Salvation escrita por MilaBravomila


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Preparem-se o cap eh grande!!!!

Boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/144984/chapter/12

Cinco dias se passaram e eu continuava viajando com Gabriel. Na verdade, era bem chato porque quase não nos falávamos. Ele estava desconfiado até da minha sombra e eu não sabia até que ponto ele teria paciência com minhas investidas – que eram as melhores partes da viajem. Na boa, ele podia ser um Anjo, mas o filho da puta era um gato.

Depois que eu o vi sem camisa, na primeira noite que passamos naquela pensão xexelenta, eu não consegui mais tirá-lo da minha cabeça.  Era insano, mais eu o desejava, muito. Eu não tinha nada a perder, além da vida é claro, então passava as longas e tediantes horas em que ficávamos trancafiados em quartos de hotéis apenas fazendo-o ficar sem graça: desfilava de langerie pelo quarto ou dizia alguma gracinha.

No início da noite eu levantei da cama, entediada, e coloquei uma das roupas que comprei: saia curta, meia preta, botas e uma blusa apertada. Vesti o casaco e ajeitei o cabelo.

- Onde pensa que vai? – ele perguntou quando me viu sair do banheiro assim.

- Caçar, o que mais?

Ele se pôs na minha frente, impedindo que alcançasse a porta do quarto.

- Não, não vai.

Eu soltei um grunhido e mostrei os dentes. O que, ele achava que ia me impedir de me alimentar?

- Eu estou com sede, faz semanas que não me alimento. Estou ficando fraca. – falei gravemente encarando-o.

- Não vou permitir que mate um inocente. Esqueça.

Eu pulei em sua direção, atacando-o. Gabriel já previa isso e facilmente me empurrou contra a parede. Eu estava realmente fraca, havia passado muito tempo sem me alimentar de alguém. Mas a fome me deixava mais agressiva também. Voltei rapidamente em sua direção e consegui atingi-lo.

O corpo esbelto do Anjo bateu na parede próxima a porta e quando ele veio até mim novamente, portava a espada prateada nas mãos. Era afiada, eu sabia, e Gabriel a manejava com destreza. Ficamos nos rodeando e ele me atacou. Como eu já esperava esse ataque, não revidei, apenas dei um impulso pra trás e parei propositalmente junto a janela.

Estávamos no segundo andar, mas eu sabia que a queda não me afetaria. Antes dele pensar nessa possibilidade, eu saltei pra rua, fazendo o vidro se estilhaçar completamente. Aterrissei de quatro na calçada e um casal que passava na hora se assustou. A mulher gritou apavorada e eu rosnei em sua direção.

Infelizmente, não poderia atacar os dois ali, ainda era um lugar muito exposto e o Anjo me alcançaria em questão de segundos. Eu corri velozmente, me afastando ao máximo de Gabriel.

Eu precisava beber de um humano antes que ele chegasse até mim e eu sentia a presença dele me seguindo. Corri pelas ruas pouco movimentadas e sabia que chamava a atenção pela velocidade acima do comum, mas pouco me importava. Eu não podia ir para um local deserto porque aí ele poderia voar e me alcançar.

Dobrei a esquina ainda em alta velocidade e ouvi os pneus dos carros raspando no asfalto quando atravessei a rua na frente deles. Ouvi uma batida e olhei de relance. Minha fuga desenfreada resultou na colisão entre um taxi e um ônibus e eu vi que Gabriel parou no local, provavelmente para ajudar às vítimas.

Sorri e de longe vi seu olhar azul profundo preocupado. Ele ficou e eu segui em frente. Era minha chance de beber do maravilhoso fluido da vida.

Corri por mais três ruas e diminuí a velocidade. Dobrei a esquina calmamente e comecei a observar as pessoas a minha volta. Vi um jovem rapaz que corria na ciclovia. Estava distraído ouvindo música e completamente alheio ao mundo a sua volta. Ele atravessou a rua, em sua passada ritmada e eu o segui. Era alto e forte e eu podia sentir seu poderoso sangue jovem fluindo em minhas próprias veias.

