Salvation escrita por MilaBravomila


Capítulo 30
Capítulo 30




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Quando anoiteceu, eu e Gabriel nos vestimos. Eu coloquei um vestido preto que tinha comprado. Era lindo, tomara que caia com um tecido ultra leve e tinha uma fita de cetim abaixo do peito. Era bom ser vampira as vezes porque você não sente tanto frio. O tempo até que estava fresco, mas com certeza as pessoas não sairiam assim na rua. Então coloquei um bolero de manga comprida por cima. Ficou sexy e como estava toda de preto com os cabelos castanho-escuros, meus olhos verdes realçaram bastante.

Calcei uma sapatilha vinho, pra quebrar a monocromia, e sacudi os cabelos para dar volume. Estava muito bem. Gabriel me esperava, como sempre e estava pronto também, com jeans escuros, uma camisa branca dobrada até o cotovelo e um colete. Inferno, onde ele tinha aprendido a se vestir assim tão bem? As tatuagens do braço direito estavam expostas e ele estava irresistível demais pra mim.

Aproximei-me sem pensar e ele me parou a centímetro do seu corpo perfeito.

- Por favor, Michaela.

- Eu só queria dizer o quanto está lindo. – respondi inocente, encarando o azul profundo de perto.

Ele ficou sem reação, não esperava minha resposta.

- Você está linda também. – ele disse afrouxando seu aperto.

Eu não conversei, me antecipei e beijei sua boca, colando meu corpo inteiro ao dele. Gabriel não reagiu, seu corpo fez isso por ele e me beijou de volta. Eu o abracei, sentindo seus músculos sob a camisa, mas cedo demais ele me afastou.

- Michaela, por favor! – ele disse meio ofegante – Temos que ir agora.

Eu torci o nariz e me afastei, saindo na frente.

Nosso hotel ficava a dez minutos de onde Annelisse morava. Assim que viramos a esquina, eu vi as luzes e ouvi a música alta com uma voz irritante de artista infantil. O jardim da frente estava lotado de gente e tinha um bando de crianças correndo e um pula-pula enorme no canto.

- Eu não acredito nisso. – eu falei deprimida. Odiava crianças remelentas.

Gabriel sorriu.

- É sua família. – ele disse antes de estacionar.

Saímos do carro e fomos até o inferno, quer dizer, à festa. Dava no mesmo. Logo Fred se aproximou. Ele ficou me olhando impressionado, o coitado. Se eu não dissesse nada, ele ia travar.

- Oi. – falei simplesmente.

- Mika! Vem! – ouvi Ashley me chamar lá atrás.

Saí e deixei Gabriel cuidando do babento Fred. Ashley estava uma graça, tive que admitir. Usava um vestido rosa claro colado e uma sandália alta. O cabelo era castanho mais claro que o meu e caía belo e volumoso sobre os ombros.

Havia outra mulher com ela, uma poucos anos mais velha, Karen.

- Eu não acredito! É mesmo você. – ela disse vindo até mim.

Eu detestava essa mania de abraço o tempo inteiro, mas deixei ela me apertar.

-Está linda, minha nossa, não mudou nada!

- Obrigada. Você está ótima também. – falei.

Era verdade. Karen tinha uns trinta e devia ser da minha idade, bem... enfim. Ela era alta e já não era tão esbelta, mas tinha um bom corpo. Eu sabia que os gêmeos eram a causa, crianças sempre faziam isso. Um homem se aproximou de nós e trazia dois pequenos garotinhos de mãos dadas com ele. Eram exatamente iguais e eu julguei que fossem os aniversariantes.

- Mika, estes são Dave e David, meus filhos. E este é meu marido John.

- Olá. – eu disse a eles – São lindos. Parabéns.

Eu tenteio passar empolgação e simpatia, mas era tudo muito falso. Todas essas pessoas me eram tão estranhas e me tratavam tão bem. Eu percebi que as crianças se afastaram um pouco de mim. Bom, crianças e animais era iguais, tinham esse extinto natural. Senti Gabriel ao meu lado.

- Olá rapazes.

