Senhora Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 22
Daniel Gonzales


Notas iniciais do capítulo

Sei que prometi postar ontem, mas não deu. (minha internet me odeia). Mas, dei um jeito e aqui está o novo capítulo. Queria agradecer a todos que estão acompanhando a reta final de Senhora Sulista.
Nesse capítulo vamos ver como Daniel se sentiu e como Dinnie Ray vai se sentir. O que aconteceu com Luke e Daiene depois que eles foram capturados? E quem é o amigo de Luke? Vamos ver se esse capítulo responde alguma pergunta.
Enjoy



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Capítulo 22 – Daniel Gonzales

Acordei com a luz do sol batendo em minha pele, a fazendo formigar um pouco. Inúmeros sons enchiam meus ouvidos. Um gracejo de um bebê. Uma voz doce tentando o mimar. Tinha algumas que pareciam mais baixas. Discussões no andar de baixo, e um tipo de chicote. Tudo tão confuso em minha mente.

Tomei consciência dos lençóis em baixo de mim, e, pela textura, pareciam ter sido de seda. Me remexi um pouco, sentindo a leveza do meu corpo e como ele parecia estar mais forte. Então, a ardência em minha garganta começou a me incomodar. Parecia pinicar e apertar. Em meu nariz, uma mistura de cheiros, mas tinha um que estava me deixando tentado. Parecia doce e convidativo para minha língua e fazia minha garganta aperta ainda mais.

“Oh, querida, ele está acordando”, a voz doce disse ao meu lado. O bebê fez um som de riso. “Abra os olhos, Daniel. Todos estamos o esperando.”

Hesitei por um segundo, tentando reconhecer aquela voz. Demorou nem o restante do segundo e percebi que era Patricie. Abri meus olhos, atendendo ao seu pedido e a observei sentada ao fina da cama com a pequena Laura nos braços. A bebê tinha os grandes olhos dourados abertos e me estudavam com uma esperteza inexplicável para uma criança daquela idade.

O sol fez que com meus olhos ardessem um pouco então me encolhi, colocando meu braço na frente deles para me proteger. Escutei Patricie se levantando da cama e as persianas se fechando. Agradeci mentalmente e abri meus olhos de novo. Encontrando a palidez da minha pele. Arfei e tossi. Meus pulmões não estavam tão bons quanto antigamente. Puxei o ar ao meu redor, mas me pareceu um ato tão estranho que eu parei antes que encher meu pulmão completamente.

Olhei o quarto em cores vivas e grandes. As paredes pitadas de coral mais puxado para o laranja possuíam desenhos antigos. Atrás das persianas que Patricie tinha fechado, tinha uma grande janela. Na verdade, parecia uma porta que levava a varanda. Eu estava deitada em uma cama de casal enorme. Apostava que cabiam 5 de mim, ali. Sentei na cama, analisando meu próprio corpo.

Não estava com as mesmas roupas com sangue de ontem. Eu vestia uma camisa pólo azul escuro e uma calça jeans escuras. Meus pés ainda estavam descalços, mas ao lado da cama, tinha um par de tênis que eu apostava que eram do meu número. Minha pele, antes morena, parecia brilhar em pálido. Passei a mão em meu cabelo, confuso, e senti os fios macio e lisos. Quando engoli a seco, percebi que, meu lábios inferior estava dormente. Abri e fechei a boca, saindo um grunhido de lá, e passei a língua pelos meus dentes.

Encontrando um par de grandes e afiadas presas.

A verdade me atingiu como um tiro. Os flash de ontem passaram em minha mente, como um curto e mal cortado filme. Eu deveria estar morto a essa hora. Quero dizer, eu, em parte, estava morto. Balancei a cabeça mais confuso ainda e com aquele aperto em minha garganta, não conseguia pensar direito. Minha mão foi para o pescoço, apertando-o para ver se a ardência acabava.

“Vou te ajudar”, Patricie disse novamente. Voltei a encara, esquecendo que ela estava no quarto com Laura no braços. Ela andou até o criado mudo ao lado da cama e pegou um sino. Assim que o sino soou, uma vampira se materializou na porta.

