelos e olhos negros que não era muito animado. Senti certa impressão que amanha vai dar confusão, não sei como, mas vai dar.

Ana

Faltavam 30 minutos para meus amigos chegarem para o cinema. Manu já estava pronta, ela vestia uma simples camisa azul marinha e calça jeans, seu cabelo estava solto. Ela não parecia estar muito animada. Ela só esta indo por que eu insisti. Senti-me mal por isso, mas tenho certeza que ela vai gostar deles. Manu também usava seu bracelete. Quando nós tínhamos nove anos ela apareceu com o bracelete e depois disso nunca mais o tirou, sempre me perguntei o porquê, mas nunca tive coragem de perguntar para ela.

 Estava pronta. Usava um vestido vermelho na altura do joelho e meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo perfeito que Manu fez para mim. Meu celular tocou, era percy, mas antes de atender ele desligou. Acho que é porque ele não quer gastar o celular, mas deu para entender que ele já tinha chegado.

-Vamos Manu! – disse animada.

Manu bufou e levantou.

Chagamos lá fora e o carro de Percy estava na rua. Todos estavam fora do carro. Fiquei super feliz, pois estava morrendo de saudades deles e então sai correndo.

Manu

Ana saiu correndo para abraçar seus amigos. Primeiro abraçou o garoto mais alto, que eu deduzi que era Percy. O estranho era que ele era muito parecido comigo. Seus cabelos eram pretos, iguais aos meus e seus olhos azuis profundos, iguais aos meus. Quando Ana foi abraçar a Annabeth, Percy ficou me olhando, percebi que eu também estava olhando para ele, ele estava assustado e eu acho que eu também estava. Desviei o olhar sentindo minhas bochechas ficando vermelhas.

 Annabeth era muito parecida com Ana só que seus cabelos eram loiros, já o da Ana castanho. Mas seus olhos eram cinza iguais os da Ana. Ela era realmente muito bonita. Estava de mãos dadas com Percy, daí lembrei que eles são namorados. Percy ainda me olhava sem expressão e aquilo estava me deixando nervosa e com vergonha.

O menino, na qual Ana estava abraçando, era estranho. Seus cabelos e seus olhos eram negros. Ana já tinha me dito isso, mas eu não tinha imaginado que eles eram realmente negros. Ele estava sem expressão, e enquanto abraçava Ana deu um sorriso no canto da boca. Devia ter uns 14 anos. Pelo menos alguém de nossa idade!

-Gente – Ana disse para os amigos. – Essa é Manu, minha amiga do internato.

-Oi - disse morrendo de vergonha.

-Oi - disse os três juntos.

-Bom – continuou Ana – vamos?

-Vamos – disse Annabeth.

 Percy dirigiu e Annabeth sentou ao seu lado. No banco de trás sentamos eu, Ana e Nico.

Nico era realmente muito bonito. Seus olhos me davam medo, mas ele em si era bonito, tinha um estilo fechado, curioso, o que me fazia ficar cada vez, mas interessada em saber quem ele era.

O trajeto inteiro Ana ficou falando o quanto estava com saudades deles. Percy dirigia e olhava no retrovisor para me encarar, serio isso esta me dando medo, Annabeth falava empolgada para Ana como estava o acampamento e Nico fitava a janela quieto.

 Chegamos ao cinema e decidimos ver um filme de ação. Paguei meu ingresso e entramos na sala. Sentamos nesta ordem: Percy, Annabeth, Ana, eu e Nico.

 Enquanto o filme não começava, Ana ficava conversando com Percy e Annabeth, na verdade ela não parou de falar um minuto, eu fitava a tela escura que iria começar o filme daqui a pouco.

 - Você é uma grande amiga da Ana, né? – uma voz disse, percebi que era de Nico, era a primeira vez que estava o ouvindo falar com clareza e comigo. Ele olhava para a tela de cinema, acho que estava com vergonha e tentando puxar papo.

-Sou amiga dela desde sempre, conheci ela com três anos. – respondi um pouco alto para Percy e Annabeth ouvirem, mas não deu certo.

-Legal. – ele disse. – você é tão misteriosa.

