Senhora Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 7
Dinnie Ray




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Capítulo 7 – Dinnie Ray

Cozinhar , com certeza não tinha sido a minha melhor ideia no mundo. Deveria ter pedido o café da manhã me casa, mas o desafio de cozinhar, me fazia feliz, ainda mais para Daniel.

Sabia que não tinha sido a melhor coisa que eu tinha feito. Na verdade, nunca havia cozinhado , nem em minha vida humana. Vê-lo comendo sem reclamar me encheu de alegria.

Claro, que tudo isso foi depois do momento constrangedor que sofremos enquanto ele só vestia roupas de baixo. Era algo que eu não esperava ver tão cedo, ou melhor, esperava ver nunca. E o que eu senti naquele momento... não tem descrição. Foi como se um fogo, já extinto, se acendesse e virasse uma grande e perpetua fogueira.

Mas todos esses sentimentos foram apagados quando, sem querer, eu lhe dei um susto e ele soltou suco pelo nariz. Do mesmo modo que me fez rir, me fez ter memórias de momento que eu deveria ter sido proibida de lembrar. A época em que eu pensei que tinha direito de ser feliz.

Saí da casa o mais rápido que pude e encontrei Josh já posicionado dentro de um Suv azul. Ele saiu do carro e foi abrir a porta do passageiro , enquanto se curvava e me cumprimentava.

Entrei no carro sem dizer nenhuma palavra e ele, literalmente, correu para ligar o carro. Era óbvio que chegaríamos na hora, mas ele deveria ter medo de que o transito nos atrasasse, ou simples fato de ter medo de mim.

Encostei minha cabeça no vidro e deixei que minha mente vagasse, enquanto sentia o leve balançar do carro enquanto era ligado.

“Permita-me dizer que a Senhora está esplendida”, Josh disse assim que começamos a andar. Pelo canto do olho, pude vê-lo avaliando-me de cima a baixo , aprovando.

“Obrigado.”, então percebi, pelo espelho retrovisor um carro vindo atrás de nós. Arg! Era óbvio que meus vampiros não me deixariam sair com um vampiro de outra área e sozinha. Seguindo o meu olhar, Josh suspirou.

“São Kayla e Filipe. Eles não quiseram deixar que eu te trouxesse sozinha, então resolveram nos seguir no carro de trás.”

De certo modo, eu meio que agradecia por eles serem tão leais. Tinha algo em Josh que não me gradava muito. E não estava falando do seu jeito tarado de ser.

Era algo diferente. Uma certa desconfiança. Todos os meus pensamentos sumiram assim que chegamos a área Oeste. Fiquei tensa quase que instantaneamente. Era assim que um Senhor se sentia quando entrava em outra área.

Piorou quando fomos parados no pedágio. Os guardas do Oeste, me receberam com sorrisos nervosos e se curvaram de forma rápida e eficiente. O carro com meus guardas foram parados logo atrás. E, graças, eles passaram.

Vinte minutos depois, estávamos passando por portões dourados e entrando em um lindo jardim que fazia parte da mansão de Dorian. Ele sempre gostou de ser extravagante , assim como os outros senhores. Josh estacionou o carro em frente a grande entrada e abriu a porta para mim, sem necessidade.

“Terei que me despedir agora, Senhora. Irie na frente para anunciá-la. Por favor, me siga.”, ele beijou minha mão e seguiu. Logo atrás de mim estavam Kayla e Filipe.

Kayla tinha mais ou menos a minha altura e os cabelos curtos e lisos acima do queixo. Seu tom de pele era escuro, mas bonito, combinando com os cabelos ruivos. Seus olhos pretos eram atentos e quando me viu, sorriu e se curvou.

Filipe era alto, bem alto mesmo. Ele, ao contrário de Kayla, tinha olhos verdes e era loiro, com a pele pálida. Ele era mais sério que Kayla e quando me olhou , apenas se curvou, sem dizer nada. As únicas coisas em comum entre os dois era que ambos estavam de terno e que estavam substituindo Luanne e Noah , que estavam de folga hoje.

