Ciclone: o Romance de Edward e Bella escrita por Déborah Ingryd


Capítulo 3
Capítulo 3- O Fim




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Pela manhã, quando abri os olhos, vi o Dr.Cullen saindo do quarto às pressas em direção a gritaria lá fora, mais pessoas infectadas, onde isso iria parar?

Fechei os olhos novamente e ouvi passos apressados das enfermeiras. Pelo que pude ouvir, estavam preocupadas com onde colocariam as pessoas recém-chegadas, já não havia muitos leitos quando cheguei– há cinco dias– e agora muitas pessoas estavam em quartos apertados, o nosso tinha cinco pessoas, não queriam encher o quarto porque nós éramos os pacientes em estado mais grave.

Eu estava piorando a cada dia, mal conseguia manter os olhos abertos. O Dr.Cullen parecia estar muito interessado em nosso caso, vinha aqui todas as noites e conversava comigo, não sei se era por compaixão por ter perdido o meu pai, ele parecia ser uma pessoa muito boa, mas era estranho o jeito como falava, como se viesse de outra época, uma bem antiga, o modo como agia, sempre em alerta e eu estava começando a achar que esse médico não dormia. Tinha olheiras profundas de mais, mas o pior é que ele nunca parecia estar cansado, que estranho, bom talvez eu só estivesse delirando.

– Edward, está dormindo? – disse uma voz melodiosa na direção da porta.

Abri os olhos e vi o Dr.Cullen me olhando cautelosamente.

– Não, só que ando muito cansado pra ficar de olhos abertos– fechei os olhos– fora que é tediante.

– Hmmm.

– Obrigado por vim sempre conversar comigo.

– Ah! Claro, é um prazer– ele suspirou e sorriu– tenho uma coisa pra você, sua noiva lhe mandou uma carta.

Abri os olhos no momento que ele disse ”sua noiva”.

– Nossa! Pensei que ela tivesse se esquecido de mim– disse em júbilo.

– Não, é que com essa epidemia os carteiros não tem saindo muito de suas casas.

– Ah!– disse estendendo a mão para o envelope.

Ele veio até mim e me entregou.

Dizia:

Edward,

Como se atreve a dizer que não posso, em hipótese alguma, voltar a Chicago? Sabendo o estado em que você se encontra? Minha mãe disse, não, ela ordenou que eu ficasse aqui, pelo bem de minha saúde.

Ah Edward! Eu te amo. Tem a mínima noção de como fiquei quando recebi sua carta? Eu não quero te perder! Assim que minha mãe se distrair, vou correr até Chicago e ver você, eu prometo. E nem pense em dizer que não, se você morrer, vou logo depois.

Você é a minha vida, eu te amo, não posso te perder.

De sua querida e amada

Bella.

Lágrimas correram pelo rosto, o primeiro motivo era que a sua dor não era nem o reflexo da minha, sua palavras faziam que cada célula minha doesse, ela estava sofrendo por minha causa, uma vez lhe prometi que nunca a faria sofrer, e agora ela estava. O segundo que não era nem comparável ao primeiro, era muito pior, Bella estava querendo vir até Chicago me ver, não, não pode ser! Bella não poderia fazer uma coisa dessas, a comum crise de tosses  ponderou-se de mim, isso sempre acontecia quando me desesperava. Dr.Cullen veio até mim.

– Edward! Calma rapaz, calma! – disse ele tentando me acalmar.

Meu corpo estava tremendo, tossia sem parar, mal conseguia respirar. Suas mãos experientes agora estavam tentando arranjar um jeito de me aquietar.

– Edward! O que aconteceu? – perguntou.

– Ela…– mais uma crise, respirei fundo– está querendo vim aqui pra me ver. Ela não pode, não…pode– minha voz falhou.

– Tenha calma, Edward, ela não tem como vir aqui, hoje cedo li no jornal que todas as rodoviárias do país estão interditadas. Nem um trem vai poder chegar aqui. Então, é obvio que ninguém vai vender bilhetes para Chicago. Calma– pediu.

Me acalmei, a crise foi como veio, imediatamente. Ele pareceu relaxar

– Tem certeza doutor? – não pude deixar de perguntar.

– Absoluta. E eu já lhe disse que pode me chamar de Carlisle.

– Força do hábito.

Fechei os olhos, as crises sempre me deixavam exausto.