Gabriel estendeu a mão e as crianças seguraram sorridentes. Era como um imã, atraindo-os. Em segundos Gabriel estava agachado e conversava com os dois como velhos amigos. Karen, o marido e Ashley olhavam deslumbrados, assim como eu.

Os garotos seguraram a mão de Gabriel e insistiam em mostrar a casa na árvore nos fundos da casa. Gabriel sorriu e me estendeu a mão.

- Bom, só se minha amiga Michaela vir junto. Ela pode?

Eles aceitaram e eu segurei a mão de Gabriel. Nenhum dos gêmeos segurou a minha. Fomos andando até os fundos da casa e eu percebi que havia mais gente por lá. Eram alguns jovens e adultos e percebi que a festa boa estava na parte dos fundos da casa. Estava rolando até uma música eletrônica.

- Bom, festa! Finalmente. – eu disse baixo pra Gabriel, que seguia puxado pelas crianças.

Bem no meio do quintal havia uma árvore velha e uma casinha minúscula pendurada. Era pequena o suficiente para só caberem a s crianças. Menos mal. Eu me acharia patética em ter que pedir permissão a meninos de quatro anos para entrar ali.

Eles subiram e eu fiquei embaixo com Gabriel que os vigiava. As crianças apareceram nas pequena janela nos deram tchau.

- São lindos. – ele disse sorrindo.

- Pode ser. – respondi indiferente.

- Podiam ser seus. – ele disse me olhando.

Eu franzi a testa para aquela idéia absurda e ele riu.

- Seria uma boa mãe, Michaela, tenho certeza.

- Ah, fala sério. – respondi cruzando os braços.

Karen e o marido John se aproximaram e Ashley e Fred também.

- Vamos crianças! – John chamou – Se vocês não usarem aquele pula-pula agora, podem esquecer na festa do ano que vem.

Os meninos desceram da casinha na árvore e foram com o pai em direção ao jardins da frente.

- Nossa, é tão estranho estarmos juntos de novo.

Olhei pra Fred que me encarava. De uma maneira bizarra, estávamos novamente reunidos como na foto que vi na noite anterior. Senti uma coisa quente dentro de mim.

Annelisse surgiu naquele momento e passou uma câmera digital pra Gabriel.

- Vamos, meu filho, tire uma foto nossa.

Eu sorri incomodada e senti eles se aproximando. Annelisse ficou no meio, eu e Fred de um lado, Ashley e Karen do outro. Gabriel tirou a foto e virou o visor pra nós. Era bizarro, parecíamos uma família normal e feliz e eu estava bem no meio.

Alguém chamou Annelisse e ela se retirou. Fred e Karen começaram a conversar comigo, me perguntando várias coisas ao mesmo tempo. Eu recontei o que tinha acontecido comigo na noite do meu desaparecimento e confirmei a história de Gabriel sobre ter me afastado.

Quando olhei pro lado, vi Ashley conversando com ele, um pouco afastada. Ela ria de algo que ele falou e eu senti uma leve fragrância de excitação. Céus, ela estava dando em cima dele e jogando um charminho sem vergonha! Não pude controlar, um rosnado leve surgiu em meu peito.

- Michaela? – Fred me perguntou.

- Ouviram isso? – Karen pareceu assustada. Eles não sabiam o que tinha acontecido.

- E-eu, acho que foi meu celular... – disfarcei.

Tive que conter outros rosnados que brotavam em meu peito cada vez que Ashley ria e jogava os cabelos na direção do meu anjo. Fred e Karen estavam falando mil coisa ao mesmo tempo, mas eu não prestei atenção, minha mente estava viajando em diferentes formas de matar aquela piranhazinha sem vergonha.

Sacudi a cabeça e respirei fundo. Eu tinha que sair dali se quisesse evitar uma tragédia.

- Com licença, eu preciso ir ao banheiro. – disfarcei.

Saí dali rapidamente, embora meu corpo inteiro tremesse de vontade de voar no pescoço da minha prima – literalmente. Peguei o caminho de volta para a parte de frente da casa. A noite tinha esfriado um pouco mas isso pouco me importava eu me sentia estranha, incomodada, com raiva e não sabia o motivo.