Mesmo sabendo que eram meros substitutos, eles pareciam felizes e honrados por estar junto a Senhora Sulista e me acompanhar em uma reunião tão importante quanto a dos Senhores de Seattle.

Se eles soubessem a verdade....

Paramos de andar em frente a duas portas brancas, grandes e bem desenhadas. Josh entrou , comigo logo atrás e Kayla e Filipe em cada um dos meus flancos. Então, esperei enquanto era anunciada.

“Apresentando a Senhorita Sulista, Dinnie Ray Dallas.”, eu realmente odiava ser anunciada, mas era obrigado. Entrei já dando de cara com a enorme sala de recepção de Dorian e o mesmo sentado em uma poltrona ao lado de sua mulher grávida de oito meses, Patricie.

Dorian se levantou e veio beijar minha mão. “Linda como sempre, Ray.”, ele disse e , ainda segurando minha mão, em guiou até uma das poltronas ao lado de Patricie. Kayla e Filipe se colocaram em lugares estratégicos na sala para que pudessem nos observar de todos os ângulos.

Dorian, tinha os olhos dourados que acompanhavam sua pele chocolate e seus cabelos encaracolados. Sua tatuagem de um leão brilhava em seu pescoço e ele tinha uma realeza natural que irradiava dele. Ele parecia tão formal com aquele smoking, que nem parecia ter sido transformado aos trinta e cinco anos. Sem esquecer a pedra dourada (assim como seus olhos) pendurada em um colar no seu pescoço.

Patricie sorriu docilmente para mim e me deixou afagar sua barriga. Senti o bebê chutando e , mesmo não sorrindo, meu olhos brilharam. Patricie , tinha sido transformada aos vinte e seis anos e tinha lindos cabelos castanhos que caiam em cachos nos ombros. Seus olhos escuros faziam jus a tanta beleza e mesmo grávida, o vestido vermelho lhe caia muito bem.

“Você está linda , querida”, ela disse, sorrindo e se recostando ainda mais na poltrona por causa do peso da barriga.

“Assim como você, Patricie.”, respondi. Dorian se levantou para pegar algo para beber, sangue, naturalmente, e voltou a se sentar ao lado de Patricie. “Qual o nome da criança?”

Dorian e Patricie trocaram olhares apaixonados e ela, acho que sem perceber, afagou a barriga enquanto seu sorriso crescia ainda mais. Senti algo se apertando em minha garganta e a limpei silenciosamente.

Eu admirava Dorian por ele ter tudo o que nunca consegui. Uma esposa bonita e compreensiva, um bebê a caminho, um jeito nato de comando e coragem para transformar o amor de sua vida e fazê-lo se unir a ele, ao contrário de mim que continuava sozinha e de quebrar persistia em estragar a vida dos Gonzales.

Suspirei mentalmente e engoli o nó que se formou em minha garganta. Forcei um olhar interessado quando Dorian e Patricie voltaram a me olhar.

“Estávamos pensando em Laura.”, Dorian disse o nome da futura filha como uma reza e isso o fez ganhar um beijo rápido e discreto na bochecha de Patricie.

Eu tinha certeza que aquele era o momento mais importante da vida dela. Podia sentir isso no ar. Na verdade, dela e de Dorian. Nunca, em meus 450 anos de vampira, sendo vinte de Senhora Sulista, tinha visto Dorian tão feliz como estava agora.

Ele estava tão feliz que chegava a parecer bobo, mas eu já estava tão acostumada com esse tipo de olhar de felicidade paterna que nem me incomodei. Sentindo que um silêncio estava por vir, Dorian tornou a puxar assunto comigo:

“Então, querida Dinnie, você não pensa em ter um marido e filho?”, ele disse sorrindo.

Se fosse qualquer outra pessoa que tivesse me perguntado, eu teria matado-a , mas como era Dorian, eu me pus a responder. Não porque ele era um dos Senhores de Seattle ( até porque se Daiene tivesse me perguntado, eu a ignoraria), mas porque com quase mil anos vampiros, ele que tinha me ajudado no início da minha vida de Senhora Sulista, me fazendo desenvolver uma amizade, não como a que eu tinha com Luanne e Noah, mas mesmo assim, sincera.

