Salvation escrita por MilaBravomila


Capítulo 16
Capítulo 16




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Michaela parou de andar assim que retirei meu braço de seu ombro e perguntei o que tinha acontecido. Ela me respondeu qualquer coisa que eu já não prestei atenção, pois estava sentindo a presença dele.

Vi quando Anariel a atacou e por puro reflexo, consegui deter seu ataque. Teria sido fatal se eu não o tivesse feito. Discutimos e insisti que seria de grande valia se ela trabalhasse conosco. Ele não gostou, nem um pouco, mas não o culpo. Até mesmo eu ainda me questiono se isso é o certo.

Voltamos para a pensão decrépita na qual estávamos hospedados. Era um lugar horrível, realmente, mas pelo menos não tinha nenhum tipo de registro eletrônico que pudesse ser rastreado. Bolamos algumas estratégias em relação a Julius e Anariel nos contou como estava a região. Pelo o que percebi, seria muito difícil chegar até nosso alvo.

Saímos no meio do dia para recolher o máximo de informações possíveis. Michaela teve que ficar no quarto e eu esperava que descansasse sem a presença de Anariel. Andamos alguns quarteirões e ele me mostrava pelo mapa da cidade que baixei no iphone, os pontos estratégicos em que ficavam as patrulhas de Julius e os lugares que ele mais frequentava.

Anariel tinha descoberto que, assim como Soxx, ele mantinha um clube como fachada para suas ações. A maioria dos delegados fazia isso e, aos olhos dos humanos, não passavam de traficantes e bandidos. Mas eram muito mais que isso. Sim, eles movimentavam suas contas bancárias à custa da venda de entorpecentes, do tráfico e da prostituição, mas  eles também atraíam e aos poucos, aumentavam o contingente dos Filhos do Pecado.

Ainda era desconhecido pra nós, Seres da Luz, como era feita essa escolha. Até onde eu sabia, tudo em relação aos vampiros estava envolto em segundas intenções e eles provavelmente transformavam apenas os humanos que lhes podiam ser úteis, ou que fossem convenientes. Isso me fez relembrar a história de Michaela. Ela podia ter tido uma vida normal e eu me pergunto, qual teria sido o motivo para o macho transformá-la.

Entramos em um restaurante vazio, que vendia comida mexicana. Sentamos em uma mesa bem reservada. Precisávamos conversar e meu corpo precisava de alimento.

- Você disse que Julius anda sumido esses dias, e eu presumo que esteja se reservando, esperando seus capangas me capturarem para que ele possa ficar tranquilo. O problema é que isso dificulta ainda mais as coisas. Precisamos saber onde ele mora, que lugares frequenta enquanto está escondido... Anariel, você está me ouvindo?

Meu irmão estava sentado de frente pra mim e me olhava de um jeito estranho. Não prestava atenção em minhas palavras.

- Gabriel – ele começou – Qual o seu verdadeiro envolvimento com a vampira?

- O que? Envolvimento? Como assim?

- Ela já era pra estar morta, Gabriel, é o que fazemos.

- Eu já disse que ela pode nos ajudar com Julius, Anariel, pode ser nosso trunfo.

- Trunfo? Ela é uma Filha do Pecado, uma traidora, não podemos confiar nela!

Eu sacudi a cabeça e ficamos calados enquanto o garçom trazia nosso pedido. O cheiro do queijo derretido fez meu estômago roncar.

Assim que ficamos a sós novamente, ele continuou:

- Eu não sei... é estranho ver vocês juntos. Parece que você fica totalmente confortável com ela por perto.

- Está enganado, estou sempre em alerta quando Michaela está presente. Não se preocupe, Anariel, se ela me quisesse morto, já o teria feito.

- Como assim? – ele me perguntou.

- Na primeira vez que a encontrei, ela teve a chance de acabar comigo, e não o fez. – eu contei – Depois eu resolvi usá-la para chegar até Julius. Achei que ela me ajudaria por medo. Estava errado. Ela me traiu, me entregou a Julius e eu quase morri. Entretanto, mais uma vez ela me salvou. Anariel, ela não tinha que fazer nada, apenas me olhar morrer. Eram quatro vampiros machos contra mim, eu estava perdido. Mas de repente, ela atacou Julius. Contra todas as probabilidades do universo, ela o atacou e foi a minha chance de escapar.

- Eu sabia! Sabia que ela trairia você! Não enxerga, irmão? O que a impede de fazer novamente?