Entrei na casa e havia pessoas conversando ali também. Peguei a indicação pra onde ficava o toalhete e fui até ele. Tranquei a porta, ofegante, o que estava acontecendo?

Eu estava agitada e havia um grunhido baixo e constante saindo da minha garganta que eu não conseguia explicar. Encarei meu próprio reflexo no espelho. Eu parecia normal, os mesmos cabelos, os mesmos lábios, os mesmos olhos, mas ainda assim, havia algo diferente, algo que me fazia sentir diferente e eu sabia o que era, só não queria admitir.

Gabriel. Era ele o que tinha de diferente em mim. Eu estava ali trancada sozinha no banheiro, mas minha mente estava nele, no que poderia estar fazendo, qual a conversa que estaria tendo, me perguntava se poderia estar interessado em Ashley de alguma forma. Céus, só de pensar nele olhando pra ela como mulher, me dava arrepios e o grunhido em minha garganta aumentava. Era isso, eu estava definitivamente louca.

Saí do banheiro disposta a deixar esse sentimento estranho de lado. Voltei para os fundos e Karen já não estava, nem Gabriel. Achei melhor assim. Que se foda ele, então. Eu ouvi a batida da música e me encaminhei para as poucas pessoas que dançavam ali atrás. Comecei devagar, entrando no ritmo da dança, e logo percebi os olhares em minha direção. Algumas pessoas pararam de dançar para me observar.

Avistei Gabriel voltando e Ashley estava ao lado dele, falando sem parar. De longe, meu olhar ficou preso ao dele. O meu corpo inteiro respondeu ao azul profundo que me olhava e eu comecei a dançar mais lentamente, mais provocante. Eu não me importei com as essências dos humanos a minha volta, nem com ninguém mais. Eu estava ali dançando só pra ele.

Vi seu olhar me estudar e gostei. Eu sabia que ele me queria, que estava me querendo naquele instante. Girei o corpo sensualmente e levantei o cabelo de forma sexy, só pra deixar cair lentamente depois. Ele estava comigo, vidrado em mim, a boca entreaberta.

Então Ashley acompanhou seu olhar e me viu dançar. Rapidamente ela entrou no campo de visão dele e começou a dançar também, apoiando as mãos no ombro dele. Quando ele desviou o olhar de mim por uma fração de segundo para encará-la, eu senti uma raiva tão grande e um calor tão intenso, que não evitei, rosnei baixo e mostrei os dentes na direção dela.

Foi tudo muito rápido e os humanos não repararam naquilo, mas imediatamente eu coloquei a mão sobre minha boca, tapando os caninos levemente pronunciados.

- O que está acontecendo comigo? – eu me perguntei baixinho, sem entender a origem daquela reação.

Ao longe, Ashley dançava pra Gabriel, mas ele apenas me olhava. Eu passei por entre as pessoas e fui andando pela multidão, me afastando dele e de Ashley, saindo dali. Por uma fração de tempo eu ía ataca-la, ía mata-la sem pensar duas vezes, só porque ela estava se insinuando pra ele. Eu andei depressa e não parei quando ouvi a voz de Fred chamar meu nome. Eu passei por todos, andando tão rápido que estava quase correndo.

Cheguei até a rua e andei mais até alcançar a esquina. Passei pelos carros estacionados e pela banca de jornal fechada e voltei pelo caminho que percorri de carro mais cedo. Eu queria ficar sozinha, queria pensar, entender o que era aquilo.

Cheguei ao hotel em pouco tempo e subi como uma flecha até o quarto. Olhei a cama de solteiro que Gabriel tinha dormido e sua camisa sobre ela, ainda manchada com as patas de cachorro.

Fui até o banheiro, acendi todas as luzes. Eu estava chorando. Meu corpo tremia violentamente. Eu não estava entendendo a mim mesma, estava perdida. Era como na noite em que me transformei, tudo estava diferente, estranho. O meu corpo já não era um território seguro, eu já não me entendia mais.

Não sabia o que sentir ou como agir. Quando se tratava de Gabriel, eu não era dona de mim e isso me assustava muito. Apoiei ambas as mãos no espelho a minha frente e abaixei a cabeça. As lágrimas escorriam pelo meu rosto e caiam sobre a pia. Eu sabia o que era, só não queria admitir. Sabia que cada célula do meu corpo o desejava, mas não era apenas físico, não era apenas o corpo dele que eu queria.

Minha reação à Ashley tinha sido nada mais que ciúmes. Senti ciúmes de Gabriel, do meu Anjo, e senti inveja dela. Inveja por ser livre, por ser humana, por poder dar a ele o que eu não podia dar. Calor, amor.

Amor. Essa palavra tão estranha para mim, agora fazia todo o sentido. Era isso, eu estava amando Gabriel com tudo de mim. Por isso não era só o corpo dele, era tudo, era ele, estar com ele, senti-lo perto de mim. Eu estava apaixonada por ele e perdida no meio desse sentimento, afogada em mim mesma.

Eu apenas o senti. Era quente e tranquilo estar perto dele. Olhei pra cima e vi o reflexo azul profundo de seus olhos me encarando, benevolente . Gabriel se aproximou com sua beleza sem fim, com sua presença que me tirava o ar.

Ele esticou a mão e me virou pra ele. Eu estava derrotada, entregue. A percepção do que eu sentia por ele tinha me tocado e eu não sabia o que fazer. Eu não podia amá-lo. Era errado.

- Eu te amo. – eu falei olhando fundo em seus olhos. Os meus transmitiam dor. Os dele, compaixão.

Ele soltou o ar quando ouviu minhas palavras e não desviou o olhar. Lentamente secou as lágrimas de minha bochecha.

- Se me ama, porque está triste? – ele perguntou acariciando meu cabelo.

- Por que eu sei que não posso... amar você.

- Não pode? – ele perguntou se aproximando de mim.

- Não. Eu não amo ninguém, Gabriel, não posso, é errado.

- O amor nunca é errado Michaela. Nunca.

Ele se aproximou ainda mais e eu senti meu corpo responder a ele, como sempre fazia. Ele também tremeu.

- Não é errado entre nós Michaela... não pode ser.

Gabriel beijou meus lábios e foi gentil. Eu senti o desejo em mim, senti meu corpo clamando pelo dele. Eu queria Gabriel de todas as maneiras. Eu apenas precisava dele e não havia nada no mundo que eu quisesse mais, nem mesmo seu sangue.

- Não é errado entre a gente porque eu também te amo, Michaela. Foi por isso que eu fiquei.

Eu abri os olhos ante esta revelação. Senti uma alegria tão grande que não se comparava a nada antes já vivido. Eu senti naquela hora que tudo estava certo, que tudo estava no lugar que deveria estar.

Eu o apertei contra mim e senti o corpo dele me envolver, me amolecer. Ele desceu a boca até meu pescoço e eu gemi de prazer só com aquela sensação. As mãos dele deslizaram em minhas costas e pararam em minha cintura. Como que sincronizados, ele me levantou ao mesmo tempo em que eu dei um pequeno pulo e ele me pegou no colo, segurando meus quadris enquanto eu enrosquei as pernas na cintura dele, sem interromper o beijo quente entre nós.

Gabriel andou pra trás, na direção do quarto, me carregando, enquanto ainda me beijava. Minhas mãos enlouquecidas enrolavam seu cabelo entre meus dedos e o puxavam mais pra mim. Eu soltava os grunhidos diferentes, saiam como o ronronar de um gato e ele gemia em resposta. Eu estava tão excitada que quase não sabia o que fazer... quase.

Ele me jogou sobre a grande e macia cama e veio junto comigo. Como numa última pergunta silenciosa, eu enviei um olhar pra ele que perguntava se era aquilo mesmo o que ele queria. Eu jurava por tudo no mundo, que se ele quisesse parar, eu pararia, mesmo que isso me doesse a alma. Mas ele não parou, apenas me beijou os lábios da maneira mais ardente e apaixonada que podia existir.


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Notas finais do capítulo

next cap POV Gabriel :)


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