Não durou nem meio minuto quando voltei a abrir os olhos, espantado com a crise de tosses que veio na direção de minha mãe– ela havia permanecido horas dormindo, sua respiração era muito lenta, mas a enfermeira me garantiu que ela só estava descansando– Carlisle correu até seu leito pediu pra ela se acalmar. Ela começou a dizer alguma coisa, incoerente, na verdade não saia som algum, só mexia os lábios, mas por incrível que pareça, Carlisle pareceu entender. Como? Olhei com mais atenção e ela não parecia dizer coisas incoerentes, não mesmo. O pior é que não dava pra entender nada, mas o médico parecia entender perfeitamente, era como se ela lhe pedisse um favor– eu conhecia aquela expressão– e ele estava muito tenso, as mão cerradas em punho. Olhei pra ele impaciente, por que não me dizia o ela queria? Antes que pudesse perguntar, uma nova crise se ponderou de mim. Tossi sem parar. Carlisle gritou para que Rosalina, uma das enfermeiras, viesse até mim.

Ela veio e sussurrou em meu ouvido: “Tenha calma, está tudo bem”, e logo eu estava sem respirar, como tudo bem? Olhei para Carlisle e minha mãe, ele estava do mesmo jeito, tenso, e ela suplicante. Não conseguia compreender. Mas precisava respirar, fechei os olhos e e concentrei em minha respiração, contei-as. Quando cheguei a cem, estava exausto, mas minha respiração estava estável, sabia que estava preocupado com algo, mas a exaustão me fez esquecer, estava tudo muito silencioso, o que me deu mais sono, então eu dormi.

Abri os olhos e virei o rosto automaticamente para o leito de minha mãe. Ela não estava lá, meu olhos correram por todo quarto, encontrei somente os outros pacientes, todos estavam dormindo, mas nada de encontrar a minha mãe. O desespero correu por todo meu corpo.

– Carlisle! – pensei que sairia um grito, mas não passou de um murmúrio baixo.

Mesmo assim, ele pareceu ouvir, ele passou pela porta. Sua expressão era aquela que eu mais temia, seus olhos eram tristes e preocupados. Me lembrou da noite em que ele veio me dizer que meu pai havia morrido.

– Edward, sinto em lhe informar, mas…

NÃO! – dessa vez o som saiu um pouco mais alto.

– Sinto muito Edward.

– Não, não, não, NÃO! – lamentei.

Não, não estava preparado, não só nessa noite, mas em noite alguma poderia ouvir aquela notícia. Minha mãe morta, não podia aceitar.

Então como sempre, eu tive uma crise. Carlisle veio até mim, de uma forma inumana, o que me sobressaltou, fez com que a crise parasse de imediato. O desespero cessou, foi tomado pelo medo. Como ele fez aquilo?

Seus olhos viram o medo se apossar de mim.

– Edward, calma.

– O que… Como?

– Você tem que vir comigo.

– Não, você…

– Eu sei, posso explicar.

Sacudi a cabeça, tentando explicar a mim mesmo o que acabara de ver.

– Edward sua mãe morreu, mas antes pediu para que eu lhe salvasse.

Isso me confundiu.

– Venha comigo.

– Carlisle…

– Eu sei, vou explicar, mas antes tem que vir comigo, tudo bem?

Estava confuso, comecei a pensar que estava delirando. Fechei os olhos. Exatamente! Eu só podia estar delirando, isso não estava acontecendo. Sorri, se isso era um sonho, então, minha mãe estava viva. Senti mãos me tocarem e rapidamente me colocarem em uma…maca? Não sei, não tive forças pra abrir os olhos. Continuei a delirar, depois senti as mãos gélidas novamente tocarem em mim e… de repente… estava voando. Só podia ser delírio. Mas era estranho, diferente, parecia ser tão real. Fiquei exausto e adormeci.

Acordei, mas não abri os olhos, comecei a pensar. O meu sonho foi tão estranho, assustador, Carlisle Cullen vindo até mim de forma inumana, e depois eu parecia estar voando. Que estranho! Sorri com tamanha fantasia incoerente. Abri os olhos e, como de costume, virei o rosto para o leito de minha mãe. Tomei um susto tão grande que se não fosse por Carlisle, teria caído de costas no chão. Onde eu estava? Virei-me pra ele com os olhos alarmados.

– Onde estou?

– Na minha casa– disse ele lentamente. Colocou-me de volta a cama.

– Como assim? – minha cabeça começou a girar.

– Hã…o trouxe aqui para lhe salvar, a pedido de sua mãe.

– Onde ela está?

– Edward, sua mãe morreu.

Milhões de coisas vieram a minha cabeça.

– Então aquilo era tudo verdade?– sacudi a cabeça– não, foi tudo um sonho. Tenho certeza.

– Edward, peço-lhe desculpas pelo que vou fazer com você, mas eu prometi.

– O que…?

Antes de terminar Carlisle estava em cima de mim.

Tudo aconteceu muito rápido. Em um segundo estava sentado em uma cama desconhecida, tentando assimilar as palavras de Carlisle, e em outro estava no chão com ele em cima de, quando algo cravou em meu pescoço. Seus dentes?

