Salvation escrita por MilaBravomila


Capítulo 10
Capítulo 10




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Acordei tarde, já eram quase sete da noite e percebi que já não usava a camisa suja de sangue. Eu estava com uma camisa larga masculina que cheirava a amaciante de roupas. Senti que meu corpo estava completamente recuperado e que eu estava bem.

Saí do quarto e já no corredor eu ouvi a risada suave da senhora Bentley. Estavam na sala. Eu encostei na parede e observei. Eles estavam sentados no chão, rodeados de fotos. Ela estava mostrando uma foto do filho que morreu e contando a história de quando ele ganhou a primeira bicicleta. Pela primeira vez eu vi o Anjo sorrir. Era um belo sorriso, leve, feliz.

Ele olhou pra cima e me viu parada observando.

- Vem, senta com a gente. – ele ofereceu.

Eu franzi a sobrancelha. O que ele esperava, que fossemos ficar amiguinhos e que eu fosse sentar no chão com eles? Fala sério.

- Não, obrigada. Estou bem.

- Melhor, criança? – a velha perguntou , sorrindo pra mim.

- Na verdade... - eu falei andando na direção deles. Senti o Ser Alado ficar um pouco tenso, ele temia pela segurança de Bentley – eu estou com sede.

- Ora, eu vou pegar algo pra você beber, o que gostaria? – e senhora perguntou inocentemente, sorrindo enquanto levantava com dificuldade.

O Anjo a ajudou.

- Algo quente, doce e encorpado. – respondi maliciosa, me aproximando da mulher.

É claro que ela não seria minha primeira opção de alimentação, mas poderia me sustentar.

- Um chocolate quente? Ótima idéia! – o Anjo falou se aproximando de mim.

A velha andou para frente e eu reparei que instintivamente ela se afastou de mim e se aproximou do Anjo, típico. Ela disfarçou e foi para a cozinha.

- Até que pra um Anjo você sabe ludibriar. – eu falei sentando-me no sofá de frente para ele.

- Ludibriar?

- Sim, você conseguiu fazer a velhota me deixar entrar e a convenceu a nos deixar ficar, muito inteligente.

Ele riu e eu não pude deixar de reparar nas duas pequenas covinhas que se formaram em seu lindo rosto.

- Eu não ludibrio, Bentley simplesmente sentiu que podia confiar em mim. Mas é claro, ela sabe que com você é diferente.

Essas palavras tinham um duplo sentido. Senti uma pontada no peito ao lembrar do que tinha feito. A estranha sensação passou tão rápido quanto veio. Dei um sorriso felino e aceitei as palavras.

- Assim que terminarmos o chocolate da senhora Bentley, partiremos.

- Como assim, partiremos? Eu não vou a lugar nenhum com você, Ser Alado. Já me causou muitos problemas.

Eu levantei como um raio e a raiva tomou conta de mim novamente. Ele, no entanto, permaneceu tranquilo ao acrescentar:

- Ah, é? E o que vai fazer, voltar pra casa?

- Eu vou sair do país, não posso ficar aqui.

- Não importa pra onde vá, fora da cidade ou do país, eles vão caçar você pelo o que fez. Sua melhor opção é ficar comigo por enquanto.

- Por enquanto?

- Sim, até que não haja mais ameaça.

- Você quer dizer que vai matar Julius e os outros? Tá legal.

Eu cruzei os braços e senti o cheiro delicioso de leite com chocolate. A velha entrou na sala com um a bandeja com três xícaras fumegantes e aquele sorriso idiota para o Ser Alado novamente. Mais uma vez ela se manteve inconscientemente longe de mim e perto dele.

O Anjo entregou-me uma xícara e deu outra a velha. Senti a boca salivar quando ele deu uma golada no quente e delicioso líquido. Eu respirei fundo e o imitei. Como eu sabia que seria, não senti gosto de nada. Era como se estivesse bebendo água morna com um cheiro insuportavelmente delicioso de chocolate quente. Uma merda.

