Rixon acariciava os cabelos de Vee lentamente enquanto ela ressonava baixinho em seus braços. Tinha sido tudo tão perfeito que ele não conseguia parar de sorrir... Ele sabia que não conseguiria mais deixar essa humana, ela era dele... Assim como ele era dela agora.

Mas infelizmente ele tinha que ir... Uma batalha o esperava e por mais que quisesse muito ficar aqui com Vee ele sabia que precisava ir, para mantê-la em segurança.

Com cuidado para não acordá-la ele a tirou de seus braços acomodando-a nos travesseiros, ela dormia profundamente e com um leve sorriso nos lábios.

Era muita tentação ficar olhando-a assim então rapidamente ele a cobriu e beijou sua testa demoradamente.

–Volto logo, baby. – ele sussurrou acariciando o rosto dela mais uma vez.

Não iria acordá-la porque sabia que ela não iria querer deixá-lo ir para a batalha e a última coisa que ele queria era que brigassem.

Ele se vestiu e depois de mais uma olhada em Vee saiu rapidamente...

**********************

Nora ainda ficou alguns minutos olhando para aquele estranho pergaminho, tentando achar significado para aquela frase e curiosa sobre onde estaria a outra parte... Ela releu algumas vezes a frase, imaginando o que seria a parte que faltava para completá-la, mas depois de um tempo percebeu que sozinha não chegaria a nenhuma conclusão.

Ainda tentou procurar ali pela escrivaninha a outra parte do pergaminho, mas não achou nada, a biblioteca era bem grande e poderia estar em algum lugar ali, mas sozinha não conseguiria. Então rapidamente ela correu para o quarto de Vee, com o pergaminho firmemente em suas mãos, Rixon poderia ajudá-la, talvez ele conseguisse compreender o que aquilo significasse.

Ela parou na frente da porta e bateu um pouco hesitante, pelos barulhos que ouviu mais cedo Rixon e Vee estavam bem ocupados, mas agora estava bem silencioso lá dentro e o assunto era urgente.

Nora bateu mais uma vez e sem resposta abriu a porta lentamente torcendo para não encontrar nenhuma cena constrangedora, mas para sua surpresa Vee estava dormindo sozinha na cama.

Nora se aproximou da amiga e a sacudiu levemente até acordá-la.

–Vee... – chamou e ela foi abrindo os olhos e se espreguiçando.

Vee finalmente despertou, mas se assustou ao ver que Nora estava ali ao seu lado e não Rixon. Segurando o lençol com força ao redor do corpo ela olhou em volta.

–Cadê o Rixon? – perguntou ainda um pouco confusa.

–Não sei, vim justamente para falar com ele, mas você estava dormindo sozinha aqui. – Nora disse.

Vee ficou decepcionada por Rixon ter saído sem acordá-la depois dos momentos maravilhosos que tiveram...

–Talvez ele esteja pela casa. – Nora murmurou.

–Não, o que ele estaria fazendo em outro lugar da casa que não aqui e... – Vee de repente se calou ao lembrar de algo que Rixon tinha dito antes deles se amarem. –Ah não... Não pode ser.

–O que? – Nora perguntou preocupada.

–Ele disse algo sobre uma batalha... Uma batalha que aconteceria logo e ele precisaria ir. – Vee sussurrou sentindo o coração apertar e os olhos marejarem.

Nora também sentiu o coração se apertando e segurou o pergaminho com mais força... Patch também estaria naquela batalha? O que aconteceria agora?

************************

–Como elas ficaram? – Patch pergunta do topo de uma colina, olhando lá em baixo tudo em chamas, corpos se chocando, corpos se decompondo. A batalha estava acirrada.

–Em segurança. – Rixon baixou o olhar para a batalha. –Conseguiu falar com os Caídos? – perguntou cerrando os punhos.

–Eles estão vindo. – Patch falou sem nenhuma mudança de tom na sua voz.

–Contra nós? – a voz de Rixon soou enraivecida.

–Contra os Nefilins. Eles não querem se meter nessa guerra. Tudo o que eles querem é continuar em paz aqui na Terra, mas os Nefilins são consequências dos atos deles. Os Caídos têm de lidar com eles. RAC disse que podem travá-los por um tempo, mas não para sempre. – Patch suspirou.