“Sim, Senhora?”, ela perguntou.

“Por favor, traga algo para o nosso convidado”, Patricie pediu se referindo a mim. “Ele acabou de acordar e está com fome.”, seus olhos castanhos se estreitaram, como se ela tivesse dado um sinal a aquela vampira.

“Sim, Senhora”, a vampira fez uma mesura e saiu tão rápido quanto tinha aparecido.

Patricie ficou andando de um lado para o outro no quarto ninando seu pequeno bebê de olhos dourados. A curiosidade fazia minha língua coçar. Onde estava Dinnie? E Luanne e Noah? Será que eles estavam bem? Aquilo tudo estava atormentando minha mente, e quanto tomei coragem para perguntar, a vampira voltou. Ela estava carregando uma bandeja com um copo e uma garrafa escura. Cheirei o ar e meu nariz coçou. Minha garganta apertou mais ainda.

A vampira colocou um pouco da bebida no copo e me ofereceu. Peguei sem hesitar, mas lentamente. Olhei o líquido vermelho e viscoso dentro do copo. Eu sabia bem o que era, mas me fiz imaginar que era suco de morango. Quando o líquido tocou minha garganta, eu dei um suspiro de satisfação e tomei o retante sem pensar em um só gole. A vampira encheu meu copo mais umas duas vezes, até que eu estivesse bem o suficiente para pensar.

“Pode ir”, Patricie a dispensou e se sentou ao meu lado. A pequena Laura pegou meu dedo e ficou apertando entre suas minúsculas mãos. “Ela gosta de você”, Patricie sorriu para a filha que retribuiu. Os cabelos pretos de Laura estavam penteados e com presilhas de borboletas. Pensei na possibilidade de Patricie não ter achado morcegos.

Passei meus dedos com cuidado no rosto de Laura, vendo como sua pele era macia em contraste com a minha. Ela soltou um pequeno riso e seus olhos dourados brilharam. Laura puxou minha mão até sua boca e mordeu. Tomei um susto e dei um pequeno salto na cama, por causa de suas pequenas presas. Ela riu mais ainda, junto com Patricie. Depois de um tempo, eu ri também. “Daniel”, Patricie chamou. Levantei meus olhos até os delas e eles estavam preocupados. “Se precisar de alguma coisa, precisa falar. Sou uma vampira, não uma telepata.”

Pensei em suas palavras e assenti. “Quero ver Luanne”, a voz que saiu quase não se parecia com a minha aos meus ouvidos. Tinha um tom mais animal e , ao mesmo tempo, doce. “Por favor, Senhora.”

Antes, eu não tinha o dever de chamar ninguém de Senhor ou Senhora, mas isso era porque eu não pertencia a sociedade deles. Agora, sim, eu pertencia. Patricie assentiu e levantou com Laura no colo. A bebê reclamou um pouco e esticou seus bracinhos em minha direção. Fiquei tentado a pegá-lo de volta, mas uma coisa me impediu.

Luanne.

No instante que Patricie abriu a porta, ela apareceu. A primeira coisa que eu notei foram as suas roupas. Short preto que desenhava bem as suas pernas pálidas, uma blusa de alça fina, também preta, meias arrastão e botas de cano alto. Seu cabelo loiro estava solto deixando sua mexa rosa aparecendo. Ela tinha um sorriso em seus lábios e seus olhos azuis brilhavam em alívio. Exatamente como no dia em que nos conhecemos.

“Que bom que acordou, dorminhoco”, ela gracejou e entrou totalmente no quarto , se sentando ao meu lado.

Patricie me lançou mais um olhar e sorriu. Balancei minha cabeça em retribuição e a vi passando por Luanne (que lhe fez uma rápida mesura) e sair do quarto com sua filha. Parecia que ela nem tinha notado a roupa de Estrela do Rock de Luanne. Ou como se ela achasse normal. Assim que a porta se fechou, Luanne saltitou até onde eu estava e se sentou na cama ao meu lado.

“Como está se sentindo?”, ela perguntou. Seu sorriso vacilou por um segundo enquanto ela esperava a resposta.

