Minha Viagem Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 2
Comida chinesa


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai o segundo! Nossa... Logo no primeiro capítulo já recebi 15 reviews!

Obrigada gente!



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Eu dei algumas voltas no quarteirão só para dar algum tempo para que os três acabassem de discutir. Esperava que Apolo contasse a verdade para o meu pai, assim ele não teria que acreditar nas histórias de Ares.

Esperava também que meu pai desse um belo soco em Ares, mas acho que isso já ia ser um pouco demais.

Estava passando na frente de umas vitrines de loja, quando vi algo que me prendeu a atenção. Uma agência de turismo estava com pacotes aéreos promocionais de 1º até 20 de novembro.

Sorri para a placa azul, branca e vermelha que mostrava os preços para Paris. Ah... Se eu tivesse dinheiro...

Parei para pensar melhor. Eu não trabalhava há um bom tempo. Na verdade, eu nunca precisei sair para trabalhar. Eu era fluente em espanhol, por isso traduzia textos de editoras. Era só fazer a tradução, mandar, e ganhar dinheiro. Fácil assim.

Mas com o passar desses meses malucos, eu não fiz a tradução de mais nenhum texto novo. Pelo menos não algum que realmente desse um bom pagamento.

- Ah... Droga. – Murmurei voltando a andar. As passagens para Paris custavam mil dólares cada. Mil dólares. Ok... Eu não pagava conta nenhuma, morando na casa de Ares, mas mesmo assim. Não tinha aquele dinheiro todo.

Seriam uns 3 mil dólares. Na verdade... 6 mil! Ida e volta, sendo que teria que comprar para cada um deles. Inclusive... Ares. Argh!

Por quê?! Que saco! Eu nem queria levar ele á lugar nenhum, mas agora... Droga. A minha sorte nunca melhorava. Nunca mesmo. Parecia que não importava o que eu fazia, sempre tomava a decisão errada.

Voltei andando para casa, e quando abri a porta, pude soltar um suspiro de alívio. Estava vazia. Completamente vazia. Ufa.

Fui até o sofá, e peguei o telefone. Talvez, se eu começasse a trabalhar logo agora, eu poderia comprar as passagens logo no começo do ano que vem.

Depois de discar alguns números, a minha suposta chefe atendeu.

- Lindsey? – Perguntei, e ela confirmou – Sou eu. Alice Kelly, de New Jersey. Eu... Liguei para perguntar se você teria algum texto novo para mim.

- Olá Alice! Nossa... Você não dá sinal de vida há milênios! Pensei que você tinha morrido. – Quase, mas ainda não – O que aconteceu com você?

Descobri que sou uma meio-sangue, me mudei para a casa do Deus da guerra, me tornei famosa no Olimpo... Nada demais. E você? Como vai a sua vida mortal?

- Ah, eu tive alguns problemas de família. Sinto muito faltar com a minha obrigação desse jeito. – Disse com a minha voz mais convincente.

- Quem é? – Perguntou Ares descendo as escadas. Virei-me ao levar um leve susto. Ele ainda estava ali?! Ah...

- Ninguém. – Respondi, mas então esqueci que estava no telefone – Ah, não! Não é com você, Lindsey. Sinto muito. Mas então... Quantos aos textos...

- Nós temos alguns artigos. Alguns de revista, sabe? Esses são os seus favoritos, não é? – Disse ela provavelmente sorrindo.

- Isso mesmo. – Confirmei – Mas... Eu queria pegar uma boa quantidade, sabe?

- Grande quantidade? Uh... Esforçada, hein? Para que, Alice? – Perguntou.

- Nada. Só preciso juntar um dinheiro para as coisas da faculdade e tal. – Menti – Livros são caros.

- Eu entendo. É verdade mesmo... Bem... Posso te passar a tradução de um livro? Que tal? É um pouco mais trabalhoso, mas o retorno é bem maior. – Retorno, dinheiro, capital, Money, grana... Qualquer expressão dessas me agradava.

- Ótimo... Pode mandar então. – Confirmei.

- Pede um prato de Yakisoba para mim. Quero o meu sem aqueles vegetais estranhos. Odeio essas coisas esquisitas de orientais. Ah! Rolinhos primavera também. – Disse Ares ao meu lado.