–Mas esse tempo pode ser o suficiente até acharmos uma solução, JEV. – Rixon falou esperançoso.

–Eu queria muito acabar logo com tudo isso, mas o Conselho de Arcanjos me proibiu terminantemente. Acrescentou até, que se eu sequer pensasse em me juntar nessa batalha, eu seria expulso do céu. Minha preocupação não foi essa, mas eu preciso continuar protegendo Nora. – ele apertou os punhos, cravando as unhas na sua carne e a fazendo sangrar.

–Eu lutarei por você, amigo. – Rixon comentou e no segundo seguinte se teletransportou para a campina onde todos lutavam, iniciando uma luta enraivecida, mantendo em mente a imagem segura de Vee e se dando forças para o que ainda tinha de enfrentar.

Dois demônios vieram para cima dele, enquanto ele lutava contra um Nefilim.

Patch quis agir em defesa do amigo, mas o seu coração o travava.

Trincou a mandíbula, se mantendo no mesmo lugar e fechou os olhos para controlar a sua raiva.

Por sua cabeça passaram várias imagens e todas elas relacionadas a Nora. As emoções tomavam conta de si e cada imagem dela lhe dava cada vez mais forças para ser forte.

Em sua mente ele se levou para outra dimensão onde ele estava feliz com Nora, vivendo uma vida normal e pacífica.

Ao seu lado estavam Vee e Rixon, também curtindo dessa felicidade.

O local era claro, como se fosse um paraíso. Pareciam estar em uma casa de campo. Ele se lembrou de ver uma assim parecida. A da tia de Nora. Estivera lá aquela vez em que achou que Nora queria se matar.

Era um dia ensolarado e todos sorriam. Patch viu o seu eu do sonho levar uma das mãos à barriga de Nora. Esta era pequena, mas ele conseguia perceber um pequeno relevo.

Uma lágrima escorreu por seu olho fazendo-o despertar para a realidade.

Patch tornou a abrir os olhos percebendo que o seu sonho levara bastante tempo em sua cabeça. O dia já havia despontado no horizonte e agora só apenas fogueiras de corpos e o brilho das estrelas iluminavam a noite.

Olhou mais atentamente para o campo de batalha e encontrou seu amigo caído no chão, ferido gravemente.

Sentiu uma pontada no peito e quando deu por si, estava descendo a colina e adentrando naquele campo de batalha sangrento.

Os Arcanjos o proibiram de usar os seus poderes, mas não disseram nada sobre lutar corpo a corpo. Sabia que seria uma desvantagem, mas era melhor do que ficar parado olhando aquele cenário sangrento.

JEV foi passando por entre Nefilins, Demônios e Rebeldes, se defendendo de todo e qualquer ataque e levando algumas pancadas que em nada o enfraqueceram.

Por fim chegou até o amigo, onde um Demônio se preparava para enfiar sua adaga negra no peito de CAL quando Patch segurou seu braço e com a mão livre forçou a própria adaga a enfiar no peito do demônio.

Depois do demônio se eclipsar, JEV ajudou CAL a se erguer do chão e com cuidado foi o arrastando dali.

–O…q-ue vo-cê es-tá fazen-do a-qui? – Rixon perguntou a custo, colocando uma mão em torno do abdômen, onde um Nefilim havia enfiado uma adaga. Seu braço também estava rasgado, pelo ataque dos demônios e seu rosto bastante machucado. Três contra um era sacanagem, principalmente quando dois deles atacaram pelas costas.

–Te tirando dessa. Os Caídos logo chegarão e você está muito ferido. – Patch falou impreterível.

–Vo-cê n-ão sa-be se eles…v-vêm. – Rixon comentou, mas rapidamente emudeceu quando vários vultos surgiram do nada, agarrando os Nefilins por trás e os levando para fora daquele campo de batalha.

–Pronto, agora fique quieto que vou te tirar daqui. – Patch disse para o amigo que sabendo estar sem escolha apenas assentiu.