“Estranhamente bem”, respondi e fiz uma careta, ainda não acostumado com minha nova voz de anjo. “O que aconteceu quando eu apaguei?”

“Sempre direto ao ponto, Gonzales”, Luanne balançou a cabeça com um sorriso e pegou minha mão. “Quer a história com detalhes, o que levaria o dia inteiro, ou o resumo que irá durar um minuto”

“Resumo, por favor”

“Bem, você apagou, Noah iria te transformar, Dinnie não deixou e ela mesma te transformou. Eles dois foram atrás de Luke e Daiene”, Luanne apertou minha mão entre as suas. “Eles lutaram.”

“Dinnie Ray está bem?”, perguntei exasperado.

“Não se inquiete, Daniel”, ela me confortou. “Antes dela ser Senhora Sulista, ela foi uma ótima vampira guarda, então ela era obrigada a saber lutar. E , caí entre nós.”, ela se aproximou e sussurrou em meu ouvido. “Daiene não é motivo de preocupação.”

“O que vai acontecer com ela e Luke?”

“Jugamento.”, ela soltou minha mão e se levantou, passando a mão por suas roupas. “Se forem julgados culpados, o que é bem óbvio, serão mortos em praça pública.”, ela mudou o peso de um pé para o outro, então olhou para o criado mudo e viu o copo e a garrafa que eu bebi a instantes. “Parece que já se alimentou.”, ela raciocinou e pareceu deixar seus ombros tensos caírem. “Bem melhor. Já se olhou no espelho?”, ela levantou uma sobrancelha. Balancei a cabeça, negando. “Acho que é melhor você fazer isso, para que eu possa te explicar as regras direito.”

Assenti e andei até o outro lado do quarto parando em frente ao enorme espelho. No segundo que meus olhos encontraram meu reflexo, a primeira coisa que veio a minha mente foi: Esse sou eu? A luz do sol batia em minha pele, fazendo-a mortalmente pálida, comparada a minha antiga pele morena.

Meus cabelos estava mais escuros do que nunca tiveram em toda vida. Meu corpo erguido e forte, parecia capaz de ser ameaçador e elegante ao mesmo tempo. As roupas vestiam tão bem em mim, destacando tudo o que eu tinha e tudo que eu tinha ganhado de novo. Mas de toda essa mudança duas coisas me chamaram mais atenção.

Primeiro, meus olhos. Antes, eles tinham um tom de cinza-quase verde. Agora, eles realmente eram cinzas. Um cinza pálido que me lembrava neblinas ou uma tempestade, e, ao mesmo tempo, eles pareciam estar mais vivos que nunca tiveram em toda a vida. Outra coisa que me chamou a atenção, foi meu pescoço. Ali habitava uma raposa negra com a ponta do rabo vermelha. Ela estava com a cabeça jogada para trás e parecia uivar a lua. Aquela era a minha tatuagem, sinalizando que eu era realmente um vampiro da área Sul de Seattle.

“Wow”, foi tudo o que eu consegui dizer depois de tudo.

“É, eu sei.” Luanne parou ao meu lado no espelho e colocou a mão em meu ombro, sem desviar o olhar do nosso reflexo. “Um pouco estranho no começo, mas com o tempo você vai se acostumando.”

Me virei para Luanne, com determinação no olhar. “Quero ver Dinnie Ray.”

A vampira loira abaixou o olhar. “Eu não posso te levar até ela, Daniel.”, abri minha boca para reclamar e ela me impediu. “Não sei onde ela está e, não estamos na área Sul. Ainda estamos no castelo de Dorian.”

“Os vampiros Rebeldes?”, deixei a pergunta em aberto.

“Mortos, até o loiro que comandava o exército.”, ela respondeu e balançou cabeça parecendo preocupada. “Não sei se foi realmente uma boa ideia te transformar, Daniel.”, ela desabafou e colocou a outra mão em meu ombro, um olhar compreensível no rosto. “ Não que eu ache que você vá nos trair. É apenas, você é um caçador. Está acostumado ao outro lado.”, ela passou a língua pelos lábios. “Estou tão dividida. Sou sua amiga, Daniel, seria uma pena te perder, mas...”, ela fechou seus olhos azuis por um segundo, pensando no que dizer.