 Como assim misteriosa? Ele que é misterioso, eu só estou com vergonha. Olhei para ele no mesmo instante que ele disse, e ele também me olhou, nossos olhares se encontraram por alguns segundos, mas eu desviei com vergonha.

 -Misteriosa? – perguntei.

-Sim, misteriosa. Você não fala nada e é difícil te entender, descobrir que você é.

-Posso falar a verdade? Eu que te achei misterioso. – disse.

-Isso eu concordo. Sou meio fechado com todo mundo, é raro ver pessoas na qual eu possa me abrir, pois eu conheço poucas pessoas, e são realmente algumas delas que eu me abro no caso o Percy, Annabeth e a Ana.

 Fiquei surpresa, era realmente como eu me sentia, por isso que ele me achou misteriosa, pois eu só me abro com a Ana.

 Fiquei encarando ele, sem falar nada, as luzes começaram a abaixar e o filme começou.

Nico

Aquela garota era mesmo misteriosa, como se fosse um enigma. Isso me deixava louco, eu queria conhecê-la melhor. Ela era muito bonita. Tinha os cabelos pretos e lisos até a metade das costas, seus olhos eram azuis, ela me lembra o Percy, era muito parecida com ele.

 Eu não parava de olhar para ela, discretamente, o filme inteiro, mas ela com certeza já tinha percebido, pois não parava de olhar para e tela, e em alguns momentos dava um sorrisinho no canto da boca, o que me fazia sorrir também. Eu não conseguia parar de olhar para ela, minha cabeça estava virada para a tela, mas meus olhos estavam focados nela. E o pior é que eu não fazia nada para disfarçar, eu não conseguia.

 Aquilo não estava certo, eu sou um filho de Hades, não posso me apaixonar por uma garota normal que eu só sei o nome. O sorriso dela era tão encantador. Eu nem estava prestando atenção no filme, só nela. Ela olhou para mim e fingiu só perceber agora que eu estava a olhando. Ela corou e deu um sorrisinho, sorri também. O que esta acontecendo comigo? Ela virou o rosto. E eu fiquei assim, encarando ela até o final do filme.

O filme acabou e nós decidimos ir á uma pizzaria. Pelo o que percebi Manu não tinha gostado da idéia, pois quando Annabeth deu a idéia ela olhou diretamente para Ana, com seus olhos arregalados, como se estivesse dando um sinal. Ela foi conversar com Ana, enquanto Percy ia ao banheiro. Ana disse alguma coisa para ela para ela não se preocupar. Não tinha entendido.

 Ana foi ao banheiro e Manu ficou esperando, me aproximei dela e disse:

-O que aconteceu?

-Nada, não se preocupe. – ela respondeu sem me olhar.

-Eu posso te ajudar.

-Na verdade é uma coisa bem boba.

 Fiquei olhando para ela, esperando alguma coisa. Ela olhou para mim, suspirou e disse envergonhada:

-Eu não sabia que nós iríamos a uma pizzaria, pensei que só íamos ao cinema. Então peguei o dinheiro certo para o ingresso, e agora não tenho dinheiro para a pizzaria.

-Não tem problema. – disse

-Eu sei, por isso pedi para a Ana me deixar no internado. Daí vocês vão sozinhos.

-Não! – disse envergonhado com minha resposta.

-Desculpa, mas eu não tenho mais dinheiro, nem aqui, nem no internato.

-Eu pago para você.

-Não precisa Nico, eu vou ficar no internato.

-Eu te proíbo – disse ameaçador – você vai nesta pizzaria e ponto final, e eu que vou pagar para você.

Ela ficou me olhando por um longo tempo, parecia que estava tentando entender o porquê de eu fazer isso. Depois de ficar me olhando, ela sorriu e disse:

-Me convenceu, mas depois eu vou te pagar.

-Nem pense nisso, vai ser um honra pagar a conta – disse rindo.

Ela também riu, mas foi uma risada linda, encantadora. Ela percebeu que eu estava encarando-a e desviou o olhar para Ana que tinha acabado de voltar do banheiro.

-Vamos? – disse Ana.

-Mudança de planos, amiga – disse Manu – eu vou sim.

Ana ficou tão feliz, que deu até pulinhos de alegria. E lá fomos nós para a pizzaria.