“Ainda não, Dorian.”, respondi solene. “Com esses problemas não estou com cabeça para filhos e marido, mesmo o querendo”

E eu queria de verdade.

“Ás vezes temos que esquecer o passado, querida”, ele disse.

Eu já ia perguntar o que ele quis dizer com aquilo, quando uma vampira adentrou a sala. Outro anuncio, obviamente. Todos nós nos levantamos em sinal de respeito esperando o próximo Senhor de Seattle ser anunciado.

“Apresentando o Senhor do Leste, Doug Hector Tharciso.”, a voz aguda da pequena vampira anunciou e eu fiquei carrancuda quase que e instantaneamente.

Doug adentrou a sala com seu cabelo loiro e olhos azuis em cima de um metro e setenta de altura bem vestidos por um smoking de grife e uma pedra tão Azul quanto seus olhos pendurada por um colar em seu pescoço, assim como o de Dorian.

Logo atrás dele entraram mais cinco vampiros, que se juntaram aos meus dois no perímetro. Cinco vampiros? Que exagero. E a julgar a careta de Patricie, ela achava a mesma coisa que eu.

O olhar de Doug viajou pela sala, maravilhado e então pousou em mim, sorrindo. Não vou dizer que Doug era feio. Apenas não fazia o meu tipo. Ele tinha sido transformado aos vinte e oito anos, mas tinha 500 anos vampiros, sendo 300 de Senhor do Leste.

Se fosse por ele, teria vindo falar comigo primeiro, mas teria que ser educado. E por educação foi falar com Dorian e Patricie primeiro. Apertou-lhe as mãos e disse maravilhas sobre como Patricie estava linda grávida e como Dorian era um homem de sorte.

Quando todo o quesito educação foi preenchido, ele veio falar comigo. Me segurei para não revirar os olhos ou coisas do tipo. Doug era o mais namorador do mundo vampírico e me queria na lista, assim como teve Daiene. Mas eu nunca o vi mais do que... amigo? Oh, não! Mais do que um Senhor de Seattle.

“Dinnie Ray, sempre me surpreendendo com a sua beleza”, ele disse beijando minha mão.

“Modéstia sua, Doug.”, disse arrancando minha mão de modo delicado. Nos já estávamos indo no sentar quando um outro vampiro adentrou a sala para mais um anuncio e , dessa vez, eu bufei. Esperava que ela não viesse.

“Apresentando a Senhora Nordestina, Daiene Lawrence.” , o vampiro anunciou e ela entrou.

Daiene tinha sido transformada aos vinte anos , assim como eu, só que em épocas diferentes. Ela tinha 350 anos, sendo 300 de Senhora Nordestina.

Ela era mais alta do que, com seus cabelos ruivos cacheados e os olhos verdes, assim como a pedra que sua gargantilha carregava. Seu vestido era verde brilhante que rivalizava com a cor dos seus olhos.

Dizem que nossas tatuagens no pescoço dizem respeito ao nosso animal interior. O leão de Dorian, sua majestade interior. O lobo de Doug, seu instinto solitário. A minha raposa, minha esperteza e habilidade. Mas de todas as tatuagens, a que na minha opinião mais representava a pessoa, era a cobra da Daiene, literalmente.

Acompanhados dela, vieram mais cinco vampiros que se posicionaram junto com os meus e os de Doug, enchendo a sala. Ao contrário de mim e de Doug, ela não foi falar com o anfitrião diretamente.

Ela já se sentou, pouco ligando para o ambiente a sua volta e até bocejou. Por uns breves segundos, seu olhar parou em Doug e ela sorriu o chamando para que sentasse ao seu lado.

Me olhando, um pouco recendido, ele não pode recusar o convite e se sentou ao lado de Daiene. Foi ai que nos sentamos e a reunião começou. Patricie deu uma desculpa que estava cansada e se retirou, mas todos nós já sabíamos que ela só saiu porque, tudo o que era conversado ali era estritamente confidencial, até mesmo para os companheiros dos Senhores.