“Mas?”, insisti.

Ela abri os olhos e parecia ter uma mágoa ali. “Já pensou no que seu avô vai pensar quando te ver.”, recuei um passo com isso. Não tinha pensado nisso antes. “Eu sei como as pessoas ficam quando perdem pessoas amadas. E mesmo não sendo a fã número um de Barão, sei que ele vai ficar desolado. Primeiro perde o filho, morto, logo depois, o neto vira um morto vivo.”

“O que você quer que eu faço, Luanne?”, minha voz se elevou dois tons. Estava confuso com tudo. Naquele momento, só queria que Dinnie Ray me abraçasse e me dissesse que, finalmente, ficaria tudo bem. “Não posso voltar no tempo e mudar minha decisão. Não posso voltar a ser humano, sinto muito.”

“Não sinta por mim, Daniel”, ela balançou a cabeça e desviou os olhos dos meus. “Queria muito poder ajudar a achar Dinnie, mas o castelo não é meu para poder ficar andando por aí.”

“Posso levá-lo”

Nem sequer escutei a porta se abrindo de novo, mas quando olhei em direção a voz, vi o olhar sério de Dorian. Em seus lábios um grande sorriso. Ele entrou, fechando a porta atrás dele. Sempre elegante, Dorian estava com uma blusa social azul, calça jeans e sapatos sociais. Sem esquecer do colar dourado em seu pescoço que rivalizava com o dourado em seus olhos. Era como um empresário que não conseguia largar o trabalho. Luanne, sem mais nenhuma palavra, fez uma rápida mesura a Dorian e saiu da sala de cabeça baixa. Fiquei observando sua saída, confuso.

“Ela gostava do seu sopro de vida.”, Dorian esclareceu , também olhando na mesma direção que eu. Ele me encarou com um grande sorriso nos lábios. “Eu acho que você ficou bem, assim. Parece mais o seu estilo.”, ele disse isso com se fosse um tipo novo de roupa que eu estava usando. “Vamos.”, ele estendeu sua mão na minha direção. “Vamos procurar Dinnie Ray. Na verdade, “, ele colocou um dedo em seu queixo. “Acho que sei bem onde ela deve estar.”

Ele saiu do quarto primeiro, e eu o segui em silêncio. O castelo de Dorian era incrível. Como o baile tinha sido apenas no andar de baixo, nem tive a oportunidade de conhecer o restante. Mas lá estava eu, passeando pelos longo corredor, repleto de portas. As paredes pintadas de um dourado que se destacava com os tapetes vermelhos. Me perguntei se esse dourado seria ouro de verdade.

Não sei quantas vezes passamos por vampiras ou vampiros empregados, mas sempre que eu pensava que tinha acabado, mais um passava. Chegamos até o longo lance de escadas em espiral e um flash da noite de ontem apareceu em minha mente. Observei Dorian descendo cada degrau com elegância exagerada. Tentei imitar seus movimentos, mas minha ansiedade para chegar até Dinnie e vê-la com meus novos olhos era maior.

“Calma, rapaz.”, Dorian riu quando eu passei correndo por ele na escada. “Dinnie Ray está meio que ocupada agora.”, ele hesitou. Eu parei na escada esperando-o terminar a explicação. Levantei minha sobrancelha. Dorian soltou mais um riso com a minha impaciência. “Ela está torturando Luke, no porão. E está com uma raiva.”, ele fingiu tremer e sorriu. “Acho que, já que não pode torturar Daiene, está descontando tudo em Luke. Nem sei como vamos segurá-la a noite, no julgamento.”

“O julgamento de Daiene e Luke será hoje?”, perguntei alarmado com a rapidez dos vampiros. Terminamos de descer as escadas e começamos a andar pelo mesmo salão onde tudo havia acontecido ontem. Tinha inúmeros empregados ali, varrendo, tirando pó e terminando de ajeitar o salão. “Terei que estar lá?”

“Claro que sim.”, Dorian exclamou como se fosse a coisa mais óbvia. “Você e Dinnie Ray tem que estar lá.”, ele balançou a cabeça e seu sorriso se desmanchou um pouco. “E sobre a rapidez do julgamento, será melhor. Todos os Senhores já estão aqui. O juri poderá ser mais imparcial.”