Com um olhar mais atento, reparei que o caminho do rapaz passaria por um terreno baldio e por sorte a iluminação ali estava falha. Seria fácil demais. Aproximei-me dele, que corria distraído e esperei que se aproximasse do local que escolhi para o ataque. Meu corpo tremia com a antecipação, a boca salivava de ansiedade.

O jovem chegou onde eu queria e felizmente – pra mim – não havia testemunhas. Apressei o passo por trás dele e quando me preparei pro bote, senti uma movimentação perto. Olhei no tempo exato de ver o vulto vindo pra cima de mim.

Fui atingida e comecei a batalhar contra meu agressor, que reparei na hora, ser um vampiro. Minha presa se foi e eu estava engalfinhada com um macho de mais de dois metros no terreno baldio. Rolei no chão, com o corpo pesado do macho em cima de mim. Eu estava mal, na ânsia pela alimentação, não reparei que estava sendo seguida e ele me pegou.

O cara me deu dois belos socos na cara e o terceiro acertou-me a boca do estômago. Meu corpo curvou pra frente e ele encaixou um gancho que me fez cair a metros de distância. Eu vi meu próprio sangue encharcar o chão e não conseguia respirar direito tamanha dor. O cara veio a te mim mais uma vez e me puxou forte pelos cabelos.

- Eu não acredito no que tenho em minhas mãos. Se não é a vampira traidora que todos procuram. É você, não é?

A voz dele saia grave e repleta de satisfação. Com uma das mãos ele me mantinha olhando pra ele, puxando-me pelo cabelo, e a outra apertava meu queixo, como que tentando me avaliar melhor. Eu não tinha a menor chance. Ele era muito mais forte e estava com a luta ganha. Meu corpo frágil não esboçava reação, apenas doía alucinadamente pelos golpes e desperdiçava o escasso sangue em minhas veias. Eu estava acabada.

Ele me socou mais uma vez, exigindo uma resposta minha.

- É você, não é? Ruiva, olhos verdes, gostosa, você é a tal Michaela. Julius vai ficar satisfeito quando eu te entregar a ele, muito satisfeito.

- Vai se fuder. – eu falei com dificuldade cuspindo na cara do safado.

Não foi uma boa idéia. Ele me desferiu mais uma sequencia de duros golpes até que eu achei que estivesse realmente morta. Meu rosto desfigurado sangrava por tudo quanto era lugar; ele me quebrou um fêmur e pelo menos duas costelas.  A dor era lacerante e eu estava a ponto de desmaiar.

Ele descartou meu entorpecido corpo como lixo, e sacou um celular. Ouvi quando ele falou com pelo menos três pessoas diferentes antes de falar diretamente com Julius. Ele me descreveu e deu nossas coordenadas, mas disse que me levaria até o vampiro. Vi o desgraçado rir abertamente quando falou da recompensa que ganharia.

Desligou o celular e veio até mim. Eu tentava, mas pouco conseguia me mexer. Com estrema dor e dificuldade, me arrastei para longe dele, que ria desdenhoso. Senti-o se aproximar de mim rindo alegremente.

- Minha nossa, eu nem acredito. Você é uma idiota, fêmea, e agora vai ter uma morte muito dolorosa.

O crápula virou meu corpo de barriga para cima e eu gritei ide cor. Com brutalidade, ele passou a enorme mão em meus seios.

- E pensar que é tão gostosa... que desperdício...

Ele me levantou pelos cabelos e eu soltei novos gritos de protesto. Senti que ele ía me carregar, provavelmente me levaria até um dos comparsas de Julius que estivesse mais próximo.

Então ele surgiu. Rápido como um raio, veio até nós. O vampiro macho percebeu a aproximação e me soltou no chão. Soltei mais um grito de dor.

 A luta se desenrolou violenta, tensa. O vampiro macho era enorme e muito forte, mas o Anjo, apesar de não tão forte fisicamente, era habilidoso e extremamente rápido. Ele conseguiu cortar um dos braços do vampiro, que uivou de dor.  Depois, ficou mais fácil pro Anjo, que o deixou todo fatiado no chão próximo a mim.