Olhei para ele com cara de “Ahm?!”, mas logo voltei a falar com Lindsey.

- Está pedindo comida chinesa? – Perguntou ela.

- O que? Ah, não. Ignore isso. Nada de comida chinesa. – Respondi.

- Como assim?! Sua egoísta! Eu estou com fome, droga! – Exclamou ele. Eu gesticulei claramente com a boca “vai se ferrar” sem emitir nenhum som , e Ares fez uma careta para mim – Me dá o telefone, sua imprestável!

- O que?! Não...! – Ares arrancou-o de mim, e eu dei um pulo do sofá – Ares! Seu idiota, não é do restaurante!

- Vou querer dois Yakisobas sem aquelas drogas de legumes. Traz uns rolinhos primavera também, mas nada daquela porcaria de biscoito da sorte, sacou? E é melhor ir rápido. – Com isso ele desligou o telefone.

- Não acredito que você fez isso. – Falei incrédula.

- O que? Você não ia pedir para mim mesmo. – Retrucou ele jogando o telefone sem fio no sofá.

- Claro que não! Não era do restaurante, imbecil! Era a minha chefe! – Reclamei com vergonha. Aí droga... E logo agora que eu queria juntar dinheiro para ir á Paris!

- Você nem trabalha. – Disse ele sentando-se no sofá.

- Eu trabalho sim! Bem... Ia voltar a trabalhar, mas você provavelmente estragou a oportunidade! – Disse jogando-me no sofá com raiva.

- Tsc. Deixa de ser idiota. Para que você ia querer trabalhar? Não precisa de dinheiro, otária. – Falou ele procurando o controle remoto.

- Eu queria juntar dinheiro para...! Ah. Esquece. – Resmunguei revirando os olhos. Só de pensar que eu estava juntando dinheiro para comprar uma passagem para ele também, a raiva tomou conta de mim – Agora eu duvido que consiga.

Houve um minuto de silêncio, enquanto Ares trocava de canais, até que de repente ele parou e olhou para mim.

- Espera. – Disse ele me fitando. Eu olhei para ele esperando que continuasse a fala, mas ele disse algo tão idiota que eu me arrependi – Quer dizer que ninguém vem entregar comida aqui?

Dei um tapa na minha própria testa. Eu me levantei do sofá, mas não antes de jogar uma almofada em Ares.

- Ah, sua revoltada! Não sei nem porque você está com raiva, se sou eu quem vai ficar sem comida! – Reclamou ele.

- Você acabou de tomar café! – Exclamei virando-me novamente.

- Acabei? Está com problemas mentais, por acaso? É quase uma da tarde! – Exclamou ele – Você saiu daqui faz umas três horas para dar uma caminhada.

-... Sério? – Franzi o cenho. Nem mesmo tinha visto o tempo passar. As horas voam quando você sonha com Paris – Que sorte a minha.

Fui de novo para a cozinha, mas ouvi o grito de Ares.

- Já que você está aí, faz um almoço para mim, benzinho! – Disse ele provavelmente rindo de mim.

- Nem que você me pagasse! – Exclamei de volta. Se bem que... Eu podia colocar veneno na comida, né?

- Pensando bem... Acho melhor eu mesmo fazer o meu prato. Você pode colocar veneno na minha comida. – Comentou ele.

Nossa. Me emociona ele me conhecer assim tão bem.

Ri comigo mesma, mas continuei o meu trabalho na cozinha. Eu abri os armários á procura de alguns ingredientes especiais, mas acabei vendo que a maioria deles estavam faltando. Teria que sair para comprá-los se quisesse...

- O que está fazendo aí? – Perguntou Ares atrás de mim. Estava em pé em um pequeno banco, mas quase caí com o susto.

- Quer parar de me assustar assim? – Resmunguei descendo de lá – Eu... Só estava vendo algumas coisas. Acho que tenho que ir ao mercado e...

- Mercado? – Riu ele. Ares me empurrou para o lado. Ele esticou as mãos e fechou a porta do armário. Em questão de segundos ele as abriu novamente, e pude ver que agora o armário estava cheio – Eu te disse. Não precisa de dinheiro para nada.

