Hate escrita por Nebbia


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Desculpa se não ficou como tu queria, bro, mas eu tentei! ;_;
Todas as palavras estrangeiras, por mais bestas que sejam, estão com suas traduções nas notas finais.



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 Todos os presentes na sala de reuniões usavam roupas grossas para o frio. Ainda assim, tremiam enquanto tentavam concentrar-se nas palavras do russo.

 A ideia de fazer uma conferência no coração de um dos países mais frios do mundo no meio do inverno foi rejeitada por praticamente todos e logo substituída pela capital alemã. O que ninguém esperava era que houvesse um protesto contra usinas nucleares bem na semana do encontro, forçando todos a aceitarem a nação anterior como sede daquele evento.

 Por isso também Ivan teve que preparar tudo praticamente de um dia para o outro para apresentar com clareza aos outros logo depois. O tema já era conhecido por todos, o que diminuiu o trabalho. Aquecimento Global e novas formas de se obter energia em qualquer país e sem desgastar o mundo. Apenas para cutucar um pouco a ferida, adcionou as usinas nucleares.

 Ninguém parecia muito satisfeito em acordar em uma manhã de nevasca em Moscow para trabalhar. Mas nada podiam fazer a respeito…

 Rússia já estava no meio da apresentação e tinha um imenso sorriso no rosto. Sabia que não estava errando nada e que todos entendiam o seu ponto de vista. Ou, pelo menos, era o que aparentava. Não dava para saber ao certo se sua voz chegava até o fim da mesa ou se o vento gélido batendo na janela do lado de for a escondia tudo isso. Mas, cruzando olhares com cada um dos presentes, eles pareciam acompanhar seu raciocínio.

 Até que seus olhos pararam… Nele.

 Aquele maldito estadunidense com seu olhar superior dos infernos. Olhar de quem sabe que está por cima, de gente que realmente se acha. Aquele olhar que ele sempre teve e que piorou ainda mais para o lado do russo depois da Guerra Fria. Acompanhado daquele sorriso cínico, azedo.

 Tinha vontade de ficar a encará-lo enquanto falava apenas para mostrar-lhe que não ficava intimidado com aquilo Mas, questão de educação, não o fez. Continuou sorrindo enquanto explicava a apresentação, fingindo que aquele estorvo gordo não existia. Mas torturando-o brutalmente em sua mente.

 Finalmente chegou o slide preto, mostrando que o discurso do russo havia chego ao fim. Ivan respirou aliviado, quase que imperceptívelmente, apoiando ambas as mãos na mesa e olhando os países.

 “ O tema está aberto para discussões.”

 Lançou um curto olhar de esguelha para o estadunidense. Ele ainda estava lá, posição relaxada, olhar superior, sorriso sarcástico. A mesma coisa de minutos antes. Como um fantasma.

 Um estúpido fantasma estadunidense.

~

 O que deveria ter sido uma curta discussão com conclusões já formadas no fim acabou virando uma baderna e quase um ringue de luta livre com os berros que os países davam uns para os outros. E acabou que, como sempre, Alemanha botou ordem no local com um grito mais alto que todos, e depois todos se reconciliaram como se nada houvesse acontecido e foram embora sem falar praticamente nada sobre o tema em si. Ou melhor, sem nenhum progresso. Mas, para Ivan, aquilo estava de bom tamanho. Ele apresentara e o resto era com as nações, que pareciam perder toda a polidez quando se encontravam em uma reunião mundial. O russo apenas observara tudo tácito, sentado em sua cadeira.

 Fechou os olhos e reclinou-se sobre a mesa. Ficou apenas a ouvir passos se distanciarem, folhas de papeis a serem remexidas e malas a serem fechadas. Em questão de segundos, reinava na sala um silêncio total.

 O russo abriu os olhos, endireitou-se na cadeira. Seus olhos percorreram a sala vazia. Percorreram tudo e pararam… Nos dele.

 “ Então é isso, Commie? Não tem mais nada a acrescentar?”

 Ivan mordeu os lábios. Em sua mente, uma cena típica de filmes de ação dos tempos da Guerra Fria: Russo pulando mesa e esganando estadunidense, cena que mostrava o quão cruel aqueles seres de uma região tão fria e inóspita poderiam ser.

 Não imitou sua imaginação.

 Levou as costas para trás, fazendo a cadeira ficar apoiada apenas nas pernas traseiras, enquanto seus pés cruzados em cima da mesa mantinham o equilíbrio. Sem tirar os olhos do outro, tirou uma garrafa de Vodka do sobretudo.

 América franziu o cenho. Não era normal alguém levar uma garrafa de bebida alcoólica no bolso interno da jaqueta. Em uma reunião mundial, ainda.

 O russo tirou a tampa da garrafa, bebeu no gargalo. Observou como, inconscientemente, o estadunidense ficava vermelho de irritação.

 Este inclinou-se para a sua maleta em cima da mesa, abriu-a, tirou dali uma pequena sacola de papel marrom com o característico “M” amarelo estampado, enfiou a mão nela e de dentro tirou um hambúrguer. Levantou-se, aproximou-se do albino e se sentou em cima da mesa, quase em frente a ele.

 “ Not answering a question isn’t very polite, you know…“

 Ivan deu um gole em sua Vodka. Alfred mordeu seu hambúrguer.

 “ Otvyazhis...”, foi a resposta do albino.

 O estadunisense saiu de cima da mesa, sentou-se em uma cadeira próxima.

 “ Também te amo...”