Gabriel levantou a espada e mirou no peito do vampiro para o golpe fatal, mas eu protestei. Com o que me restava de força, sussurrei:

-Não...

O Anjo parou e me olhou.

- Por favor... me deixe... me deixe beber dele...

Foi tudo o que saiu de mim. Era extremamente difícil vampiros se alimentarem completamente de vampiros. Isso porque nenhum de nós pera um adversário muito fácil de ser neutralizado, por isso os humanos são nossa presa em potencial. São mais fáceis de serem atraídos e sugados. Entre vampiros o que rola eh uma semi-alimentação, muito geralmente durante o sexo, e é muito mais por prazer do que necessidade.

Mas o fato era que aquele espécime era forte e o sangue dele poderia me ajudar muito. Se Gabriele o matasse, já não serviria pra mim.

O Anjo me encarou e percebi que eu devia estar muito mal pela expressão no rosto dele. Encaramo-nos por uma fração de segundos antes dele dizer:

- Sinto muito.

Gabriel cravou a espada no coração do vampiro e o matou. Andou até mim e se abaixou.

- Está mal.

Eu tentei sorrir, mas devo ter ficado bem grotesca com a cara deformada do jeito que estava.

- Você acha? – perguntei fracamente.

Somente dizer estas poucas palavras foi o suficiente para todo meu corpo doer. Eu gemi.

Gabriel me encarava pensativo. Naquele momento eu tive a certeza de que ele estava pensando em acabar com meu sofrimento. Na verdade, seria um alivio pra mim.

- Mate-me... – resmunguei fracamente.

Ele viu que eu li seus pensamentos e estava indeciso. Eu não entendia o motivo, pois se fosse ao contrário, eu o teria matado sem hesitar.

Contrariando todas as expectativas, ele se abaixou ainda mais e fez menção em me pegar no colo. Eu protestei.

- Nem adianta... – eu disse com dificuldade – se não vai me alimentar... não adianta me levar...

Ele me encarou.

- Sei... sei que não vai permitir... que eu me alimente... então não... não me faça morrer lentamente... faz o serviço de uma vez...

Eu usei todas as forças que me restaram para falar aquilo e simplesmente disse a verdade. Eu sabia que ele não me traria um humano para beber, então qual era o sentido em me manter viva, ou morta-viva?

Gabriel se sentou no chão ao meu lado. Sua espada jazia ao seu lado. Ele tinha uma expressão de dor no rosto e parecia indeciso consigo mesmo. Eu pensei que me mataria, pura e simplesmente. Mas o que ele fez foi contra tudo o que eu podia imaginar.

Com muito cuidado ele passou os braços ao meu redor e me puxou para o seu colo. Não pude evitar gemer de dor. Ele me segurou firme em um dos braços, como se eu fosse uma criança. Levou o braço livre até a boca e com os dentes, levantou a manga comprida de sua camisa. Depois desceu o pulso descoberto até minha boca.

- Bebe.

Eu não soube o que fazer. Provavelmente, pensei, já estava tendo alucinações devido às feridas e à falta de sangue em meu sistema. Ele não poderia estar me oferecendo o próprio sangue, isso era impossível.

- O- o quê? – falei sem ar.

- Toma o que precisa. Não vou arriscar a vida de ninguém, tão pouco quero que morra de fome. Beba.

Eu olhei para o azul profundo acima de mim. Ele estava decidido. Minha boca salivava absurdamente somente pela lembrança do cheiro de seu sangue divino. Eu engoli a saliva com dificuldade e olhei para o pulso a minha frente. Com o maior esforço do mundo, levantei a mão direita e segurei o pulso a minha frente. Voltei a encará-lo antes de morder.

Gabriel não mudou de idéia, então eu fiz a única coisa que poderia me salvar: cravei minhas presas em seu pulso e suguei.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí???