Eram cerca de 06h30min da manhã quando Len fez questão de entrar no meu quarto e pular na minha cama, bem em cima de mim:

-Bom dia, Rin!-Disse meu sorridente irmão ainda sobre mim.

-Bom dia, Len... Agora, SAIA DE CIMA DE MIM!- Eu gritei.

-Tudo bem- Disse rindo- Rin... Você estava chorando?-Falou preocupado.

-Hã?

-Seus olhos estão vermelhos!-Droga, ele percebeu mesmo que eu estava chorando. Preciso de uma desculpa, rápido.

-Eu não consegui dormir direito ontem à noite, só consegui fazê-lo de madrugada!- Vai ter que colar.

-E porque seu colchão está molhado?-Disse apontando pra a água no meu travesseiro. Bom, eu não posso dizer que fiz xixi na cama né?

-Eu babei... -Babou? Sério, Rin? Isso foi péssimo. Não vai colar.

-Hã?

-Ehhh... Eu demorei tanto pra dormir que quando consegui acabei babando!-Isso não vai colar de jeito nenhum. Ferrei-me.

 Len ia falar qualquer coisa que questionasse minha brilhante teoria, mas Odete, a dona do orfanato, nos chamou parar o café. Acho que isso é o que chamam de salvo pelo gongo.

 Na oração de hoje, vou lembrar-me de agradecer a Deus pelo café da manhã, várias vezes.

 Ele não disse mais nada o dia inteiro, mas ficou me olhando constantemente com uma cara que dizia assim ‘’eu sei que você está chorando, eu vou descobrir por que, senão não me chamo Kagamine Len’’ Sim, ele tem uma cara que diz isso. Em geral é bem expressivo.

 Então, hoje não tem escola, apesar de que eu subi as escadas e botei o uniforme fazendo meu irmão gargalhar. Mas, hoje era dia 28 de dezembro, ainda feriado por causa do Natal. E estava nevando, ou seja, eu e Len fomos brincar de guerra de bola de neve. Pode achar infantil o quanto quiser, é muito bom.

 De vez em quando ele me jogava um olhar profundo que dizia ‘’ estou tentando ler dentro da sua alma pra tentar descobrir o porquê do seu choro’’. E então ele me acertava com uma bola. Acho que às vezes isso era só um truque para me desconcentrar.

 Então, mais ou menos umas 04h30min da tarde, chegaram uma família querendo adotar.

 E mesmo com 14 anos, eu e o Len nos juntamos a um monte de criancinhas bonitinhas, O Len parecia mais esperançoso hoje, vai ver é só coisa da minha cabeça.

 Estava me sentindo como se fossemos dois cachorros grandes no meio de filhotes peludos e fofos, dentro daquelas caixinhas pra adoção sabe? A sensação era bem essa mesmo.

 A família era composta por uma mulher de cabelos rosa e olhos azuis, um homem de cabelos roxos e olhos azuis e uma garota de mais ou menos 15 anos de olhos e cabelos verde claros e uns óculos vermelhos na cabeça. Em geral pareciam bem estranhos. A garota olhava pra todas as crianças animadamente, como se estivesse procurando seu irmãozinho(a) perfeito(a).

 Ela correu os olhos por mim e Len e então parou, ficou no olhando. Ok, talvez ela tenha pensado: ‘’ O que dois adolescentes ainda estão fazendo aqui?’’. Dependente ou não do que ela pensou, disse:

-Pai, manhê... Eu quero aqueles dois!-Eu fiquei chocada e queria saber o que é que aquela garota tinha na cabeça.

 Os pais da menina olharam pra gente, e pensei que eles iam dizer ‘’Eles? Porque? São muito velhos!’’ mas, eles disseram:

-São realmente bonitos Gumi!-Disse a mulher sorridente enquanto batia palmas e sorria.

-Oh sim! Queremos ter uma entrevista com ele! Para sabermos como são!-Disse o homem super animado.

 Eu fiquei extremamente preocupada, aqueles malucos devem estar tentando fazer experimentos com a gente. Olhei pra Len, e ele só ficava encarando aqueles estranhos,  acho que não podia acreditar.

 Dona Odete, que já conhecia nosso histórico, perguntou:                                                                        

-E a família, pretende adotar os dois?- Talvez tentando poupá-los de uma entrevista conosco que nunca sairíamos dali separados.

- É mais do que o esperado, mas pretendemos sim!-Disse o homem extremamente excitado.

Odete parecia mais entusiasmada que eles, nos levou para uma sala reservada onde eles iam começar a perguntar coisas como ‘’qual é a sua cor favorita?’’ ou ‘’o que você mais gosta de fazer’’ e etc.

 Eu e Len ainda estávamos estáticos quando eles começaram a apresentação:

-Eu sou Kamui Gakupo !-Falou o ainda animado homem. O que esse cara comeu?

-Megurine Luka!-Disse a sorridente mulher. Ela também não me parece normal.

-Gumi Megpoid- Eu achei que seria indelicado perguntar por que o cabelo dela era verde claro, diferentemente dos pais, e porque se chamava Megpoid, e como se tivesse lido minha mente completou- Eu sou adotada e não quis mudar o sobrenome!-Exclamou sorridente.

-Kagamine Rin e Len!-Respondemos em coro. Eles provavelmente acharam divertido o trocadilho que fez o engraçadinho que inventou nosso nome.

-Gostaria de saber por que irmãos tão lindos como vocês não foram adotados antes!-Falou a sorridente mulher. Não era esse tipo de pergunta que eu esperava, mas respondi que haviam sim pessoas interessadas, mas só em um de cada vez, e que nós não queríamos nos separar.

-Awww, vocês são muito fofinhos, parecem muffins!-Disse a garota enquanto apertava as minhas bochechas e as de Len.

-Eu sou um muffin?-Disse Len confuso.

-Sim... Nós somos muffins!-Eu disse divertida. Parecia completamente habituada á viver com aqueles loucos.

 E como se aquela minha exclamação completasse a conversa, eles simplesmente disseram que ia nos adotar, e que iam preparar um quarto para nós e que iam querer vir nos buscar amanhã.

 Sem pergunta mais, sem pergunta menos, Eles viriam nos buscar amanhã! Amanhã.

 Quando saíram, Gumi se despediu de nós com um ‘’Até amanhã meus muffins’’, Gakupo passou a mão em nossos cabelos e Luka nos deu beijinhos que disse ser de boa noite. Então a nossa nova família saiu pela porta. Dona Odete estava aos prantos:

-A senhora está bem?-Disse Len.

-Oh sim, meus anjos, eu orei tanto para que esse dia chegasse!-Senti a obrigação de me unir à Len em um abraço para a afável e doce senhora. Ela e Len tinham razão afinal, um dia esse momento chegaria. Eles parecem legais, quem sabe eu não me apego a eles como uma família? Ou então me apaixono nessa outra cidade em que eles moram? Com certeza isso promete.

 Fui dormir ainda incrédula, observando os flocos de neve caírem poeticamente na janela do meu quarto.

 Era um orfanato com poucas crianças, o que me dava o luxo de ter um quarto individual.

 Arrumei as malas com uma certeza:

Essa noite eu não iria ‘’babar’’.