Eu assenti, entendendo o que Dorian estava falando. Se o juri fosse mais imparcial, talvez seu resultado não fosse tão questionado. Continuamos andando em direção ao porão. Incrivelmente, tivemos que passar por aquela escada que levava ao campo de rosas, e no lugar onde os seguranças estavam parados ontem, tinha um pequena porta. Só não a tinha notado ontem, por estar atrás dos seguranças.

E por eu estar mais concentrado em encontrar Dinnie.

Dorian a abriu e gesticulou para que eu entrasse. “Melhor você ir sozinho.”, um pequeno sorriso cresceu em seu rosto sério. “Ela me mataria se me visse e soubesse que o trouxe até aqui. Mas, se você, de repente, achasse a porta e entrasse de curiosidade.”, ele deu de ombros.

Prendi o riso e me encolhi passando pela pequena passagem. Primeiro eu vi a escuridão, nada que me impedisse agora, com meu novos olhos. Coloquei o pé no chão e senti a leve inclinação, indicando o início de uma escada. Coloquei meu outro pé e comecei a descer, tentando fazer o maior silêncio possível.

Tomei um susto com a porta se fechando atrás de mim, mas não parei. Tive que dobrar meu corpo, por causa do baixo teto e fui descendo a escada em espiral, rezando para que nenhum degrau rangesse. Conforme eu ia descendo, meu corpo foi se ajustando, até que eu consegui ficar reto. Foi só nesse momento que eu me concentrei nos gritos de agonia.

Mesmo sabendo que eram de Luke, não senti nenhum tipo de raiva, mais um temor em minha pele. Esse temor vinha junto com um instinto de avançar, por causa dos rosnados de Dinnie Ray. Quase nos últimos degraus, na última virada, eu consegui vê-los.

A sala era pequena, com a iluminação precária de apenas uma lâmpada que ora ou outra piscava. Tinha uma porta na parede oposta a que eu estava e em frente a essa porta, uma mesa com vários papéis jogados. Virei um pouco minha cabeça e pude ver o grande X de madeira na parede, onde Luke estava preso.

Ele estava com a cabeça baixa e cuspia sangue. Seu peito exposto estava com várias marcas frescas de faca e coisas afiadas. O sangue escorria por sua barriga e para no cós de sua calça, manchando-a também. Seus pulsos e tornozelos presos por cordas nas pontas do X. Seus cabelos castanhos com alguns fios grisalhos estavam grudados em sua testa por causa do suor. E, mesmo não precisando, ele respirava com força. Movi minha cabeça um pouco mais para o lado para poder vê-la melhor.

Tinha uma majestade no modo em que Dinnie Ray passava a afiada faca de uma mão para a outra, com os olhos estudando o corpo de Luke, procurando por outro lugar onde podia ferí-lo. Ela também havia trocado de roupas. Botas de cano longo até o joelhos, meias arrastão, saia pregueadas pretas e blusa branca. Cada uma destacando suas curvas. Se não fosse pela situação, eu já estaria ali, a beijando.

Seus cabelos castanhos estavam soltos, caindo em cascatas pelas costas, como ondas. A mexa vermelha se destacando. Conforme ela andava em direção a Luke, seu cabelo balançava e , por um momento, tive a visão de sua tatuagem de raposa no pescoço e de sua gargantilha com a pedra vermelha. Ela parou a centímetros do rosto de Luke, tão perto que poderia tê-lo beijado, mas foi apenas para intimidá-lo.

“Vamos fazer de novo, Luke”, ela sussurrou sedutora. “Você me conta quem está te ajudando e eu não te machuco muito mais.”

“Não”, escutei-o sussurrando e tossiu.

Tão rápido que até meus olhos vampiros quase perderam, Dinnie rodou a faca por entre seus dedos e colocou-a , sem dó na barriga de Luke. O mesmo gritou agoniado e jogou a cabeça para trás, batendo na parte de madeira e voltando. Dinnie se pressionava com força contra ele, afundando a faca ainda mais em sua pele. Luke gritou mais uma vez, e quando abriu seus olhos, estavam gorjeteados em sangue.