- Eu não sei Anariel, mas eu sei... sei que ela não vai fazer de novo. Tem alguma coisa nela, que... eu não sei... eu acho que naquele dia com Julius, ela se arrependeu do que fez.

Anariel me encarou descrente e percebi que nenhum de nós tinha tocado na comida.

- Gabriel, meu irmão, não se iluda. Ela é Filha do Pecado, ela não se arrepende, eles são assim, não têm pudor, não têm escrúpulos.

- Eu sei como eles são, mas tem alguma coisa diferente com Michaela, eu sinto. Anariel, no dia da emboscada... depois que derrubou Julius, eu me soltei de um dos machos que me seguravam e ela foi até o chão, pegou minha espada e a jogou pra mim.

- Você está dizendo que ela tocou sua Gladius e não morreu?

Sacudi a cabeça, confirmando. Aquele foi, de todos, o fato que mais me intrigou em relação a ela. Qualquer vampiro que segure a espada de um Anjo, tem a morte instantânea. É um objeto muito puro e sagrado, os Filhos do Pecado caem quando o encostam. Mas Michaela não morreu, apenas me jogou a espada para que eu pudesse combater os vampiros.

- Foi incrível, Anariel! Ela jogou a Gladius pra mim e sofreu apenas uma queimadura na mão! Como pode dizer que ela não é especial?

- Especial não, diferente, Gabriel. E podem haver milhares explicações para o que aconteceu, irmão. – pausou um momento – Eu estou preocupado com sua confiança cega nessa vampira.

- Eu não estou cego, já lhe disse. Mas Michaela é diferente e eu quero descobrir o quanto... e o porquê.

Ficamos em silêncio depois disso e comemos devagar. Eu estava imerso em meus próprios pensamentos, e Anariel, nos dele. Foi algum tempo depois que eu continuei.

- Ela me contou sobre a transformação dela. Foi horrível. Ela era jovem e tinha um futuro, irmão. Foi transformada contra a vontade e nem sabia o que tinha se tornado.

- Mas isso não justifica o que ela fez depois.

- Eu sei – falei rapidamente – Sei disso, mas mesmo assim... eu me pergunto se... se estamos fazendo o certo. Será que mata-los é a solução, Anariel?

Meu irmão me encarou e não soube identificar sua expressão.

- Não acredito que esteja questionando as ordens da Providência.

- Não estou questionando as ordens, apenas se a nossa interpretação delas está correta. – respondi.

- Escuta, Gabriel, fazemos o que é certo. A existência deles é contra as leis de nosso Pai, devemos continuar. Não se deixe levar por ela, por favor, não se desvie do caminho.

Eu respirei fundo.

- Por que eu sinto que você está interpretando as coisas de um jeito errado? – perguntei a ele.

- Eu só estou expressando o que vejo e o que sinto, Gabriel, e o que eu sinto, é que está envolvido com ela e eu isso pode ser o seu fim.

Não respondi, apenas me pus a pensar. Eu não podia mais negar, nem mesmo pra mim, que eu estava envolvido. Mas era inevitável, eu queria, precisava conhecê-la, entende-la. No mais íntimo do meu ser, eu sabia que devia entender Michaela, sabia que ela era diferente.

- Anariel... – e disse por fim – me prometa que não vai mata-la enquanto ela está conosco nisso.

Ele me encarou profundamente e eu tentei passar com o olhar todo meu desespero. Eu precisava da palra dele de que não a machucaria, eu tinha que descobrir quem era ela.

Anariel demorou, mas acenou a cabeça.

- Te prometo, irmão. – ele me disse em nossa língua antiga.

Saímos do restaurante e começamos os rastreamentos. Era infinitamente mais fácil trabalhar em dupla, eu descobri. Vasculhamos alguns pontos que Anariel sabia serem redutos de vampiros próximos a Julius. A maioria das vezes, ele saía e eu ficava na cobertura. Meu rosto estava sendo procurado na região, não poderíamos arriscar, nem mesmo durante o dia, e se Anariel fosse visto comigo, sua identidade também seria revelada.

Descobrimos depois de rastrear a conversa entre dois jovens humanos, que havia uma festa especial sendo programada para a noite, no clube que Anariel disse ser o principal reduto de Julius e suas falcatruas. Não sabíamos se ele estaria lá essa noite, então teríamos que descobrir.

Entramos em algumas lojas e compramos roupas adequadas. Também tratei de arranjar umas lentes descartáveis pra mim e Michaela. Quando saímos da loja, me deparei com uma boutique feminina e havia um belo vestido verde exposto na vitrine. Entrei na loja e o comprei.


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Notas finais do capítulo

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