*~*~*~*~*~*~*

Nora e Vee andavam pela sala de um lado para o outro, nervosas e sem saber o que fazer.

Vee não parava de pensar em Rixon, nos momentos perfeitos que tiveram... E seu coração estava apertado com a possibilidade de ele se ferir. Nora, por mais que não quisesse, não conseguia parar de pensar no Patch, se Rixon foi mesmo para uma batalha Patch estaria lá com ele? Eles estavam bem? Seus pensamentos foram para sua tia de novo e ela fechou os olhos com força sentindo-os marejarem, não podia pensar nisso ou ia desmoronar novamente.

–O que é isso em sua mão? – Vee perguntou olhando para Nora.

As duas pararam de caminhar sem rumo pela sala e Nora suspirou olhando o pergaminho em suas mãos, ela o segurava com força.

–Foi para isso que eu fui no seu quarto procurar o Rixon... Eu achei isso na...

Mas ela se calou quando ambas ouviram um barulho vindo de fora da casa. As duas se entreolharam e correram para a janela espiando pela cortina... Seus corações saltaram ao verem quem estava ali.

–Ah meu Deus. – Vee correu e abriu a porta, Nora a seguiu de perto.

Patch e Rixon entraram olhando para as duas que os encaravam com angustia e impaciência, mas os olhos de Vee se arregalaram ao ver que Rixon parecia um pouco enfraquecido enquanto era apoiado por Patch.

–Você está bem? – ela correu pra ele que assentiu indo se sentar no sofá.

Patch tinha cuidado de seus ferimentos antes deles subirem a montanha, sua magia curou o Rixon rapidamente, mas como ali seus poderes desapareciam Rixon se sentiu um pouco enfraquecido enquanto subia a montanha e só precisava de uns instantes para descansar e então ficaria completamente bem de novo.

–Estou bem, não se preocupe, Patch já cuidou de mim, só preciso de uns instantes. – Rixon sorriu acariciando os cabelos de Vee e quando ela viu que ele estava dizendo a verdade o abraçou com força.

–Eu fiquei louca de preocupação, você não devia ter saído assim sem me chamar. – ela sussurrou enterrando o rosto no peito dele.

–Eu precisava fazer isso, mas agora está tudo bem, estou aqui. – ele murmurou em resposta.

Patch olhou para Nora, que também o olhava. Era óbvio como os dois também queriam estar nos braços um do outro agora, mas ambos se contiveram.

–Você está bem? – Nora perguntou para ele, tentando se controlar.

–Sim, estou bem, e você? – Patch se aproximou dela ficando angustiado ao ver tanto sofrimento em seus olhos.

–Não, eu não estou nada bem, mas não há nada que possamos fazer... – ela deu de ombros desviando o olhar e Patch estava prestes a tomá-la em seus braços quando viu que ela segurava algo com força.

–O que é isso? – ele perguntou apontando para o pergaminho e Nora se sentiu aliviada por poder mudar de assunto.

–É algo que achei na biblioteca daqui, estava muito bem escondido e está pela metade... É como um pergaminho e tem uma frase escrita aqui, mas falta o outro pedaço e eu não entendi o que isso quer dizer. – ela disse de uma vez tentando se focar naquilo.

–Me deixe ver. – Patch disse esticando a mão em sua direção e Rixon também ficou interessado e se aproximou deles, com Vee ainda grudada nele.

Nora esticou o pergaminho para Patch que o pegou com curiosidade, seus dedos roçaram nos dela e por alguns instantes ficaram perdidos em seus olhares e na sensação causada por aquele simples toque.

–E então, o que é? – Rixon perguntou impaciente levando em seguida um beliscão de Vee.

Enquanto Patch lia a frase no pergaminho Nora suspirou olhando Rixon e Vee.

–Eu não entendi o que isso significa, e está faltando uma parte, mas sinto que é algo sobre mim, sobre tudo isso que está acontecendo. – ela disse voltando a olhar para Patch que tinha os olhos entrecerrados.

Ele suspirou e, sem olhar para nenhum dos três ali na sala, sussurrou:

–Parece com uma... Profecia.

As palavras dele fizeram o coração de Nora disparar.