Eles trocaram mais algumas palavras e eu ouvi mais um pouco sobre o filho morto de Bentley. Tinha sido há muitos anos atrás num acidente de carro que ele se fora, mas ao que parece, a velha era ingênua o bastante para acreditar que o filho estava em algum lugar no Céu, junto ao marido canceroso.

Depois de inúmeros agradecimentos do Anjo bobo a velhota, saímos de casa. Eu estava com uma blusa larga horrorosa que tratei logo de dar um jeito, dando um nó na parte de baixo, expondo uma pequena parte do meu ventre.

Eu ainda estava avaliando as possibilidades. Se eu saísse da cidade, ou do país, seria realmente um tormento, ficar me escondendo pra sempre. Pela primeira vez em muito tampo, eu não sabia o que fazer. Uma parte de mim dizia que minha melhor opção no momento era segui-lo e a outra parte dizia que o melhor era deixa-lo.

Andamos alguns quarteirões meio que sem rumo, nós dois estávamos perdidos em pensamentos. Mesmo que eu, com muita sorte, matasse o desgraçado, minha sina seria a mesma. Livrar-me dele não me redimia da culpa pelo o que fiz com Julius.

Minha atenção tomou um foco inesperado quando senti a apreensão do Ser Alado ao meu lado.

- O que foi? – eu perguntei me aproximando apenas o necessário.

- Vampiros.

Olhei ao redor e vi dois pares de olhos no outro lado da rua. Um dos homens era careca e magricela, e estava olhando diretamente para mim enquanto falava ao telefone. Merda. Merda. Merda.

Os dois vampiros atravessaram a rua em nossa direção e o Anjo apenas sussurrou em meu ouvido:

- Continua andando, tem um beco mais a frente.

Segui o plano e fui andando a passos rápidos. Em poucos segundos, segui o Anjo para um pequeno beco sem saída onde fomos encurralados pelos vampiros.

- Michaela... que bom te encontrar.

A voz saiu do vampiro alto e gostosão. Parecia que ele me conhecia.

- Bom, se fosse bom mesmo eu lembraria o seu nome.

Ele riu e o careca estava fitando o Ser Alado, avaliando sua periculosidade. Sabia que não tínhamos muito tempo, uma vez que ele esteve ao telefone. Em breve estaríamos cercados.

- Pois eu acho que sua memória não é muito boa, ou você trepa com tanta gente que nem sequer se dá ao trabalho de guardar os nomes.

Eu ri.

- Na verdade, está certo. Só gravo nomes dos que me impressionam, então tenho a certeza de que você não é grande coisa.

Isso o irritou. Muito. Ele veio pra cima de mim com um grunhido. Eu rapidamente me pus na defensiva, mas ouvi quando o barulho do metal cortou o ar.

O Anjo estava na minha frente travando um duelo com o macho. Foi rápido e a cabeça do vampiro rolou a uns metros de distância, fazendo o pesado corpo cair no chão. Meus reflexos perceberam que o franzino careca estava se virando para fugir. Dei um salto magnífico e me pus na sua frente, impedindo sua saída.

- Você é louca! – ele berrou – Não pode estar do lado dele!

Não ouvi nada mais, pois a lâmina sagrada da espada do Ser atravessou as costas do careca e atingiu o coração, dando um fim a sua não-vida. As palavras dele, no entanto, ainda ficaram em minha cabeça.

- O que eu estou fazendo? – balbuciei para mim mesma, enquanto o corpo do vampiro deslizava da espada e ia para o chão ensanguentado.

- Está fazendo o que é certo. – o Anjo respondeu olhando diretamente em meus olhos.

- O que é certo... mas pra quem?

Ele me encarou e o azul profundo preencheu toda minha visão.

- Pra você mesma.

Eu não sabia como, mas as palavras do Anjo simplesmente faziam sentido pra mim. Isso me deixou apenas mais confusa.

- Vamos.

Eu segui sua voz gentil, pois não estava no meu melhor momento para protestar. Havia muita coisa que eu não estava entendendo.

- Você tem cartão de crédito? – ele perguntou quando voltamos para as ruas e nos misturamos às pessoas.