- Claro. – Revirei os olhos. Pelo menos era uma coisa a menos para gastar. Poderia juntar o dinheiro das compras de mês, mais o que a minha mãe me dava como ajuda para a faculdade. Não estava nem mesmo indo ás aulas direito, então acho que não precisaria de livros novos.

- Uhm... O que eu posso comer? – Murmurou Ares consigo mesmo.

- Qualquer coisa que seja comida de homem. – Comentei tentando não rir.

- Engraçada. – Resmungou ele de mal humor – Seu pai e seu namoradinho já me encheram a paciência o suficiente pelo dia inteiro, por isso fica quieta no seu canto, Kelly.

- Meu pai... – Repeti – O que ele disse? Ele foi embora antes que eu voltasse.

Ares parou para refletir um momento, e então respondeu.

- Ele disse... – Ares parou para tentar imitar a voz de Hermes, mas com um forte tom de deboche – Ares, você é o homem da casa, por isso tem que tomar conta da minha pirralha.. Er... Filha para que ela não cante “Cherry Bomb” em um bar qualquer de New Jersey.

- Você é muito irritante, sabia? – Comentei irritada.

- Eu tento. – Sorriu ele.

- O que ele disse. De verdade. – Disse antes que ele contasse mais uma história inventada.

- Ele disse isso. Você nunca acredita em mim, não é? – Falou ele fingindo estar magoado – Puxa, Kelly... Ás vezes você magoa os meus sentimentos com as suas suspeitas infundadas.

- Infundadas. Aham. – Confirmei fingindo acreditar – Esquece. Eu pergunto para o Apolo o que ele disse.

Ares encolheu os ombros sem ligar e foi fritar alguns pedaços de bacon. Fiz uma leve careta ao sentir o cheiro de porco frito na cozinha, e resolvi levantar de lá.

Olhei para o calendário que tinha na porta da cozinha antes de sair de lá, e sorri de novo. Seria engraçado, quando Novembro chegasse. Faltavam só dois dias.

- Amanhã é dia das bruxas. – Comentei olhando para o calendário. Falei aquilo mais para mim do que para Ares, mas ele acabou ouvindo.

Com um riso reprimido ele resolveu tirar satisfação do meu comentário.

- Vai sair para pedir doces com seus amiguinhos da escola? – Perguntou ele zombando novamente de mim.

- Claro. Até porque, eu não estou na faculdade nem nada. – Comentei em sarcasmo – Eu ainda tenho amiguinhos da escola.

- Quem sabe? Para mim não faz diferença nenhuma, mas se sair para pegar doces, por favor, me avisa para ir junto. – Pediu ele.

- Por quê? Quer aproveitar a oportunidade para se vestir de bailarina? – Rebati.

- Não. Porque quero zoar da sua cara bem de perto. – Respondeu ele sorrindo para mim – Vai ser muito divertido. Ah! E seu pai também disse algo parecido. Fale para a Alice que, se ela for andar com os amiguinhos no dia das bruxas, ela tem que respeitar o seu namorado com cérebro na hora de escolher uma fantasia, e que deve olhar duas vezes antes de atravassar a...! Ah!

Já estava com raiva de ouvir a voz forçada do Ares, por isso joguei um pacote de guardanapos nele. Só que... Ele estava fritando bacon.

Ares virou a panela no chão, e ficou com muita raiva.

- Meu bacon! Maldita Filhinha de Hermes! – Reclamou ele. Ares pegou uma toalha para limpar parte da sujeira e gordura no chão, mas desistiu – Você está me devendo comida, Kelly! E acho melhor...!

- Ares! – Exclamei ao ver que ele jogou a toalha encima do fogo acesso, em um de seus acessos de raiva – Fogo!

- Uou! – Exclamou ele. Ares começou a assoprar, mas estava na cara que aquilo não ia adiantar nada. Eu peguei uma panela e enchi rapidamente com água, só que no momento em que eu ia jogar no fogo, eu escorreguei no maldito bacon no chão e caí.

Ares começou a rir de mim, mas parou assim que a panela caiu na cabeça dele. Ele ficou completamente molhado. Eu enchi mais um pouco de água e dessa vez consegui jogar no fogo, apagando-o de vez.