Não tive tempo de pensar, só de gritar, gritar e gritar ainda mais. A dor que se seguiu após a mordida era insuportável. Era como se tivessem acendido um fósforo em cima de mim e me jogado álcool.

A dor era atordoante.

Exatamente isso– eu estava atordoado. Não conseguia entender, não conseguia perceber o que estava acontecendo.

Cada parte de meu corpo queimava, cada segundo parecia ser pior, a região onde devia estar o meu coração era a parte que mais queimava.

As células de meu corpo, pareciam estar se dilacerando com o fogo. Eu queria poder dizer:” o fogo, alguém apague o fogo”, não conseguia. A dor era tremenda.

O calor junto ao meu coração foi ficando cada vez mais real, aquecendo cada vez mais. Mais quente. O calor era tão real que era difícil acreditar que eu o estivesse imaginando.

Mais quente.

E, então, estava desagradável. Quente de mais. Muito, muito quente.

Minha reação automática foi soltar a coisa escaldante de meus braços. Mas não havia nada em meus braços. Eles estavam se debatendo violentamente. O calor estava dentro de mim.

O ardor cresceu– aumentou, foi ao máximo, depois tornou a aumentar, até que suplantou qualquer coisa que eu já sentira na vida.

Senti a pulsação por trás do fogo devorar meu peito e percebi que tinha encontrado meu coração, bem a tempo de desejar o contrário. Queria levantar meus braços e rasgar meu peito, arrancar o coração dali– qualquer coisa pra me livrar daquela tortura. Mas não conseguia mover meus braços, não conseguia mover um único dedo.

O fogo ardeu mais quente e eu quis gritar . Implorar pra que alguém me matasse antes que eu vivesse mais um segundo daquela dor. Mas não saia palavras coerentes de meus lábios.

Eu estava cada vez mais enterrado nas chamas que agora abriam caminho a dentadas a partir do meu coração, propagando-se com uma dor insuportável pelo ombros e pela barriga, escaldando minha garganta, lambendo meu rosto.

Tudo que eu queria agora era morrer. Nunca ter nascido. Toda minha vida não compensava aquela dor. Não valia a pena suportar aquilo nem por mais um batimento cardíaco.

Deixe-me morrer, deixe-me morrer, deixe-me morrer.

E por um período interminável era só o que havia. Só a tortura causticante e meus gritos, implorando pela morte. Nada mais, nem mesmo o tempo– o que tornava aquilo infinito, sem início nem fim. Um momento infinito de dor.

Poderiam ter sido segundos ou dias, semanas ou anos, mas por fim o tempo voltou a significar alguma coisa.

Duas coisas aconteceram simultaneamente, surgindo uma da outra de modo que eu não sabia dizer o que veio primeiro: o tempo voltou a passar e eu fiquei mais forte.

Embora o fogo não tivesse abrandado nem um grau. Na verdade, comecei a desenvolver uma nova capacidade de vivenciá-lo, uma nova sensibilidade para apreciar, separadamente, cada chama devastadora que lambia minhas veias.

Minha audição estava cada vez mais clara, e eu podia contar o batimento frenético do meu coração para marcar o tempo.

Eu podia contar a respiração fraca que arfava através dos meus dentes.

Podia contar a respiração baixa e regular que vinha de algum lugar perto de mim. Essa era mais lenta, então me concentrei nela. Significava mais tempo passando. Mas regular que um pêndulo de relógio, essa respiração me impelia pelos segundo abrasadores na direção do fim.

Continuei a ficar mais forte, meus pensamentos, mais claros. Quando ouvi a voz de Carlisle.

Ele parecia se lamentar pelo que estava acontecendo comigo, mas se perdoava quando lembrava que foi a pedido de minha mãe. Espera, que coisa estranha foi essa? Eu não ouvi somente, eu vi.

Vi com clareza o momento que eu fechei os olhos naquele dia, de exaustão e vi como eu os abri com o susto do ataque de tosses de minha mãe– eu estava horrível, pior do que meu pai da última vez que eu o vi, no dia em que me internei junto com minha mãe– e como Carlisle se preocupou. Vi e ouvi o que tanto queria naquele dia, ouvi através das lembranças de Carlisle o que minha mãe queria, o que ela tanto lhe implorava e o deixava tenso. Ela lhe pediu que me salvasse, salvasse o seu Edward, e nesse momento Carlisle se desesperou, perguntou-se se ela sabia do seu segredo, mas que segredo? Ele não pensou nele agora, ele ficou tenso porque não queria me transformar no que ele era. Mas o que? O que ele era? E o que eu sou agora?

Nesse momento não tinha respostas para essas perguntas.


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Notas finais do capítulo

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