“Se você me ajudasse, doeria menos”, Dinnie sussurrou no ouvido de Luke. Eu nunca tinha imaginado ver aquele lado dela em toda minha vida. Aquele lado vampira. Tentei visualizar aquele sofrimento de Luke, por duas semanas, que tinha sido o que seu filho sofreu por matar meu pai. “Me conte, Luke.”, ela afundou a faca ainda mais. Me contorci, sentindo a dor em mim mesmo.

“Não irei te contar nada, vadia.”, Luke cuspiu sangue no rosto de Dinnie.

Isso foi o suficiente para que ela arrancasse a faca com o máximo de força possível, fazendo gritar, mas antes que ele terminasse de expressar sua dor, ela girou, tomando impulso e lhe deu um belo chute do rosto, deixando-o desacordado. Luke desabou de um vez no X. Dinnie Ray rosnou mais uma vez para ele e rodou a faca em sua mão, com habilidade. Ela se virou, talvez para ir embora, e me viu.

Meu olhos quiseram que a iluminação estivesse melhor. Não que eu não conseguisse enxergá-la, mas queria ver o brilho da palidez de sua pele, como tinha visto na minha quando acordei. Aquela luz, foi o suficiente para ver como seus olhos vermelhos eram brilhantes e vivos, mesmo tendo uma luz mortal neles.

Seu olhar vagou por todo o meu corpo, estudando-o. Engoli a seco, nervoso que ela não gostasse do resultado. Mas a julgar pelo nervosismo que ela passava a faca de uma mão para a outra, ela estava tão apreensiva quanto eu. Dei mais alguns passos em sua direção, querendo vê-la de perto. Dinnie fechou os olhos por um momento.

“Daniel, o que você está fazendo aqui?”, sua voz de anjo fluiu até os meus ouvidos, também me fazendo fechar os olhos. Um pequeno sorriso apareceu em meus lábios quando percebi que a perfeição dela não diminuiu com as nossas semelhanças. Só fez aumentar. “Quem te trouxe aqui?”

“Até parece que você não me conhece.”, respondi, caminhando até ela. Estava sendo guiado pelo olfato. Seu cheiro de violetas me guiavam. Como eu nunca havia notado aquilo antes? “Se eu sempre seguisse as regras, nunca teríamos nos conhecido.”

Ela riu e seu riso foi a mais gloriosa canção que soou em meus novos ouvidos. “Graças a Deus por você ser rebelde.”, eu ri junto com ela. “Mas,”, sua voz assumiu um tom mais sério. “Você não deveria estar aqui.”

Nossos corpos se encontraram. Era como se sua perfeição se encaixasse na minha. Percebi o quanto eu estava sentindo saudades de seu corpo contra o meu. Respirei devagar e deixei que seu hálito invadisse minha boca, fazendo minha língua queimar em ansiedade. Minhas mãos traçaram seu rosto, com cuidado. Como um cego, sentindo a mais perfeita obra de artes com a ponta dos dedos. Abri meus olhos e percebi os seus já abertos.

“Eu deveria dizer que você está lindo, mas seria fazer pouco uso do meu vocabulário.”, ela disse. Seu olhar preso no meu. Se meu coração ainda batesse, estaria quase atravessando o peito ou saindo pela garganta. “Sem sermões ou culpas? Sem acusações?”, sua voz hesitou um pouco com as palavras.

“Claro que tem”, toquei sua bochecha com a ponto dos dedos, sentindo a maciez de sua pele. Quase como que automaticamente, Dinnie inclinou o rosto na direção da minha mão. Seus olhos se estreitaram um pouco em dor e lamento. Segurei sua mão, sem a faca, com força. “Aqui não.”, a puxei em direção a porta atrás da mesa.

Dinnie nem hesitou em me seguir. Abri a porta, encontrando um mini escritório. Ali também tinha outra mesa com vários papéis. Essa mesa ocupava a maior parte da sala, mas havia espaço suficiente para que eu e Dinnie entrássemos. Claro que tivemos que ficar bem perto um do outro. Dinnie se encostou na mesa e eu parei em frente a ela. Fechei a porta atrás de nós. Dinnie esticou sua mão para trás de mim e acendeu uma luz.