- Eu odeio você. – Resmungou ele trincando os dentes – Mesmo. Será que existe alguma outra lesada no planeta que consiga fazer a cozinha pegar fogo, sem nem mesmo estar cozinhando?!

- Eu não fiz a cozinha pegar fogo! A culpa foi toda sua e do seu bacon! – Exclamei me levantando. Ares começou a reclamar, mas eu acabei caindo para frente, bem encima dele.

Ele me segurou por reflexo e franziu o cenho.

- O que aconteceu agora? Está querendo me agarrar para compensar a situação? – Perguntou ele irritado.

- Claro que não, idiota! – Exclamei me afastando dele devagar – A minha perna...

- O que? Quer que eu agarre você para compensar a situação então? – Perguntou ainda irritado, mas estava mais do que na cara que ele tinha dito aquilo para me incomodar. Eu chutei a canela dele com raiva, mas aquilo só doeu em mim. E muito.

- Ah! – Gritei de dor – Dorga... Dói até para chutar você.

- Você deve ter torcido a perna. – Comentou ele – Só isso.

- Ótimo. Eu queria mesmo ficar com a perna ruim para Novembro. – Comentei em um resmungo.

- O que tem em novembro que é assim tão importante, droga? – Perguntou ele.

- Não é da sua conta. Mesmo. – Disse rangendo os dentes.

Eu fui mancando até a mesa de madeira, e Ares me acompanhou de perto para ter certeza de que eu não fosse cair.

- Obrigada, eu acho. – Disse ao ver que ele tinha, de certo modo, me ajudado.

- Obrigada? Não agradeça. Eu só andei perto de você para poder rir caso você caísse de novo. – Riu ele.

- Você é o mesmo amor de pessoa que eu conheci há uns meses atrás. Que lindo. – Murmurei sentando-me.

- Kelly, você... – Ares franziu o cenho, chegou perto de mim, e fungou algumas vezes. Meu rosto ficou vermelho.

- Ow! O que você está fazendo? Saí pra lá! – Disse empurrando-o para trás – O que tem eu?

- Você está com cheiro de porco. – Comentou ele rindo – Porcos que nem aqueles do Alabama.

Revirei os olhos, enquanto Ares ria mais ainda.

- É nessas horas que eu me pergunto... Como eu vim parar aqui?! Será que eu sou a única miserável no universo que merece ficar perto de você por 100 anos?! – Perguntei afundando minha cabeça na mesa.

- É. Acho que é. Mas na verdade, ficar perto de mim não é problema nenhum. Pior é ter você por perto. – Retrucou ele.

- Pensei que gostasse de me ter por perto. Foi o que disse para mim. – Comentei.

- Só para te infernizar, porque no resto do tempo você é bem irritante. – Respondeu ele dando de ombros.

Eu resolvi ignorar aquele comentário no exato momento em que Apolo entrou na cozinha correndo. Ele estava com um sorriso largo no rosto.

- Alice! Você não sabe o que eu vi! Vai ter uma festa de Halloween aqui perto! Vamos? Vamos? Vamos? – Perguntou ele animado.

- Festa? Ahm... Se eu conseguir andar. – Disse olhando para minha perna. Apolo olhou também, e parece ter visto o mesmo que eu.

- Ah, você torceu? Tudo bem. Leva só uns minutos. – Disse ele se ajoelhando e usando seus poderes de Deus da medicina para me curar – Acho que isso sempre acontece, né? Você vive se machucando, aí eu tenho que te curar.

- Sinto muito dar trabalho, mas essas coisas acontecem bastante comigo.

- Eu sei, mas está tudo bem. – Disse ele sorrindo.

- É claro que está tudo bem. É uma chance dele passar a mão na sua perna. – Riu Ares se levantando e saindo da cozinha. Meu rosto ficou vermelho, e eu olhei para Apolo. Ele ainda sorria, mas quando viu que eu o observava, parou.

- Ahm... Só mais alguns segundos. Estou acabando. – Comentou ele contra a própria vontade.

- É. Estou vendo. – Comentei de volta.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?

Bem... Vamos ver que festa é essa, né?

E quanto ao novembro?

Espero que vocês gostem!