“Bem, então vamos começar a reunião.”, Dorian disse como um tipo de introdução. “Todos sabemos que fatos como os que ocorreram nos últimos dias são incomuns, mesmo em nosso mundo”

Todos nós assentimos para as palavras dele. Daiene parecia mais intrigada em Doug do que na reunião, mas o que mais eu poderia esperar de uma metidinha a Senhora. Ela não merecia o título de Senhora Nordestina e todos sabíamos que ela só o ganhou por ser a única herdeira.

“Não iremos resolver nada de um dia para o outro, isso é fato.”, Dorian prossegui. “Mas teremos que arrumar um jeito de parar essas mortes enquanto não acharmos o assassino. Por isso, convoquei essa reunião. Preciso de ideias”

Ficamos em silêncio, apenas um encarando o outro. Minha mente não estava realmente ali. Estava no outro lado da cidade, em Daniel. O que será que ele estava fazendo agora? Será que ele conseguiu engolir aquela porcaria que eu chamei de café da manhã? Será que ele ainda estava na minha casa? Todas as minhas perguntas foram interrompidas pela voz estridente de Daiene.

“Por que nós não pegamos um daqueles rebeldes que participaram da guerra contra o Sul e o interrogamos? Tenho certeza que algum deles sabem de algo”

Assim que ela sugeriu isso, eu me encolhi, e ela viu, o que a fez sorrir. A guerra contra o Sul era um assunto delicado para mim, por isso ninguém tocava nela. Ninguém , a não ser , a cobra da Daiene.

“Tenho uma ideia melhor.”, eu disse depois do bruto silêncio, consequência da ideia de Daiene. Ela me fuzilou com os olhos e eu retribuí. “Fechem as divisas, assim ninguém entra e ninguém sai. Se mais algum assassinato ocorrer, saberemos a que área o vampiro pertence ou está”

Todos me olharam assuntados e assentiram, pensando na ideia. Tinha algumas implicações , claro, como o fato de Daniel não poder mais vir a minha área. Na verdade, essa era a minha verdadeira intensão com essa ideia. Ele corria muito risco indo e vindo de noite com um vampiro maníaco a solta por ai.

E eu juro que se alguem pegasse ele, eu iria até o quinto dos infernos, mas faria exatamente a mesma coisa que fiz com a desgraçado que matou Marco.

“Essa é uma boa ideia”, Dorian e Doug disseram ao mesmo tempo.

“Não acho tão boa assim.”, Daiene disse raivosa. Virei meu corpo na sua direção deixando transparecer toda a minha raiva apenas com um único olhar.

“Então torturar inocentes é uma ótima ideia , não é, Daiene?”, perguntei sarcástica. Ela se ajeitou no sofá de modo que pudesse ficar reta e ainda me olhar nos olhos.

“É melhor do que fechar os seus inocentes no mesmo espaço que um assassino em massa”, ela replicou.

“Você diz isso como se Seattle fosse pequena...”, disse fingindo indignação e antes que ela abrisse a boca novamente , acrescentei: “Não vou deixar que peguem meus vampiros e os torturem, porque, se vocês lembram bem, a guerra aconteceu na minha área. Consequentemente, os vampiros são sulista, então terão que ter a minha permissão para pegá-los e eu não dou”

“Isso é para o bem de todos os vampiros. Você está sendo egoísta em relação aos outros vampiros. Um vampiro ou dois, pela vida de centenas ou milhares.”, do jeito que Daiene disse , parecia que eu era a vilã da história, mas eu sabia como mudar aquele jogo.

“Um vampiro ou dois...”, fingir considerar, coçando o queixo. Então a encarei firmemente. “É obvio que não. Basta apenas um ou dois vampiros para começar uma rebelião e, com isso, outra guerra. E caso isso acontecer, eu deixarei bem claro que tudo foi ideia sua e como as divisas não estariam fechadas e eles seriam livres para entrar e sair, sua morte seria eminente.”

Todos da sala me encararam assustada, inclusive os vampiros que estavam de guarda. Eu sabia que tinha exagerado, mas, do mesmo jeito estava certa. Parecia que era o único jeito de fazê-los entender.

Já vi que aquela seria uma longa reunião.


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