“Pode falar”, ela disse, firme. Pena que seus olhos não estavam tão firmes assim.

“Tenho apenas uma acusação.”, passei minhas mãos por seus braços, vendo como a sua temperatura era igual a minha. Ela fechou os olhos, esperando. “Por que você não estava lá quando eu acordei?”, ela abriu os olhos, surpresa. “A primeira coisa que eu queria ver, eram seus olhos. E a primeira voz que eu queria ouvir, era o seu canto angelical.”, continuei descendo minhas mãos, até as suas e peguei a faca de sua mão. “Não vai precisar mais disso.”, com uma habilidade que eu nem sabia que tinha, joguei a faca na parede, a fincando.

Sem mais nenhum segundo de hesitação, segurei a cintura de Dinnie e a puxei contra mim. Seus olhos se arregalaram, surpreendida. Inclinei meus rosto e a beijei. A beijei como se não houvesse amanhã. E o meu corpo se acendeu, no primeiro contato de nossos lábios. Deixei que os instintos me levasse, já que agora eu os tinha de sobra. Quando dei por mim, Dinnie estava sentada na mesa, me encaixando em seu corpo e envolvendo suas pernas em minha cintura. Era quase como se estivéssemos fazendo sexo, mas com roupas.

Ela colocou suas mãos em meu cabelo e puxou meu rosto para mais perto do seu. Minhas mãos apertaram sua cintura com força, puxando-a mais para mim. Era como se não estivéssemos perto o bastante. Nossas língua entravam em um tipo de batalha para assumir o controle. Aquilo era tão excitante. Uma ideia se instalou em minha mente e eu mordi o lábio de Dinnie. Só que com força demais. Sangrou.

“Oh, me desculpe, Dinnie”, lamentei me afastando. Dinnie passou a língua pelo lábio inferior e o sangue se estancou no mesmo instante. “Ainda não consigo controlar essas belezinhas”, apontei para as minhas presas. “Se você puder me ajudar”, dei um sorriso amarelo.

Dinnie Ray riu e se levantou da mesa, passando a mão pelas roupas amarrotadas. “Claro, Daniel.”, ela chegou seu rosto perto do meu e abriu a boca, mostrando que seus presas também estavam de fora. “Passe a língua por elas e empurre-as para cima, fazendo um pouco de pressão.”, ela passou a língua nas presas e parou, fazendo pressão para que elas sumissem. Conforme, ela empurrava as presas com a língua, elas se retesavam, até que ficaram apenas caninos normais.

Imitei seus movimentos, sentindo as presas entrando para a minha gengiva. Doeu um pouco no começo, mas depois foi normal. “E quando elas voltam?”, eu perguntei já com os dentes normais.

“Na hora da alimentação, perigo, excitação”, Dinnie deu de ombros. “Essas coisas”

“Hum, excitação?”, levantei uma sobrancelha e vi o sorriso de Dinnie crescendo.

Antes que ela respondesse alguma coisa, já a estava pressionando contra parede e a beijando como se não tivesse amanhã. Ela nem hesitou em retribuir. Ela mesma pressionava seu corpo contra o meu. Sua boca agora estava com gosto de sangue, o que me fez beijá-la mais forte e com mais vontade. Tentei mais uma vez morder seu lábio, e mais uma vez, a machuquei. Me afastei, sentindo as presas voltando para a minha boca.

Abri minha boca para me desculpar e Dinnie se inclinou para bem perto de mim. Ela passou sua própria língua em minhas presas. Fechei meus olhos, me concentrando para que elas não voltassem. Senti a mão de Dinnie se fechando na minha e abri meus olhos.

“Vamos para casa.”


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Notas finais do capítulo

Se vocês tem palpites de quem seja o amigo de Luke, mande. Quero ver os reviews, hem. E o que acharam do novo Daniel?
Próximo capítulo, muitas revelações. E um segredo, de tanto tempo vai ser descoberto. Até a próxima sexta.