- Sim. – respondi, lembrando de como era bom andar com apenas uma identidade falsa, um cartão de crédito e uma pequena quantidade de dinheiro no bolso da calça. Por sorte a calça não tinha ficado no suposto apartamento de Julius. Essa era uma das coisas que eu tinha aprendido: levar o dinheiro e o cartão de crédito com você e não dentro da bolsa.

- Então vamos fazer o seguinte, vamos sacar o máximo de dinheiro possível e depois sair daqui. Os vampiros estão começando a sair às ruas e vai ficar complicado andar pela cidade.

- Estamos saindo?

- Sim.

Fomos ao caixa 24h e eu saquei o valor máximo permitido. Ele fez o mesmo e eu fiquei me perguntando como diabos esse Anjo tinha um cartão de crédito. Depois fomos até uma loja de departamento e compramos umas roupas. Ele comprou uma mochila e alguns outros itens.

- O que é isso? – perguntei a ele enquanto as compras passavam pelo caixa. Era uma caixa de tintura para cabelo. Castanho escuro.

- É pra você. – ele disse.

Eu ri. Até parece que eu ia tirar os vermelhos do cabelo. Ele ia ter que achar outra coisa pra fazer com aquele tubo de tinta.

Saímos da loja e a mochila estava cheia com algumas roupas extras e outras coisas. Estávamos de volta às ruas e logo tomamos um táxi que nos deixou no meio de uma estrada pouco movimentada. O Anjo disse ao taxista, conversando informalmente, que havia amigos morando nas redondezas, mas não acho que o sujeito tenha acreditado muito. Não acho que ele tenha se importado também, pois recebeu uma bela gorjeta pela corrida.

Quando o táxi se afastou eu vi que poucos carros passavam por ali e que a estrava era no meio do nada, literalmente.

Ele verificou a mochila e eu perguntei maliciosa:

- Posso saber o motivo pra você ter me arrastado pra um lugar tão deserto, Ser Alado?

Eu me aproximei dele, provocando-o. Se esse cara não fosse um Anjo, certamente eu já teria transado com ele.

- Primeiro, meu nome é Gabriel. Segundo, eles devem estar vigiando os terminais rodoviários e aeroportos, esperando que a gente saia da cidade. Não podemos utilizar estes meios para sair daqui.

Sorri ainda mais felinamente. Eu sabia do que ele estava falando.

- Então vem Gabriel, eu sou toda sua.

Ele me encarou por alguns instantes antes de se aproximar. Essa era sempre uma etapa difícil para nós dois, pois ele confiava tanto em mim quanto eu nele, ainda mais depois da traição que fiz. Mas não havia jeito. Se ele queria me levar junto, teríamos que nos acostumar um ao outro e eu resolvi jogar com o lado que mais me deixava confortável, o da sedução.

Gabriel, como preferia ser chamado, andou em minha direção e me passou a mochila. Eu a coloquei nas costas, sem tirar os olhos dos seus. Ele fechou a distância entre nós e me abraçou. Eu gemi sensualmente em seu ouvido.

- Você tem braços fortes, Gabriel. – eu disse ainda olhando o azul infinito de seus olhos brilhantes.

De repente, surgiu um enorme par de asas em suas costas. Foi incrível, eu tive que admitir. Uma hora elas não estavam ali e no momento seguinte Tã-Nam, apareceram como mágica. Eram enormes e brancas e eu não saberia dizer se eram feitas de penas, mas pareciam macias ao toque. Senti vontade de tocá-las.

Com um leve movimento de suas asas, estávamos a muitos metros do chão. Instintivamente meu corpo tremeu. O ar não era um bom lugar para um vampiro. Estava vulnerável, fraca. Os seres da noite gostam da segurança da terra, onde temos o controle. No alto, longe da firme base sob meus pés, eu estava impotente.

- Com medo, vampira? – ele perguntou provocativo enquanto meu corpo estava tenso e eu não parava de olhar para a terra longínqua.

Aquela observação me fez ficar com raiva. Só de sacanagem, eu me apertei mais contra ele. Senti meus seios em seu peito e sua masculinidade angelical em minhas coxas. Sorri quando vi que isso o deixou tenso também.


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Notas finais do capítulo

Posto mais um cap 'inda hj!!

bjs