 Rússia grunhiu. Aquela presença incomodava demais. Alfred sabia disso. Por isso não ia embora. Mas ele queria que ele fosse embora...

 Afinal... Por que ELE MESMO não vai embora de uma vez?

 “ Why so serious, Commie?”, América tirou-o de seus pensamentos com sua voz irritante.

 Recebeu do russo um dos olhares mais cortantes da história da humanidade e arregalou os olhos, voltando a se concentrar no lanche, apenas de deboche.

 Passaram longos minutos em completo silêncio, um apenas bebendo, outro apenas comendo. Os únicos sons provinham da Vodka a ser virada e do mastigar do estadunidense.

 “ Want some?”, Alfred estendeu-lhe o hambúrguer, já pela metade. Recusava-se a encará-lo.

 Ivan jogou o tórax para a frente, estendeu ao estadunidense sua garrafa, trocou-a pelo sanduíche.

 Novamente, comeram e beberam em silêncio.

 “ Então...”, o estadunidense voltou a falar depois de uns goles. Rússia revirou os olhos. Seria necessário algo muito mais forte que bebida para calar esse bendito. “ Eu soube que caiu um avião...”

 Ivan estendeu o dedo indicador a Alfred, ainda concentrado em comer o resto do Hambúrguer antes que a Vodka começasse a arder na garganta do outro e ele quisesse sua comida de volta. Não que um América bêbado fosse mais suportável que um sóbrio... Ao menos, não era isso o que parecia até o momento.

 “ Aaall right, eu mudo o assunto. Chernobyl?”, ele riu. O russo não fez o mesmo.

 “ Ah, Commie... Você tem que levar as coisas mais na brincadeira, sabe? Ou vai acabar ficando que nem o Inglaterra, aquele velho sem amigos que só fica lembrando do passado e reclamando de tudo. Ninguém gosta dele. Eu estou tentando te ajudar, saca? Mas você fica aí grunhindo e me mandando esses...”

 A voz estridente do estadunidense foi subitamente calada por um beijo. Os lábios russos acariciaram os de Alfred por um tempo, suas mãos segurando forte os braços do outro até que ele parasse de tentar se livrar do ato súbito.

 Em questão de segundos, ambos competiam pelo domínio da língua um do outro. Ivan mordiscava o lábio inferior de América, ganhando gemidos como recompensa, como encorajamento para continuar o beijo. Arranhava as costas do estadunidense, mesmo que por cima de suas roupas. Secretamente, tentava machucá-lo como punição pelo estresse que ele o fizera passar durante a apresentação. Mesmo que ele não percebesse. Porque ele difícilmente percebia essas coisas.

 Sentia-o, ao mesmo tempo, ofegar, tentando desesperadamente buscar ar a cada oportunidade. Mas Rússia voltava a agarrá-lo forte para que parasse de se mexer, pressionava seus lábios ainda mais contra os dele, sentindo a boca estadunidense atacar a sua em resposta com sofreguidão. O beijo agonioso era o seu favorito.

 Separou-se dele, finalmente, empurrando seus ombros para trás.

  “ Zamolchi...”, contemplava-o com um sorriso cínico, aquele mesmo que recebera do estadunidense durante toda a reunião e até depois desta, que o estressara tanto e que não esqueceria fácil.

 América emitia uma respiração chiada. O russo passou os olhos pelo seu corpo, demorando-se em seu peito que subia e descia frenéticamente e, depois, em seus olhos que o fitavam com raiva. Sabia muito bem que ele queria abrir a boca e berrar “Comunista filho da puta!”, mas precisaria controlar a respiração primeiro.

 Mas ele não estaria lá quando Alfred tivesse condições de fazê-lo.

 O albino levantou-se, pegou a garrafa de Vodka que o estadunidense havia bebido até a metade. Olhou novamente em seus olhos, vendo-os se arregalarem um tanto incrédulos em entenderem que ele de fato iria simplismente embora. Sorriu de forma amável, algo que arrancaria suspiros de fofura de qualquer um que não o conhecesse. Não fazia efeito, porém, naquele estadunidense, aquele que conhecia o verdadeiro Rússia mais do que ninguém.

 Inclinou-se e tocou o dedo indicador nos lábios semiabertos do loiro, que ainda tentava se acalmar sugando grandes quantidades de oxigênio. Viu lágrimas de raiva surgirem de seus olhos safira, bem como seu rosto novamente enrubrescer-se.

 “ Não chore...”, o russo sussurrava, seu rosto perto do dele, Alfred sentindo sua respiração na pele, arrepiando-se instintivamente, “ Eu volto pra você...”

 Endireitou-se, rodeando a mesa e pegando sua maleta de trabalho. Fingiu não ter ouvido o grunhido de desprezo do estadunidense.

 “ Do svidaniya.”, antes de deixar o local, virou o rosto e lançou um olhar insano ao loiro, sorrindo de modo nefasto ao ver seus olhos arregalarem-se de susto mais uma vez. Só então foi embora, saindo de seu campo de visão, deixando-o sozinho na sala gélida, vítima do impiedoso inverno russo.


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Notas finais do capítulo

Commie - Diminutivo de "Communist" (Comunista, delp)
Not answering a question isn’t very polite, you know… - Não responder a uma pergunta não é muito educado, sabe...
Otvyazhis- Vai te fuder
Why so serious? - Por que está tão sério? (Quem não conhece a frase típica do Coringa q?)
Want some? - Quer um pouco?
All right - Tudo bem
Zamolchi - Cale a boca
Do svidaniya - Adeus